Após conhecer experiências de mulheres no oficialato e de praças da Polícia Militar de Alagoas (PM-AL), a terceira matéria da série sobre o Dia da Policial Feminina de Alagoas refaz o percurso histórico que originou a data comemorativa desta sexta-feira (28). Na linha do tempo da história, uma série de acontecimentos antecederam o ingresso das pioneiras que, no final dos anos 90, abriram o caminho para mais de mil mulheres vestirem a honrosa farda da corporação.
Em janeiro de 1987, o mundo ainda respirava as tensões da Guerra Fria. No campo econômico, o chamado crash da bolsa de valores daquele ano abalava mercados inteiros. No Brasil, a recessão e a alta inflação impulsionariam o lançamento do “Plano Cruzado II”.
Enquanto tudo isso acontecia, a PM-AL já rumo ao seu um século e meio de existência vivia um capítulo que marcaria sua história. Em 13 de janeiro, foi sancionada a Lei nº 4.877, sob a epígrafe: “Dispõe sobre o ingresso de mulheres na Polícia Militar de Alagoas e dá outras providências correlatas”.
Em janeiro do ano seguinte, as três primeiras mulheres foram incorporadas após serem aprovadas no concurso para oficiais femininas e enviadas ao Curso de Formação de Oficiais (CFO) em Minas Gerais e Pernambuco. Uma delas, foi a coronel reformada Cláudia (cuja história foi contada na primeira matéria desta série e pode ser acessada clicando aqui). Outro passo importante nesse processo de consolidação viria na edição do Diário Oficial de Alagoas datado de 5 de agosto de 1989.
Duas publicações emitidas pela Seção de Recrutamento da Diretoria de Pessoal (DP) da PM apontavam a abertura do Edital nº 06/89-DP e do Edital nº 07/89-DP, ambos voltados ao Quadro Policiais Militares femininos. O primeiro, visava ao preenchimento de 30 vagas para soldados mulheres, já o segundo era voltado para cinco vagas para sargentos femininas. Ao final do certame, 12 candidatas foram selecionadas para o curso de formação de sargentos e 35 para a turma de soldados.

Foi em 28 de novembro de 1989 que esse contingente se apresentou para incorporação na PM, sem imaginar que estava fazendo história e abrindo caminhos. Elas também não poderiam imaginar que, em 2019, aquela data se transformaria em uma celebração no calendário oficial de Alagoas. A Lei nº 8.118/2019 instituiu o Dia da Policial Militar do Estado de Alagoas, que nesta sexta-feira (28) é comemorado pela sexta vez.
A Vez, a voz e o dia delas
Na visão das homenageadas, a instituição do Dia da Policial Feminina é muito mais do que uma data comemorativa no calendário alagoano. As oficiais e as praças representadas nesta série, falaram sobre o significado do 28 de novembro.
Desde 2019, a policial feminina ganhou uma data no calendário alagoano. Na sua visão, o que significa essa data?
Cabo Rafaela: Para mim, este é um marco histórico, uma conquista para nós mulheres, onde rompemos barreiras e nos colocamos em destaque diante de uma instituição culturalmente masculina, deixando de ser coadjuvante e passando a ser protagonistas. Eu me sinto honrada em pertencer a esta instituição. Estar no calendário alagoano vai além de uma homenagem, é o reconhecimento oficial da importância do nosso trabalho dentro da segurança pública. Uma data que simboliza a valorização de nós mulheres que escolhemos servir e proteger, enfrentando desafios e barreiras.
Sargento Marta: Vejo a data como uma forma de reconhecimento, graças às pioneiras, mulheres guerreiras que ingressaram na corporação em 1989, numa época em que a mulher não era “bem vista” na polícia. Elas conseguiram romper barreiras, enfrentaram preconceitos e desafios. Por causa delas, hoje, as policiais femininas podem ocupar os cargos e o espaço na corporação.
Subtenente Roraine: Essa data representa reconhecimento e respeito. É um marco que valoriza nossa história, nossas conquistas e incentiva novas gerações de mulheres a acreditarem no seu lugar dentro da PM-AL.
Capitã Roberta: A criação da data representa reconhecimento, respeito e valorização. Para mim, essa data celebra a trajetória de esforço de cada mulher que construiu espaço dentro da corporação, enfrentando desafios e ampliando conquistas. É um marco que reafirma nossa importância enquanto profissionais e também enquanto mulheres que desempenham múltiplos papéis na sociedade — mães, filhas, gestoras, servidoras públicas. É a demonstração de que nossa presença é consolidada, significativa e digna de valorização. Essa data não é apenas comemorativa; ela simboliza história, representatividade e mérito.
Major Clarissa: A inclusão da data da policial feminina no calendário alagoano representa um marco de reconhecimento. Para mim, essa data simboliza muito mais do que uma homenagem: ela reafirma o papel essencial da mulher dentro da corporação. É um momento para destacar conquistas, reforçar a visibilidade do nosso trabalho e reconhecer os desafios enfrentados diariamente para conciliar missão, família e compromisso com a sociedade. Essa data também fortalece o sentimento de valorização profissional e pertencimento, inspirando as novas gerações de policiais e demonstrando que a presença feminina é imprescindível para uma Polícia Militar mais humana, sensível e completa.
Coronel Cláudia: Ao saber dessa conquista fiquei muito feliz e orgulhosa. Sermos reconhecidas pelo poder público, com uma data no calendário é grandioso. Quero parabenizar a todos os responsáveis por essa conquista, pois esse reconhecimento significa a valorização do trabalho da mulher na Polícia Militar de Alagoas.
Para o comandante-geral da PM, coronel Paulo Amorim, o ingresso da mulher na Polícia Militar marcou uma transformação profunda. “A presença de cada uma trouxe harmonia, sensibilidade, ainda mais força e um novo modo de enxergar o serviço prestado à sociedade. Por isso, celebrar esta data, que destaca a trajetória e a contribuição das mulheres na PM alagoana, é reconhecer o quanto a participação feminina é indispensável em todos os espaços da vida pública e privada e, naturalmente, dentro da nossa corporação”, afirmou o comandante.
“Este comandante registra sua sincera gratidão às que são mães, trabalhadoras, guerreiras e que, com coragem e competência, ajudam a construir diariamente a história da nossa instituição”, completou, rememorando um feito inédito ocorrido em 2023, quando realizou dois encontros distintos para ouvir as demandas apresentadas pelas praças e oficiais.

Na ocasião, elas indicaram pontos a serem aperfeiçoados e aspectos relevantes relacionados aos serviços e políticas voltadas ao efetivo feminino. “Avançamos muito, mas essa é uma caminhada que sempre pode e deve evoluir. Queremos que cada uma ocupe seu devido espaço e continue lutando pelos seus sonhos e objetivos, dentro e fora da corporação”, finalizou.
Fonte: Fernanda Alves e Marília Morais / Ascom PM-AL