A polícia não confirma nem nega. Os assassinatos dos vereadores de Batalha, Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho, ocorridos em novembro e dezembro de 2017, possivelmente estão correlacionados. Indícios e testemunhas dão conta de que os dois podem ter sido mortos pelos mesmos motivos: vingança e disputa pelo poder político.
A linha de investigação da Polícia Civil (PC), até o fechamento desta reportagem, é a de que a morte de Tony Pretinho teria sido vingança pelo assassinato de Neguinho, tendo como autor José Márcio Cavalcanti de Melo, o Baixinho Boiadeiro, filho de Neguinho. Ainda de acordo com a investigação, Tony, em 2006, teria entregado a localização de Emanuel Messias de Melo Araújo, o Manuel Boiadeiro, que era procurado pelas autoridades policiais por envolvimento nas mortes de Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e do sargento reformado da Polícia Militar de Alagoas, Edvaldo Joaquim de Matos.
O delegado João Marcelo foi o responsável por explicar a motivação do crime durante coletiva de imprensa realizada no último dia 28 de fevereiro, na qual apresentou o nome de Baixinho como autor da morte de Tony.
“Baixinho acreditou que Tony poderia estar envolvido por causa das disputas políticas. O Tony tinha um parente nas eleições de Belo Monte e esse Manuel era ligado ao adversário. Baixinho acreditava que Tony teria entregado a localização do primo, que era procurado pela polícia”, disse o delegado no mês de fevereiro.
Já com relação ao assassinato de Neguinho, o delegado disse que Baixinho passou a acreditar que Tony tinha ligação com a morte do pai devido a algumas circunstâncias.
“Por conta de que o único vereador que não estava na Câmara no dia do crime era Tony e que ele também não participou de uma moção feita pela família de Neguinho, esses fatos podem ter levado Baixinho a pensar que Tony participou do assassinato do pai dele”, relatou João Marcelo.
Por outro lado, a Família Boiadeiro nega a linha de investigação da PC. Maria da Conceição, conhecida como Bahia Boiadeiro, assumiu o papel de porta-voz da família. Em diversas entrevistas para meios de comunicação, a irmã de Baixinho negou o envolvimento dele no assassinato de Tony. Segundo ela, os dois tinham uma boa relação e até por este motivo eram compadres. Tony era padrinho do filho de Baixinho.
“Baixinho tinha provas de onde estava no dia da morte do Tony, ele não tinha motivos algum para cometer esse crime. Tony nunca foi citado pela nossa família sobre a morte de Manuel”, garante Bahia.
Advogada
A advogada da família Boiadeiro, Mabylla Loriato, afirma que a Polícia Civil não ouviu uma testemunha ocular que seria capaz de reconhecer o autor do assassinato de Neguinho. Sem revelar seu nome, ela garante que essa testemunha chegou a procurar a Polícia, mas até o momento seu depoimento não ocorreu.
“Uma testemunha presenciou o assassinato e reconhece o pistoleiro, mas até hoje ela não foi ouvida pela polícia. A esposa do Sandro Pinto e o Bartô procuraram essa testemunha e a ameaçaram para que ela negasse ser o Maikel dos Santos o pistoleiro que atirou. A testemunha ligou para o delegado Cícero Lima e contou tudo. O delegado disse que iria ouvi-la no dia seguinte, mas isso não ocorreu”, relata a advogada.
A família do vereador Alex Sandro Rocha Pinto (PMN), conhecido como Sandro Pinto, nega ter ameaçado qualquer testemunha ocular do assassinato de Neguinho Boiadeiro.
Para Mabylla Loriato, as ameaças à vida da testemunha são motivos mais que suficientes para a prorrogação da prisão temporária dos suspeitos.
Foi a própria Polícia Civil quem ligou, durante a entrevista coletiva em fevereiro, os nomes de Sandro Pinto, Rafael Pinto e Maikel dos Santos como suspeitos da morte de Neguinho Boiadeiro. Depois de 30 dias detidos, todos foram liberados.
“Na coletiva, a PC disse ter as coordenadas e escutas telefônicas que comprovavam que eram eles os responsáveis e agora estão saindo impunes. Nós queremos que a Justiça faça o certo, tome a atitude correta sem olhar a quem. Não é porque ele é vereador (Sandro) que pode matar e ficar em casa”, reclama a advogada Mabylla Loriato.
Mesmo apresentando os três como suspeitos da morte do patriarca da família Boiadeiro, a PC não explicou qual teria sido a participação de Sandro Pinto no assassinato. Os outros dois teriam sido os executores do crime.
Em nota, a PC informou que as investigações continuam e que nesta fase elas transcorrerão em segredo e o que for dito pode “atrapalhar”.
Tony Pretinho
Para a PC, os responsáveis pela morte de Tony Pretinho são Baixinho Boiadeiro, Thiago Mariano e André Souza, “André Barba”, o que é refutado pela família Boiadeiro.
“Já foi requerido ao delegado ouvir testemunhas que comprovam que Baixinho, Thiago e André não estão envolvidos no crime, mas ele fica simplesmente adiando”, diz a advogada Mabylla Loriato.
Segundo ela, André Souza, detido no último dia 14 de março, estava em Santa Catarina a trabalho, com esposa e filha.
“É uma perseguição, não só contra a família Boiadeiro, mas também aos amigos. É contra todos. Inclusive, até os advogados temem por suas vidas. A polícia tem que fazer seu trabalho com seriedade. Existe o direito de defesa e do contraditório. A polícia tem que procurar elementos para indiciar quem cometeu o crime, não acusar inocentes”, afirma Mabylla Loriato.
Segundo o delegado responsável pelo caso do assassinato de Tony Pretinho, João Marcelo, a participação de André Souza no crime foi o de seguir o vereador para informar a Baixinho Boiadeiro seu paradeiro.
“Ele [André] seguiu a vítima por dias, acompanhando sua rotina. No dia do crime, ele ligou para Baixinho, informou onde Tony estava e que não tinha polícia nas imediações”, diz o delegado, adiantando que testemunhas afirmaram que Baixinho Boiadeiro matou o vereador por achar que Tony Pretinho seria o responsável pelas mortes do pai e de Manuel Boiadeiro.
Ainda segundo o delegado, Baixinho teria tramado a morte da prefeita de Batalha Marina Dantas (MDB) – nora do presidente da ALE Luiz Dantas (MDB) – logo após seu pai ter sido assassinado.
“Testemunhas nos disseram que ele estava atrás da prefeita na cidade e como não a encontrou, foi à casa do José Emílio Dantas”, diz João Marcelo. José Emílio Dantas é sobrinho do deputado estadual Luiz Dantas e trocou tiros com Baixinho Boiadeiro após o assassinato de Neguinho. Ele foi encaminhado à Unidade de Emergência do Agreste, em Arapiraca. Em fotos, ainda ensanguentado, José Emílio fez sinal de positivo para tirar uma foto.
‘Confiança’
O deputado estadual Luiz Dantas usou pela primeira vez, no dia 19 de dezembro de 2017, a tribuna do plenário da Casa de Tavares Bastos para afirmar ter confiança nas investigações sobre as mortes de Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho. “Quem sujou as mãos de sangue e cometeu seus malfeitos que pague pelas regras estabelecidas na legislação”.
No calor da repercussão do crime que vitimou Neguinho Boiadeiro, a família Dantas foi acusada pelos familiares do vereador como o mandante do crime.
“Diante dos acontecimentos profundamente lamentáveis ocorridos em Batalha, expresso a minha posição de permanecer em silêncio, aguardando a conclusão das investigações. EU confio na polícia, no governo e na Justiça do meu estado, no sentido de elucidar os fatos criminosos e punir seus responsáveis na forma da lei, afirmou, à época, o presidente da ALE.
Leia mais:
Denúncia aponta esquema de ‘fantasmas’ na Assembleia
“A polícia trabalha para acabar comigo”, diz Baixinho Boiadeiro
Quase vinte anos de confrontos entre os Boiadeiro e os Dantas
Fonte: Carlos Amaral e Carlos Victor Costa