Fernando Henrique Cardoso*
*Sociólogo - Ex-presidente da República
A produção industrial brasileira cresceu 3,2% em agosto, na comparação com julho, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no início deste mês de outubro. Apesar de marcar a quarta alta seguida, o ritmo de recuperação do setor mostrou uma desaceleração em relação aos meses anteriores.
Com o resultado de agosto, a indústria brasileira ainda permanece 2,6% abaixo do nível visto em fevereiro, antes das paralisações e medidas de isolamento para contenção do coronavírus.
Na comparação com agosto do ano passado, a indústria registrou queda de 2,7% – décimo resultado negativo seguido nessa comparação. Em 12 meses, a queda acumulada ainda é de 5,7%.
O resultado veio um pouco abaixo do esperado. As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de alta de 3,4% e de queda de 2,2% na base anual.
A desaceleração também foi observada na média móvel trimestral. A alta foi de 6,9% no trimestre encerrado em agosto, ante avanço de 8,9% no trimestre encerrado em julho, quando foi interrompida a trajetória predominantemente descendente do setor iniciada no final de 2019.
Dos 26 ramos pesquisados, 16 registraram crescimento da produção em agosto. Já no índice das grandes categorias, todas as 4 registraram alta pelo 4º mês consecutivo também.
A influência positiva mais relevante foi a de veículos automotores, reboques e carrocerias, que avançou 19,2%, impulsionada, em grande medida, pela continuidade do retorno à produção após a interrupção decorrente da pandemia. Mesmo com alta, o segmento ainda se encontra 22,4% abaixo do patamar de fevereiro.
Outros destaques do mês foram os setores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,9%), produtos de borracha e de material plástico (5,8%), couro, artigos para viagem e calçados (14,9%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (11,5%) e produtos têxteis (9,1%).
Na outra ponta, as quedas mais relevantes foram registradas na produção de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,7%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-9,7%) e bebidas (-2,5%).
Entre as grandes categorias, a de bens de consumo duráveis foi o destaque de agosto, com alta de 18,5%. Bens de capital (2,4%), Bens intermediários (2,3%) e Bens de consumo semi e não duráveis (0,6%) cresceram abaixo da média da indústria.
A indústria também foi o setor que mais criou vagas formais em agosto, com um acréscimo de 92,8 mil novos postos de trabalho com carteira assinada, segundo dados divulgados nesta semana pelo Ministério da Economia.
A estimativa atual do mercado é de um tombo de 5,04% do PIB em 2020, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, na terceira semana seguida de melhora.
(Com informações do G1)
*Publicado originalmente como editorial da edição 41 da Revista Painel Alagoas
*Fernando Rizzolo
Na história do Brasil, é recorrente certa admiração pelas ideias vindas dos EUA, seja do ponto de vista econômico, seja das concordâncias com as políticas externas daquele país, ou, então, pelas interpretações mais estapafúrdias de líderes cujas atitudes se distanciam do bom senso, como é o caso de Donald Trump. E no Brasil da direita de Bolsonaro isso ficou mais patente, na mumificação dos trajetos ideológicos que o presidente Bolsonaro traz para o Brasil numa versão tupiniquim, sempre aguardando aprovação ou reconhecimento da grande potência mundial.
Na exegese do inconsciente brasileiro, principalmente daqueles de maior poder aquisitivo, as marcações estereotipadas permanecem se impondo ao bom senso e a uma discussão científica séria com a finalidade de desqualificar algo que entendem depreciativo na sua origem, a China, mormente com a postura do nosso presidente Bolsonaro, que despreza a ciência nos moldes de Donald Trump, levando milhares à morte por um vírus que afirmam de origem chinesa, ou oriundo de um país comunista, portanto, “de um país inimigo”.
A ideação deliroide de uma “conspiração comunista” elaborada por fanáticos de extrema direita no Brasil nos afastou, enfim, de uma maior percepção científica, prejudicando o debate saudável em termos de saúde pública e, por consequência, conduziu a uma depreciação e desqualificação da “vacina chinesa”, a Coronavac, produzida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan. E aí vale a pena ressaltar que não há vacinas licenciadas para uso humano que não passem pelos rigores científicos que as tornam extremamente seguras. Além disso, é mais segura devido ao fato de ter sido desenvolvida por meio de uma técnica antiga (vírus inativado), pois já existem outras vacinas licenciadas que usam vírus inativados para uso humano que realmente demonstram funcionalidade, portanto, é uma vacina absolutamente promissora segundo testes clínicos e que deverá ser avalizada por institutos responsáveis, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aqui no Brasil.
E gostaria de me ater aqui, não à questão científica propriamente dita, pois para isso temos competentes cientistas brasileiros, mas a uma reflexão sobre os motivos dessa resistência. Não acredito em uma disputa Bolsonaro versus João Dória, mas, como disse acima, parte da extrema direita tentou jogar uma faísca desqualificadora que passou para o inconsciente popular a ideia de que a “vacina chinesa” estaria em breve sendo vendida na Rua 25 de Março, o maior ponto de venda de produtos chineses localizado na capital paulista. Há a oferta de produtos que vão de guarda-chuvas, lenços, óculos, brinquedos a uma infinidade de artigos chineses de origem duvidosa, e é aí que nasce essa ideia infundada sobre a “vacina chinesa”, que lhe causa um impacto triste, ofegante, infectado, em que se misturam ideologias, mentiras e disputas políticas numa verdadeira infecção ideológica e preconceituosa que não leva a lugar algum, enquanto milhares morrem nos frios corredores dos hospitais, sendo socorridos por respiradores, luvas, máscaras, aventais, seringas, todos vindos da China, mas isso não se conta na velha 25 de Março...
*Advogado, Jornalista e mestre em Direitos Fundamentais
Pedro Oliveira*
Há meses virologistas já previam uma segunda onda de infecções por Coronavírus . Eles afirmavam que, quanto mais liberais fossem as medidas de restrição, maior seria o risco de essa nova onda acontecer. Agora, parece que ela está chegando.
Em muitos países, como Espanha, Bélgica, França e Reino Unido, restrições de movimentação estão sendo novamente reimpostas, de modo a evitar que uma segunda onda de infecções chegue com força. A primeira pegou a maioria desprevenida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o Coronavírus talvez nunca mais desapareça. E adverte sobre as possíveis consequências de não se levar a sério as medidas de distanciamento e de se voltar aos padrões de comportamento de antes da pandemia.
Na Austrália, o governo voltou a endurecer as restrições de movimentação após vários casos de infecção entre os frequentadores de bares.
O desejo de viajar também está em alta novamente no Hemisfério Norte, onde agora é verão e, em muitas partes, época de férias – outro motivo para o aumento das taxas de infecção. Muitas pessoas estão se movendo em uma pequena área, festas estão ocorrendo novamente, o risco de infecção está aumentando.
Casos no Brasil
O número de casos da Covid-19 pode voltar a crescer também no Brasil, segundo autoridades e especialistas em saúde e infectologia Entretanto a pressão sobre o sistema de saúde será menor nesta segunda onda, pois a população que está retornando suas atividades é mais jovem e aqueles que pertencem ao grupo de risco devem permanecer em casa ( o que não é bem a realidade).
"Todos os países que apresentam uma segunda onda, um aumento no número de casos, em função do retorno das pessoas às suas atividades normais, tem um perfil bem diferente da epidemia em sua fase inicial, porque nós estamos agora tratando de uma população mais jovem, de uma população que está voltando para trabalhar, uma população que está voltando para eventualmente ir nos bares ou voltar a alguma atividade social, cultural, mas com uma mortalidade e com uma necessidade de internação muito menor" ( João Gabbardo – Coordenador do Centro de Contingência da Covid 19, em São Paulo ).
Os especialistas dizem que o número de casos até pode crescer, mas a pressão sobre o sistema de saúde é menor, porque os idosos, as pessoas de maior risco, as pessoas que apresentem doenças crônicas, essas continuam e a recomendação do Plano São Paulo é essa, essas continuam em quarentena em casa, elas não devem sair pra nenhuma dessas atividades.
Em Alagoas liberou geral
A regra descrita acima não está sendo aplicada em Alagoas. O que temos assistido são aglomerações em praias, restaurantes, bares noturnos e em qualquer lugar onde se possa fazer uma festa, a exemplo de aniversários em família, comemorações e reuniões em locais fechados, shoppings e supermercados. Ao que parece a liberação de distanciamento foi abrangente para jovens, velhos e crianças.
Ressalte-se um detalhe: não se pode imputar qualquer culpa ao governo do estado ou a prefeitura de Maceió caso aconteça mesmo essa segunda onda da pandemia que se anuncia. O governador Renan Filho e o prefeito Rui Palmeira , bem que tentaram estender o necessário isolamento, sendo confrontados por empresários, trade turístico, entidades de classe e grande parte da sociedade, ameaçando e exigindo o fim das restrições.
As eleições do Covidão
Foi um grande erro o não adiamento das eleições municipais para o próximo ano, para atender interesses fisiológicos e arranjos políticos nas entranhas do Congresso Nacional, com a complacência do Poder Judiciário. Se altera a Constituição por tanta besteira, por que não o fazê-lo diante de um risco epidemiológico iminente? Campanhas nas ruas, candidatos e eleitores em caminhadas, abraços, carreatas e eventos políticos às centenas e milhares nas ruas, grande parte sem máscaras, em descontroladas aglomerações, como um convite explícito à contaminação. É lamentável! Seja o que Deus quiser!
*Jornalista, colunista do portal Painel Notícias
*Paulo Silva Pinto
Os evangélicos se juntaram aos bolsonaristas de primeira hora, os que emergiram das manifestações antipetistas nas ruas em 2013, e se tornaram sobretudo anti-políticos. Os 2 grupos se queixam da escolha do desembargador Kassio Nunes Marques, do TRF-1, para o STF (Supremo Tribunal Federal).
O presidente Jair Bolsonaro anunciou a escolha antes mesmo da aposentadoria de Celso de Mello, que será na próxima 3ª feira (13.out.2020). Marques é apoiado pela ala garantista do Supremo, que tem entre seus expoentes Gilmar Mendes e Dias Toffoli. A indicação foi elogiada também por congressistas do Centrão, como o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI).
Bolsonaro tem uma boa razão oficial para a escolha. O desembargador apresenta 1 currículo sólido. E não é próximo ao presidente, portanto não se pode falar de escolha pessoal. Há pelo menos duas outras boas razões para a escolha do ponto de vista pragmático, ainda que não sejam possíveis de serem admitidas.
A mais óbvia é agradar congressistas do Centrão, consolidando o apoio na Câmara e no Senado. A outra é ter a simpatia de ministros do STF que possam vir a tomar decisões envolvendo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigado no inquérito das rachadinhas no Rio de Janeiro –ele nega ter cometido irregularidades. Nunca é demais ter amigos no STF, nem mesmo para 1 presidente da República. Ou sobretudo para o chefe de Estado.
No caso dos anti-políticos, a queixa remete a uma frustração estrutural, quanto à falta de coerência. Eles votaram em Bolsonaro por terem entendido que ele não buscaria agradar a grupos, seja no STF ou no Congresso. Para os evangélicos, a razão é outra. Bolsonaro havia prometido mais de uma vez escolher 1 ministro do STF evangélico. Mas não deixou claro quando faria isso.
Em discurso na Assembleia de Deus em São Paulo na noite de 2ª (5.out.2020) ele disse (assista ao vídeo) que pretende escolher alguém que seja evangélico e também pastor para a próxima vaga no STF. A única pessoa que se conhece com essas credenciais é o ministro André Mendonça (Justiça). É bom lembrar que os evangélicos não são 12 grupo homogêneo. O que uns querem não é o que outros defendem, às vezes exatamente com o objetivo de esvaziar a concorrência interna nesse segmento da sociedade.
Às críticas dos antipolíticos, Bolsonaro tem respondido que precisa governar. Às de lideranças dos evangélicos, diz que o que queriam era exatamente emplacar uma indicação própria. Em outras palavras, é como dizer que estão sendo tão fisiológicos quanto o Centrão.
Esse desentendimento com os apoiadores não tem nada de surpreendente. Faz parte do que se podia notar desde o princípio como estratégia de romper com qualquer ideia de tutela. Houve outros episódios assim, com apoiadores de primeira hora, como Gustavo Bebbiano, com ministros militares, com os olavistas.
A ideia que o presidente quer passar é que todos são bem-vindos à sua volta, mas quem manda é ele. Não aceita ser tutelado por ninguém. Emplacar essa ideia é algo importante para alguém cuja capacidade de governar era colocada em dúvida antes mesmo da posse, e até mesmo por aliados.
Esses atritos fazem com que Bolsonaro perca apoio? A princípio o balanço é positivo. Em 1º lugar porque esses grupos tendem a votar em Bolsonaro nas próximas eleições por falta de opção que lhes agrade, sobretudo se houver polarização com a esquerda. Lideranças evangélicas pentecostais apoiararam Lula em 2002, é verdade, e ficaram com o PT em eleições seguintes. Mas é altamente improvável que voltem a fazer isso em 2022.
Além disso, o apoio do Centrão mais do que compensa qualquer frustração por parte dos apoiadores mais antigos. Com isso, o governo tem a perspectiva de aprovar, por exemplo, o Renda Cidadã, ou Renda Brasil, que permitirá a Bolsonaro ganhar mais votos entre os apoiadores do PT em 2018. Ou, no mínimo, permitirá ao presidente chegar de modo razoavelmente confortável a 2022. Sem isso, não existe reeleição.
*Paulo Silva Pinto Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), com mestrado em história econômica pela LSE (London School of Economics).
*Thomas Traumann
O maior adversário dos candidatos desta eleição municipal é uma função do aplicativo do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que, pela 1ª vez, vai permitir ao eleitor justificar pelo celular a sua ausência nas votações. Até agora, o eleitor que não comparecesse teria de pagar uma multa simbólica para regularizar o título. Ou, se estivesse fora da sua cidade no dia da eleição, enfrentar uma fila na agência dos Correios. Agora, ao alcance da ponta dos dedos, o eleitor pode resolver a pendência de forma simples e gratuita até dois meses depois da votação. Para muitos eleitores, será como se o voto deixasse de ser obrigatório.
A novidade faz parte de 1 pacote de medidas do TSE para tornar as votações de novembro mais seguras. Com a pandemia de coronavírus, os comícios estão proibidos e as aglomerações nas portas dos locais de votação serão limitadas. É 1 temor justificável, e o aplicativo do TSE é uma resposta para aqueles que não se consideram seguros para sair de casa mesmo com os cuidados como o uso de máscara obrigatório nos locais de votação, distanciamento social nas filas e higienização das urnas eletrônicas.
Em geral, a abstenção eleitoral nas eleições municipais fica abaixo das eleições gerais. Mesmo assim, a tendência é de alta. Foi de 16% no ano 2000, ganhando 1 ponto percentual por eleição até chegar a 19% em 2012 e 21% em 2016. No segundo turno da última eleição para prefeito no Rio de Janeiro, 26% dos eleitores não compareceram, índice similar ao de Porto Alegre, 25%. Em São Paulo, onde o resultado de 2016 saiu no primeiro turno, a abstenção foi de 21,8%, mas com tendência de alta. A ausência havia sido de 15,6% em 2008 e 18,5% em 2012.
Coloque na mesa uma tendência histórica de crescimento da abstenção, a comprovada desilusão do eleitor com a política, a facilidade de justificar ausência via aplicativo e o temor da contaminação e temos a receita de pavor para os políticos. Uma das consequências possíveis dessa nova circunstância será favorecer os candidatos com nichos de eleitores demarcados, seja por religião, ideologia ou atuação geográfica. Em tese, perde o candidato com eleitores menos fervorosos.
Não bastará apenas ter uma campanha que toque ao coração e mente do eleitor, será preciso convencê-lo a sair de casa. Não deverá chegar a ser como nos EUA, onde só a metade dos eleitores vota e os políticos mendigam pelo comparecimento, mas é 1 novo complicador para uma eleição que já será atribulada.
*Thomas Traumann, 53 anos, é jornalista, consultor de comunicação e autor do livro "O Pior Emprego do Mundo", sobre ministros da Fazenda e crises econômicas.
*Gustavo Karuse
Foi-se o tempo em que economia e ecologia tinham, em comum, apenas, a origem etimológica grega “oikos”, a casa, “nomos”, a norma, e “logos”, o estudo da casa. Ledo engano.
A emergência da questão ecológica produziu um impacto sobre a humanidade, em todas as dimensões, e desmontou a noção clássica de progresso segundo a qual crescer economicamente é sempre um bem e que os recursos naturais em abundância atenderiam às necessidades e à cobiça incontida do ser humano.
Em contraponto à grandiosa afluência material, juntaram-se dois enormes passivos: o ambiental, revelado pela agonia dos recursos naturais; o social, expresso nos vergonhosos indicadores da desigualdade de renda.
A grande lição ainda não aprendida: a natureza tornou-se assustadoramente escassa. Em “O contrato Natural”, Michel Serres foi certeiro: “O que está em risco é a Terra em sua totalidade e os homens em seu conjunto. A história global entra na natureza e a natureza global entra na história: isto é inédito”.
A partir da Conferência de Estocolmo sobre o Ambiento Humano (1972), o tema tornou-se definitivamente global e incorporado à agenda internacional. Com a suspeita original de que um novo colonialismo iria submeter os países pobres aos países ricos. Estavam semeadas a radicalização ideológica e a polarização política bem ao gosto do Brasil atual.
A catástrofe estava à vista: os ricos devoraram o meio ambiente, por ganância, e se comprometiam a uma reparação nem sempre sincera; o pobres comiam o meio ambiente por necessidade. O falso dilema era entre a oportunidade de crescer sem degradar o meio ambiente ou permanecer na pobreza já que a árvore se tornara mais importante do que a chaminé.
Foi assim que o tema assumiu centralidade global, porém, preocupação periférica dos governos. Um verdadeiro suplício para os gestores da área diante de pressões imediatas versus a ética de respeito intergeracional. Sofriam de solidão política. O futuro não fala.
O Brasil sempre foi olhado como um potencial protagonista ambiental. A Rio 92 foi emblemática. Não por conta dos apelos ufanistas, mas pelo que o mundo conhece do patrimônio natural brasileiro, sobretudo pela Amazônia. Lembro que, nos fóruns internacionais, adotava-se um silêncio respeitoso quando se anunciava a fala do Ministro da Amazônia Legal.
De outra parte, houve grandes avanços na cooperação internacional e na governança nacional, equipada com marcos regulatórios relevantes, instrumentos de comando e controle tecnologicamente eficientes e uma crescente noção do que chamo de ecocidadania.
No entanto, o atual governo trata o meio ambiente como se ele fosse inimigo do desenvolvimento (sustentável, para mim, é pleonasmo). A questão é grave, porque palavras e gestos de desapreço demonstram o negacionismo conceitual, visão superada na sociedade, na academia, entre economistas de vários matizes e o empresariado. Restam precários instrumentos de comando e controle, reiteradamente enfraquecidos. A retirada da proteção dos manguezais e restingas é uma agressão abominável aos berçários da fauna marinha é um exemplo.. Como a imagem do Brasil é um ativo e, cada vez mais, os processos da cadeia de produção são limpos, o exigente mercado global tem argumentos suficientes para dificultar nosso comércio exterior.
Na academia, foram Nicholas Georgescu-Roegen, Herman Daly e seus seguidores, entre os quais destaco o presidente de honra da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, Clóvis Cavalcanti, que, utilizando a arma de diálogo como argumento celebraram a relação entre a economia dominante e a economia ambiental, como preferem alguns.
Recentemente, o espaço de convergência do diálogo ECO-ECO resultou numa carta de 17 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central, sob a coordenação do Instituto Clima e sociedade, a caminho da descarbonização; os três maiores bancos privados do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander, divulgaram um plano integrado para contribuir com a conservação da Floresta Amazônica; sob o título “Concertação”, mais de uma centena lideranças de diversos segmentos defendem a ampliação do consenso sobre o desafio da Amazônia.
A propósito, os ex-Ministros do Meio Ambiente divulgaram documento com expressiva conclusão: “Reafirmamos que o Brasil não pode desembarcar do mundo em pleno século XXI. Mais do que isso, é preciso evitar que o país desembarque de si próprio”.
Se a sociedade contemporânea emite sua voz, vale recorrer à lúcida antevisão de José Bonifácio, o Patriarca da Independência, no belo artigo do Professor José Augusto Pádua na Revista Brasileira de Ciências Sociais (out/2000): “ A Natureza fez tudo ao nosso favor, nós porém pouco ou nada temos feito a favor da Natureza […] Como pois se atreve o homem a destruir, em um momento e sem reflexão, a obra que a Natureza formou em séculos, dirigida pelo melhor conselho? Quem o autorizou para renunciar a tantos e tão importantes benefícios? A ignorância, sem dúvida”.
*Gustavo Krause, 74 anos, é advogado. Foi secretário da Fazenda de Pernambuco, prefeito do Recife, vice-governador e governador de Pernambuco (complementando o mandato de Roberto Magalhães), deputado federal, ministro da Fazenda e ministro do Meio Ambiente.
Por Adriana Toledo*
O ano de 2020 pode se tornar um marco por aumentar a representatividade feminina nas Prefeituras e Câmaras Municipais. Iniciativas no mundo todo e no Brasil demonstram que sem mulheres no espaço de poder, não há mudanças nas questões de gênero, não há transformações na equidade de oportunidades para as mulheres. Somente com a presença do público feminino nesses espaços, a mulher poderá ser contemplada com políticas públicas planejadas para elas.
Nas últimas eleições municipais, em 2016, 25% dos municípios brasileiros não elegeram sequer uma mulher vereadora. Foram eleitas 649 prefeitas para 5.568 municípios e 7.808 vereadoras, o equivalente a 11,6% das prefeituras e 13,6% do Legislativo municipal, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), apesar das mulheres serem aproximadamente 52% do eleitorado no Brasil.
Para projetar uma mudança nesses números, estão surgindo várias iniciativas e movimentos para realizar um trabalho de estimular e viabilizar candidaturas femininas, treinar candidatas e promover o voto em mulheres, com objetivo de reduzir a desigualdade em espaços de poder.
A Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, por exemplo, lançou a Guia Acessível para Candidatura das Mulheres, produzido em parceria com a Associação Visibilidade Feminina. Uma ferramenta para que as mulheres possam entender o que é preciso para que as suas candidaturas sejam possíveis e ajudar no crescimento da participação na política.
Além das iniciativas, mudanças nas regras eleitorais deste ano, promovidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garantem mais recursos públicos destinados a candidaturas femininas. Em 2020, esses recursos terão de ser proporcionais ao número de mulheres na disputa, tanto do Fundo Eleitoral quanto do Fundo Partidário. De 2018 até agora, era obrigatório que ao menos 30% do Fundo Eleitoral fossem para candidatas, mesmo patamar mínimo de candidaturas.
Não só no Brasil, mas outras partes do mundo estão comprometidas na ampliação da participação das mulheres nos espaços de poder, inclusive no Vaticano. O Papa Francisco, em uma decisão inédita, nomeou seis mulheres para o conselho que fiscaliza as finanças do Vaticano, uma das instituições mais importantes da Santa Sé. O papa já havia prometido melhorar o equilíbrio de gênero na administração da cidade-Estado e está disposto a cumprir suas palavras.
Voltando ao Brasil, o movimento suprapartidário Vamos Juntas, liderado pela deputada Tábata Amaral (PDT-SP), está voltado à seleção e treinamento de candidatas para as eleições de outubro, através da mentoria de mulheres com mandato. O Instituto Free Free também se uniu ao movimento e lançou um vídeo com a participação de mulheres artistas e nomes de sucesso para apoiar a representatividade feminina na política.
Além disso, o Tribunal tem sempre mostrado a importância da ocupação desse espaço por mulheres por meio da campanha “Mulheres na Política”, que incentiva as mulheres a participarem da vida política e a se candidatarem, com a proposta de que a mulher defenda seus direitos, e estimule as outras a fazerem o mesmo.
O PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira, lançou, através do PSDB-Mulher, uma plataforma digital de capacitação e interação para mulheres com generoso conteúdo informativo para candidatas. Apresentou o Manual Voto Legal e uma cartilha com Bandeiras Eleitoras para subsidiar os discursos e os compromissos com políticas de gênero. Esse trabalho de capacitação das mulheres é realizado pelo segmento desde a sua criação. A maioria dos cursos de formação política foram promovidos em parceria com a Fundação Alemã Konrad Adenauer e já mostrou êxito na eleição passada dobrando o número de deputadas federais eleitas pelo partido.
Em Alagoas, conquistamos uma importante vitória nesse sentido. A eleição do diretório municipal do PSDB Maceió, a frente a deputada federal Tereza Nelma, rompeu mais uma barreira e elegeu um diretório composto por 70% de mulheres e 30% de homens. E decidimos indicar uma mulher para compor a chapa majoritária em Maceió. Como vice presidenta do partido no âmbito municipal, me orgulho de fazer parte desse pioneirismo no cenário político da capital de Alagoas. Espero que essa mudança se multiplique por mais cidades do país, assegurando maior participação feminina na política.
Todas essas iniciativas, e tantas outras que estão em andamento no Brasil e no mundo, são fundamentais para consolidar uma sociedade mais equitativa, e apresentar um novo modelo de fazer política, garantindo inclusão e dando voz às mulheres.
Devemos abraçar esse momento de esforços mundiais para garantir que a mulher participe mais ativamente do poder. As eleições de 2020 abrem uma possibilidade para que todos os cidadãos votem por mais justiça de gênero e escolham ter mais mulheres na política. E quanto maior o número de mulheres alcançando espaço de poder, mais a nova geração feminina se sentirá representada e terá confiança de que é possível lutar para chegar lá.
A taxa de desemprego aumentou em 11 estados no 2º trimestre de 2020, na comparação com os três primeiros meses do ano, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no final de agosto passado. Em outros 14 estados, se manteve estável. Já no Amapá e no Pará houve queda.
As maiores taxas foram observadas na Bahia (19,9%), Sergipe (19,8%), Alagoas (17,8%), enquanto as menores em Santa Catarina (6,9%), Pará (9,1%), Rio Grande do Sul (9,4%) e Paraná (9,6%).
Na média nacional, a taxa desemprego subiu para 13,3% no 2º trimestre, conforme já divulgado anteriormente pelo IBGE, atingindo 12,8 milhões de pessoas. Em 3 meses, o país perdeu 8,9 milhões de postos de trabalho em meio aos impactos da pandemia de coronavírus que provocou uma queda recorde no número de brasileiros ocupados ou à procura de emprego.
Já os maiores avanços na taxa de desemprego foram observados em Sergipe (4,3 pontos percentuais), em Mato Grosso do Sul (3,7 p.p), em Rondônia (2,3 p.p) e no Rio de Janeiro (1,9 p.p.).
Na média nacional, a taxa desemprego subiu para 13,3% no 2º trimestre, conforme já divulgado anteriormente pelo IBGE, atingindo 12,8 milhões de pessoas. Em três meses, o país perdeu 8,9 milhões de postos de trabalho em meio aos impactos da pandemia de coronavírus que provocou uma queda recorde no número de brasileiros ocupados ou à procura de emprego.
Já na comparação com o 2º trimestre de 2019, houve aumento do desemprego em 12 estados. Sergipe (4,5 pontos percentuais), Rondônia (3,9 p.p.) e Minas Gerais (3,4 p.p.) tiveram as maiores altas. O Pará apresentou queda neste índice, de 2,1 p.p. Nas demais unidades da federação houve estabilidade.
O nível da ocupação caiu em todas as grandes regiões. E a queda recorde no nível da ocupação no segundo trimestre foi mais intensa entre os homens; as pessoas de 18 a 24 anos e, por nível de instrução, as que têm até o ensino médio. Com relação a cor e raça, as pessoas de cor preta e parda, também tiveram quedas bastante acentuada em todo o Brasil”, destacou a pesquisadora do IBGE Adriana Beringuy.
Segundo o IBGE, 2,5 milhões de brasileiros ou 19,2% dos desempregados do país buscavam trabalho há pelo menos 2 anos. Apesar do número elevado, houve queda de 26,5% em relação ao segundo trimestre de 2019 (3,3 milhões). No trimestre encerrado em março, eram 3,1 milhões nessa situação. No 2º trimestre, outros 1,4 milhão buscam emprego há mais de 1 ano e menos de 2 anos, queda de 22,2%. Ou seja, 3,9 milhões de brasileiros procuram trabalho há mais de 1 ano.
Já a faixa de 1 mês a 1 ano de procura, a maior, somou 7,4 milhões de pessoas, aumento de 27,9%.
A queda do chamado desemprego de longa duração está relacionada com a redução da força de trabalho, e um número menor de pessoas buscando emprego em meio às medidas de isolamento social. Pela metodologia do IBGE, só é considerado desempregado o indivíduo sem ocupação e que tenha procurado trabalho no último mês.
*Publicado originalmente como editorial na edição 40 da revista Painel Alagoas
*Rogerio Nery
Constituição Federal é clara. Seu artigo 220 estabelece que não sofrerão qualquer restrição a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo.
Seu 2º parágrafo é ainda mais explícito: é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
Entretanto, temos observado que o disposto na Carta Magna, aparentemente, não tem sido levado em conta ao pé da letra.
Nunca é demais recordar que um dos pilares da democracia reside na liberdade de imprensa. E que, em democracias modernas, a censura é inaceitável.
O pleno acesso a informações de qualidade é fundamental para que a população possa exercer aquele seu papel legítimo: o de autoridade máxima em relação a gestores (eleitos via sufrágio) e funcionários públicos (remunerados com o pagamento de tributos).
Essa vigilância, que visa evitar o abuso de poder, também se estende ao setor privado, de quem a população compra direta ou indiretamente produtos e serviços.
Tal atributo exige dos profissionais de imprensa e dos veículos de mídia, naturalmente, uma responsabilidade imensa. Sempre bom recordar que o ofício de jornalismo profissional sempre deve ser pautado por um processo que envolve a busca de fontes confiáveis, a checagem e rechecagem de dados e informações antes que estes venham a ser difundidos e divulgados e o direito ao contraditório (o chamado “outro lado”).
Erros, claro, são factíveis –e os próprios canais têm o dever de se corrigir e de abrir o devido espaço para que os envolvidos possam dar a sua resposta, afora os canais judiciais (se não usados com litigância de má fé).
A lei já protege a sociedade. Ela não nos permite que possamos, impunemente, difamar, ultrajar, agredir ou caluniar pessoas, instituições, autoridades, empresas ou poderes constituídos, bem como condenar pessoas antes do transitado e julgado ou mesmo expor pessoas a riscos que não possam ser reparáveis.
Além disso, a própria sociedade, em tempo real, exerce controle dos meios. Qualquer falha, qualquer excesso, qualquer edição mal feita podem cobrar um preço alto na reputação dos veículos.
É essa dinâmica, orgânica, que joga luz sobre temas relevantes e vitais.
Afinal, a pluralidade de informação, e de visões, viabiliza a tomada de decisões. Seja sobre questões mais abrangentes e filosóficas; seja sobre a vida prática, como a volta ou não às aulas nas escolas; seja sobre a qualidade dos serviços em hospitais públicos. Nesse sentido, qualquer interdição, intimidação e constrangimento se configuram como lesivos ao interesse das pessoas.
E isso deveria ser encarado como algo extremamente benéfico para a melhoria da qualidade da gestão pública e das instituições. A sociedade só tem a ganhar em um ambiente onde prosperam a liberdade de informação e de opinião.
Essas liberdades, no entanto, não podem ser confundidas com o direito de transmitir as chamadas fake news. O tema está na ordem do dia no Congresso Nacional, onde tramitam vários projetos de lei.
O Projeto de Lei 2630/20 é um exemplo. Apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e já aprovado pelo Senado, o PL institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Conforme aponta a Agência Câmara de Notícias, o texto cria medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas redes sociais, como Facebook e Twitter, e nos serviços de mensagens privadas, como WhatsApp e Telegram, excluindo-se serviços de uso corporativo e e-mail.
Esse debate ganha premência quando pensamos em casos como o da menina de 10 anos, grávida após estupro, que teve seu nome revelado por uma ativista em uma rede social. Um ato injustificável, que nada tem a ver com liberdade de expressão.
E um exemplo cabal de que a questão merece uma atenção especial do Congresso, na direção de instituir ferramentas legais mais assertivas, que sejam capazes de proteger a sociedade.
Uma frase famosa do líder espiritual do povo tibetano, Dalai Lama, diz que a falta de transparência resulta em desconfiança e um profundo sentimento de insegurança.
Hoje, como o advento do ESG, o que temos visto é que a qualidade da governança tende a ser um valor precificado no mercado, separando as boas das más práticas.
Em um mundo assim, a falta de transparência não será recompensada.
*Rogerio Nery de Siqueira Silva é CEO do Grupo Integração, diretor regional da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt) e conselheiro da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub).
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