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13/08/2018 às 07h50

Geral

Os Amigos (quase) secretos de Torrões

ONG de São Paulo realiza trabalho que mudou a vida dos moradores de um povoado de São José da Tapera; Contudo, instituição não permite a presença da imprensa no local

Beto Macário

Carlos Amaral

A pouco mais de 230km de Maceió existe, na cidade de São José da Tapera, no Sertão de Alagoas, um povoado chamado Torrões. Há dez anos o local começou a passar por uma verdadeira transformação, com a chegada de água, infraestrutura e serviços médicos e educacionais. Toda essa mudança tem passado despercebida aos olhos dos alagoanos – exceto pela população taperense – até agora.

Todo esse trabalho é realizado por uma instituição chamada “Amigos do Bem”. A ONG construiu 149 casas, um centro médico com oftalmologia e odontologia, um centro educacional, uma praça, uma padaria, uma mercearia, uma casa de costura e uma de artesanato. Além de um Centro de Transformação (CT), que serve também de sede da instituição no local. O nome dado à ação é “Cidade do Bem”,que em Alagoas foi inau­gurada em 2008.

Em 2017, segundo o relatório de ati­vidades disponibilizado no site da Amigos do Bem, foram atendidas com estes ser­viços 1.043 pessoas. São José da Tapera conta com, segundo estimativa do Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017, com 32.626 habitantes. Os atendidos pelos serviços da ONG representam 3,2% da população da cida­de, mas de acordo com moradores de po­voados vizinhos, todos podem ser atendidos pelos serviços ofertados.

São José da Tapera possui um dos pio­res Índices de Desenvolvimento Hu­mano (IDH) do país, com Índice de Gini em 0.527 (quanto mais perto de 1, pior), ficando em 5.416º lugar entre as 5.570 cidades brasileiras (2010). A cidade possui menos de 7% de sua população ocupada e sua renda média per capita é de 2,2 sa­lários mínimos. 56,8% recebem até meio salário mínimo. Esses dados também são do IBGE.

De acordo com a Prefeitura de São José da Tapera, cerca de 4 mil pessoas vi­vem em Torrões.

Todos com quem a reportagem da Painel Alagoas conversou elogiaram o trabalho da instituição, até então quase secreta. “Quase”, porque apesar de uma série de informações sobre as ações de­senvolvidas, assim como as empresas que doam recursos – além de formas de arre­cadação – estejam todas disponíveis em seu site, uma ação dessa importância, que tem mudado para melhor a vida da­quela população, não é o suficiente para que a Amigos do Bem se sinta con­fortável com a presença da imprensa no local. Sua assessoria reclamou da presença da re­portagem e chegou a afirmar que en­trevistas e fotos – mesmo das ruas de Torrões – só poderiam ser feitas com autorização da entidade.

Antes de a equipe da Painel Alagoas se dirigir até o povoado de São José da Tapera foi realizado um contato prévio e, por e-mail, já foi dito que entre­vistas com os moradores só com a pre­sença de alguém do marketing de São Paulo, local da sede da Amigos do Bem. E quando a equipe tentou ter acesso ao CT – uma grande estrutura com quadras poliesportivas, dezenas de salas de aula e local para atendimento médico – a asses­soria reclamou da presença da revista no local.

Ela reafirmou que qualquer trabalho jornalístico só poderia ser feito com a presença de alguém da instituição em São Paulo disse que nada poderia ser publicado sem autorização prévia, mesmo ima­gens das ruas de Torrões – além, é claro, das entrevistas com moradores do local.

Questionada se a Amigos do Bem era dona do povoado para ter o direito de proibir imagens de suas ruas, a assessoria disse que não, mas “se for para falar o no­me da instituição e sobre o nosso projeto, mesmo com os moradores, tem de pedir au­to­rização. Fazemos isso até com a Glo­bo. E o que digo não é antidemocrático”.

Segundo o advogado Welton Ro­ber­to, não há nenhuma lei que jus­tifique ou dê suporte à fala da asses­soria da ONG.

“Onde fica a liberdade de imprensa? Conceder ou não entrevistas fica a critério das pessoas procuradas e fotos de vias pú­blicas não precisam de autorização. Mes­mo as fachadas dos prédios da ONG po­dem ser fotografadas livremente. O que precisaria de autorização é a entrada nos locais fechados. Na rua, não”, explica o ad­vogado, que também é professor do curso de Direito da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). 

Prefeitura

A reportagem contatou a Prefeitura de São José da Tapera para saber como, do seu ponto de vista, se dá a relação com a Amigos do Bem. Quem explica é Thiago Santos, secretário Municipal de Agricultura.

“É uma relação institucional. A gente respeita o limite deles, mas é um povoado do Município e recebe serviços do Muni­cípio. Agora mesmo estão sendo feito cal­ça­mentos, por exemplo. As políticas e pro­gramas da agricultura familiar, como acesso à água, são da Prefeitura. É uma comunidade como as demais. O diferencial é que tem esse trabalho da Amigos do Bem. Se um agente da Prefeitura precisar ir a Torrões, vai sem avisar ou – muito me­nos – pedir nada à ONG”, explica Thiago Santos.

O gestor destaca a importância do trabalho realizado no povoado.

“A ONG chegou em Torrões e fez um trabalho excelente. Era uma região  iso­lada do município e sua população vivia muitos problemas sociais e conflitos den­tro da comunidade, era tida como vio­lenta. Sua chegada trouxe a possibilidade de melhoria na qualidade de vida, com geração de renda e serviços. A Amigos do Bem fez uma parceria com a prefeitura para colocar água na comunidade”, relata o secretário Municipal de Agricultura.

Thiago Santos explica que em relação às escolas existentes no local, todas são municipais e recebem recursos públicos, mas seu gerenciamento fica a cargo da Amigos do Bem que, acrescentam atividades no dia a dia das unidades educacionais.

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Fonte: Painel Alagoas

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