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13/08/2018 às 07h53

Geral

Moradores e funcionários da ONG evitam entrevistas

Beto Macário

Carlos Amaral

A reportagem da Painel Alagoas chegou a Torrões na manhã do último dia 21 de julho, um sábado. Por ser o dia da feira em São José da Tapera, o local se encontrava um pouco esvaziado e dos poucos presentes, apenas alguns aceitaram falar.

É o caso de André, de 22 anos de ida­de. Atualmente desempregado, ele diz que é mecânico de motos e bicicletas, e re­lata que a primeira pessoa da Amigos do Bem chegou em Torrões em 2003. Ele cresceu com a atuação da instituição no local.

“Foi bom demais. Aqui, as crianças não tinham quase nada, nem roupa. Hoje, eles dão roupa, brinquedo. Trouxeram água para cá. Tudo aqui é com eles, até casa. Reformaram as que tinham e deram novas também. Eu ganhei uma. De Pilões [povoado vizinho] para cá eles cuidam de tudo”, relata André.

Perguntado se a ONG cobra algo de volta pelos serviços que presta, o jovem diz que apenas a participação em trabalhos voluntários da instituição. “Mas não obriga ninguém a ir”, ressalta.

André também destaca a preocupação com quem ingere bebida alcoólica além da conta. “Para quem bebem muito, eles pedem para parar porque às vezes acontece alguma confusão, encrenca. Pode beber, mas desde que não seja muito”.

A conversa com o jovem mecânico foi tranquila e ele se deixou fotografar. Já com Eliana, depois de algum tempo para ganho de confiança, apenas a entrevista. Sem fotos.

Ela nasceu e viveu em Torrões até completar 14 anos de idade, antes de a Amigos do Bem chegar ao povoado. Saiu e morou em Aracaju e Maceió. “Foram cerca de 10 anos fora. Depois voltei para visitar minha família e conheci meu esposo. Desde então estou aqui”.

Eliana, que também está desempregada, explica que a instituição também oferece empregos assalariados à população de Torrões. Entretanto, não há vagas para todos.

“Mesmo eles dando emprego, boa parte dos homens viaja para o Mato Grosso para trabalhar na colheita de al­godão. Mas isso não é pela ONG. A situa­ção aqui é assim: as mulheres trabalham para a ONG e os homens para fora”, diz Eliana. “Mas nunca trabalhei para eles. Uma vez me chamaram para trabalhar de graça. Eu mesmo que não vou. Até meu relógio precisa de pilha. Cheguei a fazer uma entrevista de emprego, mas não me chamaram”, completa.

A preocupação da ONG com o consumo de bebidas alcoólicas em Torrões chega ao ponto de tratamento medicamentoso, segundo Eliana, com a confirmação de André.

“Eles dão até remédio se a pessoa quiser parar de beber”, ressalta Eliana.

De acordo com eles, a equipe mé­dica oferecida pela instituição vai ao local uma vez por mês e lá fica por quatro ou cinco dias. 

Política

Um projeto desses, com esses tipos de ações, resultados e aceitações, deve ter chamado à atenção de lideranças polí­ticas da região. Porém, os políticos não devem ter tido muita sorte com a ONG.

Durante a ligação para reclamar da pre­sença da reportagem da Painel Ala­goas em Torrões, a assessoria da Amigos do Bem destacou – por mais de uma vez – não ter relação alguma com políticos ou partidos.

Isso foi confirmado, não só por An­dré e Eliana, como com as outras pes­soas no lugar, mas que não aceitaram dar entrevistas.

“Eles não tem relação nenhuma com política”, crava André. “Eles acham ruim quando os políticos vêm fazer cam­panha aqui. Dizem até para a gente não tirar foto. Acho que é para não fazerem campanha com o trabalho deles”, comenta Eliana.

Quem também destacou a distância que a Amigos do Bem mantém da política foi Thiago Santos.

“Eles têm esse cuidado de não dei­xar misturar a ação deles com política par­tidária, o que é bom. Mas durante as elei­ções não há empecilhos para candidaturas buscarem votos lá. Inclusive candidaturas saem de Torrões. Eles não influenciam. Não ajudam, mas não impe­dem que se faça campanha na comunidade”, pon­tua o secretário Municipal de Agricultura.

ONG montou quatro “Cidades” no Nordeste

A Amigos do Bem montou mais três “Cidades” no Nordeste brasileiro, além da de Torrões, no Sertão de Ala­goas. Duas são em Pernambuco – no po­voado de Catimbau, na cidade de Buí­que; e Inajá –, e uma no Ceará, em Mauriti. Segundo a instituição, mais de 60 mil pessoas são atendidas por seus serviços.

Todas as quatro “Cidades do Bem” possuem estrutura semelhante, assim como a oferta de serviços. O que varia são ações para geração de renda, por causa das especificidades locais. Em Pernambuco e Ceará, por exemplo, está se trabalhando com caju, tanto na plantação quanto no beneficiamento.

Já para Torrões, a ideia, segundo funcionários que pediram para não se identificar, é montar uma fábrica de sabão no terreno em frente ao Centro de Transformação da Amigos do Bem. Ainda de acordo com eles, a instituição quer montar uma faculdade na mesma área, ao lado de onde ficaria a fábrica.

Ainda não há, sequer, vestígios de qualquer construção no local.

Financiamento

Ações dessa monta, mesmo que fos­se somente numa localidade, requerem algum volume de recursos. Nada exor­bitantes, eles chegam através de doações e parcerias com grandes empresas.

Segundo o relatório de auditoria para o exercício de 2017, elaborado pela Ernst & Young (EY), a receita bruta da Amigos do Bem foi de R$ 27.019.824, mas o saldo – descontando-se os pagamentos – foi de R$ 662.612.

No comparativo com o exercício anterior, de 2016, houve aumento na arrecadação da instituição de 26% (R$ 21.407.820), mas o saldo foi menor em 62,45% (R$ 1.764.196) que o ano anterior.

A Amigos do Bem foi fundada em 1993 por Alcione Albanesi. Segundo relato no site da instituição, a ideia surgiu de “iniciativa de um grupo de amigos liderados por Alcione Albanesi, que levava às famílias do sertão nordestino roupas, alimentos, atendimento médico e odontológico, entre outras coisas”.

Leia também:

Os Amigos (quase) secretos de Torrões 


Fonte: Painel Alagoas

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