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19/09/2025 às 23h59

Geral

A precisão do sniper da PM de Alagoas para salvar vidas

Mirando a excelência, Alagoas investe na formação de seus próprios atiradores de elite

Foto: Ascom PM-AL

Exatidão, rigor, apuro e perfeição são sinônimos do substantivo “precisão”. No Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, o verbete tem os significados como excelência absoluta na realização de algo; sem erros e ainda necessidade de uma resposta imediata; urgência.

As definições se aplicam perfeitamente à conotação operacional que o termo ganhou no âmbito da Polícia Militar de Alagoas (PM-AL), mais especificamente no Batalhão de Operações Especiais (Bope). O atirador de precisão – o sniper – é aquele que tem como princípio neutralizar a ameaça e preservar a vida. No Brasil, a função é identificada também pelo termo atirador de elite.

Após apresentar, em duas matérias anteriores, a função dos explosivistas e a dos negociadores, a série de reportagens especiais encerra-se com a missão que completa as alternativas táticas da tropa de elite alagoana.

Para o comandante do Bope em Alagoas, tenente-coronel Diego Sarmento, o sniper é, antes de tudo, um ponto de equilíbrio dentro do emprego tático. “O atirador de precisão é um vetor fundamental na doutrina de operações especiais. Sua função vai além do disparo: ele é um observador privilegiado, capaz de fornecer informações estratégicas em tempo real, identificar ameaças e apoiar a tomada de decisão do comandante da cena de crise”.

O chamado disparo (ou tiro) de comprometimento vem imbuído de extrema responsabilidade e rigor técnico. Trata-se de salvar a vida de inocentes, mesmo que para chegar a tal objetivo deva cessar a vida do agressor. É uma alternativa tática de fundamental importância para resolução de crises envolvendo reféns localizados, sequestro de pessoas, rebeliões, assalto a bancos e atos de terrorismo, por exemplo. Também é considerado a Ultima Ratio (do latim, última razão): quando se torna a única chance restante para solucionar o conflito e preservar a vida das vítimas e garantir a aplicabilidade da lei.

A doutrina enfatiza que o atirador de precisão não é apenas um executor do disparo cirúrgico, mas também um operador de informação e preservação da vida. Outro aspecto, é que o agente só atua mediante autorização. Ele é peça-chave em diversas operações, utilizando armamento específico, equipamentos ópticos e táticas de observação para prover segurança e inteligência em tempo real ao comando operacional. Sua atuação é crucial em missões de alta complexidade.

“Em situações de alto risco, a presença do sniper garante não apenas capacidade de neutralização seletiva, mas sobretudo um efeito dissuasório, ampliando a margem de segurança para reféns, inocentes e para a própria tropa. Em Alagoas, já tivemos episódios em que a presença do atirador de precisão foi determinante para a resolução de ocorrências sem a necessidade de escalada da força, justamente pela capacidade de monitorar, conter e dar suporte à negociação”, explicou o comandante. A fala, proferida com propriedade, vem do militar líder da tropa especializada e também atirador de precisão.

Atualmente, o Bope conta a destreza de atiradores policiais de precisão. Nesta reportagem, porém, partindo do pressuposto da furtividade, o operador de segurança entrevistado será denominado “Sniper 1”. Com exceção do comandante da unidade, identidade, graduação e nome de guerra do operador não serão revelados.

Técnica e sistema

Meticuloso, discreto dentro e fora do serviço e destemido diante do risco: do militar que assume essa missão exige-se alto grau de comprometimento e absoluto equilíbrio emocional.

O Sniper 1 ressalta que treinamento, armamento, munição e equipamentos são elementos fundamentais. Não se trata de uma ciência exata, embora a exatidão, a destreza e a rápida resposta sejam pontos fundamentais. No Bope alagoano, cada atirador tem seu próprio armamento, de uso individual, exclusivo.

Atualmente, o batalhão dispõe do fuzil de plataforma AR 10 SuperSASS, de fabricação americana. O investimento, porém, é contínuo. A unidade especializada, em breve, contará com fuzil de tecnologia suíça e fabricação nos Estados Unidos, B&T APR 308. A aquisição está em andamento pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

Os atiradores de precisão, na verdade, formam o que é denominado sistema de arma, composto pelo armamento em si, em conjunto com o aparelho óptico e os acessórios. Na doutrina, o policial militar se enquadra como um dos acessórios, unido a outros equipamentos como o tanner (instrumento de controle do cano, que auxilia na precisão). Já o aparelho óptico, a exemplo da luneta telescópica (com suas lentes objetiva e ocular), é acoplado à arma.

O militar também usa o leitor climático, que obtém dados como velocidade e direção do vento, temperatura, altitude de densidade, umidade, densidade relativa do ar, sendo fatores de interferência no tiro de precisão. Há ainda o telêmetro, responsável por medir a distância entre o atirador e seu alvo. A munição também deve ser específica para cada situação.

“Há uma regra universal que diz que ‘o atirador de precisão não pode errar’. A precisão é milimétrica. Quanto mais informações, mais preciso será o disparo. Tudo isso requer, além da destreza do atirador, que ele conheça e domine todos os equipamentos e condições para garantir a efetividade do tiro. O disparo só é efetuado mediante certeza de que causará o efeito desejado”, assegurou o Sniper 1.

Ele esclarece que o ponto específico do alvo deve ser o bulbo raquidiano do Causador do Evento Crítico (CEC). Trata-se da parte mais inferior do tronco encefálico, responsável por regular funções vitais como respiração e batimentos cardíacos. “O objetivo exato é neutralizar a ameaça sem causar efeitos colaterais secundários, atingindo apenas o CEC em um ponto que garanta que não haja sequer um espasmo muscular ou qualquer tipo de reação”, enfatizou o especialista.

Outro princípio chave é “ver sem ser visto”. Significa que dominar a furtividade é imprescindível. “O atirador de precisão precisa trabalhar muito bem a técnica da camuflagem. Deve se adequar ao ambiente de acordo com a necessidade para que ele não seja visto, não seja percebido. Isso confere uma vantagem tática, porque se ele precisar sair do local, fará isso mais rapidamente, porque ninguém saberá onde ele está”, frisou.

Essa discrição, segundo ele, é exigida dentro e fora do ambiente tático: “Se, em uma crise, o atirador for identificado, pode comprometer toda a operação. Então, é importante que ele não seja visto. Sendo assim, a gente preza muito por isso: estar de balaclava (touca), usando shemagh (espécie de lenço) e também não divulgando nossos rostos em mídias, nem nos identificando como atiradores de precisão”.

Outro ponto importante é que um sniper nunca atua sozinho. Ele conta com o suporte do chamado spotter, que, como o próprio nome sugere, é um “observador”. “A luneta de espotagem é utilizada justamente pelo spotter, para auxiliar mais precisamente, principalmente em situações de longa distância”, completou o atirador.

“Legado institucional”: qualificação de excelência em solo alagoano

Ao longo dos anos, militares do Bope precisaram buscar especialização fora de Alagoas. O principal curso é o promovido pelo Comando de Operações Táticas, o COT, centro de referência da Polícia Federal, em Brasília (DF). Policiais alagoanos também foram enviados ao Centro-Oeste brasileiro para formação junto à Polícia Militar do Mato Grosso (PMMT). Alagoas, porém, acaba de promover a primeira edição do Curso de Atirador Policial de Precisão. Com disciplinas teóricas e práticas, o CAPP 2025 contou com uma carga horária de 335 horas/aula. A formatura ocorreu no dia 18 de junho deste ano.

O curso começou com 16 participantes, e sete conseguiram chegar até o final: um soldado, três cabos, um 3º sargento, um capitão, além de um policial rodoviário federal (PRF). A consolidação do CAPP representa um marco para a PM-AL e para a Segurança Pública de Alagoas.

“Hoje conseguimos formar nossos próprios snipers, dentro de padrões doutrinários modernos e alinhados às melhores práticas nacionais. Isso significa independência, ganho técnico e valorização do nosso efetivo, que passa a receber instrução especializada em casa, mas com qualidade reconhecida por outras corporações do país” salientou o tenente-coronel Diego Sarmento.  “Mais do que um curso, trata-se de um legado institucional: investir em atiradores de precisão é investir em vidas preservadas, em profissionalismo e em maior capacidade de resposta diante das crises contemporâneas”, destacou.


Fonte: Fernanda Alves / Ascom PM-AL

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