Por Daniela Gama/Blog Sem Simetria
1968. Foi nesse ano que Andança, de Danilo Caymmi em parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, ficou em terceiro lugar no Festival da Canção, tornando-se sucesso dentro e fora do país. Mas não foi esse o início do filho de Dorival Caymmi no mundo da música. Aos 15 anos de idade, Danilo participou como flautista da gravação do disco “Caymmi visita Tom”, em 1964, e três anos depois compôs, pela primeira vez, a música “De Brincadeira”, também em parceria com Souto, interpretada por Mário Castro Neves. De lá para cá, faz música, compõe e canta, e seu trabalho virou referência e escola na cultura brasileira.
E nesses 50 anos de carreira, Danilo aproveita para homenagear seu pai, Dorival Caymmi, “um dos gênios da raça”, como o definia, tão bem, Tom Jobim. O “Viva Caymmi“ chega ao Teatro Deodoro, em Maceió, no próximo dia 21 deste mês de julho, trazido por Sue Chamusca e Raman Entretenimentos. O show fala da música e da vida de Dorival Caymmi, em quase um século de histórias, arte, cultura e vida musical das melhores de todos os tempos no Brasil.
Em entrevista ao Blog “Sem Simetria”, Danilo falou sobre sua música, a musicalidade em sua família, a referência de Dorival Caymmi na música dos filhos e descendentes, lamentou o momento de desvalorização que vive a cultura brasileira e defendeu a Lei Ruanet como provedora da arte no país. “A Lei Ruanet foi muito criminalizada, criticada sem fundamento, uma lei que foi um divisor para a nossa cultura, foi um período de enriquecimento cultural no Brasil, e a gente sente mais ainda a sua falta quando vivenciamos, agora, uma desvalorização da cultura brasileira em geral”, lamentou o artista.
“O cenário artístico brasileiro regrediu, demos inúmeros passos para trás, mas há uma esperança, sempre há uma esperança no fim do túnel”, disse Danilo, citando como exemplo a trilha sonora da novela global Pantanal. “São músicas bonitas, feitas por compositores pantaneiros, que bom que essa novela leva a boa música para as casas dos brasileiros em um tempo em que vemos tantas músicas frágeis, sem estrutura, empobrecidas, produzidas sem o devido cuidado”, comenta o músico.
Danilo se define como “músico, compositor, cantor, e recentemente estreando nas artes visuais”. E diz que considera natural que as pessoas o associem, e sua família, ao seu pai, a quem descreve como “o grande compositor Dorival Caymmi”. Mas afirma que, apesar de ele ser sempre a referência, a ligação familiar não interferiu na sua trajetória e de seus irmãos. “Cada um seguiu seu caminho com sucesso, graças a Deus, e estão surgindo novos na atual geração, como a minha filha Alice, que está fazendo um caminho brilhante na música que ela se propõe a fazer”, pontua o artista, citando ainda a luz própria de seus irmãos Dori e Nana.
Tem razão Danilo, quando fala sobre a filha Alice. Aos 12 anos de idade, ela gravou sua primeira música, "Seus Olhos", escrita pela irmã Juliana e incluída no álbum Desejo, de Nana Caymmi. Antes de decidir pela carreira musical, cursou um ano de direito. Depois, estudou artes cênicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em outubro de 2021, Alice Caymmi lançou seu quinto álbum, Imaculada, com repertório quase totalmente autoral.
Danilo Caymmi chegou a cursar até o último ano de arquitetura, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) do Rio de Janeiro, mas com o sucesso de Andança no festival, abandonou o curso e abraçou totalmente a carreira musical. Para quem pensa em adentrar nesse mundo, Danilo dá a receita: “é preciso muita persistência, muito estudo, muito foco, muita concentração e então é possível se ter uma carreira muito bonita, viver da arte, garantir nela o seu sustento”.
Andança 50
O repertório do show Andança 50 Anos tem densidade política, dialogando com o ano de 1968. Na parte final do espetáculo são apresentadas as canções mais politizadas, como “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, e “Divino maravilhoso”, canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil, interpretada por Gal Costa no Festival da Record de 1968, com versos fortes que ainda hoje devem ser cantados: “Atenção, tudo é perigoso, tudo é divino maravilhoso (…) É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”. O show finaliza com o refrão “Me leva amor, amor, por onde for quero ser seu par”.
Danilo Caymmi em Maceió
Com participação especial de Wilma Araújo e do Sexteto Corda Pau Brasil, do Maestro Almir Medeiros, o show “Viva Caymmii” é apresentado em um formato dramático-musical e leva o público a um passeio pela vida, pelos bastidores e pela música de Dorival Caymmi, um dos mais importantes cantores e compositores da história da nossa música.
O espetáculo usa as ferramentas do teatro, transcendendo as barreiras de um show comum. Sua base é estruturada no storytelling, palavra em inglês que está relacionada com uma narrativa e significa a capacidade de contar uma história, especialidade do ator Nilson Raman, que nos últimos vinte anos foi idealizador e Mestre de Cerimônias dos espetáculos da atriz Bibi Ferreira, já tendo contado as histórias de Piaf, Amália, Gardel e Sinatra, ao lado da grande diva.
A direção musical é do músico Flávio Mendes, parceiro de muitos anos de Danilo, como arranjador e músico, assim como parceiro do Raman, tendo sido o maestro e diretor musical nos últimos 14 anos dos espetáculos de Bibi Ferreira. Sua estreia foi em 2018, dentro da programação do Conservatório Pernambucano de Música, no tradicional Festival de Inverno de Garanhuns, em sua 28ª edição. Desde então está em turnê nacional, sempre encantando e emocionando as plateias (por assessoria).
Fonte: Painel Alagoas