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04/06/2018 às 08h58

Política

“A polícia trabalha para acabar comigo”, diz Baixinho Boiadeiro

Baixinho Boiadeiro, em vídeo divulgado nas redes sociais - Reprodução

A reportagem da Painel Alagoas conseguiu, com exclusividade, uma entrevista com Baixinho Boiadeiro. Ele está foragido e seu paradeiro não foi revelado à equipe da Painel. O contato se deu por meios eletrônicos, após quase 30 dias de convencimento. Baixinho nega as acusações de ter matado Tony Pretinho e reafirma as denúncias de fraudes na Assembleia Legislativa Estadual.

Painel Alagoas – Você pretende se entregar às autoridades policiais? Por que fugiu?

Baixinho Boiadeiro – Veja bem, eu pretendo sim! É o que eu mais quero, pois tenho família, tenho residência e tenho uma vida pra viver. Não sou uma pessoa para viver no mundo, mas só vou me apresentar no dia e na hora que eu tiver uma garantia de vida, na hora que eu receber um habeas corpus, aí eu me apresento e deixo meu endereço com a Justiça, pois eu não posso me apresentar para morrer, igualmente fizeram com meu pai. E presto todos os esclarecimentos a quem quer que seja. Eu fugi para não morrer. Todas as informações que chegavam para mim eram que eu seria o próximo a morrer a mando de Paulo Dantas.

Painel Alagoas – Por que você resolveu expor a denúncia que seu pai faria sobre a Assembleia?

Baixinho Boiadeiro – Veja bem, esses papéis deram muito trabalho para conseguir e meu pai estaria esperando o dia e a hora certa para fazer a denúncia, que seria no mês de dezembro de 2017. Eu resolvi expor para que a Polícia Federal entrasse no caso para nos ajudar a tirar esse Luiz Dantas, junto com o seu filho Paulo Dantas do poder e assim satisfazer a vontade do meu pai.

Painel Alagoas – Quando Neguinho Boiadeiro teve acesso às informações, e por que não as denunciou antes, já que o caso é referente aos anos de 2016 e 2017?

Baixinho Boiadeiro – Meu pai só veio saber dessas informações, que estava sendo montado um esquema de lavagem de dinheiro na Assembleia Legislativa por Luiz Dantas e Paulo Dantas, em julho de 2017. Por isso, ele não denunciou antes. Ele teve que fazer um levantamento para saber se era realmente verdade. Aí foi quando ele descobriu que era realmente verdade, começou o trabalho de levantamento de documentos para primeiro fazer a denúncia com tudo nas mãos. Todos esses documentos só chegaram nas mãos de meu pai no meio do mês de outubro. Aí ele faria a denúncia em dezembro, mas não deu tempo. Ele foi assinado em novembro.

Painel Alagoas – Você diz, no vídeo publicado na internet em fevereiro, que Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho denunciariam juntos desvios de recursos na Assembleia Legislativa Estadual. Você acha que Tony foi morto pelo mesmo motivo que seu pai? Por quê?

Baixinho Boiadeiro – Não, eu não disse que o meu pai e o compadre Tony denunciariam juntos. Eu falei que o compadre Tony sabia de tudo, pois o meu pai tinha passado toda documentação para ele também. Eu não tenho dúvidas que o Tony morreu porque ele também tinha esses papéis. O Tony já não era mais aliado do Paulo Dantas e da Marina Dantas, tanto que a irmã do Tony já havia sido exonerada do cargo de secretária de Saúde do Município e todos em Batalha sabem que o Tony disse um ‘rebanho’ de piadas ao Paulo Dantas e a Marina Dantas. O Tony seria a pessoa que iria também atrapalhar a roubalheira que os Dantas estavam fazendo tanto na Assembleia quanto na Prefeitura de Batalha. Na Prefeitura é que é roubo. Eles roubam descaradamente. É só a Polícia Federal ir lá averiguar que verás. Então, os dois [Neguinho Boiadeiro e Tony Pretinho] que iriam acabar com todo esse esquema.

Painel Alagoas – A polícia disse, numa coletiva de imprensa, que você planejava matar a prefeita de Batalha Marina Dantas no dia da morte do seu pai. Isso é verdade? Por que você trocou tiros com José Emílio Dantas?

Baixinho Boiadeiro – A polícia está trabalhando para querer acabar comigo. Não sei com determinação de quem, mas eu tenho Deus no coração e vou provar tudo na hora e no dia certo determinado por Deus. Eu não planejei matar a Marina Dantas. Isso é mentira, mande-os provar! Eles inventaram essa história de que eu queria matar a Marina Dantas para dar sustentação à ideia de que eu teria matado o Tony e fazerem um ‘bicho’ para população sobre minha pessoa. Mas todo mundo me conhece e sabe que eu não sou assassino, igualmente aos Dantas, que agem na calada da noite pagando pistoleiros. Eu tenho prova de onde eu estava no dia e no momento do assassinato do Tony. Meus advogados levaram os nomes das minhas testemunhas e até agora não foram nunca chamadas. Por que será? Eu troquei tiro [com José Emílio Dantas] para não morrer. O que era que ele queria, na rua que dava acesso ao hospital, tudo bem que era a casa dele, mas o que ele queria com uma arma na mão? Aí, quando me viu ficou rindo da minha cara. Quando eu meti o pé no freio do meu carro, uma Pajero Full, ele deu de três a cinco tiros. Eu também desci com uma pistola de calibre 45, e aí se iniciou uma troca de tiros. Fomos parar dentro da casa dele. Tiro vai e tiro vem, como foi constatado na perícia: troca de tiros. É aí onde entra a disparidade, por que até hoje ele está ‘de boa’ e eu estou foragido (temporariamente)? Se ele não tivesse armado na porta da casa nós não teríamos trocado tiros.

Painel Alagoas – Segundo a polícia, você teria usado a mesma arma para matar Tony e tentar matar José Emílio Dantas. Isso procede?

Baixinho Boiadeiro – Mentira! Eu usei uma pistola de calibre 45.

Painel Alagoas – Você acha que o irmão da prefeita Marina Dantas, Theobaldo Cavalcante, está envolvido na morte do seu pai? E qual seria a participação do secretário Hermes, citado por você no vídeo?

Baixinho Boiadeiro – Está sim, tenho certeza. As reuniões para matar meu pai foram todas realizadas em São Marcos, na residência do Theobaldo. A participação do Hermes foi 100%. Ele cuidou de todo apoio logístico e, na execução, deu apoio aos assassinos para saírem da cidade e tal. Com cinco dias do meu pai enterrado, eu reuni minha família e falei: ‘olha, já estou sabendo de tudo. Quem matou nosso pai foi Paulo Dantas, Marina Dantas, Theobaldo, Hermes e Sandro Pinto’. Sinceramente, eu não sabia da participação do Kleber e do Raphael Pinto.

Painel Alagoas – A polícia chegou a apresentar os nomes de Sandro Pinto, Rafael Pinto e Maikel Santos como os responsáveis pela morte do seu pai, sendo os dois últimos os executores. Eles ficaram presos, mas logo foram soltos por falta de provas. Você acredita que foram eles os responsáveis? Por quê? Se não, quem seriam os responsáveis?

Baixinho Boiadeiro – Sim, eu vi! Eles são sim participantes. O Maikel foi reconhecido por uma testemunha como o atirador que matou meu pai. Não, eles não foram soltos por falta de provas. Provas é o que mais tem e até o próprio delegado Paulo Cerqueira falou que o advogado do Sandro Pinto iria aconselhar ele a assumir quando soubesse as provas que tinha contra ele. Até contra os man­dantes Theobaldo,  Marina e o Paulo Dan­tas, o que mais tem é prova. É claro que acredito que foram eles os responsáveis pela morte de meu pai. Um ho­mem que nunca fez mal a nin­guém. Até esse povo mesmo, ele não tinha como inimigos.

Painel Alagoas – Ainda na mesma coletiva de imprensa citada acima, a polícia afirmou que você teria matado Tony Pretinho por achar que ele teria participado da morte do seu pai e que você acreditaria que ele teria entregado seu primo, Manuel Boiadeiro, à polícia em 2016. Seu primo foi morto naquele ano em Pão de Açúcar num suposto confronto com policiais. Você teria motivos para matar Tony Pretinho e por que a polícia chegou ao seu nome?

Baixinho Boiadeiro – De forma alguma, com cinco dias eu já sabia de todos que tinham participado da morte do meu pai e nem por isso eu fui matar, imagina o Tony. É tudo mentira e eu vou provar que não matei Tony. Eu não tinha motivos nenhum para fazer isso. Ele era meu compadre, meu amigo. Nós estávamos sempre juntos, na casa dele ou na minha casa. Eu tenho testemunhas de onde eu estava no dia e na hora da morte de Tony. Todos nós ficamos horrori­zados porque aí deu para ver que os Dantas não estavam de brin­ca­deira, pois com poucos dias do meu pai morto eles mata­ram outro. Acredi­tem, quem matou o Tony, o fez a mando de Paulo Dantas. Mas querem botar para mim, que sou fraco, não tenho influência na política nem tenho um pai deputado e presidente de uma Assembleia Legislativa. Fica muito mais fácil eu pagar por esse crime que eu não fiz. Vou provar minha inocência, custe o que custar. Meu primo Emanuel não tem nada a ver com o Tony. Isso aí é tudo mentira. Tony nunca delatou nada do meu primo. Ele não sabia de nada da vida do meu primo, entendeu? Querem embolar as coisas para poder me incriminar. Meu primo foi morto numa ação policial, que foi constatada pelo perito [George] Sanguinetti, que não houve reação nenhuma. Ou seja, nada de troca de tiros. A polícia colocou meu nome como um arrumadinho dos Dantas em retaliação à denúncia que eu fiz sobre a Assembleia.

Painel Alagoas – Qual a sua relação com André Barba, preso em Santa Catarina por suspeita de participar da morte de Tony Pretinho? Como sua participação ocorrera?

Baixinho Boiadeiro – Minha relação com André Barba é de muitos anos. Somos amigos desde crianças. Ele era funcionário da minha família, andava com meu sobrinho a cavalo, ia buscá-lo na escola, fazia mandado na fazenda, comprava ração. Mas ele foi embora para Santa Catarina. A esposa e a filha dele foram na frente, alguns dias antes da morte do meu pai. A mulher ficou de arrumar um emprego para ele e, quando arrumou, ele foi embora normalmente. André, minha gente, é uma pessoa de origem humilde. Todo mundo em Batalha conhece e pode afirma tudo isso que estou falando. Não houve participação daquele coitado em nada não. É tudo uma jogada. Agora, eu não sei como é que esses acusadores dormem tranquilos, sabendo que tem um inocente preso e tem mais dois. Tudo isso por causa de política. O Thiago mesmo estava numa praça da capital rodeado de amigos e familiares quando o Tony foi morto, inclusive são suas testemunhas.

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Fonte: Carlos Amaral e Carlos Victor Costa

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