Penso que o maior objetivo financeiro que um casal possa atingir seja o da independência financeira, onde, mesmo optando por não parar de trabalhar, suas despesas fiquem inteiramente cobertas pelo rendimento obtido pela aplicação de suas economias. É a ideia de fazer o dinheiro trabalhar pelo casal, e não o casal trabalhar pelo dinheiro. Chegar a este estágio não é impossível, mas irá exigir planejamento e disciplina.
Para exemplificar, suponha que João e Maria tenham uma despesa mensal de R$8.000. Um fundo de baixo risco (referenciado DI), com um histórico de rentabilidade em torno de 104% do CDI, rendeu 25,95% nos últimos 24 meses, (encerrados em 13/02/2025), taxa que cai para 22,06% após o desconto dos impostos (alíquota de 15%), e correspondente a 12,71% em termos reais, isto é, além da inflação quando medida pelo IPCA (8,29% acumulados no período), equivalente a 0,50% ao mês. Admitindo que esta taxa se mantenha neste patamar, o casal precisaria ter R$ 1.600.000 aplicados para atingir sua independência financeira (encontre este valor dividindo 8.000 por 0,005).
Quanto tempo João e Maria irão precisar para atingir esta meta, irá depender de sua capacidade de poupança, de quanto já têm hoje guardado e da rentabilidade média que irão obter em suas aplicações daqui em diante. Por exemplo, partindo do zero e aplicando a 0,50%am, precisarão guardar R$1.593 mensais por 30 anos ou R$3.463 por 20 anos para chegarem lá, valores que cairão para R$394 e R$2.030 se partirem de R$200.000 já acumulados. Por outro lado, se conseguirem aplicar a 0,70% ao mês (neste caso incorrendo em um pouco mais de risco) e admitindo começarem do zero, precisarão guardar R$989 mensais por 30 anos ou R$2.584 por 20 anos.
Lições importantes (e simples!): (1) quanto maior for a economia mensal, mais rápido se atinge o objetivo: o sacrifício de hoje é o conforto de amanhã; (2) quanto maior a rentabilidade, menor é o sacrifício mensal: pesquisar produtos financeiros e correr riscos tem o seu valor; (3) quanto maior a atual poupança, também menor é o sacrifício mensal: vender um bem supérfluo (por exemplo um segundo carro) também tem o seu valor.
Lógico que tudo fica muito bonito quando colocamos no papel, nosso fiel amigo que sempre aceita tudo. Mas, e na prática, quais as dicas para conseguirmos transformar o planejamento em realidade? Aqui vão elas...
(1) Paciência: Supondo que a estratégia escolhida tenha sido poupar R$1.593 mensais a 0,50% ao mês, por 30 anos, após o primeiro ano nesta tarefa, terão acumulado R$19.648, R$19.114 referentes às parcelas que depositaram e apenas R$534 de juros (2,72% do total guardado). Parece pouco, mas, se forem pacientes, esta situação irá se alterar: em 10 anos terão acumulado R$261.028, dos quais R$69.891 (ou 26,78% do total) gerados pelos juros. Finalmente, se perseguirem este objetivo, em aproximadamente 21 anos (na realidade 253 meses), a situação irá se reverter, e os juros recebidos superarão os valores depositados mensalmente. Ou seja, o dinheiro passará a trabalhar para a dupla, que tal?
(2) Força de Vontade: várias tentações surgirão ao longo do caminho: carro e roupas novas, viagens, e muitos outros sonhos, nem sempre prioritários. E, à medida que o saldo de suas aplicações crescer, maiores serão estes apelos... Tendo força de vontade, conseguirão se manter fiéis ao seu plano, deixando para estes excessos apenas o que sobrar além de suas economias mensais.
(3) Imaginação: enquanto não atingirem sua meta, por que não utilizá-la quando o assunto for dinheiro? Para o lazer por exemplo, ir à praia, ou ler um livro, sairá bem mais em conta do que almoçar fora, não é mesmo?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.