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17/06/2019 às 07h27

Geral

Incentivos fiscais são guardados a sete chaves

Thalles Sampaio, durante a apresentação na audiência pública no Senado sobre a situação do bairro do Pinheiro, realizada em 21 de março deste ano - Reprodução

Por Carlos Amaral e Evellyn Pimentel

Tais incentivos fiscais citados por Railson Diodato, após o aparecimento das rachaduras nos bairros de Maceió e o envolvimento da empresa no caso, tem gerado grande curiosidade. As pessoas querem saber o tanto de impostos que a mineradora deixa de pagar, já que sempre foi dito que ela é “a maior arrecadadora” de Alagoas. Contudo, a concretude desses dados tem sido mantida a sete chaves.

A Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) tem dito e repetido que a revelação desses números implicaria em quebra de sigilo fiscal e, por isso, muito do que se fala por aí não passa de chute ou especulação.

A Painel Alagoas procurou a Sefaz para saber os percentuais e em quais programas de isenção fiscal a Braskem está inserida. Por meio da assessoria de comunicação, o secretário do Tesouro Estadual, Luiz Dias, negou o fornecimento dessas informações “devido ao sigilo fiscal”.

Contudo, por se tratar de uma empresa de capital aberto, com ações na Bolsa de Valores de São Paulo, é possível obter alguns dados porque eles têm de ser públicos. Exemplo, o faturamento.

O faturamento da Braskem em 2018 foi de cerca de R$ 60 bilhões. Estima-se que seu peso no PIB de Alagoas seja de 20%. Assim sendo, a soma do produzido no estado foi de R$ 49,9 bilhões, segundo dados do de 2016 do IBGE – último disponível. Portanto, o faturamento da empresa em Alagoas foi de R$ 9,98 bi. Já em Maceió, também em 2016, o PIB foi de cerca de R$ 20 bi. Sendo assim, a empresa representa quase 50% do produzido na capital alagoana.

A Painel Alagoas também conseguiu acesso a um relatório para acionistas de 2017. Disponibilizado na internet – já tirado do ar – o documento não diz quanto de ICMS a empresa deixa de pagar a Alagoas, mas aponta dedução de 75% no Imposto de Renda (IR) do que é faturado no estado.

“Desde 2015, foi obtido o deferimento dos pleitos de redução de 75% do IR sobre o lucro proveniente das seguintes unidades industriais: (i) PVC e Cloro Soda, instaladas no estado de Alagoas; e (ii) unidade de Insumos básicos, unidades de PE (2), PVC e Cloro Soda, todas instaladas em Camaçari (BA). A terceira planta de PE instalada em Camaçari obteve o laudo constitutivo relativo à concessão de incentivo fiscal emitido pela SUDENE em 2017. O prazo de fruição é de 10 anos e em 2017 foi apurado benefício de R$71.745”, diz o relatório da Braskem.

Em outro trecho, a direção da empresa destaca o incentivo em ICMS em Alagoas por meio do Prodesin. “A Companhia possui incentivo fiscal de ICMS concedido pelo Estado de Alagoas por meio do Programa de Desenvolvimento Inte­grado do Estado de Alagoas – PRODESIN que objetiva a implantação e a expansão de indústrias naquele Estado. Esse incentivo é tratado como redutor dos tributos incidentes sobre as vendas (Nota 27). No exercício de 2017, o montante apurado foi de R$95.704 (2016 – R$78.824)”, diz o documento.

A Painel Alagoas não conseguiu acesso à Nota 27.

Segundo o site da Sedetur, o Prodesin “ocorre por meio da venda ou permuta de área industrial a preço subsidiado”.

Os incentivos fiscais do programa, segundo a Secretaria, são: Crédito Fiscal Presumido de 92% incidente no saldo efetivo a recolher; Diferimento do ICMS incidente sobre os bens adquiridos no País ou no exterior, destinados ao ativo fixo da Requerente; Diferimento do ICMS incidente sobre a matéria-prima efetivamente utilizada pela Requerente na fabricação dos seus produtos; Diferimento do ICMS na aquisição interna de energia elétrica e gás natural para empresas do arranjo e/ou cadeia produtiva de química e plástico, do setor cerâmico, cimenteiro, têxtil e moveleiro a serem efetivamente utilizados no processo industrial”.

O artigo 3º do Decreto 38.394/2000, que regulamenta o Prodesin, diz que o Fundo Estadual de Desenvolvimento Integrado (FUNED) dará “suporte à execução das ações” do Programa, “especificamente em relação aos incentivos financeiro, creditício, locacional, infraestrutural e de interiorização”.

Parte dos recursos do FUNED vem da arrecadação da Taxa de Serviços Diversos – 50% – e do Fundo de Participação dos Estados (FPE) – 2,5%.

CFEM

Além de ICMS e ISS, a Braskem também gera outra fonte de recursos. Há no país um imposto para mineração chamado Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). No caso, a extração de sal.

Sua distribuição se dá por todos os entes federados, cada um com seu percentual. A maior parte – 65% – fica com os municípios; aos estados cabem 23% do total arrecadado; à União, 12%.

Segundo a ANM, o dinheiro “é creditado automaticamente, em contas correntes específicas, no sexto dia útil que sucede ao recolhimento por parte das empresas de mineração” e sua aplicação pode se dar em “projetos que, direta ou indiretamente, revertam em prol da comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e educação”.

A Painel Alagoas procurou saber da Prefeitura de Maceió e do Governo do Estado o total creditado em cada conta oriundo do CFEM. Apenas o Município retornou.

Segundo a Prefeitura, em 2019 o CFEM da exploração de sal-gema em 2019 gerou aos cofres municipais, até maio, R$ 211.426,52. Se seguir neste ritmo, o incremento nas contas públicas maceioenses este ano vai superar 2018, quando a Compensa­ção gerou R$ 504.732,75.

Cabe o destaque o salto dado no valor recebido por Maceió entre 2017 e 2018. Há dois anos o montante depositado foi de R$ 251.966,37. Em 2016 foi de R$ 158.033,66; 2015, R$ 395.946,73; e 2014, R$ 171.875,21.

Já para Alagoas, a reportagem pesquisou no portal da ANM e constatou que em 2019, até maio, o montante creditado nos cofres estaduais foi de R$ 74.812,46. Em 2018, R$ 178.597,74; em 2017, R$ 89.157,33; em 2016, o CFEM gerou para Alagoas, R$ 55.919,60; 2015, R$ 59.194,03; e 2014, R$ 60.817,38.

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Fonte: Painel Alagoas

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