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07/07/2016 às 20h00

Cultura

Documentário "Menino 23" relembra perigoso flerte do Brasil com o nazismo

Filme que estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas do País ajuda a entender a complexidade do racismo no Brasil ao abordar o eugenismo, teoria de seleção genética

Aloisio Silva, o menino 23 do título, revela uma história profundamente triste sobre seu passado e o passado do Brasil - Foto: Divulgação

Tudo começou com um tijolo com a marca da suástica nazista. “Menino 23 - Infâncias Perdidas no Brasil” acompanha o minucioso trabalho do historiador Sidney Aguilar, que descobriu que durante os anos 1930, 50 meninos negros foram levados de um orfanato no Rio de Janeiro para uma fazenda no interior de São Paulo, onde foram submetidos a trabalho escravo e identificados por números. 

O documentário de Belisario Franca assombra por resgatar um passado que o Brasil enquanto nação se esforçar para esquecer: o nosso flerte indisfarçado com o nazismo e demais regimes totalitaristas em voga na primeira metade do século XX. “Tínhamos o segundo maior partido nazista fora da Alemanha”, anota um dos historiadores ouvidos por Franca.

Com rigidez jornalística, o documentarista vai revelando essa nefasta história brasileira soterrada em documentos e na memória de um personagem – que depois aponta o caminho para outros dois -, o tal do menino 23 que batiza o filme. Aloísio Silva, já nonagenário, expõe revolta, vulnerabilidade e amargura em suas intervenções. É um personagem doído e tanto Sidney Aguilar, que o localizou, como a realização que o filma contemplativamente, sabem disso e permitem que essa dor se alastre pelo filme.

Apesar do rigor conceitual, “Menino 23” se apoia na tese de doutorado Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância no Brasil (1930-1945), defendida em 2011 por Aguilar, na Unicamp, e premiada pela Capes, o fazer cinematográfico se faz sentir no desenvolvimento da história. Há dramatizações, serenas e sóbrias, para ilustrar circunstâncias que a imagem bruta não poderia alcançar por remeter ao tempo pretérito. Há, também, uma preocupação com a construção climática.

As revelações do menino 23 e outros meninos só começam a surgir lá pela metade do filme de pouco mais de 80 minutos. Há Argermiro Santos, homem menos tomado pela revolta do que Aloisio, e há “Dois”, que apesar de se chamar José é tratado pela produção pelo número que recebeu na fazenda Rocha Miranda. Ele é o mais perto de vilão que o filme tem a oferecer depois dos proprietários da fazenda. A “Xica da Silva homem” como definiu o filho de “Dois” lembra, no registro aqui estabelecido, o personagem vivido por Samuel L. Jackson em “Django Livre” de Quentin Tarantino. Um negro apadrinhado pelos brancos e que tratava os demais negros com diferença.

Vencedor de dois prêmios no 26º Cine Ceará – Festival Ibero Americano de Cinema, “Menino 23” é um filme importante para entender a complexidade do racismo no Brasil e perceber quão sutis foram as circunstâncias que fizeram com que Getúlio Vargas aderisse aos Aliados, capitaneados pelos Estados Unidos, em detrimento do Eixo, bloco liderado pela Alemanha, na Segunda Guerra Mundial. O que torna o filme especialmente brilhante é capturar como esse movimento político foi determinante para selar o futuro daqueles 50 meninos.


Fonte: iG

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