Mãe, foi pago à vista
No próximo domingo comemora-se o Dia das Mães e, você, que eu sei que além de bom leitor/leitora é também bom filho, boa filha, já deve estar se planejando para não deixar passar a data em brancas nuvens. Claro, também sou filho e tenho pensado na mesma coisa. Mas, chamou-me a atenção pesquisa recente da CNDL – Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas sobre o perfil do endividamento do brasileiro: sem exceção, e independente da classe social, o brasileiro vem atrasando o pagamento de suas prestações.
Entendo que o crédito seja importante instrumento financeiro pois permite anteciparmos o consumo de bens e serviços sem a necessidade de termos os recursos para o pagamento à vista. Mas entendo também que ele deva ser utilizado com planejamento, o que em última análise significa liquidar as parcelas dos empréstimos pelos valores contratados e até seus respectivos vencimentos. Não observar esta regrinha irá gerar juros e encargos pelos atrasos e, em casos mais graves, o nome negativado (inclusão nos serviços de proteção ao crédito), fechando assim as portas para futuros empréstimos. Já imaginou você negativado justamente em uma emergência, quando um novo empréstimo seria essencial?
Os dados que obtive na pesquisa me deixaram alarmado... vejam! Em março de 2025, a CNDL e o SPC Brasil estimaram em 69,66 milhões o número de consumidores negativados no país, um crescimento de 3,89% em relação a março de 2024. Dentre os negativados, 30,5% têm dívidas de até R$ 500, 16,3% dívidas acima de R$ 7.500, sendo R$ 4.605 o valor médio por negativado; 23% devem aos cartões de crédito, 16% às financeiras e bancos, 12% aos crediários e 12% aos cheques especiais.
Constatado o estrago, fica mais difícil tentar justificar o fato a partir da renda do devedor, já que todos estão no rolo: 26% afirmaram que os débitos comprometem entre 50% e 75% de seus rendimentos, 20% afirmaram que tais pendências comprometem até 25% de seus rendimentos! Finalizando, outro dado interessante: dos que relataram contas em atraso, 43% admitiram ter aproveitado uma promoção sem avaliar se cabia no orçamento. Em resumo: gastaram o que não podiam, e agora participam das estatísticas. Torço para que consigam sair delas, voltando ao equilíbrio financeiro até o Dia dos Pais, em agosto! Deste ano!
Pensando em preservar você deste tsunami creditório (uau, ficou bonito isso!) fiz uma listinha de conselhos úteis, para a ocasião:
(1) Dê presentes que ela vá usar: Parece meio óbvio, mas outro dia vi uma oferta de celular com milhares de funções... Fiquei com uma saudade danada do meu bom e antigo videocassete...
(2) Dê o presente de acordo com seu orçamento: Quem disse que aquilo que é mais caro necessariamente fará mais sucesso? Gastadores irresponsáveis têm vida (financeira) curta e, se sua mãe for parecida com a minha, periga você ainda levar bronca por ser perdulário!
(3) Pesquise sempre: Identificado o que comprar, pesquise. Além dos jornais e revistas, a Internet é hoje uma poderosa ferramenta, que evita deslocamentos desnecessários para fazer o levantamento dos preços. Se a marca desejada ficou muito mais cara, que tal substituí-la por outra mais barata?
(4) Livros, por que não? Se ela gosta de ler, você ainda incentiva a cultura, além de proporcionar um extraordinário lazer a custo barato: 400 páginas custam em média R$70, e garantem pelo menos 10 dias de entretenimento, durante os quais, certamente você será lembrado! Já pensou a respeito?
(5) Forma de pagamento: Depois de tudo o que expus, faça-lhe uma surpresa: chegue para o tradicional almoço do Dia das Mães, orgulhosamente dizendo: Mãe, este é o seu presente! Foi pago à vista!
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.