Maria, 32 anos, trabalhadora autônoma, preocupada com seu futuro, resolveu poupar para, aos 62 anos, ter garantido parte de seu sustento. Sem vínculo empregatício, qual a primeira opção que ela deveria procurar?
Para que você, querido leitor, querida leitora, possa acompanhar a simulação que se segue, estou admitindo que nossa amiga vá iniciar suas contribuições ainda este ano e, por não ter se vinculado antes ao INSS, estará sujeita às novas regras para a previdência oficial: (1) idade mínima de 62 anos; (2) mínimo de 15 anos de contribuição; (3) valor do benefício: média de 100% dos salários de contribuição; (4) redutor de aposentadorias limitando o benefício que o aposentado irá receber a 60% da média calculada em (3) acrescida de 2% para cada ano de contribuição acima dos 15 anos (por exemplo, se Maria não interromper suas contribuições durante os 30 anos, receberá 90% da média calculada em (3) (=60%+2%x15).
Vamos supor então que após um cuidadoso planejamento, Maria considere razoável uma aposentadoria de R$ 3.600 mensais, o que equivale a um salário de contribuição de R$ 4.000 em função do redutor a que estará sujeita (R$4.000 x 90% = R$3.600). Sendo autônoma, precisará contribuir com 20% deste valor, ou seja R$ 800. Aqui um importante conceito é o da manutenção do poder de compra dos R$ 3.600 planejados: periodicamente o INSS atualiza tanto o valor das contribuições quanto o valor dos benefícios, e, pelo que constatei analisando os fatores de atualização divulgados, as correções têm acompanhado razoavelmente a inflação. O cuidado que Maria deverá ter é, pelo menos a cada ano, também atualizar suas contribuições, para, no momento da aposentadoria, ter direito ao benefício almejado.
Comparemos a simulação anterior com os resultados que Maria obteria caso utilizasse algum produto financeiro de baixo risco disponível no mercado (fundos, títulos públicos ou privados, planos de previdência): aplicando R$ 800 mensais (e lembrando-se de corrigir anualmente sua aplicação pela inflação), se conseguisse obter 2% anuais de rentabilidade além da inflação, já descontadas taxas de administração, carregamento, imposto de renda e demais custos, acumularia o equivalente a R$ 393.010 (com poder de compra atual).
A partir deste valor, caso Maria sobrevivesse até os 92 anos, teria R$ 1.449,09 de renda mensal, valor que subiria para R$ 1.984,81, caso vivesse até os 82 anos ou para R$ 3.613,04 caso vivesse até os 72 (todos os valores expressos com poder de compra atual, já que estarão corrigidos pela inflação acumulada no período). Como informativo, de acordo com as projeções do IBGE, a expectativa de vida das mulheres que chegam aos 62 anos é, atualmente de mais 22,4 anos.
Assim, optando pela previdência oficial, Maria deverá cadastrar-se como contribuinte individual do INSS. Neste caso, pensando no cenário mais caro (onde ela paga tanto a sua parte como a do empregador), para cada R$ 1.000 de salário-de-contribuição, ela irá arcar com 20% deste valor (R$ 200) para conseguir receber R$ 900 mensais a partir dos 62 anos, com poder de compra atual. Outras idades e tempos de contribuição poderão alterar para cima ou para baixo os R$ 900 citados.
Percebe-se que para quase todos os prazos indicados (a exceção ficou para a sobrevida de 10 anos), a alternativa oficial me pareceu mais vantajosa, pois irá lhe garantir R$ 3.600 de renda enquanto viver, sem contar outros benefícios como auxílio-doença, auxílio-reclusão, auxílio-maternidade e pensão por morte... Noves-fora que conseguir 2% ao ano além da inflação não é tarefa corriqueira, não é mesmo?
Mas as vantagens que apontei têm limite: Maria poderá optar pela previdência oficial contribuindo com até 20% do teto previdenciário, hoje em R$ 8.157,41 mensais, e nunca menos que 20% do salário-mínimo, atualmente R$ 1.518. Além deste valor, ficará por sua conta acumular mais por outros instrumentos.
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.