Dólar com. 5.1029
IBovespa 8
19 de maio de 2024
min. 23º máx. 32º Maceió
chuva rápida
Agora no Painel Arte, cultura e empreendedorismo se encontram em feira LGBT+ na Ponta Verde
17/06/2019 às 07h09

Geral

Mineração é apontada como causa das rachaduras

Mapa mostra os poços da Braskem em Maceió - Evellyn Pimentel

Por Carlos Amaral e Evellyn Pimentel

Após mais de um ano de estudos envolvendo cerca de 50 técnicos o Serviço Geológico do Brasil apontou que a mineração operada pela Braskem é a causa do afundamento de parte do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Levada. O relatório técnico apresentado no último dia 8 de maio classifica o processo como halocinese, isto é, uma alteração nas camadas de sal que ficam em profundidades entre 900m e 1200m.

“O CPRM com base em todos os estudos chegou a conclusão que está havendo desestabilização das cavidades de salgema provocando halocinese, (movimentação do sal), e criando uma situação dinâmica com reativação de estruturas geológicas antigas, subsidência (afundamento) do terreno e deformações rúpteis na superfície (trincas no solo e nas edificações) em parte dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro”, informou o coordenador dos estudos e geólogo Thalles Sampaio durante a apresentação do laudo.

Segundo a CPRM o processo continua em atividade. “Os dados interpretados em março de 2019 mostram que houve subsidência contínua e em aceleração até o fim do período amostrado; é possível observar deformação radial se espalhando do centro da área, onde atinge 40 cm de subsidência (afundamento) a partir das cavidades de extração de sal-gema localizadas à margem da Lagoa Mundaú”, diz o relatório.

Em outras palavras, a extração de sal nas camadas profundas alterou o subsolo, reativando falhas geológicas e como resultado, partes dos bairros estão em processo de subsidência ou afundamento. Contudo, o CPRM não precisou se é possível que haja estabilização espontânea [solo pare de descer], ou qual a proporção desses efeitos, já que das 35 minas exploradas pela Braskem, apenas 8 tiveram os relatórios de sonares entregues pela mineradora à Agência Nacional de Mineração (ANM).

“A equipe técnica analisou também dados de sonares que foram integrados com informações geológicas e de extração de sal em ambiente 3D. O resultado mostra que há indícios de que a atividade de extração de sal-gema alterou o estado de tensão in situ (natural ou normal) de todas as unidades geológicas, gerando colapso de algumas cavidades e aumentando a instabilidade das unidades”, conforme consta no relatório.

Os estudos do órgão federal apontaram que os poços explorados sofreram deformação, alteração de posicionamento e alguns poços se fundiram, foi o caso das minas M07, M18 e M19 que se fundiram, segundo o relatório. As minas M20 e M21 também viraram uma só. Ainda de acordo com o CPRM, o processo está ativo e as deformações “mais significativas” atingem partes dos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Levada.

Durante todo o período em que as rachaduras nos imóveis e vias começaram a se intensificar, os moradores relataram a percepção de pequenos tremores. Em fevereiro deste ano, uma estação sismográfica foi implantada em seis pontos do Pinheiro e os resultados obtidos comprovaram uma atividade sísmica “de baixa profundidade” e não compatível com placas tectônicas, isto é, não são terremotos comuns. A explicação para essa atividade e para o sismo registrado no ano passado é uma sequência de desabamento dos “tetos” das minas de sal.

“Foram detectadas evidências de desabamento parcial em profundidade na região das minas 7 e 19. A ocorrência de desabamentos em outras minas não pode ser descartada, haja vista a ausência de dados recentes de 27 das 35 cavidades existentes”, aponta os estudos.

As constatações do relatório seguem a linha de pesquisa iniciada há cerca de dez anos pelo professor e pesquisador Abel Galindo. À imprensa, o pesquisador já havia adiantado que a mineração seria responsável pelos fenômenos registrados na região.

O conhecimento público das rachaduras na região se deu após o tremor, no entanto, de acordo com relatos de moradores da região as fissuras e trincas vinham sendo registradas há cerca de dez e em alguns casos quinze anos.

“Foi no Jardim Acácia em 2010 que eu vi a primeira rachadura, que não levei muito a sério porque era uma região muito baixa e atribui à retração do solo. Mas uns seis meses depois apareceram outras na parte alta. Apareceram fissuras em casas, e o detalhe é que fiz sondagem e pela resistência apresentada no terreno não era para ter essas fissuras. Tinha poço e mandamos abrir na época e existia a fissura, em uns 8 metros, 10 metros talvez. Na época um prédio apresentava fissuras pequenas e hoje já apresenta grandes por dentro, na parte de fora. Mas no dia 15 de fevereiro [2018], depois do Carnaval, os moradores testemunharam um tremor com um barulho. Já no dia 03 [março de 2018] agora o estrondo foi testemunhado por muita gente, em outros bairros, deixando as pessoas apavoradas. Nós trabalhamos com hipóteses”, detalhou Galindo em audiência realizada no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-AL) em março de 2018.

As tais hipóteses defendidas por Galindo foram comprovadas mais de um ano depois da audiência. Em diversas ocasiões o pesquisador atribuiu o problema à atividade de mineração.

“A causa principal que eu considero é a extração do sal-gema, é a suspeita principal, a minha. Aproximadamente há uns cinco meses a CPRM elencou três principais causas, elencou oito, mas destacou essas três que foi a extração do sal-gema, a água extraída dos lençóis freáticos, e a falha geológica. Essas falhas são coisas muito antigas, coisas de milhões de anos, elas es­ta­vam quietas, eu digo que elas estavam dormindo e foram acordadas. Essas falhas têm em todo o lugar, Tabuleiro, Farol, toda a cidade possui falhas, elas começam nas rochas e vão até 3 mil metros de profundidade. E tudo isso estava quietinho. Aí você chega num ambiente tirando milhares e milhares de materiais, há mais de 40 anos, começou em 1975. Isso começou a se movimentar. O que foi elencado, as três hipóteses estão juntas, trabalham simultaneamente”, defendeu Abel Galindo.

Durante as quatro décadas de operação, a Braskem perfurou 35 minas, destas, quatro estavam em atividade. Atualmente, há uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) para suspensão de licenças de operação e encerramento das atividades de exploração das minas. Após a divulgação do relatório, o Instituto do Meio Ambiente também suspendeu as licenças de instalação para três novos poços que a empresa pretendia perfurar. O MPF também pediu que sonares de 27 poços sejam entregues à Agência Nacional de Mineração (ANM).

Uma ação movida por Defensoria Pública do Estado (DPE) e Ministério Público Estadual no início de abril deste ano pede o bloqueio de R$ 6,7 bilhões dos lucros de 2018 da Braskem. Inicialmente, o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) determinou o bloqueio parcial de R$ 100 milhões e que os dividendos não fossem distribuídos entre os acionistas. A partir daí, o MPF alegou competência no caso e o processo foi remetido à Justiça Federal em Alagoas (JFAL) e segue em tramitação.

Leia mais:

Sal-Gema: a extração de um desastre anunciado 

Segue a agonia entre os moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro 

Braskem é o centro da Cadeia do Plástico em Alagoas 

Incentivos fiscais são guardados a sete chaves 


Fonte: Painel Alagoas

Todos os direitos reservados
- 2009-2024 Press Comunicações S/S
Tel: (82) 3313-7566
[email protected]