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15/04/2019 às 07h23

Geral

Brasil se constituiu no derramamento de sangue, diz antropólogo

Jorge, jornalista e antropólogo, coordena o Núcleo Acadêmico Afro e Indígena (NAFRI), do Cesmac - Reprodução

Por Carlos Amaral

Muito se fala, e com razão, sobre o racismo contra os negros, pouco ou quase nada isso ocorre com a população indígena. Povos originários do país, eles sempre são tratados como bibelôs ou como algo que, culturalmente, não existe mais e que não passam de aproveitadores e impedidores de progresso em áreas rurais. Em boa dose, se atribui aos índios as dificuldades em desenvolver e ampliar terras para a agricultura ou para a instalação de fábricas, por exemplo.

Jornalista e antropólogo, Jorge Vieira coordenada o  Núcleo Acadêmico Afro e Indígena (NAFRI), do Centro Universitário Cesmac. Ele ressalta que a formação do Brasil se deu com base na morte da população indígena, além de sua escravização.

“Isso que a gente chama de Brasil se constituiu no derramamento de sangue, começando pelos índios. Em 1511 já existia 5 mil índios escravos no país. O que nós chamamos de sociedade brasileira, os marginalizados – índios, negros e mulheres – nunca foram realmente integrados a essa concepção de sociedade do Estado brasileiro”, afirma Jorge Vieira.

Para ele, tal narrativa sobre o indígena atende à necessidade de lhes negar direitos do Estado brasileiro.

“Como o índio apareceu na sociedade brasileira? Como selvagens, preguiçosos, meliantes. Ou como criança onde é preciso ser educada, principalmente pela catequese porque não tem deus nem regra. É o que chamo de etnocentrismo invertido. Como a população brasileira é originária majoritariamente de índio e negro, não tinha como negar completamente essa História. Aí se diz que o índio é amante da natureza. O etnocentrismo é burlado, não para colocar o índio como sujeito, mas para dar aspecto positivo a nós mesmos”, comenta. “E tem o sentimento de que os índios são bonitinhos, para a gente amar, que eram inocentes e agora não são mais. É uma foram burlada para não tratar essa questão”, completa Jorge Vieira.

Ele aponta que se criou a narrativa de que o índio “bom” é apenas aquele que não usa roupas como as pessoas das cidades e que carrega consigo um arco e flecha. 

“Os índios são sempre estereotipados. O índio bonito é o exótico, pelado, com arco e flecha, o amazônico. Agora, o índio nordestino, na convivência com a realidade social, não. Esse tipo não aparece na mídia. Quando o índio se apropriou da cultura não indígena, ele não é mais visibilizado para a sociedade. Por quê? Por que o índio, em si, é sujeito do Direito pela constituição de 1988. E reconhecer o direito à terra, educação e à saúde não é interessante para quem detém o poder, só para o índio original. Essa é a concepção da mídia e das autoridades. É o inocente, o bichinho que tem que proteger, mas quando se traz para o campo do sujeito de direito, não. Agora  mesmo se quer deixar a política de saúde indígena apenas para os da amazônia legal, por exemplo”, analisa o antropólogo.

Jorge Vieira cita a proposta do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta de municipalizar a saúde indígena. Atualmente, se trata de uma política federalizada. Diversos protestos ocorreram no país em contra essa ideia.

Sem dados atuais

Um dos fatores que comprovam a falta de interesse do Estado brasileiro com os povos indígenas é a falta de dados recentes em portais oficiais. Tanto no IBGE quanto no da Fundação Nacional do Índio (Funai), os números sobre sua população no Brasil se remetem ao Censo de 2010. Ou seja, são nove anos sem atualização disponível sobre a realidade desses povos.

Segundo estes dados, havia no país em 2010, 896.917 índios espalhados pelo território nacional. Desses, 16.291 em Alagoas. Na região Nordeste, 232.739 indígenas divididos quase igualmente entre os que vivem no meio rural e no meio urbano. No Brasil, de acordo com a funai, há 274 línguas indígenas.

Segundo o Censo de 2010, a população indígena corresponde a 0,26% da população nacional. 

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Fonte: Painel Alagoas

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