Carlos Amaral
Após o golpe civil-militar de 1964, os partidos e organizações de esquerda passaram a ser perseguidos pelo regime. Eles foram colocados na ilegalidade e seus membros caçados pelos agentes de repressão. Alguns conseguiram fugir do país, mas outros foram torturados e mortos.
Para Lindinaldo Freitas, presidente estadual de Alagoas do PCdoB, não há a possibilidade de os militares tomarem o poder político no Brasil.
“Acho que não está na agenda das Forças Armadas do país. No memento de descrédito [da política] que a gente vive da população, há certa credibilidade das Forças Armadas. Os setores mais radicalizados expressam isso nesse momento. Mas acho que pela experiência histórica do Brasil, isso não está na agenda dos militares e o país tem condições de encontrar seu caminho sem cair, novamente, em momentos autoritários”, analisa o presidente do PCdoB em Alagoas. “Mas não dá para descartar por completo, não é? Nada é impossível e isso já aconteceu antes”, completa Lindinaldo Freitas.
PDT
O deputado federal Ronaldo Lessa, presidente estadual do PDT em Alagoas, também não crê na possibilidade de os militares tomarem o poder político no país.
“Não acredito nem quero. Bem ou mal as instituições estão funcionando. A gente tem críticas a todas e elas precisam ser aprimoradas, democracia tem de ser aprimorada e não acabar com ela. A ditadura a gente já viveu e sabe seus horrores. Não podemos estimular esse tipo de coisa. Cada um tem de fazer sua parte e ver como aperfeiçoa cada instituição”, diz. “A sociedade também tem papel nisso. Ela critica todo mundo, mas ela é corresponsável porque o poder político é formado pelo voto. Em ultima análise, o poder emana do povo. Não acredito e espero que isso realmente não ocorra”.
Segundo ele, esse tipo de manifestação surge devido à situação conjuntural brasileira.
“Essas manifestações surgem por causa da crise em que vivemos. Quando você soma crises ética, econômica, política e social, esse tipo de coisa aparece. Quando é só um problema é mais fácil ter foco e enfrentá-lo sem buscar alternativas radicais, quando soma uma série de fatores aparecem os extremistas. Não é com outro erro que se resolve”, avalia o parlamentar, que é o coordenador da bancada alagoana no Congresso Nacional.
O líder do PDT alagoano ressalta a falta de memória histórica do brasileiro, especialmente entre os mais jovens.
“A geração mais nova não conhece o que foi a ditadura. Quando a gente conversa com essa juventude eles não sabem do que estamos falando. Não se tem o hábito de cultivar nossa memória. Não se sabe o que foi a ditadura de 1964 ou o Estado Novo. O passado é bom para gente corrigir os erros. O fato de a gente não ter uma política de resgate de nossa história também contribui muito com isso”, diz Ronaldo Lessa.
Presidente estadual do PT em Alagoas, Ricardo Barbosa também não acredita que as Forças Armadas podem aplicar um golpe de Estado no Brasil.
“Desde quando começou essa história, com alguns setores indo para a rua pedir a volta dos militares, minha avaliação é a de que as Forças Armadas não estão interessadas em dar golpe algum. Esse pessoal foi à rua pedir a volta dos militares, mas não combinaram com eles”, diz o petista.
Segundo Ricardo Barbosa, qualquer tipo de iniciativa nesse sentido se daria pelo Judiciário, pelo parlamento e por parte da imprensa.
“Se há hoje uma conjuntura golpista no Brasil, os protagonistas são outros. Seria outro tipo de intervenção na democracia que teríamos. Talvez aí mais para o Judiciário, uma plutocracia, um novo tipo de ditadura em que se troca as baionetas pelas togas. A nova forma de golpe é mais arquitetada pela mídia, pelo Judiciário e pelo próprio parlamento. Os militares não têm protagonismo nessa nova conjuntura golpista”, completa o presidente do PT em Alagoas.
Para Gustavo Pessoa, presidente do Psol em Alagoas, uma intervenção militar – “no sentido clássico” - está descartada. Em sua avaliação, isso isolaria o Brasil do resto do mundo. Contudo, ele acredita que já há uma presença forte dos militares no governo Temer.
“Na prática, acredito que o país já se encontra sob intervenção militar de alguma maneira. Na verdade, os grupos que, anacronicamente, pedem isso de forma prática ignoram que isso já está ocorrendo. Acho que o governo perdeu condições de pactuar com qualquer setor da sociedade, do empresariado, passando pelas grandes corporações midiáticas, até os movimentos sociais. O que resta a esse governo, lamentavelmente, é uma aliança com os militares para tentar chegar até seu final. A que ponto chegamos? Um governo que para se sustentar estabelece um pacto com as Forças Armadas. A intervenção no Rio é uma prova disso; a recente manifestação do general Mourão por ocasião do julgamento do Habeas Corpus do Lula no STF [março deste ano] é um demonstração disso. Acho que na prática, já há certa hegemonia deles no processo político”, diz Gustavo Pessoa.
“Agora, uma intervenção militar no sentido clássico, é um romantismo de pessoas que não compreendem as mudanças que ocorreram no mundo e que estabelecem conexão com o nosso tempo e os tempos da guerra fria”, completa o presidente do Psol em Alagoas.
Para ele, esse clima pela volta dos militares ao governo é fruto de um apelo por ordem e pode fortalecer candidaturas de viés autoritário à Presidência da República.
“Me preocupo muito porque, de certa forma, a situação que o país se encontra, com um governo ilegítimo, aplicando um programa ilegítimo, e a sensação de caos que se disseminou gera um apelo grande pela ordem. E a instituição que estaria mais habilitada para isso seria as Forças Armadas. Esse sentimento pode, em minha opinião, fortalecer uma candidatura de viés mais autoritário. Esse é meu grande temor, muito mais do que intervenção militar”, diz Gustavo Pessoa.
Jornalistas
O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (Sindjornal) Izaías Barbosa não acredita na possibilidade de os militares realizarem um golpe de Estado no país. Em sua avaliação, o grupo que defende essa iniciativa é minoria dentro da instituição, além da censura à imprensa que bem mais difícil que em 1964.
“Não acredito nessa possibilidade e o Exército não tem interesse. Tem um grupo que quer, mas não é maioria. Antes, ele era envolvido totalmente com a política, hoje já não é mais assim. Para eles governarem o país não seria fácil”, diz. “A censura à imprensa seria muito difícil. Se pode até tentar, mas é complicado. Antes, você fechava um jornal, mesmo os clandestinos. Hoje teria que se tirar a internet do ar. A velocidade da notícia é muito grande atualmente”.
Generais: um pressiona STF; outro defende intervenção militar
Na véspera do julgamento do Habeas Corpus impetrado pela defesa de Lula no STF, o general Villas Bôas, comandante do Exército, publicou em sua conta no Twitter que o “Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”. O texto foi considerado como pressão à Corte para rejeitar o pedido da defesa do ex-presidente.
O militar apagou a postagem.O julgamento não foi concluído no mesmo dia e o STF concedeu salvo-conduto a Lula, impedindo sua prisão até a conclusão da análise do Habeas Corpus pelos ministros. Foi aí que o general Antônio Mourão publicou nas redes sociais o seguinte:
“Sinto-me envergonhado pela falta de espírito público, pela covardia moral, pela linguagem empolada – destinada a enganar o homem comum –, pelas falsidades e, principalmente, por observar que uns merecem mais que outros ante os olhos daquele colegiado. Fica claro que os que possuem 'pertences' jamais cumprirão a pena que merecem por haver surrupiado o bem público. Fica o alerta de soldado, cuidado com a cólera das legiões!!!!”
Ele já havia defendido – por duas vezes – uma intervenção militar no país ainda em 2017. Por causa disso, o Exército o tirou do posto de secretário de Economia e Finanças e o realocou para o de adido na Secretaria Geral da instituição.
Aeronáutica
Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, em 4 de abril deste ano (dia do julgamento do Habeas Corpus de Lula), o comandante da Aeronáutica tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato afirmou por meio de nota que as Forças Armadas devem seguir a Constituição com fidelidade.
“Nestes dias críticos para o país, nosso povo está polarizado, influenciado por diversos fatores. Por isso é muito importante que todos nós, militares da ativa ou da reserva, integrantes das Forças Armadas, sigamos fielmente à Constituição, sem nos empolgarmos a ponto de colocar nossas convicções pessoais acima daquelas das instituições”, pontua. “Tentar impor nossa vontade ou de outrem é o que menos precisamos neste momento”.
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Fonte: Painel Alagoas