Leitores assíduos devem estar lembrados do que sempre aqui comento: a importância de se fazer sobrar algum dinheiro periodicamente quando se tem como projeto a acumulação de patrimônio. Assim, voltando ao tema, noto que muitos usam a velha desculpa de dizer que não têm de onde tirar para fazer sobrar... E aí vem a questão: será que o que falta mesmo é encontrarmos de onde tirar esta sobra ou na verdade o que falta é sermos mais criativos, persistentes e, por que não dizer, mais metódicos neste projeto?
Refletindo sobre o tema, resolvi exemplificar todo o processo – o de gerar sobras ou economias periódicas – por meio de uma vivência pessoal, da época em que trabalhava no centro da cidade, no Rio de Janeiro. O caso é antigo, mas atualizei os preços e valores da simulação.
Identificando um candidato: Trabalhava no centro da cidade, em um local fixo, onde passava boa parte das minhas horas úteis, o que, portanto, me liberava da necessidade de constantes deslocamentos diários, salvo o da ida de casa para o trabalho, no início do dia, e o correspondente retorno, ao término da jornada. Atendo-me exclusivamente a esta questão – como me deslocar entre os dois pontos – percebi que, na minha escala pessoal de valores, a variável relevante ao problema era o tempo que gasto nos deslocamentos. Transporte casa-trabalho-casa tornou-se, portanto, um forte candidato à minha análise!
Traçando a estratégia: Era viciado em fazer o trajeto de carro, mas, cansado das aporrinhações diárias com o trânsito, fui, pouco a pouco (muito importante o “pouco a pouco” para me acostumar sem trauma às mudanças!) migrando para o transporte público, primeiro na combinação metrô/taxi e, em seguida, na combinação metrô/ônibus integrado. Em termos de tempo, troquei seis por meia dúzia pois, em relação à opção carro, ia mais devagar na superfície, mas compensava, indo mais rápido quando estava no túnel. E, para aqueles sempre-do-contra, aviso logo: quando saia do trabalho, pegava tanta chuva quanto antes, pois a estação do metrô era tão distante quanto o estacionamento.
Calculando a economia: Apesar de não ter me baseado no custo, não posso deixar de registrar minha satisfação ao constatar a sobra diária que passei a gerar: com o carro, a preços de hoje, gastava algo próximo a R$ 140 diários, aí computados os custos de combustível, estacionamento (R$ 112 a diária) e pequenas eventualidades, mas não considerados os custos de IPVA, seguro e depreciação do veículo, dentre outros, já que não vendi o carro, apesar de não o usar para o trabalho. Na combinação metrô-ônibus, gastava apenas R$ 12 diários, ou seja, uma poupança de R$ 128 por dia, que tal?
Projetando os efeitos: Reconheço que os R$ 128 de um dia não mudam a vida de ninguém, apesar do valor salgado, mas fazem a diferença quando pensamos o longo prazo: em um mês (22 dias úteis) teremos R$ 2.816 e, se depositarmos este valor regularmente em um desses fundos DI que têm remunerado em torno de 1,0% ao mês) acumularemos R$ 35.714 após um ano! Ora, ora, quem diria...
Não sei se será às custas do transporte que você, meu querido leitor, minha querida leitora, conseguirá guardar algum, mas, se leu até aqui, decerto pegou o espírito da coisa. Conte-me depois a sua própria experiência, pode ser?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.