Por Carlos Amaral e Carlos Victor Costa
A reportagem da Painel Alagoas conversou com algumas pessoas próximas ao Cabo Gonçalves. A única que aceitou dar entrevista, sob anonimato, relatou a tensão no velório do militar. Aqui ele será chamado de Pedro.
Pedro conheceu Cabo Gonçalves ainda criança. Ele era seu vizinho no bairro de Ponta Grossa, em Maceió.
“Durante muito tempo não tive notícias dele, até porque eu me mudei de bairro, mas ao saber de sua morte e que o velório aconteceria na casa da nossa infância, fui até lá para levar meus pêsames. Quando cheguei o corpo estava num caixão, no meio da sala. Havia curiosos na porta e poucos amigos dentro”, lembra.
Enquanto conversava com familiares da vítima, Pedro disse ter ouvido gritos e barulho de cadeiras sendo chutadas. Era a chegada do ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante.
“Fardado, embriagado, disparando desaforos contra o defunto. Outro militar, também aparentando ter bebido, e uma pessoa, que eu acredito que também era policial, mas à paisana, e sóbrio, era o único cuja arma na cintura estava aparente, o acompanhavam. A sala estava vazia e os curiosos todos sumiram”, relata. “Cavalcante estava possesso, perguntava, aos gritos, pela família do Cabo. Na cozinha, onde a irmã do morto se encontrava sentada, só havia eu e uma senhorinha que correra a se esconder embaixo da lavanderia, no quintal. O ex-militar a obrigou a se levantar e gritava a segurando pelos braços: ‘Você acha que fui eu quem o matei? Acha? Acha?’, e a balançava violentamente. Tremendo, a moça acabou reagindo: ‘Acho, acho que foi você!’. A sua coragem lhe valeu uma bofetada. Sem diminuir o tom de sua voz, Cavalcante pedia a arma ao homem ao lado para ‘matar essa vagabunda!’”, completa Pedro.
O amigo da família de Cabo Gonçalves conta ainda que o sepultamento que estava marcado para o final da tarde no Cemitério Piedade, acabou atrasando por conta da presença do ex-tenente-coronel Cavalcante. Devido a toda tensão, alguém, de acordo com Pedro, teve a ideia de denunciar o acontecido ao comando da Polícia Militar e solicitar ao Governo do Estado proteção militar para o velório e sepultamento. Chegou uma viatura com três homens.
“Um desses militares, certamente o responsável, me perguntou por que eles estavam ali. Só havia a ordem para irem para lá. Contei o que ocorrera e o militar entrou em pânico: ‘Minha senhora! Enterrem agora o defunto, esqueçam velório! O coronel vai voltar e matar todo mundo, até quem já morreu! Não vamos ficar aqui’”.
Outro fato relatado por Pedro foi o de que a família tentou levar o corpo para São José da Laje, cidade natal da vítima, e realizar o velório na Igreja Batista da cidade, mas quando o pastor soube do acontecido com o ex-tenente-coronel Cavalcante arrumou um pretexto e negou o local.
Em seu depoimento, Manoel Cavalcante confirmou ter ido ao velório de Cabo Gonçalves. Ele diz não se lembrar de quase nada, por ter tomado uísque e estar “chumbado”. O ex-militar confirma ainda que foi acompanhado do sargento Daniel e que foi lá verificar se o Cabo Gonçalves realmente teria morrido.
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Fonte: Agência Alagoas