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25/11/2025 às 11h00

Geral

Criação de camarão avança em Alagoas e impulsiona desenvolvimento no campo

Cadeia produtiva fatura mais de R$ 5 milhões e se desenvolve com iniciativa apoiada pelo Sebrae, FAO e Ministério da Pesca

Julio Vasconcelos

A água salobra de riachos e poços em regiões rurais de Alagoas, que tinha pouca serventia para as culturas agrícolas mais comuns nessas regiões, hoje oferece oportunidade para desenvolver propriedades em Arapiraca, Coité do Noia, Igaci e Limoeiro de Anadia. Imprópria para o consumo humano devido a salinidade, a água hoje abastece tanques de criação de camarão, que se multiplicam como uma nova promessa de prosperidade para quem vive da terra.

A cadeia produtiva da carcinicultura vai de vento em popa. Apenas no último ciclo, foram produzidas quase 230 toneladas de camarão em Alagoas, que renderam um faturamento bruto de R$ 5,3 milhões.

Em Arapiraca, tudo começou com uma ideia do engenheiro de pesca e empresário Iury Amorim, que buscava um produto com grande valor agregado e forte demanda. Ao retornar de um mestrado no Paraná, em 2016, decidiu seguir a iniciativa que já vinha dando certo no Ceará e Rio Grande do Norte e investir no primeiro tanque de camarão, apesar de muita gente não acreditar que daria certo. “Até minha mãe dizia: o que um engenheiro de pesca faz em Arapiraca, que nem água tem?”, fala.

Mesmo sem prometer nada, a experiência teve tanto sucesso que hoje, nove anos depois, a Associação dos Criadores de Camarão de Alagoas (Accal) conta com 200 membros. Iury, que preside a associação e também é consultor do Sebrae, explica que os erros e acertos dos seus primeiros tanques escavados são prova do pioneirismo da iniciativa na região. “Essa fazenda foi o laboratório da carcinicultura no Agreste. É simbólica porque foi aqui que surgiram os primeiros manejos e adaptações para a nossa realidade”, conta.

Segmento sofre, mas supera obstáculos

A evolução do setor veio acompanhada de obstáculos. A criação de camarão vivia um boom de crescimento nos anos de 2019 e 2020, mas os negócios foram diretamente impactados pela pandemia. O fechamento de bares, restaurantes e hotéis, principais compradores do camarão produzido na região, fizeram o preço despencar, causando um prejuízo imenso. No ano seguinte, quando a economia começava a se recuperar, a doença da mancha branca arruinou ciclos inteiros de camarão, colocando os produtores à beira da desistência. Mas o problema foi superado e a carcinicultura resistiu e segue atraindo mais produtores rurais.

“É uma cultura que veio para salvar o sertanejo. A gente pega um camarão do Pacífico, cria com baixa salinidade no interior do Nordeste e consegue produzir o ano inteiro”, conta Iury, explicando que, como os ciclos de produção duram aproximadamente 3 meses, o retorno financeiro é rápido.

Somente no povoado Poção, são mais de 20 produtores atuando na carcinicultura. Nos últimos três meses, eles receberam diagnóstico e acompanhamento técnico, por meio do Programa de Cooperação Técnica (PCT), iniciativa conjunta do Sebrae com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e Ministério da Pesca, com o objetivo de fortalecer a aquicultura familiar. “Ter um engenheiro de pesca visitando a propriedade já é a melhor coisa do mundo. Mesmo num projeto curto, muita coisa melhorou e ainda vai melhorar”, afirma Iury, que é um dos beneficiários do PCT. Entre os avanços ele cita a organização da área e maior eficiência no cumprimento de rotinas que antes passavam despercebidas. “O plano de ação que recebi está ajudando bastante. Agora é seguir e implantar tudo”, ressalta.

O diretor-presidente do Sebrae Alagoas, Domício Silva, destaca o papel transformador da atividade na região. Segundo ele, a criação de camarão abre novas perspectivas para pequenos produtores do Agreste. “É muito positivo conhecer de perto uma realidade que vem mudando a vida das famílias desta região. A criação de camarão surge como uma alternativa para áreas onde a água antes era improdutiva. Isso é inovação pura. Produtores que antes estavam presos a modelos tradicionais agora encontram novas possibilidades”, afirma.

Legado de aprimoramento da cadeia produtiva

O PCT incluiu toda a cadeia da aquicultura, abrangendo também os criatórios de peixe em Poço das Trincheiras, Viçosa e Teotônio Vilela, em uma pesquisa que traçou as características da atividade econômica em Alagoas, ao mesmo tempo que levou aprimoramento técnico para os produtores. O estudo fez dois diagnósticos em 100 propriedades, dedicadas à criação de camarão ou de peixes, e foi encerrado no último dia 19, com uma reunião técnica, em Maceió, e uma visita a algumas propriedades que se destacaram no programa, entre elas a Fazenda Poção do produtor Iury Amorim.

O resultado do programa, de acordo com a analista do Sebrae Alagoas Ingrid Santos, vai além do plano de ação elaborado para cada propriedade, mas irá ajudar a desenvolver a aquicultura, servindo de auxílio para elaboração de programas de fortalecimento da atividade. “Alagoas é o primeiro estado do país a iniciar as ações práticas do PCT. Construímos algo que não existia antes, com dados concretos, conexões institucionais e uma visão estratégica para o futuro. O PCT termina, mas o trabalho do Sebrae junto aos produtores vai continuar”, destaca.

As visitas de campo a propriedades produtoras de camarão em Arapiraca, Igaci e Coité do Noia foram acompanhada por representantes das instituições parceiras, como Gisele Duarte, coordenadora do PCT pela FAO; Anderson Antonello, coordenador geral de Desenvolvimento da Aquicultura do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA); e Cláudio Pinheiro, diretor de ATER no Instituto BioSistêmico (IBS), criador do aplicativo responsável pelos diagnósticos.


Fonte: AMA/AL

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