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Entre cães e gatos

25.04.2022 às 09:40

*Tânia Fusco

João, gato, é o decano – 14 anos de vida, 14 anos de dedicada e independente parceria. Com ele discuto assuntos relativos à família, angústias, alegrias, revoltas com a situação política (e outras mais) do país, que ele acompanha atentamente desde 2008. É particularmente inconformado com o golpe contra a Dilma. Não perdoa os coxas, não gosta de minions. É o comunista da família. Mas não divide o bifinho diário, nem o colo da dona. Ninguém é perfeito! 

Aliás, em tempos de mudanças de nominações para adequação ao politicamente correto, não se diz mais “dona”, mas “cuidadora”. Aceito, mas sob protestos. Quem cuida de mim é o João, não o contrário. Cuida tão bem que, se fico doente, cola em mim. Só sai de perto, depois da alta médica. 

Mano, com seus quatro anos de vida, é gato soberbo e também de esquerda. Rajado de amarelo e marrom, olhos esverdeados, sabe que é lindo e tira proveito disso exibindo-se nas janelas, nos sofás, no telhado. 

Com ele o assunto tem sido as desditas deste momento do mundo. Eu reclamo, eu protesto, eu xingo e ele, impoluto, mexe as orelhas quando concorda, pisca os olhos quando discorda. Acha absurdo, numa família de esquerda, tantos bens de consumo acumulados. Sempre que pode, manifesta a discórdia bagunçando gavetas e armários. 

Não faz amizade com os cachorros, também não trata como inimigo – mantém distancia regular, mas com simpatia. Assim garante a possiblidade de consenso ou acordo tático em favor de uma causa maior – tipo um bom pedaço de frango roubado, uma costelinha ainda carnuda esquecida num prato e/ou assemelhados. 

Mano, grande companheiro de bate-panelas fora-bozo, odeia jornais e novelas de TV. Só ocupa espaço na sala quando rola um filme, uma série. Entendo que acha os jornais parciais demais da conta e as novelas arrastadas. 

Quindim, gato malhado de cinza, com peito e patinhas brancas, foi batizado pela antiga “cuidadora”, arquiteta, como Galdi. Não emplacou. Desconhecendo a distinção do nome, a criança da casa trocou o Galdi pelo doce tradicional, que nada tem de cinza ou branco. Entre dois parceiros amarelos, o cinza é que é o Quindim. Coisas da vida.

Gato paulistano, seis anos de vida – quatro deles em apartamento -, Quindim foi deportado para o DF por contingências da pandemia. Fez a troca sem traumas, aturou a rejeição dos colegas gatos já estabelecidos na casa, fez respeitosa amizade com os novos compas cachorros e, sem cerimônia, desfruta do mundo novo – mais livre, com grama, árvores e muros, janelas sem tela e rua livre. 

Claro que, com tanta andança, perdeu peso. Longas paradas em frente aos espelhos, não deixam dúvidas que gosta do shape up to date – mais fitness, tipo “chassi de grilo” muito desejado nas academias. 

Quindim é o isentão da família. Veio de Sampa, pátria do PSDB, e trouxe no sangue o prazer de estar sempre no muro. Se a bateção de panela tá forte, ele encontra posição estratégica para apreciar e até miar alto. Como se aprovasse. Mas se vê algum vizinho desfraldando, orgulhoso, uma bandeira do Brasil em frente da casa, também vai lá. Se não for escorraçado, senta e desfruta da cena, como se concordasse com o enfeite, que expressa – sem dúvidas – a condição de minion. 

Falsinho. Não tá nem ai pra uns ou outros, desde que não lhe falte ração, sachê de bifinho e um leitinho morno no pires. 

Joaquim Pedro, mais conhecido como Joaquim, é um jovem e digno representante da raça Leão-da-Rodésia (Rhodesian Ridgeback). Cães de grande porte, pelo curto, avermelhado, e crista a lá moicano nas costas. Belos e dóceis. 

Com seu ano e dez meses de vida, e seus 70 cm de altura, Joaquim deveria ser o chefe da tribo quarentemada. Longe disso. 

Gentil, manso e medroso, Joaquim virou obediente súdito do decano gato João, a quem trata com respeito, paciência e lambidas. 

Joaquim adora uma prosa. É debatedor ideal para assuntos de difíceis. Presta uma atenção danada, mas não contradiz o interlocutor. Se digo que ele é lulista, segue empertigado em concordância tácita. Se disser o contrário, também não manifesta discordância. 

Quando brigo aos gritos com o noticiário da TV, Joaquim põe-se em pé e alerta, como que reforçando minha justa indignação. Sinto que pensa: melhor não contrariar! 

Carente profissional, como são todos os cachorros, quando bebê, Joaquim exigia atenção permanente. Coisa que nem o cativeiro da quarentena permite a nenhum cui-da-dor. Solução? Joaquim ganhou um cachorro pra chamar de seu – Cássio, vira-lata preto e branco, pequeno e atrevido, chegou bebê. (Na família de Corintianos, o nome, claro, é homenagem ao goleiro gigante do Timão). 

Formou parceria perfeita com Joaquim. Inseparáveis e, não tenho dúvidas, são intrinsicamente anarquistas – contrários a todo tipo de hierarquia e dominação. Rejeitam o Estado, o capitalismo, as instituições religiosas, o racismo e o patriarcado. Ai incluídos adestradores. 

Demonstram essa ideologia com eloquência e precisão. Devoram, rasgam, comem, destroçam todos os signos de poder, posse e dinheiro – plantas e gramados bem cuidados, objetos raros, livros, roupas, sapatos e óculos caros, cartões de crédito… 

Nas noites de lua cheia, baixa na dupla canina espirito de lobisomem, um quê de milícia. Com a ajuda do gato João, caçador nato, sem alarde, saem perseguindo, encurralando e matando saurês, coelhos, corujinhas desavisadas. Sempre os menores e mais fracos. Aos costumes. 

Fazer o que? Chorar. Sentir muito. Rezar para que os assassinatos não se repitam. 

Enquanto as portas seguem fechadas para a vida normal, sigo aliviando tensões e medos na companhia solidária da trupe, que soma cães e gatos – rivais históricos convertidos em parceiros. 

E ouso dizer. Poucos de nossos amores são capazes de, na alegria e na tristeza, expressar – sem submissão e só com olhar – tão sinceras juras de amor e de fidelidade eternos. Espantam solidão e lágrimas. São ótimos ouvintes. 

Com lugar comum. Sorry. Fazem a vida mais divertida, mais leve.

*É jornalista

*Publicado na edição 57 da revista Painel Alagoas

Postado por Painel Opinativo

Todas as possibilidades, no “Cura” de Deborah Colker

16.04.2022 às 12:00
Divulgação


Sábado de Aleluia, nada mais recomendável para a noite de hoje do que assistir ao espetáculo “Cura”, trazido ao palco do Teatro Gustavo Leite, em Maceió, pela Companhia de Dança Deborah Colker. “Cura” trata de ciência, fé, da luta para superar e aceitar nossos limites, do enfrentamento da discriminação e do preconceito. 

Nas palavras de Deborah, é “a cura do que não tem cura”.

Deborah Colker dedicou seu tempo, nos últimos anos, a buscar uma solução para a doença genética que Théo, seu neto, tem: a epidermólise bolhosa. 

Assim, nasceu o novo trabalho.

Ela construiu parcerias com o rabino e escritor Nilton Bonder, responsável pela dramaturgia, e Carlinhos Brown na concepção musical, para formatar essa sua criação. 

Deborah também percorreu caminhos geográficos. 

Foi a Moçambique, foi à Bahia, se encantou pela história do orixá Obaluaê, filho de Nanã, criado por Iemanjá, que abre o espetáculo, contada pela voz do próprio Théo. 

E trouxe à arte, as possibilidades de se vencer as dúvidas e os medos.

Imperdível!

Serviço:

Dia 16 de abril, sábado 21:00

Dia 17 de Abril, domingo 20:00

Local: Teatro Gustavo Leite

Os ingressos custam entre R$ 25,00 e R$ 140,00 e estão à venda no Viva Alagoas – Maceió Shopping e pelo site www.ingressodigital.com

Classificação Indicativa: Livre.

Produção: Sue Chamusca

Postado por Painel Opinativo

Impulsos animalescos

28.03.2022 às 22:00


Por Ilzinha Porto Maia

O jeito humano de agir normalmente através de impulsos animalescos, buscando solucionar os problemas. Sem resolução, criando comprometimentos eternizados e é preciso refletir nisso.

 Acredito q NENHUM humano deveria se achar DEUS e debochar da sanidade de outro, julgando-o, seja lá quem for. Não sabe o q poderá acontecer com sua vida no outro minuto, além, de deixar péssimo legado. Aliás, criou-se o costume na modernidade de que qualquer um à todo momento, acha-se no direito de falar o q bem quiser, usando inclusive da maledicência, instrumento afiado e cortante, pensando q será aplaudido pelo relato, infeliz.Exacerbando ao dar voz à sua opinião, desmedida e diria, uma face ainda nefasta no caminho evolutivo.

 Dizia minha bisavó Ilza, q “costume de casa vai à praça”, quando relatava ditado antigo, trazido para essa geração. Nos últimos dias, mulheres vêm sendo massacradas na era digital no Brasil inclusive com Oscar e tudo. Ao serem defendidas por seus companheiros, q resolvem através da violência.

 O primitivismo arraigado, busca na força o grito por justiça ao lavar a honra, do modo mais tosco. Violência não é resposta. Por outro lado, nunca será fácil conviver com alguém q tenha alopecia, distúrbios mentais ou qualquer distúrbio q tenha no exercício amoroso uma ampla compreensão. Ao referirem-se nisto, muitos, apunhalam feridas sangrentas com entrosamentos desastrosos, acionando como dispositivos, ativando o sistema nervoso dos que sentem-se melindrados e dispostos à serem machos em sua territorialidade. Apenas os que convivem sabem a dor do q vivenciam diariamente ao acompanharem sofrimentos de almas além de corpos, certamente, os outros podem imaginar ou supor.

 Quando o sofrimento é igualado para todos, vemos os que sobressaem-se fazendo o bem, a porta é estreita nesse sentido! Enquanto a humanidade não entender que é necessário colocar-se no lugar do próximo, isso sempre existirá. Acreditava sinceramente que depois dessa pandemia o ser humano seria melhor, falta o respeito, o exercício da tolerância e ensinamentos básicos. E, vejo com tristeza aberrações constantes entrando para a história.

Postado por Painel Opinativo

Pandemia afeta mais mulheres, aponta estudo

21.03.2022 às 14:40


Uma pesquisa publicada início deste mês na revista científica "The Lancet" apontou que, na pandemia da covid-19, mulheres foram mais afetadas do que os homens em pelo menos quatro aspectos: desemprego, trabalho não remunerado, educação e violência de gênero.
"Mostramos evidências de disparidades de gênero nos aspectos de saúde, sociais e econômicos, com as mulheres sendo afetadas desproporcionalmente em várias dimensões", dizem os autores do es­tudo, que é liderado por uma bra­sileira, Luísa Flor, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
O estudo fornece a primeira evidência global abrangente sobre disparidades de gênero para uma ampla gama de indicadores de saúde, sociais e econômicos durante a pandemia. As evidências sugerem ainda que a Covid-19 tendeu a exacerbar as disparidades sociais e econômicas existentes anteriormente, em vez de criar novas desigualdades
Em todas as regiões, as mu­lheres relataram taxas mais altas de perda de emprego do que os homens desde o início da pandemia, embora essa tendência tenha diminuído ao longo do tempo.
A perda de renda também ocorreu globalmente – foi relatada por 58% dos entrevistados, com taxas gerais semelhantes para homens e mulheres (embora as diferenças de gênero variassem entre as regiões).
“Grupos étnicos minoritários, imigrantes e mulheres em situação de pobreza provavelmente estão entre os mais severamente afetados pela pandemia. Além disso, as normas sociais de gênero em muitos países atribuem responsabilidades domésticas e de cui­dado aos filhos preferencialmente às mulheres e reduzem seu tempo e capacidade de se envolver em trabalho remunerado”, com­pletou a pesquisadora brasileira.
Mulheres em todas as regiões foram mais propensas do que os homens a relatar que precisaram abrir mão de um emprego remunerado para cuidar de outras pessoas. A disparidade aumentou ao longo do tempo. Em março de 2020, a cada 1 homem no mundo que disse ter precisado abrir mão do emprego para cuidar de alguém, esse número para as mulheres era 1,8. Em setembro de 2021, a disparidade aumentou para 2,4.
Essa diferença entre os sexos ocorreu em todo o mundo, mas de forma menos significante no Norte da África e no Oriente Médio.
As maiores diferenças de gênero foram observadas em países de alta renda: as mulheres foram 1,1 vez mais propensas a relatar que tiveram que cuidar de outras pessoas. Na Europa Central, na Europa Oriental na Ásia Central, as mulheres tiveram 1,22 vez mais chance de relatar aumento no trabalho doméstico.
Com relação à educação, os en­trevistados, geralmente pais, relataram que, em todo o mundo, 6% dos alunos abandonaram a escola durante a pandemia. (O dado não incluiu faltas devido ao fechamento de escolas). As maiores diferen­ças de gênero foram observadas na Europa Central, Europa Ori­en­tal e Ásia Central – onde quatro ve­zes mais mulheres do que homens abandonaram a educação.
Sobre a percepção do aumento da violência, no geral, 54% das mulheres e 44% dos homens relataram achar que a violência de gê­nero aumentou em sua comunidade durante a pandemia. As ta­xas mais altas foram relatadas por mulheres na América Latina e no Ca­ribe (62%), países de alta ren­da (60%) e na África Subsaariana (57%).

Conclusão: quanto mais avançamos nessa pandemia, mais as desigualdades são exacerbadas. 

Publicado originalmente como editorial na edição 56 da revista Painel Alagoas

Postado por Painel Opinativo

Igualdade de gênero: as barreiras que impedem mulheres de fazerem ciência

21.03.2022 às 11:52

Letícia Piccolotto*


Com a pandemia de covid-19, muitas palavras passaram a integrar o nosso vocabulário e seus significados, antes desconhecidos pela maioria de nós, se tornaram cada vez mais representativos da realidade que vivemos. Outros termos, no entanto, já eram conhecidos, mas elevaram o patamar de sua importância. E se eu pudesse escolher qual a palavra mais importante dos últimos dois anos, sem sombra de dúvidas, ela seria ciência.
Por vezes questionada, muitas vezes celebrada, a ciência esteve presente em nossas vidas como nunca antes. Acompanhamos o desenvolvimento de imunizantes em tempo real, nos familiarizamos com a sua linguagem, seus processos e resultados. Estando mais próximos da ciência, passamos a entender melhor a complexidade da vida e dos acontecimentos que nos rodeiam. E os últimos dois anos também trouxeram à tona os desafios relacionados ao fazer científico.
Falamos sobre a falta de recursos para a pesquisa, discutimos sobre os diversos papéis que cada ator da sociedade —governo, setor privado, academia, terceiro setor— deveriam ocupar na ciência e também questionamos o tempo necessário para produzir conclusões com validade científica —tempo esse que nunca pareceu acompanhar o compasso de nossa urgência em alcançar respostas.
Um desafio, no entanto, parece perpassar o momento presente. Ele vem de muito tempo e, infelizmente, deve ainda demorar muito mais para se resolver. Falo da equidade de gênero nas ciências e do quanto precisamos caminhar para que meninas e mulheres sejam beneficiárias das descobertas científicas e, mais do que isso, as promotoras dessas transformações. A equidade de gênero é um tema sempre presente em minha vida e sobre o qual discuto com muita frequência aqui na coluna.
Mas o motivo para escrever esse texto é especial.
Dia 11 de fevereiro foi o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi criada em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) para celebrar e promover a participação feminina nas diversas áreas de conhecimento das ciências. A igualdade de gênero é um tema prioritário para as Nações Unidas e, inclusive, figura como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável —conhecidos como ODS ou Agenda 2030. E alguns números sobre a participação feminina nas áreas de STEM —acrônimo em inglês que significa ciência, tecnologia, engenharia e matemática— ajudam a entender o porquê da importância do tema.
Por exemplo, o fato de que desde 1903, quando Marie Curie ganhou o Prêmio Nobel por suas descobertas sobre os efeitos da radiação, apenas 17 outras mulheres repetiram esse feito nas áreas de física, química ou medicina. Entre os homens laureados pelo prêmio, o número foi de 572.
Somente 33% dos pesquisadores são mulheres e, em áreas disruptivas, como inteligência artificial, representamos apenas 22% dos profissionais. No Brasil, 54% dos títulos de doutorado foram obtidos por mulheres, embora somente 25% dos diplomas se concentrem nas áreas de matemática e ciência da computação.
Diferenças e iniquidades tão gigantescas não acontecem da noite para o dia. E, definitivamente, não são fruto de uma inabilidade das mulheres para as ciências, como muitos discursos mal-intencionados podem querer sugerir. Para se ter uma ideia, um artigo publicado na Nature, uma das mais bem-conceituadas revistas científicas do mundo, mostrou que, entre 2008 e 2012, as pesquisadoras brasileiras foram responsáveis por quase 70% de todas as publicações científicas produzidas no país.
Como já discuti aqui, desde muito cedo, meninas apresentam desempenho igual ou superior aos meninos em disciplinas como matemática, física e química. Mas a distância entre os grupos vai se ampliando com o passar do tempo até que se torne um abismo quase intransponível na vida adulta.
O que pode explicar tal diferença?
Pesquisas têm buscado compreender os fatores que levam à subrepresentação de mulheres nas ciências.
Os resultados apresentados no relatório "Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM)" , publicado pela Unesco, reforça o que já discuti anteriormente: não há qualquer razão genética, cognitiva ou física que justifique a disparidade entre homens e mulheres que temos observado nas ciências. Causas muito mais profundas e, ainda assim, sutis, podem ajudar a entender como, desde muito cedo, o problema começa a se formar. Fatores como:
Estereótipos de gênero compartilhados por familiares, amigos e pela sociedade, como a ideia difundida de que as áreas de STEM não são "coisas para meninas"; contexto sociocultural e econômico das famílias; a qualidade dos professores e, especialmente, a presença de mulheres no corpo docente e, finalmente; recursos para o aprendizado, como currículos de STEM, materiais e oportunidades de praticar os conhecimentos aprendidos.
Além disso, há um importante componente governamental: políticas públicas, legislações e ações de comunicação podem influenciar fortemente —para o bem e para o mal— a participação de mulheres na ciência. E nos próprios fatores que causam as disparidades de gênero podemos encontrar caminhos para enfrentar esse desafio.
Primeiro, é imprescindível reconhecer a complexidade do problema e a necessidade de que os diversos atores estejam envolvidos em sua solução. Segundo, que sejam implementadas ações, desde muito cedo, para que as meninas e, no futuro, mulheres, tenham todas as condições de cultivar o interesse e aspirar uma carreira nas áreas de STEM.
Por fim, é fundamental que todos tenhamos o compromisso individual e coletivo de promover a igualdade de gênero em todos os espaços em que estamos presentes. Que ser mulher não seja um fator limitante; que sejamos livres para moldar nossa identidade, crenças, comportamentos e escolhas de vida; e que a sociedade possa reconhecer a inestimável contribuição que podemos trazer para o desenvolvimento de todos.

É o que desejo hoje e em todos os dias. Para mim, para minhas filhas e para todas as meninas e mulheres que existem e ainda existirão.

*Texto publicado originalmente na coluna semanal de Letícia Piccolotto no UOL/Tilt 

Postado por Painel Opinativo

Características imperdoáveis para uma mulher

09.03.2022 às 10:17


Ana Daniella Leite - Jornalista


Em pleno Dia Internacional da Mulher, uma mulher foi eliminada em rede nacional. E por ser inteligente, segura, objetiva, ter controle emocional. Características imperdoáveis no Brasil para uma mulher.

Essa é a luta diária, meninas e mulheres. Para a sociedade patriarcal e retrógrada em que vivemos, mulher deve apenas dizer sim, aceitar qualquer coisa mais ou menos, seja na vida pessoal ou profissional, nunca questionar, nunca se impor e, principalmente, nunca ser livre para ser quem realmente é. 

Cada pessoa é única e características independem de gênero. É cansativo ter que diariamente estar preparada para se defender, se autoafirmar e impedir que nos diminuam.

O caso da Jade, no programa de televisão, é uma comprovação dura da realidade diária. Coerente, equilibrada emocionalmente, objetiva, e que defende seu  próprio caminho. 

O que prova que a sociedade atual repudia mulheres inteligentes e independentes. E não importa a classe social e a etnia. Simplesmente, não aceita que uma mulher se imponha, seja direta, seja ela mesma. 

Já estive no lugar dela em todos os meus ambientes de trabalho e em relações pessoais. Quantas vezes você, minha amiga, já esteve também nesse lugar? Tendo que defender o óbvio ferreamente só por ser mulher? Se não chorar é louca, se gritar é destemperada. 

Diante do fato, reafirmo que sim, não arredo um centímetro da minha determinação, da minha “soberba”, porque até a ordem das coisas mudar, a luta por equidade não terá fim. 

E, assim como a Jade Picon, não podemos jamais esquecer que o mundo também é nosso. 

Postado por Painel Opinativo

BookTok: o vídeo ajudando o livro

Gustavo Martins de Almeida analisa a importância da rede social TikTok na divulgação e venda de livros

04.03.2022 às 16:35


Gustavo Martins de Almeida*

Sim, é possível usar a rede social TikTok para divulgar livros. Pode parecer paradoxal, mas constata-se a existência de um nicho de uso dessa rede social, felizmente destinado a divulgar livros, o BookTok.

Criada em 2017 com o nome Musical.ly, visando a postar vídeos com músicas dubladas, a rede social chinesa foi comprada pela também chinesa ByteDance e se tornou o TikTok. Basicamente, a rede social divulga vídeos de até três minutos com variados efeitos sonoros e visuais.

A portentosa rede de livrarias norte Americana Barnes & Noble tem, no seu site, um setor especificamente destinado ao fenômeno BookTok (The Most Popular TikTok Books #BookTok | Barnes & Noble® (barnesandnoble.com), com indicação de livros por área de interesse, como adolescentes, ficção, romance, fantasia, etc., além dos mais recomendados e populares.

Então, o que poderia ser uma concorrência na chamada economia da atenção acaba se tornando uma ferramenta complementar do mercado editorial. Pequenas recomendações de livros e na maioria feita por adolescentes turbinam o setor de vendas e leitura.

Segundo a revista Forbes (BookTok: como o TikTok ajudou venda de livros a bater recorde nos EUA - Forbes) esses vídeos constituíram fator de grande influência na venda de livros durante o período de pandemia. Essa influência começou em 2020 e conta com os mecanismos de estímulo e difusão do TikTok, como premiação para novos aderentes e seguidores. Ainda de acordo com estatística divulgada pela revista Forbes, as visualizações marcadas com hashtag #BookTok chegaram a quase 36 bilhões.

O que se vê é um fenômeno de influenciadores audiovisuais que também atinge o YouTube.

Esse fenômeno surpreendente mostra que o mercado editorial acaba se servindo do audiovisual para a sua divulgação.

Razoável supor que esse espaço de oportunidade abre o caminho para outras práticas de divulgação de mercado, como merchandising e todo o tipo de promoções que visam a captar a atenção do público.

Para não deixar de falar da área jurídica, importante salientar alguns aspectos. Já ouvi questionamento a respeito da leitura de trechos de livros em vídeos do BookTok ser proibida, pois a lei 9610/98, art. 29, VIII, a exige autorização prévia para a “recitação ou declamação”.

A citação (leitura nos vídeos) de pequenos trechos (cujo tamanho a lei não especifica) é perfeitamente aceitável desde que mencionada a fonte o autor e a edição (lei 9610/98, art. 46, III). Já dentro do princípio de se evitar a concorrência desleal não é lícito, a meu ver, citação de trecho relevante, essencial, que contaria, por exemplo, o desfecho de um livro. Essa prática na verdade esvaziaria o conteúdo econômico da leitura, na medida em que revela cena de atração, de mistério de obra literária.

Em pesquisa de julho de 2021 o BookTok apresentava mais de 13 bilhões de vídeos, em sua maioria executados e apresentados pelo público jovem, com todas as suas emoções leves ou intensas transformando a literatura em algo atraente. Já falei aqui que uma obra audiovisual (tipo Malhação) em que um personagem protagonista fosse um leitor assíduo, sem ser necessariamente um caricatural nerd, influenciaria o jovem público leitor na direção dos livros. É a fórmula de atração do público espectador para o mercado literário, por meio do seu concorrente, o audiovisual.

Também mencionei em coluna passada o fenômeno do metaverso e dos NFTs. Juntem-se videogames e toda a indústria audiovisual e o espaço para uma resultante positiva do mercado literário está criado. Conversando com o craque Marcos Pereira, discutíamos o que seria mais difícil, aumentar o número de leitores brasileiros ou o número de livros lidos por esse seleto e relativamente pequeno setor. Talvez com o impulso do audiovisual (vloggers, YouTube e BookTok), o primeiro desafio se torne menos difícil.

*Publicado originalmente em Publish News 


*Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem mestrado em Direito pela UGF. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO.


Postado por Painel Opinativo

Pequenas maldades

21.02.2022 às 12:20

*Tania Fusco - Jornalista

Nóis sofre, mas nóis ri.
Vai dizer que não riu quando soube que a vizinha negacionista saiu toda pimpona para a viagem de férias e foi barrada no ckekin. Voltou pra casa injuriada, com a desagradável tarefa desfazer mala e cuia. Sem vacina, sem Europa. Metade da rua soube e riu. Os mais malvados murmuraram: Bem feito. Rindo.
Vale o mesmo para os barrados em restaurantes, espetáculos, etc.. Toma negacionista!
Vai dizer que não riu com a foto do Moro de óculos escuros em uma boate, no Nordeste? Seria um disfarce, conjuntivite, new style?
Vai dizer que não riu quando as férias bagaceira do piloto de Jet ski/PR acabaram em intestino enfezado? Riu mais ainda quando o camarão levou a culpa pelo nó nas tripas. A piada veio pronta. Se a trava está no reino dos moluscos, imagine quando for lula?
Vai dizer que não riu com a invertida, em carta aberta, do General da ANVISA ao capitão bocudo?
Qual o interesse da ANVISA por trás disso aí? Indagou o PR, com sua performance de sabichão/Tonho da Lua, sobre a aprovação da ANVISA para vacinação, contra Covid, em crianças de 5 a 12 anos.
No sábado, dia 8/01/22, Antônio Barra Torres, Contra-Almirante, médico, que preside a ANVISA mandou essa: Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa ou sobre qualquer um que trabalhe na ANVISA.
E ainda pediu retratação do capitão-falastrão que, apesar de Presidente da República, na hierarquia militar seria subalterno do Contra-Almirante, patente equivalente a de General.
Jair ficou dois dias sem palavras, naquele estado catatônico do “Ah é, é”?, quando não se sabe como rebater uma lambada cara a dentro.
Rimos de novo, vá?
Ontem à noite, primeiro ao seu estilo, Jair disse que nunca acusou a ANVISA de corrupção e classificou a carta de Barra Torres como “muito agressiva”. Minutos depois, voltou ao seu toró de palpite habitual. Disse que “é comum ver Agência criar dificuldade para vender facilidade”.
“Não quero acusar a ANVISA de absolutamente nada. (Jura?) Agora, que tem alguma coisa acontecendo, não tem a menor dúvida que tem”.
Tem o quê, seu Jair? Diga lá!
Ou seja, como já apontou Barra Torres, saber de coisa errada e não denunciar é prevaricação.
Jair, o mentidor, é mesmo prevaricador contumaz.
Bora aguardar próximos rounds do General X capitão rolando lero.
Nesse melê a que somos submetidos diariamente, desde que esses tipos botaram a mão na presidência do Brasil, rir é fundamental para desopilar o fígado e sobreviver às raivas, aos medos das Covids, que mudam de nome, da influenza, da dengue. De tudo junto.
Jair é um pandego. A la Mussolini, é perigoso mas pandego.
Com ele et caterva, nóis sofre, mas nóis também ri. E toca a vida.
Essa nossa resiliência – com riso e/ou pela fé e esperança – é registrada nas pesquisas de comportamento, como no levantamento do Observatório da Febraban, realizado em dezembro, pelo Ipespe. Mais da metade dos 3000 entrevistados (58%) se dizem satisfeitos da vida. Estar com boa saúde apesar da grave crise sanitária é um dos principais motivos por esse sentimento. Tipo: Sobrevivi, tá de boas.
A esperança aparece também em mais da metade (53%) dos entrevistados, que acreditam em tempos melhores, ainda que não seja em curto prazo. Pra esses brasileiros, em 10 anos, o país estará melhor.
Esse otimismo chega aos 58% entre os jovens de 18 a 24 anos, pessoas com nível superior e entre os que ganham de 2 a 5 salários mínimos.
O desencanto alcança 22% dos entrevistados, que imaginam o país pior em uma década. Sentimento que é maior entre as mulheres (25%).
14% dos entrevistados jogam a toalha. Não acreditam em mudanças, acham que o país vai continuar igual. Entre as mulheres esse percentual de descrédito chega aos 19%.
Mais da metade dos entrevistados quer um país mais justo e com menos desigualdade social. Sem esquecer cuidado e respeito à natureza.
E com esses sonhos vamos resistindo. Rindo até do que mete medo.

(Esse artigo foi publicado anteriormente no Blog de Ricardo Noblat/Metrópoles)

*Publicado na edição 55 da revista Painel Alagoas

Postado por Painel Opinativo

Era uma vez...Catarina a Escritora

Com carreira consolidada e vitoriosa Catarina Muniz completa 10 anos como escritora

14.01.2022 às 19:35


Catarina Muniz em menos de seis meses publicou dois romances, já tem prontos outros dois e um terceiro em produção

Ricardo Leal*

Não seria nenhuma falta de modéstia hoje eu me considerar um privilegiado, por ter tido a oportunidade de ler Catarina numa época em que ser escritora era um projeto muito distante, quase inimaginável. Da confiança adquirida pela nossa convivência diária no trabalho e, talvez,por eu já ter publicado  livros no século passado, Catarina me presenteou com algumas crônicas de sua autoria, me pedindo uma sincera opinião. Me surpreendi com o que li e sugeri a ela que tentasse de alguma maneira, sair do anonimato.

Quando me disse que ,além de tudo o que  eu tinha lido, ainda havia um romance praticamente pronto não tive dúvida em incentivá-la a procurar alguma "editora virtual"e tentar negociar um jeito qualquer de publicação. Não acompanhei muito de perto as negociações, mas fiquei surpreso e feliz quando ela me mostrou um exemplar do Segredo de Montenegro publicado quase que de maneira artesanal.

Apesar da edição "amadora" sem orelhas, sem prefácio, nem qualquer tipo de referência a autora,  o "produto livro" tinha o que todo livro bom deve ter:conteúdo. Isso lá ele tinha sobrando. Um surpreendente texto , um romance, com pitadas eróticas  e sensuais, com uma narrativa de fácil degustação , sequenciada  por capítulos que prendiam a atenção e despertavam a curiosidade do leitor.

Mal terminei de ler o Segredo de Montenegro e já fui "apresentado " a Dama de Papel, também publicado no mesmo "esquema", apesar da edição e diagramação serem um pouco mais arrojadas.Para minha surpresa, uma vez mais estava diante de um belíssimo texto. Dessa vez um romance vivido na Inglaterra do Séc XIX. O que me surpreendeu nesse segundo livro foi , além do já conhecido talento  em criar personagens, narrar  situações e desenvolver o texto, despertando aquela curiosidade do leitor querer saber o que vem no próximo capítulo, Catarina dá uma brilhante prova de conhecimento histórico ao enquadrar, com maestria, o enredo de sua obra dentro da realidade cotidiana daquela época.

Li em algum lugar que quem  tem  talento desenvolve um  invisível  vício de triunfar de um jeito ou de outro, aconteça o que acontecer. Quando o destino conspira a favor então, o triunfo torna-se inevitável. E o destino colocou a "Dama de Papel" numa editora de porte nacional, capaz de elevar o trabalho de Catarina a níveis antes nunca imaginados.

Dos dias que li aqueles primeiros textos até a véspera do lançamento da Dama de Papel, em Maceió, passaram-se pouco mais de 2 anos e aquele sonho quase impossível virou uma realidade inquestionável.Catarina Muniz amanhã,para todos que prestigiarem sua noite de autógrafos, não será uma escritora, será " A Escritora".


*Publicado originalmente no blog/coluna Etcetera em 13/11/2015

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Decretos de Natal

20.12.2021 às 07:20

*Frei Betto - escritor, autor, em parceria com Domenico de Masi e José Ernesto Bologna, de "Diálogos Criativos" (DeLeitura), entre outros livros


Fica decretado que, pelo menos um dia, desligaremos toda a parafernália eletrônica, inclusive o telefone e, recolhidos à solidão, faremos uma viagem ao interior de nosso espírito, lá onde habita Aquele que, distinto de nós, funda a nossa verdadeira identidade. Entregues à meditação, fecharemos os olhos para ver melhor.


Fica decretado que, despidas de pudores, as famílias farão ao menos um momento de oração, lerão um texto bíblico, agradecendo ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda, e até dores que exacerbam a emoção sem que se possa entender com a razão. Finita, a vida é um rio que sabe ter o mar como destino, mas jamais quantas curvas, cachoeiras e pedras haverá de encontrar em seu percurso.
Fica decretado que arrancaremos a espada das mãos de Herodes e nenhuma criança será mais condenada ao trabalho precoce, violentada, surrada ou humilhada. Todas terão direito à ternura e à alegria, à saúde e à escola, ao pão e à paz, ao sonho e à beleza.


Fica decretado que, nos locais de trabalho, as festas de fim de ano terão o dobro de seus custo convertido em cestas básicas a famílias carentes. E será considerado grave pecado abrir uma bebida de valor superior ao salário mensal do empregado que a serve.
 Como Deus não tem religião, fica decretado que nenhum fiel considerará a sua mais perfeita que a do outro, nem fará rastejar a sua língua, qual serpente venenosa, nas trilhas da injúria e da perfídia. O Menino do presépio veio para todos, indistintamente, e não há como professar o “Pai Nosso” se o pão também não for nosso, mas privilégio da minoria abastada.


 Fica decretado que toda dieta se reverterá em benefício do prato vazio de quem tem fome, e que ninguém dará ao outro um presente embrulhado em bajulação ou escusas intenções. O tempo gasto em fazer laços seja muito inferior ao dedicado a dar abraços.
 Fica decretado que as mesas de Natal estarão cobertas de afeto e, dispostos a renascer com o Menino, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém.
Fica decretado que, como os reis magos, todos daremos um voto de confiança à estrela, para que ela conduza este país a dias melhores. Não buscaremos o nosso próprio interesse, mas o da maioria, sobretudo dos que, à semelhança de José e Maria, foram excluídos da cidade e, como uma família sem-terra, obrigados a ocupar um pasto, onde brilhou a esperança.

*Publicado na edição 54 da revista Painel Alagoas

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