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20/12/2021 às 06h31

Geral

Luto e esperança na pandemia

Depoimentos carregados de dor revelam tentativas de superação e otimismo com a vacinação

Mariana escreveu sobre seu sentimento de dor pela perda e de amor eterno pelo marido - Arquivo Pessoal

Por Eliane Aquino

Maria Cecília foi ao comércio, em meados de novembro, comprar enfeites de Natal para a árvore de quase dois metros que tem em sua casa, no Barro Duro, parte alta de Maceió. Chorou segurando um Papai Noel de tecido, precisou se sentar, tomar um copo de água e recuperar o fôlego antes de sair da loja sem levar nada. 

Esse é o seu primeiro Natal sem Antônio José Marinho, seu marido, pai de seus cinco filhos, uma das mais de 600 mil vítimas da covid-19 no Brasil. Antônio faleceu em janeiro deste ano, depois de quase 30 dias internados no Hospital da Mulher, em Maceió. Tinha 62 anos de idade, era diabético, hipertenso e há dez anos fez uma cirurgia para curar uma diverticulite.   

“Chorei o ano inteiro, choro quase todos os dias, porque sei que se meu marido tivesse tomado a vacina não teria falecido. É muito mais dolorido porque sei que o governo poderia ter iniciado em dezembro de 2020 a vacinação e não o fez, e isso matou Antônio. O desgoverno com a saúde em plena pandemia matou o pai de meus filhos, o avô de meus três netos”, diz Cecília, chorando. 

“Vou armar a árvore, enfeitá-la como todos os anos, reunir minha família, e rezar muito para que Deus nos conforte nessa dor tão sofrida. Não vai ser fácil brindarmos, nos abra­çarmos, entrarmos no clima na­talino sem Antônio. Ele se vestia de Papai Noel, entregava os nossos pre­sentes, era quem levantava o brinde e iniciava a prece de gratidão que fazíamos todos os anos, que faremos esse ano mesmo sem ele”, acrescenta, salientando com voz embargada: “é uma dor profunda, ainda tínhamos tanto o que viver juntos!”. 

  Em 2020, dia de Natal, 25 de dezembro, Endy, então com três anos, perdeu o pai Gustavo para a covid-19. Gustavo Henrique Muniz Farias, 34 anos, torcedor fervoroso do CSA e do Corinthians, casado com Mariana Navarro, padrasto de Bianca. Difícil para a família o Natal deste ano. Se em 2020 eles mantinham a esperança de que Gustavo venceria o vírus, agora em 2021 terão que conviver com a saudade de outros natais e a dor do natal passado com a morte dele. 

Mariana carrega com ela a dor da perda e a responsabilidade de acalentar as filhas, para que elas não percam a esperança na vida. “Sinto a presença dele em tudo o que faço, falo, penso. Foi um sonho viver um tempo de amor com Gustavo, ter uma filha com ele, fazer tantos planos juntos, rirmos de tantas coisas, nos apoiarmos em tantas outras. Endy crescerá sabendo que seu pai foi o melhor pai que ela poderia ter tido”, afirma Mariana, que fez uma tatuagem de um anjo com o nome de Gustavo no braço. “É para a eternidade”, diz ela. 

“No começo, a morte dele me parecia um castigo, um martírio, parecia que eu tinha morrido com ele. E me perguntava, por que ele? Por que nossa família? E agora, o que eu faço com todos os nossos sonhos, os nossos planos, com todo esse amor que construímos? Eram e ainda são hoje tantas perguntas, mas tenho muita fé em Deus, como Gustavo também tinha, e sei que Deus é capaz de aliviar toda essa dor, porque Ele tem um propósito para tudo”, acrescenta, emocionada. 

Sergipano, Luiz Carlos Barreto fez de Alagoas sua Pátria. Em­presário, trabalhou em vários ramos e gerou empregos para dezenas de alagoanos. Casado com Conceição Lisboa Góes, pai de Miguel, Bruno e Raquel, ele foi mais uma vítima da covid-19. Faleceu em junho de 2020, exatamente dia 23, data festiva que ele tanto gostava. Sua casa era uma festa, independente de épocas, aberta para familiares e amigos. Natal, Ano Novo, ele fazia questão de receber, receber e receber todo mundo, com uma alegria que vinha da alma, do coração, conta Conceição. “Ele ficava ligando o dia todo, até que a casa de repente estava cheia e nos divertíamos muito”, destaca. 

 O Natal de 2020 foi difícil, mas esse não será menos dolorido, revela Conceição. Foram 48 anos juntos, e como ela própria define, “de companheirismo, cumplicidade e amor”. “Mais um Natal sem a presença dele, mas o sinto espiritualmente em mim, em toda a família”, afirma com a voz embargada pelas lágrimas. “Fico triste, choro, mas sei que não devo, porque Lula era só alegria, pura alegria, uma alegria contagiante, era muito difícil ver tristeza nele”, reforça. “Um pai e avô amoroso, cuidadoso, amigo leal”, salienta Conceição. 

 “Quando estou muito triste, lembro-me do legado que ele nos deixou, lembro da realidade que ele construiu comigo, nossa família, filhos maravilhosos, netos e netas, e agora o nosso bisneto, o pequeno Luiz Carlos, não posso esmorecer, Luiz Carlos não me permitiria esmorecer, ele sempre foi para cima, para a frente. Vivemos juntos nossa juventude, há toda uma história que me fortalece, Lula estará sempre em mim e na minha família”, reforça. 

Maria Luíza e Maria Lúcia, professoras, perderam este ano a mãe, Helena Josefa dos Santos, para a covid-19. “A gente acha que nunca acontece em nossa casa, foi horrível. Em fevereiro passado o vírus contaminou toda nossa família e minha mãe, 70 anos, diabética, hipertensa, com problemas cardíacos, não resistiu, a vacina não chegou a tempo de salvá-la”, lamenta Maria Lúcia. “Tomávamos todos os cuidados, e bastou algum desvio de atenção, lá estávamos todos doentes”, acrescenta. 

O Natal sem a mãe? Claro que vai ser dolorido, reconhece Maria Luíza: “A falta dela deixou um vazio imenso em nossas vidas, em nossa casa. Meu pai, eu e minhas irmãs vamos tentar nos consolar e lembrar com saudades de seus abraços, seu sorriso, o jantar que ela fazia questão de cuidar pessoalmente em cada Natal, seus presentes sempre amorosos, como o cachecol de crochê, ou a caixinha decorada com fuxico, coisas que ela adorava fazer...”. “Hoje estamos todos vacinados, meu pai já tomou a dose de reforço, mas não há vacina que minimize nossa dor”, enfatiza Maria Lúcia, que mandou colocar numa moldura pequena a foto da mãe com as filhas para pendurar na árvore de Natal. “É nossa homenagem de amor”, destaca. 

No luto causado pela covid-19, o sinal de esperança chega com a vacinação. No Brasil, atingimos mais de 63% da população imunizada com as duas doses ou dose única, e em Alagoas esse percentual positivo é de 52,21%. Maceió vacinou 87,67% com a primeira dose e 82,42% de adultos e 72,72% da população vacinável com a segunda dose. Até o inicio deste mês de dezembro, 79.252 pessoas tomaram a dose de reforço na capital alagoana. 

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Fonte: Painel Alagoas

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