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04/06/2018 às 09h02

Política

Quase vinte anos de confrontos entre os Boiadeiro e os Dantas

Neguinho Boiadeiro assassinado em novembro do ano passado: inquérito em segredo de Justiça - Arquivo Pessoal

O assassinato do vereador Neguinho Boiadeiro no dia 9 de novembro de 2017 pode ter sido mais um ato de uma briga familiar que já dura ao menos 18 anos entre os Dantas e os Boiadeiro. Em março de 1999, o então prefeito da cidade, José Miguel Rodrigues Dantas – conhecido como Zé Miguel – foi assassinado a mando de José Laércio Rodrigues de Melo – conhecido como Laércio Boiadeiro, sobrenome adotado pela família. A esposa de Zé Miguel, Matilde Toscano, também foi assassinada.

Zé Miguel era irmão do presidente da Assembleia Legislativa Estadual, Luiz Dantas, e o motivo do assassinato que desencadeou a guerra familiar no Sertão alagoano, teria sido a disputa por terra e pelo poder de mando na cidade. Zé Miguel era pai de José Emílio Dantas.

Em 2012, Laércio Boiadeiro foi condenado a 35 anos de prisão em segundo julgamento, mas ficou apenas quatro anos detido. Desde 2010, ele vive na cidade de Craíbas, aguardando o término do processo.

O crime que vitimou Zé Miguel ocorreu num trecho da AL-220, próximo à cidade de Jaramataia. Até mesmo a Polícia Federal ajudou nas investigações e mais três pessoas foram envolvidas no caso: Adelmo Rodrigues de Melo, o Neguinho Boiadeiro – morto em novembro; o então vereador em Olho D’Agua das Flores, Paulo Fernando; e José Cícero Queiroz, conhecido como “Ciço Fubuia”, único a confirmar à polícia ter participado do crime.

Ciço Fubuia disse que dirigiu uma caminhonete Ranger que, segundo ele, fora cedida por Adoniran Guerra para a emboscada ao ex-prefeito a mando de Laércio Boiadeiro. O veículo foi apreendido na residência de Adoniran Guerra, em Arapiraca, à época superintendente municipal de transportes e genro de Adelmo Rodrigues, irmão de Laércio Boiadeiro.

Mais mortes

Em 2013, José Anselmo Cavalcanti de Melo (Preto) e José Márcio Cavalcanti de Melo (Baixinho) – conhecidos como “Irmãos Boiadeiro” e filhos do vereador Neguinho Boiadeiro – foram acusados de matar, em 2006, Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e o sargento reformado da Polícia Militar de Alagoas, Edvaldo Joaquim de Matos, cunhado e segurança, respectivamente, do prefeito de Batalha à época, Paulo Dantas, filho do deputado estadual Luiz Dantas.

Além dos irmãos, também são acusados de participar do crime Thiago Ferreira dos Santos, o “Pé de Ferro”, e José Marcos dos Santos, “o Tigrão”. Até hoje eles não foram julgados pelo crime e à exceção de Tigrão, morto em 28 de junho de 2017, em Arapiraca, aos 29 anos de idade, todos os outros continuam em liberdade. 

Porém, outro Boiadeiro também foi indiciado como partícipe do crime. Em 2006, uma operação conjunta, envolvendo as polícias Militar e Civil e o Núcleo de Combate ao Crime Or­ganizado (NCCO) foi à casa de Ne­guinho Boiadeiro em busca de Ema­nuel Messias, seu sobrinho e conhecido como Manuel Boiadeiro. Em 2016, Emanuel foi morto durante operação policial na cidade de Belo Monte.

Segundo um dos advogados da família, Manuel chegou a confessar ter atirado em Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e em Edvaldo Joaquim de Matos.

Troco?

A prefeita de Batalha, Marina Dantas, foi acusada por Antônio Silvino dos Santos de ser a mandante da morte de seu filho José Marcos Silvino dos Santos, em junho de 2017 na cidade de Arapiraca.

De acordo com Antônio Silvino, em entrevista a uma rádio de Arapiraca, seu filho conhecido como Tigrão estava com Manuel Boiadeiro na ocasião da morte de Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e Edvaldo Joaquim de Matos. Samuel era irmão da prefeita de Batalha. Antônio Silvino garantiu que seu filho não atirou em ninguém.

Após a morte do filho, Antônio Silvino afirmou, em depoimento à polícia, que saiu de Batalha por causa de ameaças. “Fomos motivados pelas ameaças que recebíamos desde o ocorrido em 2006, quando do homicídio do segurança do prefeito Paulo Dantas, o sargento reformado da Polícia Militar, Edvaldo Joaquim de Matos, e do seu cunhado, Samuel Theomar Bezerra Cavalcante, irmão da sua esposa e atual prefeita de Batalha, Marina Dantas”.

A operação policial na cidade de Belo Monte, que vitimou Manuel Boiadeiro, foi comandada por Eudson Matos, filho de Edvaldo Joaquim Matos, segurança morto do então prefeito Paulo Dantas em 2006. Eudson, até então, era o chefe da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic) da Polícia Civil.

Segundo a versão oficial, houve confronto e por isso Manuel Boiadeiro morreu. Para a família, tudo se tratou de fuzilamento por vingança.

O pai de Manuel, Xisto Vieira, chegou a afirmar à imprensa que o responsável pela morte de seu filho “está dentro da Polícia Civil”, mas ele admitiu que seu filho se envolveu num duplo assassinato: o de Samuel Cavalcante e do sargento Edvaldo Joaquim Matos.

“Agora, 10 anos depois, esse cara, aproveitando-se do governo, de um emprego que tem na polícia, desse distintivo, dessa autoridade, vir parar aqui, inventar que tinha ladrão de banco aqui”, desabafou o pai de Emanuel Boiadeiro a um site da região logo após o crime, em 2016.

O caso é emblemático e mostra as raízes históricas da política alagoana, especialmente no interior do estado. Tudo precisa ser esclarecido o mais rápido possível, a fim de que Alagoas possa superar o estigma de violência que carrega há tempos. 

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Fonte: Carlos Amaral e Carlos Victor Costa

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