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04/06/2018 às 08h49

Política

Quando a disputa pelo poder vai da pistolagem ao uso da máquina pública

Assassinatos, denúncia de corrupção na Assembleia Legislativa de Alagoas; medo e tensão numa cidade marcada pela violência

Site al.al.gov.br/Divulgação

A polícia não confirma nem nega. Os assassinatos dos vereadores de Batalha, Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho, ocorridos em novembro e dezembro de 2017, possivelmente estão correlacionados. Indícios e testemunhas dão conta de que os dois podem ter sido mortos pelos mesmos motivos: vingança e disputa pelo poder político.

A linha de investigação da Polícia Civil (PC), até o fechamento desta reportagem, é a de que a morte de Tony Pretinho teria sido vingança pelo assassinato de Neguinho, tendo como autor José Márcio Cavalcanti de Melo, o Baixinho Boiadeiro, filho de Neguinho. Ainda de acordo com a investigação, Tony, em 2006, teria entregado a localização de Emanuel Messias de Melo Araújo, o Manuel Boiadeiro, que era procurado pelas autoridades policiais por envolvimento nas mortes de Samuel Theo­mar Bezerra Cavalcante e do sargento reformado da Polícia Militar de Alagoas, Edvaldo Joaquim de Matos.

O delegado João Marcelo foi o responsável por explicar a motivação do crime durante coletiva de imprensa realizada no último dia 28 de fevereiro, na qual apresentou o nome de Baixinho como autor da morte de Tony.

“Baixinho acreditou que Tony poderia estar envolvido por causa das disputas políticas. O Tony tinha um parente nas eleições de Belo Monte e esse Manuel era ligado ao adversário. Baixinho acreditava que Tony teria entregado a localização do primo, que era procurado pela polícia”, disse o delegado no mês de fevereiro.

Já com relação ao assassinato de Neguinho, o delegado disse que Baixinho passou a acreditar que Tony tinha ligação com a morte do pai devido a algumas circunstâncias.

“Por conta de que o único vereador que não estava na Câmara no dia do crime era Tony e que ele também não participou de uma moção feita pela família de Neguinho, esses fatos podem ter levado Baixinho a pensar que Tony participou do assassinato do pai dele”, relatou João Marcelo.

Por outro lado, a Família Boiadeiro nega a linha de investigação da PC. Maria da Conceição, conhecida como Bahia Boiadeiro, assumiu o papel de porta-voz da família. Em diversas entrevistas para meios de comunicação, a irmã de Baixinho negou o envolvimento dele no assassinato de Tony. Segundo ela, os dois tinham uma boa relação e até por este motivo eram compadres. Tony era padrinho do filho de Baixinho.

“Baixinho tinha provas de onde esta­va no dia da morte do Tony, ele não tinha motivos algum para cometer esse crime. Tony nunca foi citado pela nossa família sobre a morte de Manuel”, garante Bahia.

Advogada

A advogada da família Boiadeiro, Ma­bylla Loriato, afirma que a Polícia Civil não ouviu uma testemunha ocular que seria capaz de reconhecer o autor do assassinato de Neguinho. Sem revelar seu nome, ela garante que essa testemunha chegou a procurar a Polícia, mas até o momento seu depoimento não ocorreu.

“Uma testemunha presenciou o assassinato e reconhece o pistoleiro, mas até hoje ela não foi ouvida pela polícia. A esposa do Sandro Pinto e o Bartô procuraram essa testemunha e a ameaçaram para que ela negasse ser o Maikel dos Santos o pistoleiro que atirou. A testemunha ligou para o delegado Cícero Lima e contou tudo. O delegado disse que iria ouvi-la no dia seguinte, mas isso não ocorreu”, relata a advogada.

A família do vereador Alex Sandro Rocha Pinto (PMN), conhecido como San­dro Pinto, nega ter ameaçado qualquer testemunha ocular do assassinato de Neguinho Boiadeiro.

Para Mabylla Loriato, as ameaças à vida da testemunha são motivos mais que suficientes para a prorrogação da prisão temporária dos suspeitos.

Foi a própria Polícia Civil quem ligou, durante a entrevista coletiva em fevereiro, os nomes de Sandro Pinto, Rafael Pinto e Maikel dos Santos como suspeitos da morte de Neguinho Boiadeiro. Depois de 30 dias detidos, todos foram liberados.

“Na coletiva, a PC disse ter as coordenadas e escutas telefônicas que comprovavam que eram eles os responsáveis e agora estão saindo impunes. Nós queremos que a Justiça faça o certo, tome a atitude correta sem olhar a quem. Não é porque ele é vereador (Sandro) que pode matar e ficar em casa”, reclama a advogada Mabylla Loriato.

Mesmo apresentando os três como suspeitos da morte do patriarca da família Boiadeiro, a PC não explicou qual teria sido a participação de Sandro Pinto no assassinato. Os outros dois teriam sido os executores do crime.

Em nota, a PC informou que as investigações continuam e que nesta fase elas transcorrerão em segredo e o que for dito pode “atrapalhar”.

Tony Pretinho

Para a PC, os responsáveis pela morte de Tony Pretinho são Baixinho Boia­deiro, Thiago Mariano e André Souza, “An­dré Barba”, o que é refutado pela família Boiadeiro.

“Já foi requerido ao delegado ouvir testemunhas que comprovam que Baixi­nho, Thiago e André não estão envolvidos no crime, mas ele fica simplesmente adiando”, diz a advogada Mabylla Loriato.

Segundo ela, André Souza, detido no último dia 14 de março, estava em Santa Catarina a trabalho, com esposa e filha.

“É uma perseguição, não só contra a família Boiadeiro, mas também aos amigos. É contra todos. Inclusive, até os advogados temem por suas vidas. A polícia tem que fazer seu trabalho com seriedade. Existe o direito de defesa e do contraditório. A polícia tem que procurar elementos para indiciar quem cometeu o crime, não acusar inocentes”, afirma Mabylla Loriato.

Segundo o delegado responsável pelo caso do assassinato de Tony Preti­nho, João Marcelo, a participação de An­dré Souza no crime foi o de seguir o vereador para informar a Baixinho Boia­deiro seu paradeiro.

“Ele [André] seguiu a vítima por dias, acompanhando sua rotina. No dia do crime, ele ligou para Baixinho, informou onde Tony estava e que não tinha polícia nas imediações”, diz o delegado, adiantando que testemunhas afirmaram que Baixinho Boiadeiro matou o vereador por achar que Tony Pretinho seria o responsável pelas mortes do pai e de Manuel Boiadeiro.

Ainda segundo o delegado, Baixinho teria tramado a morte da prefeita de Batalha Marina Dantas (MDB) – nora do presidente da ALE Luiz Dantas (MDB) – logo após seu pai ter sido assassinado.

“Testemunhas nos disseram que ele estava atrás da prefeita na cidade e como não a encontrou, foi à casa do José Emílio Dantas”, diz João Marcelo. José Emílio Dan­tas é sobrinho do deputado estadual Luiz Dantas e trocou tiros com Baixinho Boia­dei­ro após o assassinato de Neguinho. Ele foi encaminhado à Unidade de Emergência do Agreste, em Arapiraca. Em fotos, ainda ensanguentado, José Emílio fez sinal de positivo para tirar uma foto.

‘Confiança’

O deputado estadual Luiz Dantas usou pela primeira vez, no dia 19 de de­zembro de 2017, a tribuna do plenário da Casa de Tavares Bastos para afirmar ter confiança nas investigações sobre as mortes de Neguinho Boiadeiro e Tony Pre­tinho. “Quem sujou as mãos de sangue e cometeu seus malfeitos que pague pelas regras estabelecidas na legislação”.

No calor da repercussão do crime que vitimou Neguinho Boiadeiro, a família Dantas foi acusada pelos familiares do vereador como o mandante do crime.

“Diante dos acontecimentos profun­damente lamentáveis ocorridos em Ba­ta­lha, expresso a minha posição de per­ma­necer em silêncio, aguardando a conclusão das investigações. EU confio na polícia, no governo e na Justiça do meu estado, no sentido de elucidar os fatos criminosos e punir seus responsáveis na forma da lei, afirmou, à época, o presidente da ALE.

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Fonte: Carlos Amaral e Carlos Victor Costa

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