Ao que tudo indica a briga entre os Boiadeiro e os Dantas não vai ficar somente em Batalha. Em fevereiro deste ano, Baixinho Boiadeiro divulgou vídeo no qual afirma que o motivo da morte de seu pai, Neguinho Boiadeiro, foi a possibilidade de denúncia de um esquema de funcionários fantasmas na ALE, cujos recursos desviados serviriam para o financiamento de campanha para o pleito municipal de 2016.
Segundo Baixinho, seu pai denunciaria o esquema que, de acordo com ele, é chefiado pelo presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Luiz Dantas, e conta com o envolvimento de seu filho Paulo Dantas – ex-prefeito de Batalha –, de Marina Dantas – atual prefeita –, do vice-prefeito Hildebrando Balbino (MDB) e de três vereadores: Waldeck da Usina (PTB), Presidente da Câmara Municipal, Fabiano Mandim (MDB) e Vinícius Duda (MDB).
A reportagem da Painel Alagoas obteve, com exclusividade, o teor do documento mostrado por Baixinho em seu vídeo e protocolado junto à Polícia Federal e ao Ministério Público – inicialmente o Federal e depois o Estadual.
De acordo com o documento, pessoas foram nomeadas na ALE entre 2015 e 2016 e contas na Caixa Econômica Federal vinculadas aos cargos foram abertas, mas esses nomes só ficavam com R$ 300,00 de seus respectivos salários.
Todos foram exonerados até maio de 2017.
No material adquirido pela reportagem há prints de conversas no Whatsapp em que o vereador Fabiano Mandim questiona a chegada do cartão da conta pelos Correios e explica como se dará o esquema.
No mesmo documento, uma das pessoas nomeadas, Lucimara Freitas Barbosa, num grupo de amigas no aplicativo, lamentou estar envolvida no esquema.
“No começo do ano fui enganada (eu e meu cunhado Júlio) por nosso ‘vereador’ Fabiano Mandim. Com falsas promessas de que iria nos ajudar (dizia ter um auxílio de 300 reais para cada um por mês). Com uns dias desconfiamos e descobrimos que estávamos em um esquema de corrupção. Estavam usando nossos nomes com cargo de assessor de deputado e salário de até 24 mil reais. Chegamos até a fechar as contas, mas não adiantou, continuaram usando nosso nome”, reclama Lucimara. A reportagem tentou contato, mas ela não respondeu.
Ainda na denúncia, o esquema também teria contado com a ajuda de um gerente da Caixa Econômica Federal conhecido como Rocha. Não foi possível identificar em qual agência essa suposta pessoa trabalharia.
A reportagem questionou o vereador Fabiano Mandim que, assim que soube do que se tratava, parou de responder aos contatos.
O vereador Vinícius Duda não respondeu aos questionamentos até o fechamento dessa reportagem; assim como Waldeck da Usina. A reportagem não conseguiu o contato do vice-prefeito de Batalha Hildebrando Balbino.
Os nomes indicados por Vinícius Duda para o suposto esquema são: Juliana Santos Leandro – sua esposa e enfermeira do Programa de Saúde da Família (PSF) em Batalha –; Ubirajara de Albuquerque Costa Filho, Paulo José Amorim Nery; Felipe Henrique Amorim de Albuquerque; Denis Alexandre Lima; Matias Eduardo Peixoto Alexandre; e Maria Aparecida Santos Leandro, sua sogra.
O vereador Fabiano Mandim indicou Lucimara Freitas Barbosa; Rafaela Duarte Silva; Diogo da Internet; e Júlio, cunhado da Lucimara.
Já Waldeck da Usina: Neilton, neto da Lalá; João Paulo e João Carlos, filhos de Neide do Funil; Renata, filha de Galeguinho do Bar; Evandro, filho do Geraldinho Pedreiro; e Alison, filho de Cida; Jon Lenon; Reinaldo, amigo de Gorete; Carlinhos, de Dedé Leobino; e Débora, filha de Severina. Nos papéis aos quais a Painel Alagoas teve acesso, os indicados por Waldeck estão sem sobrenome.
O vice-prefeito Hildebrando Balbino indicou uma pessoa conhecida como “Baú Mototaxista”, conforme denúncia.
A reportagem da Painel Alagoas questionou a defesa da família Boiadeiro sobre os prints, mas os advogados não quiseram comentar o teor da documentação protocolada junto ao Ministério Público e à PF. “Pode comprometer o andamento do inquérito”, alegou a defesa.
PF
Quem investiga o suposto esquema de funcionários fantasmas na ALE, que ficou conhecido como o caso “Sururugate” é a Polícia Federal, mais especificamente o delegado Daniel Granjeiro.
A Painel Alagoas tentou ouvir o delegado para saber em que pé estão as investigações sobre a denúncia de Baixinho, mas até o fechamento desta reportagem isso não ocorreu.
MPE
Inicialmente, a denúncia dos Boiadeiro foi protocolada no MPF, mas o material foi encaminhado ao MPE. Sua assessoria de comunicação disse à reportagem que o caso está sendo apurado pelos promotores de Justiça José Carlos Castro, coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Público (Nudepat); e Jamyl Gonçalves, da 21ª Promotoria da Capital.
“Porém, os promotores não irão se manifestar no momento, já que foi decretado o sigilo dessa investigação, visto que há informações em comum (ainda a serem obtidas) com o inquérito (que também está em sigilo) que apura as mortes [vereadores Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho]”, explica a assessoria de comunicação do MPE.
LUIZ DANTAS
Após o desdobramento da “Sururugate”, a operação “Malacafa”, em abril deste ano, o presidente da ALE Luiz Dantas emitiu nota sobre o assunto. O parlamentar tem evitado comentar os fatos ocorridos em Batalha e seus desdobramentos.
“Sou o principal interessado no absoluto esclarecimento dessa denúncia de suposto esquema de irregularidades na folha de pagamento, pois jamais compactuaria com tais atitudes. Trabalho à luz do dia, irmanado com a legalidade e os princípios que devem nortear a administração pública. Daí a razão pela qual continuo à disposição para contribuir no completo esclarecimento desse caso. A verdade vai prevalecer e atestar minha conduta correta na gestão do Parlamento alagoano”, afirmou, em nota, o presidente da ALE.
PAULO DANTAS
Logo após a divulgação do vídeo de Baixinho Boiadeiro, Paulo Dantas – ex-prefeito de Batalha, esposo da atual prefeita Marina Dantas e filho do deputado estadual Luiz Dantas – foi à imprensa para questionar o conteúdo da denúncia contida no vídeo. Para ele, trata-se de “uma absoluta inversão de valores”.
“Ele assaca mentiras e tenta mudar os papéis, coisa de quem é contumaz na prática criminosa. Ele é o fora da lei, que possui um passado a ser investigado. Nós possuímos histórias de vida, somos de paz e queremos tudo elucidado. As pessoas que trabalharam com meu pai são de bem e respeitadas pela profissão que exercem. Elas estão revoltadas e o desenrolar dos acontecimentos vai desmascarar a farsa contida na gravação”, afirmou Paulo Dantas.
De acordo com ele, sua família acionaria Baixinho Boiadeiro na Justiça. Ele também afirmou que a prisão do filho foragido de Neguinho Boiadeiro vai contribuir para elucidação de crimes.
“Enquanto vivemos sob ameaça, um foragido tenta mudar os fatos. Não é à toa que um delegado disse à imprensa que o Baixinho vai continuar matando, caso não seja colocado na cadeia. O esclarecimento de tudo pode começar pelo exame da trajetória de todos nós. Eu, minha esposa e meu pai não respondemos a nenhum processo por delito de homicídio e tentativa de assassinato, como ocorreu com José Emílio. Muito menos nenhuma condenação no campo penal, o que já não se pode dizer da outra parte”, conclui Paulo Dantas.
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Fonte: Carlos Amaral e Carlos Victor Costa