O Hospital Escola Portugal Ramalho (HEPR), da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), foi selecionado no Edital Calendário Cultural, Memória e Resistência, do Programa Nosso Chão, Nossa História, que financia iniciativas voltadas à reparação dos danos extrapatrimoniais causados pelo desastre socioambiental em Maceió.
O projeto aprovado, intitulado “Rota de RExistência”, prevê a realização de ações culturais mensais em bairros atingidos, com oficinas, exposições, saraus e outras atividades de preservação da memória e de fortalecimento dos vínculos comunitários.
De acordo com a coordenadora geral do projeto, Maria Derivalda Andrade, servidora do HEPR, a proposta nasceu da vivência direta de profissionais e pacientes em um território marcado pela dor e pela necessidade de reconstrução.
“Nosso objetivo é fortalecer a cultura considerando a sua importância enquanto ferramenta para fortalecimento de vínculos, preservação da memória e transformação social. Acreditamos que a arte pode elaborar o luto, resgatar identidades e possibilitar a reconstrução de vínculos comunitários”, afirmou.
A iniciativa é fruto da união entre o HEPR, o Instituto para o Desenvolvimento das Alagoas (Ideal) e a Cooperativa de Jornalismo Mídia Caeté, em proposta submetida pela Fundação de Apoio ao Ensino, Extensão e Pesquisa de Alagoas (Fepesa).
Para a supervisora-geral do HEPR, Helcimara Martins, o projeto Rota de RExistência articula cultura, saúde mental e memória coletiva, promovendo o reencontro das comunidades, a preservação do patrimônio cultural e o acolhimento das pessoas impactadas pelo desastre socioambiental. A proposta inclui ainda, além de outros produtos, a edição de um livro com registros orais, textuais e imagéticos sobre instituições culturalmente importantes para o território, entre elas o próprio HEPR.
Helcimara Martins ressalta que, além das atividades culturais, o projeto contempla o fortalecimento de manifestações tradicionais — como blocos carnavalescos e quadrilhas juninas — e a criação de um Museu-Memorial das vítimas, desenvolvido em cocriação com a comunidade.
“É fundamental registrar e perpetuar as memórias desse território, para que as próximas gerações entendam a dimensão do que aconteceu em Maceió. Esse trabalho é, sobretudo, um gesto de resistência e de justiça”, ressaltou Derivalda.
Ela destacou ainda que a participação do HEPR, instituição localizada na borda da área afetada, é simbólica. Segundo a coordenadora, o hospital carrega em sua trajetória um elo histórico com a cultura e a saúde mental da cidade. “Integrar pacientes, trabalhadores e comunidade em torno da arte é também uma forma de promover saúde integral e dignidade”, completou.
A memória como política institucional
Para Ruth Barros, assessora organizacional do projeto e gestora de planejamento da Coordenação de Ações Estratégicas (CAE) da Uncisal, a aprovação reflete também o esforço institucional de ampliar parcerias e captar recursos para atender demandas da universidade.
“A aprovação do Rota de RExistência mostra como a universidade pode atuar além de seus muros, fortalecendo vínculos comunitários e contribuindo para a reparação simbólica desse território. O CAE tem buscado justamente essa integração entre planejamento, captação de recursos e ações de impacto social”, ressaltou.
Sobre o Programa Nosso Chão, Nossa História
Criado a partir de acordo judicial que responsabilizou a empresa Braskem pelo afundamento do solo em cinco bairros de Maceió, o Programa Nosso Chão, Nossa História destina R$ 150 milhões, ao longo de quatro anos, a projetos de reparação dos danos morais coletivos. O programa é gerido pelo Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais (CGDE) e executado pelo UNOPS/ONU, apoiando iniciativas que fortalecem a memória, a identidade e a resistência das comunidades atingidas.
Fonte: Danielle Cândido/Ascom Uncisal