Por Carlos Amaral
Quando esta edição da Painel estiver nas bancas, provavelmente este número será maior, mas até seu fechamento, no final do mês de julho, 38 pessoas cometeram suicídio em Alagoas. Ou seja, mais de cinco pessoas por mês decidiram encerrar sua vida no estado. Entre 2014 e julho de 2019, esse montante foi de 625. Os dados são da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).
Cercado de tabus e dogmas, o suicídio não é uma prática nova, mesmo assim a forma de lidar com ele ainda não é consenso entre especialistas. Muitos defendem que o melhor a se fazer é não tratar do tema na imprensa, por exemplo. Ou se o fizer, não citar nomes. Isso seria para evitar o estímulo de outras pessoas a tirarem a própria vida.
Além disso, a depressão nem sempre é tratada socialmente com a seriedade que deveria. Em muitos casos, ou é banalizada ou é ignorada. Além de a pessoa que a possui ter vergonha de falar do assunto para não parecer mais fragilizada do que realmente é.
Segundo Laeuza Farias, presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP) de Alagoas, o problema complexo e cheio de variantes.
“Difícil precisar uma causa única como definidora do suicídio. Temos questões existenciais, emocionais, sociais enfim, uma transdisciplinaridade para tentar explicar o que motiva o indivíduo ao suicídio. Camus, filósofo, dizia que saber se a vida vale a pena ou não ser vivida, é o principal problema filosófico”, afirma Laeuza Farias.
Entretanto, na medida em que os índices de suicídio caem globalmente (-17%), segundo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a taxa entre adolescentes das grandes cidades brasileiras aumentou 24% entre 2006 e 2015. Este estudo foi publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria e indica que a prática é até três vezes maior entre jovens do sexo masculino. Nas seis maiores cidades do país, esse aumento foi de 24%, contra 13% no interior do Brasil.
Os dados usados pelos pesquisadores da Unifesp foram retirados do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cruzado com o Coeficiente de Gini – medida para aferir desigualdade socioeconômica. O resultado aponta a popularização da internet, as mudanças sociais no país e a falta de políticas públicas de combate ao suicídio como as principais razões para esse aumento.
De acordo com os números da Sesau, dos 625 casos de suicídio em Alagoas entre 2014 e 2019, “166 eram residentes no município de Maceió (28,56% dos óbitos) e 56 no município de Arapiraca (8,96%)”. Esta informação coaduna com a pesquisa da Unifesp, de haver mais concentração de casos nas maiores cidades.
Mas nem todos os casos chegam ao seu objetivo: a morte. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Maceió, em 2019, 145 pessoas foram mal sucedidas ao tentar tirar a própria vida na capital alagoana. Desde 2017 até o fechamento desta edição da Painel, 847 sobreviventes foram registrados.
A quantidade de casos de suicídio ocorridos em Maceió chamou a atenção dos vereadores. Ainda no mês de março, o assunto foi tratado em sessão plenária. Silvânia Barbosa (PRTB) foi quem puxou a discussão e ressaltou a importância de ações preventivas para além de campanhas-mês organizadas.
A parlamentar apresentou dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) os quais apontavam que o número de suicídios chegava a 805 mil por ano em todo o planeta e 12 mil no Brasil, sendo de nove mil por homens com idade entre 25 e 34 anos.
Ainda de acordo com a vereadora, a maior parte dos suicídios está atrelada à depressão e ao alcoolismo e que tal associação a distúrbios mentais leva a OMS a concluir que 90% dos suicídios em todo mundo poderiam ser evitados com acompanhamento psicológico e tratamento medicamentoso.
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Fonte: Painel Alagoas