Por Carlos Amaral e Carlos Victor Costa
João Beltrão teria pedido a morte de Cabo Gonçalves por medo de que o militar o matasse. Para conseguir o feito, ele pediu ajuda a Antonio Albuquerque para convencer Francisco Tenório a participar do esquema, uma vez que este passou a proteger o policial. Esse é o resumo do depoimento do ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante, principal destaque de acusação, principalmente pelo fato de ter sido o líder da “gangue fardada”.
O acerto entre os parlamentares teria ocorrido numa fazenda de Antonio Albuquerque em Limoeiro de Anadia. Ainda de acordo com o ex-tenente-coronel, Cabo Gonçalves trabalhava para João Beltrão – em crimes de mando –, mas teria brigado com o deputado. O motivo seria a negativa em matar o prefeito de Coruripe Enéas da Costa Gama. Daí, Francisco Tenório teria passado a dar guarida ao militar assassinado após este ter sobrevivido a um atentado atribuído a João Beltrão.
“[...] Cabo Gonçalves, uma vez reformado, passou a trabalhar como popularmente são conhecidas as pessoas que trabalham ‘com a turma do João Beltrão’ ou ‘como pessoal do João Beltrão’ lá na cidade de Coruripe; [...] ele sofreu um atentado e atribuiu tal atentado à pessoa de João Beltrão que teria tentado matá-lo; após o atentado, o cabo Gonçalves deixou o estado de Alagoas, passando a viver em um local desconhecido, [...] e, por ser muito amigo do então deputado Estadual Francisco Tenório, o mesmo mantinha contato com tal parlamentar e frequentava, quando vinha a Maceió, a casa do parlamentar, onde inclusive recebia ajuda financeira e de combustíveis”, disse o ex-tenente-coronel.
Ainda de acordo com o depoimento de Manoel Cavalcante, a reunião ocorreu nos fundos da fazenda de Antonio Albuquerque.
“O dono da casa deputado Antônio Albuquerque começou a falar dizendo que havia sido procurado pelo deputado estadual João Beltrão relatando que havia tomado conhecimento que o cabo Gonçalves estava vindo a Maceió, esporadicamente, com a finalidade de assassinar o deputado João Beltrão e que todas as vezes que vinha visitava o deputado Francisco Tenório [...] após a explanação do deputado Antônio Albuquerque, o deputado João Beltrão pegou a palavra e se dirigiu de logo a pessoa do deputado Francisco Tenório dizendo: ‘Chico, eu quero saber aqui agora se você está do nosso lado ou do lado do cabo Gonçalves que está vindo a Maceió com a finalidade de me matar e ainda visita a sua casa’ [...] Francisco Tenório respondeu dando de início um sorriso irônico dizendo que realmente o cabo Gonçalves vinha a Maceió e que passava na casa dele para pegar uma ajuda financeira uma ajuda para o combustível, mas que ele, deputado Francisco Tenório, não sabia que o cabo Gonçalves queria matar o deputado João Beltrão, mas que ele, João Beltrão, ficasse tranquilo que no dia que o cabo Gonçalves chegasse até a sua casa ele avisaria ao deputado João Beltrão, entregando o cabo na suas mãos”, depôs o ex-tenente-coronel.
Ainda em seu relato, Manoel Cavalcante disse que quando Cabo Gonçalves chegou em Maceió, Francisco Tenório o teria mandado ao posto de combustível na então Via Expressa e avisado João Beltrão. Logo, os militares que participaram do crime foram ao local e se posicionaram à espera da vítima. Ainda segundo ele, João Beltrão iria até o local do crime para organizar tudo e “evitar tumulto”.
Numa outra reunião, na casa do militar Silva Filho, “ficou acordado que o grupo teria que executar o cabo Gonçalves no posto Veloz, não dando um segundo sequer ao cabo Gonçalves, que era muito arisco, devendo de imediato dois daquele grupo efetuaram disparos contra o cabo Gonçalves, de forma simultânea, ou seja, um pela frente do carro e outro pelo lado do motorista, evitando que um atirador atingisse o outro e assim foi feito. O deputado João Beltrão foi até o posto, foi quem distribuiu todo mundo e como tudo deveria ser executado”, depôs o ex-tenente-coronel.
A Painel Alagoas procurou o deputado estadual Francisco Tenório, mas ele não quis dar entrevista. “Ainda dói e prefiro esquecer esse caso”, resume o parlamentar que sempre negou todas as acusações. Ele foi o único a ficar detido numa unidade prisional – por um ano –; e saiu com tornozeleira eletrônica.
A reportagem também procurou o ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.
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Fonte: Painel Alagoas