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23/03/2021 às 06h39

Geral

O Muro das Bonecas

Como um simbólico muro de bonecas em Milão, se tornou uma obra permanente de reflexão e ação criativa contra a violência contra a mulher e se reproduziu por todo o país...

Dora Nunes

Por Dora Nunes, de Milão, Itália

O “Muro delle Bambole” é uma instalação artística permanente, inaugurada em 21 de junho de 2014 em Milão, com a intenção de tornar perceptível e visível o femi­nicídio e a violência contra as mulheres. A obra  foi inspirada em uma tradição indígena, na qual cada vez que uma mulher sofre violência, uma boneca é afixada na porta de sua casa. A idéia do muro nasceu em 2013 quando a cantora e apresentadora de TV, Jo Squillo, pensou em pendurar uma grade em uma parede da cidade para postar fotos de vítimas e bonecos de tecido inspirados nas clássicas “pigottes”, bonecas de pano dadas às crianças no pós-guerra para trazer a esperança de uma vida melhor. Tudo muito simbólico.

A escolha de um local aberto e público para a instalação tinha o objetivo de provocar a curiosidade de quem passava e gerar reflexão sobre o tema do feminicídio e da violência. A idéia ganhou a adesão de 50 estilistas, 20 artistas e 30 associações sem fins lucrativos para a sua realização. Além das “pigottes”, também são penduradas borboletas e flores que simbolizam uma infância violada, como por exemplo, a das crianças que ficaram órfãs pelo feminicídio. Qualquer pessoa pode ir ao “Muro” e pendurar a sua boneca, como testemunho da luta contra a violência, o menosprezo e a discriminação à condição feminina..

Ao longo dos anos, com a contribuição de artistas, associações e de cidadãos comuns, o “Muro delle Bambole”, em italiano, ou "The Wall of Dolls" ", em inglês, foi se expandindo e tornou-se um símbolo permanente da cidade, no qual se realizam eventos anuais para lembrar o Dia Internacional das Mulheres, em 8 de março, e a Jornada Internacional Contra a Violência Contra as Mulheres, em 25 de novembro. Na parte interna, foi instalado um museu permanente que conta com bonecas estilizadas assinadas por famosos como Max Mara e Salvatore Ferragano, entre outros. 

O monumento milanês ganhou tanta notoriedade que se tornou um modelo de conscientização e se espalhou por diversas cidades italianas, hoje está também em Roma, Gênova e Veneza, sendo este último, inaugurado por Danatella Versace, em 2019. São muitas as sucursais do muro espalhadas por outras cidades italianas exibindo uma mensagem forte e uma ação criativa contra a violência de gênero para torná-la cada vez menos tolerável socialmente.

Mesmo com todo o impacto causado pela obra, ou talvez por esse motivo, o muro é repetidamente vandalizado, tendo sido mais atingido em julho de 2020, quando jovens embriagados atearam fogo em parte das bonecas e cartazes pendurados. “A instalação permanente do Muro reflete a incompreensível brutalidade da realidade: roubada, atormentada e até queimada, são tantos bonecos que sofreram violência e isso nos faz refletir sobre quanto trabalho ainda falta ser feito, disse Jo Squillo à época do ataque. Em função da gravidade do vandalismo, reações de indignação da política e de cidadãos se multiplicaram exigindo reparação e mais proteção ao monumento por parte das autoridades locais. 

O feminicídio é um fenômeno global e vitimiza mulheres diariamente, pela discriminação estrutural e inferiorização diante dos homens. No Brasil, durante a pandemia, uma mulher é morta a cada nove horas. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, maridos e ex-companheiros respondem a 90% dos casos de feminicídios no país.

A vulnerabilidade feminina resulta em “números de horror”, de acordo com o site oficial do Muro das Bonecas (www.wallofdolls.it): 1 em cada 5 mulheres foi vítima de violência física ou sexual; em alguns países, o estupro por parte do marido é permitido e a brutalidade com as mulheres é um componente cultural; na América, uma mulher  é agredida a cada 15 segundos, geralmente, pelo cônjuge; na Europa, 62 milhões de mulheres, 1 em 3, são vítimas de maltratos e na Itália, especificamente, 6.743.000 mulheres foram abusadas e/ou maltratadas e muitas delas, assassinadas.


Fonte: Painel Alagoas

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