A poesia já caminhava em silêncio desde os 15 anos, no mundo obscuro de dúvidas e inseguranças que a adolescência apresenta. Depois, as rimas e versos passaram a trilhar seu caminho enquanto cursava Psicologia, na Ufal - Universidade Federal de Alagoas, em seguida nas Ciências da Computação, em Curitiba, e por último, no curso de Psicologia novamente, desta vez, na antiga Unit - Universidade Tiradentes, em Maceió. Nenhum deles foi concluído.
As angústias e frustrações da realidade, o primeiro amor, a capacidade de enxergar o mundo fora do que era esperado para um jovem negro, de classe média, nascido no berço de uma família evangélica, tudo isso precisava desaguar em algum lugar. Foi nesse momento que a força da palavra em forma de poesia rompeu o silêncio e assumiu o seu lugar na realidade do jovem Erick Moura Sampaio.
Daí nasceu No Tempo de Um Cigarro, livro de poesias que acaba de ser selecionado pela Editora Arpillera, a qual, por meio de edital, seleciona e produz gratuitamente livros artesanais e prioriza autores e narrativas historicamente marginalizadas pela literatura, como mulheres, negres (negros e negras), indígenas e LGBTQIAP+.
Erick se define como um jovem poeta, negro e bissexual que encontrou na poesia a forma de desaguar sua maneira sensível de ver o mundo. A facilidade de lidar com o abstrato vem pela dificuldade de enfrentar o concreto da realidade, conta o escritor de 29 anos que segue em busca do seu lugar de pertencimento para se firmar. “Não sei de cor minhas poesias mas lembro o contexto onde estava quando cada uma delas nasceu. Minha vida ganha um novo sentido quando escrevo. Vem a mente ou a primeira ou a última frase, posso estar em qualquer lugar mas sempre anoto em pequenos blocos de papel e daí a poesia vai fluindo”, explica como é seu processo criativo.
Bienal
No Tempo de Um Cigarro já chega ao mundo presente na próxima Bienal do Livro de Alagoas, na Praça de Autores Independentes, com sessão de autógrafos e vendas, de 31 de outubro a 09 de novembro deste ano, no Centro de Convenções de Maceió. A publicação tem 108 páginas, são 99 poesias para serem degustadas “no tempo de um cigarro”, conforme diz o autor, que também assina a ilustração da capa do livro. São três mãos com etapas diferentes da queima do cigarro, com intensidades diferentes, o que corresponde aos três capítulos do livro: Chama, Fumaça e Cinzas.
Grael - a poesia
A primeira poesia do livro chama-se Grael, que apesar de fazer referência ao velejador brasileiro que desafia o mar, tem seu conteúdo abstrato e desafiador, e bem pequeno, lido num trago de um cigarro. Erick confessa que tem um olhar especial para O Inebriante Susurro das Migalhas, onde consegue transformar em palavras e sensações o turbilhão de emoções, tristezas e angústias porque passam um jovem negro de classe média no dia a dia de uma realidade que julga e segrega quem não está entre os brancos e héteros, confessa o escritor ao contar as inúmeras situações constragedoras que passa no dia a dia. Muitas delas imperceptiveis para quem não nasceu na pele negra e que se assume bissexual. “Não é fácil, pior é lidar com a naturalidade do racismo e a falta de empatia nos ambientes que frequentamos”, revela.
Feitos à mão
No Tempo de Um Cigarro faz parte das publicações confeccionadas de forma alternativa de produção literária. São livros artesanais feitos à mão sob encomenda. Cada exemplar custa R$ 60,00. A sinopse do livro diz que ele reúne poesias curtas e sintéticas, usa do generalismo para coisas pequenas e grandiosidades para percepções cotidianas. Com forte imagética e abstrações livres, convida a pessoa leitora para pequenas pausas, reflexões íntimas na navegação poética. Discorre da vivência do autor nas transições de espaços, entre relacionamentos, raça, bissexualidade e o corpo no urbano.
Vale à pena degustar o mundo de Erick contado pela sensibilidade da poesia. O livro pode ser adquirido por encomenda, pelo site https://editoraarpillera.com.br/
Peço permissão para dizer que a jornalista que escreve essa matéria tem orgulho de ser tia do Erick Moura Sampaio - uma permissão poética.
Fonte: Assessoria