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15/04/2019 às 07h13

Geral

Preconceito em Alagoas ainda registra um índice elevado

Estudante de Engenharia Florestal da Ufal relata drama sofrido pela discriminação racial

Jonas Santos teve o seu cabelo cortado com uma faca, durante uma abordagem policial no bairro do Tabuleiro dos Martins - Arquivo Pessoal

Por Carlos Amaral

Jonas Santos tem 20 anos de ida­de e sabe bem o que a violência policial contra jovens negros significa. Estudante de escola pública e recém-ingresso no curso de  Engenharia Florestal na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ele conta que já teve seu cabelo cortado por policial militares numa praça, na parte alta de Maceió.

“Estão no cotidiano as abordagens de rotina, principalmente na periferia. Eu moro na Feirinha do Tabuleiro e aqui é muito frequente. Numa abordagem eu tive meu cabelo cortado com uma faca. Isso foi em 2017 e eu tinha 18 anos. Foi numa praça no bairro da Colina. É verdade que eu esteva com pessoas que já haviam sido presas, mas isso não reduz o que fizeram. Não tinha nenhum flagrante, só estávamos sentados num banco de praça” lembra. “Já sofri muita repressão policial e, com certeza, o racismo está envolvido nisso”, completa Jonas Santos. 

O jovem ressalta que percebe olhares diferenciados quando chega em certos locais. Segundo ele, por causa da cor de sua pele e de seu cabelo, “fora do padrão da sociedade”.

“Acredito que todos [como eu] sentem isso todos os dias. Meu cabelo é grande e encaracolado, fora do padrão da sociedade. Quando a pessoa é racista, a gente vê nos olhos”, comenta o futuro engenheiro.

Para ele, o problema do racismo no país é histórico e está arraigado nos lares brasileiros.

“O racismo, quem trouxe foram os colonizadores, os brancos. Isso enraizou na sociedade, é difícil de tirar. As mães ensinam isso aos filhos”, analisa. “Ainda mais quando falta investimento dos governos para combater o preconceito”, completa Jonas Santos.

Estatísticas

O problema do racismo parece não ter fim, fato comprovado em dados oficiais de emprego, renda, escolaridade e acesso a direitos. Segundo dados Síntese de Indica­dores Sociais (SIS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, 63,9% das pessoas desocupadas, entre 14 e 49 anos de idade eram negras, contra 35,3% dos brancos. Nenhum dado mais recente do SIS foi divulgado até o fechamento desta edição da Painel Alagoas. 

Outro levantamento que espelha bem o racismo no Brasil é o de violência. As maiores vítimas desse mal são os negros. De assassinatos a agressões físicas e verbais, a população negra brasileira não pode se considerar plenamente partícipe da sociedade e dotada do direito essencial da liberdade.

Os negros, segundo o Atlas da Violência 2018 – com dados 2017 –, são as maiores vítimas de violência no Brasil. O documento é elaborado pelo IBGE e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“[...] em 2016, enquanto se observou uma taxa de homicídio para a população negra de 40,2 [por 100 mil habitantes], o mesmo indicador para o resto da população foi de 16, o que implica dizer que 71,5% das pessoas que são assassinadas a cada ano no país são pretas ou pardas”, relata o Atlas.

Em Alagoas, o Atlas aponta a maior disparidade de homicídios entre brancos e negros, apesar de destacar a redução geral desse tipo de crime.

“O caso de Alagoas é especialmente interessante, pois o estado teve a terceira maior taxa de homicídios de negros (69,7%) e a menor taxa de homicídios de não negros do Brasil (4,1%). Em uma aproximação possível, é como se os não negros alagoanos vivessem nos Estados Unidos, que em 2016 registrou uma taxa de 5,3 homicídios para cada 100 mil habitantes, e os negros alagoanos vivessem em El Salvador, cuja taxa de homicídios alcançou 60,1 por 100 mil habitantes em 2017”, diz o Atlas da Violência 2018.

Segundo o documento, “a desigualdade racial no Brasil se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança. Os negros, especialmente os homens jovens negros, são o perfil mais frequente do homicídio no Bra­sil, sendo muito mais vulneráveis à violência do que os jovens não negros. Por sua vez, os negros são também as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do Brasil”.

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Fonte: Painel Alagoas

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