Por Carlos Amaral
Se falar sobre o suicídio não é tarefa simples para os meios de comunicação, devido à série de tabus que circundam o tema, essa condição é aumentada quando quem precisa abordar o assunto são familiares de pessoas que tentaram ou conseguiram tirar a própria vida.
Numa reportagem publicada em setembro de 2017, no então jornal Painel Alagoas, mães e pais narraram um pouco do sofrimento que sentiram – e sentiam – naquela época.
É o caso de M.L.V, professora, hoje com 44 anos de idade, que um dia encontrou seu filho, então com 15 anos de idade, morto na sala de seu apartamento, em 2005. O jovem M.V.B. se matou tomando veneno depois de deixar um bilhete para a mãe. Além da dor da perda, o adolescente deixou o sofrimento da incerteza e da culpa.
De acordo com a reportagem, M.V.B estudava num colégio particular, tinha amigos, ia ao cinema, gostava de jogar futebol e foi uma criança e adolescente alegres. Os pais eram divorciados, mas estavam sempre presentes em sua vida. “É isso que eu não consigo entender, onde estava a motivação para aquele gesto que eu não percebi”, se lamentou M.L.V.
A mãe contou à Painel que alguns amigos de seu filho lhe disseram que ele estava mais retraído, sem sorrir e fugindo de atividades festivas. M.L.V. até admitiu à reportagem que notou o jovem mais quieto, contudo acreditou se passar de uma “fase”.
“Eu apenas o abraçava, o beijava e dizia o quanto o amava”, lembrou. “Ele não reagia, apenas se acolhia em meus braços. Teria sido esse o recado que eu não entendi?”, completou M.L.V.
No bilhete do jovem, poucas palavras que resumiam o que ele sentia momentos antes de tirar a própria vida. “Mãe, tô partindo. Só sinto tristeza. Não quero mais viver. Perdoe-me. Te amo muito”. Aquelas poucas, duras e inesquecíveis palavras passaram a ser a codificação de tormento para M.L.V.
“Passei anos agarrada a esse papel, querendo ler o que não estava escrito, querendo entender onde eu estava que o deixei partir com tanto sofrimento. Morri junto com ele”, disse a mãe à reportagem.
Outro depoimento narrado no então jornal Painel Alagoas relata o caso de um jovem que disse à mãe – aqui tratada por Paula – ir à praia, mas nunca retornou para casa.
“Vou caminhar na praia”, esta foi a última que Paula ouviu de seu filho após lhe entregar um medicamento que ele fazia uso diariamente.
“Ele tomou o remédio, saiu no comecinho da noite e nunca mais voltou. Não foi caminhar na praia. Foi a um prédio comercial próximo à nossa casa e pulou do sétimo andar. Tinha 25 anos. Havia seis anos, os médicos diagnosticaram inicialmente que ele tinha depressão e depois, esquizofrenia. Desde então, ele mantinha as consultas com o psiquiatra e tomava antidepressivos. Estava bem. Nada aparentava que tentaria mais uma vez contra a própria vida. Um ano antes ele teve um surto e pulou do terceiro andar de nosso apartamento. Passou um mês em coma e seis meses fazendo fisioterapia para recuperar-se das sequelas. Conseguiu e retomou a rotina de antes”, relatou Paula. “Fazia faculdade, saia com os poucos amigos que tinha e interagia comigo e com o irmão.
Certo dia, perguntei a ele por que ele havia pulado de nosso apartamento, se ele queria morrer. Ele me disse que não, que uma voz repetia no ouvido dele que, se pulasse, ele iria ajudar a muita gente”, completou.
Segundo Paula, seu filho não usava nenhum tipo de droga, nem lícita nem ilícita. Exceto pelo medicamento receitado pelos médicos.
“Tinha um coração bom, sempre foi tímido e não tinha muitos amigos. Quando estava deprimido dizia que sentia angústia, muita angústia e queria se livrar dela. Costumava me dizer que eu nunca iria entender a angústia que ele sentia”, lembra. “Não tem um único dia que eu não me lembre dele. Seu sorriso, suas brincadeiras, sua inteligência. Uma mãe jamais deveria enterrar seu filho. A dor é descomunal, imensurável e nunca passa. E carrego sempre comigo a culpa por não ter conseguido salvá-lo”, completou Paula.
A revista Painel Alagoas tentou colher mais depoimentos, porém as pessoas contatadas pela reportagem se negaram a dar entrevista. Em suma, devido a dor que os casos ainda causam em si.
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Fonte: Painel Alagoas