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15/10/2025 às 12h11

Geral

“COP é o lugar para resolver financiamento climático”, diz economista

Grupo sugere projetos como Fundo Florestas Tropicais para Sempre

Marcelo Camargo/Agência Brasil

O economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Columbia e integrante do conselho consultivo de finanças da presidência brasileira da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), afirma que o multilateralismo é o espaço para solucionar o desafio sobre o fluxo de financiamento climático dos países em desenvolvimento.

“A COP é o caminho. É um ótimo lugar para ter ideias, criar e tentar propor ideias”, afirmou durante uma entrevista coletiva nesta terça-feira (14), durante a Pré-COP, em Brasília.

O especialista acredita que antes de definir valores para o financiamento climático dos países em desenvolvimento é preciso definir etapas anteriores, portanto o valor de US$ 1,3 trilhões que vem sendo discutido nos encontros multilaterais pode não ser um número real.

“Um economista pensa numa meta onde quer chegar. Neste caso é alcançar netzero [neutralidade nas emissões de gases do efeito estufa]. Depois a gente vem com projetos baratos, já que a quantidade de dinheiro é escassa, e depois a gente descobre quanto custa”, diz.

Essa é uma das estratégias sugeridas pelo grupo de economistas que dão suporte à presidência da COP30 sobre o tema. O grupo também sugeriu projetos como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) (Cinco países aderem a fundo para conservação de florestas tropicais | Agência Brasil) , o Ecoinvest (Brasil quer capital estrangeiro para financiar transformação ecológica | Agência Brasil), a coalizão aberta de países para um mercado de carbono global (Brasil apresenta soluções de financiamento climático em Nova York | Agência Brasil ) e a transferência de subsídios globais do setor de combustíveis fósseis para setores da energia renovável (Subsídio para energia limpa precisa superar o de fósseis, diz Marina | Agência Brasil).

Segundo Scheinkman, a ideia que ainda não foi formalmente adotada pelos países que fazem parte do Acordo de Paris, mas podem contribuir de forma eficaz para a redução das emissões de gases do efeito estufa, desde que haja adesão de países onde essas ferramentas podem gerar efeito.

“O lugar onde a gente corta emissões é completamente irrelevante. O importante é quanto você corta no agregado de emissões. Uma tonelada de gás carbônico equivalente (CO2e) que você corta no Brasil, tem o mesmo impacto de uma tonelada de CO2e na China”, diz

De acordo com o economista, o modelo adotado pela União Europeia, pode inspirar um modelo global no sentido de que os países mais capazes em termos financeiros saem na frente com cotas maiores de obrigações e também dando suporte aos países com menos capacidade financeira.

“A União Europeia definiu o valor das emissões que querem ter até um determinado ano e eles têm uma maneira de distribuir essas cotas [de redução de emissões] que privilegiam países menos desenvolvidos. Esse processo permite uma redistribuição e ao mesmo tempo atinge eficiência,” explica.

Apesar de haver modelos ideais, o andamento desses projetos podem esbarrar em interesses nacionais ou regionais que inviabilizem um modelo global. Segundo Scheinkman, países até mesmo da própria União Europeia podem não se interessar por uma coalizão aberta de mercado de carbono global ou de um fundo como o TFFF.

Um dos limitadores, poderia ser a não admissão de crédito gerado por captura de carbono a partir de florestas restauradas, já que ainda não há um cálculo padrão para calcular projetando a captura de carbono para um futuro após a restauração.

“Para isso funcionar você teria que ter alguém para medir carbono, com uma certa independência, um padrão standard de medição. Criar uma espécie de comissão para fazer toda a contabilidade, acesso ao risco e verificação da contabilidade”, explicou.

Há ainda fatores ideológicos como ocorre nos Estados Unidos, que impedem países de participar de uma iniciativa como essas, diz o economista.

Por outro lado, Scheinkman diz que países podem ser atraídos por vantagens como a facilidade de gerar crédito de carbono em áreas naturais amplas, como as florestas tropicais. Ou ainda, gerar crédito mais facilmente com baixos investimentos em emissões mais fáceis de serem mitigadas.

“Na África, as pessoas ainda cozinham com lenha, o que tem custo ambiental, sem falar no custo de saúde altíssimo. É muito barato parar, mas eles [os países africanos] não têm orçamento para isso e eles ainda precisam gastar dinheiro com adaptação”.

Gerar crédito de carbono fora do próprio país pode ser uma forma mais barata de investimento que parar uma produção eficiente em termos econômicos para gerar carbono, diz o economista. Mas, apesar de ser uma ferramenta que pode viabilizar uma transição justa, isso não é garantia de interesse dos países por esse mercado.

“Nosso papel é gerar ideias e a factibilidade é um problema dos negociadores”, diz.


Fonte: Agência Brasil

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