Para recitar poemas, quem melhor? Para atuar em peças, só aplausos. Como
lutador social, um guerreiro. Na fotografia, lances ousados, olho
mágico em imagens de movimento. Como militante partidário, um idealista
da causa dos menos favorecidos, da igualdade de direitos, da
universalização dos sonhos. De quem falamos? De Átila Vieira, 43, mais
uma vítima da Covid-19, desse vírus medonho que mata pessoas, que leva
amores, que empobrece a esperança, que nos tira a paz. Colaborador da
PAINEL ALAGOAS, profissional que honrou o trabalho e a vida. Ao nosso
eterno Átila, todos os nossos sentimentos, traduzidos em versos de um
dos poemas tantas vezes declamado por ele:
“Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu”
(Trecho de "A Flor e a Náusea", de Carlos Drummond de Andrade)
* Publicado originalmente na edição 46 da revista Painel Alagoas
O primeiro ano do resto das nossas vidas. Acho que dá pra dizer que, ao completarmos um ano do primeiro caso de coronavírus no Brasil, temos a sensação do primeiro ano de um nova vida, muito diferente do que qualquer um de nós poderia ter pensado em viver quando estava lá vendo os fogos de artifício na virada de ano para 2020 ou mesmo no carnaval do ano passado que, aliás, foi nessa mesma época há um ano. Temos experimentado de tudo. Saudade, restrição, solidão, lidado com a morte e as narrativas da perda. Passamos a usar termos novos, a falar de comorbidades, variante, IFA e respirador, como quem falava de qualquer outro tema cotidiano. Vimos a disputa entre notícias falsas, remédios que não curam, receitas que não combatem coronavírus e vimos também vacinas serem produzidas em tempo recorde. O ano de 2020 trouxe a pandemia e a vacina. E como contamos tudo isso?
Usamos o
que já tínhamos, contando histórias e distribuindo informações nas
redes sociais. Ouvimos podcast. Descobrimos ferramentas que não
conhecíamos como as reuniões virtuais por Zoom, Meet, Teams. E o
jornalismo? O que foi feito dele nesse ano do resto das nossas vidas? A
desacreditada narrativa que vinha sendo bombardeada junto com as grandes
empresas que no Brasil concentram a produção. O começo da pandemia
trouxe um novo vigor à narrativa jornalística. Programas foram criados
nas emissoras de TV dando espaço para que o jornalismo pesquisasse e
explicasse, simultaneamente, o que era coronavírus, que se
escreve-tudo-junto, que causa a Covid, que é no feminino. Informou às
pessoas como usar máscara, que tipo, de que jeito, como usar álcool gel,
com que frequência, como abraçar, porque não abraçar, a diferença entre
isolamento e distanciamento social e por aí foi. Gráficos, números,
entrevistas com autoridades, máscaras em todos os repórteres e, enfim, a
retomada de certo protagonismo.
As análises, que aproximaram os jornalistas dos especialistas, dos cientistas e dos profissionais de saúde, se juntaram às instruções que são repetidas até hoje sobre como proceder na pandemia. Mais que isso, o jornalismo voltou a lembrar que precisava contar histórias. E justamente num tema que, por um lado, não permitia acesso fácil a certas narrativas como aquelas que aconteciam nos hospitais, cemitérios e nas casas das pessoas. E por outro, passou a ser um assunto que, aos poucos, podia ser contado por todo mundo.
Durante parte de 2020, para sair das falas
oficiais das autoridades e mostrar para as pessoas que havia risco real
de adoecimento e morte, os jornalistas precisaram chegar às UTIs, como
fez o repórter Yan Boechat nas matérias do hospital Santa Maggiore, em
São Paulo, ou nos hospitais de Manaus, na primeira onda da Covid, em
abril. Ou quando acompanhou diariamente a rotina de cemitérios em São
Paulo e constatou o aumento de sepultamentos, a abertura de covas
coletivas e viu famílias contarem o que estavam passando com a perda de
parentes para a Covid-19.
A reportagem de outros
jornalistas também contou com uma nova forma de ter acesso às histórias.
Pessoas que antes seriam fontes de informação e também leitores
passaram a produzir conteúdo a pedido dos jornalistas porque acessar o
interior de hospitais era difícil e arriscado. Vemos ainda hoje vídeos
gravados por médicos falando da rotina de trabalho e do agravamento do
quadro de contaminação no país. Vídeo de familiares a respeito das
condições de atendimento e das consequências da própria doença ou da
explosão de casos nas portas dos hospitais. Muitos são produzidos
diretamente para jornalistas utilizarem como fonte e como apuração das
suas reportagens. Outros, já na esteira da difusão da produção
audiovisual, chegam ao público direto do cidadão para os usuários de
redes sociais e são comentados depois pelos jornalistas.
E
aí entro num novo momento do jornalismo na pandemia. Depois dessa
inovação da mediação, da produção de conteúdo e da apuração sem a
presença do jornalista, com seu simultâneo aumento e perda de acesso,
dependendo do ponto de vista que se olha, em que lugar está o jornalismo
um ano após o início da pandemia no Brasil? Essa inovação, o desafio, a
frustração, a busca de novo protagonismo e de interesse das pessoas
permanece em alta ou voltamos a um lugar morno como estava antes? Não se
trata de uma análise mais detida e detalhada do processo e as respostas
talvez sejam híbridas. Há avanços que permanecem acontecendo,
especialmente uma retomada e um realinhamento da narrativa jornalística e
do discurso científico, que nunca esteve em oposição, mas que neste
momento aparece ainda mais como aliado, tentando defender quase a mesma
noção. A confiabilidade. De que o ponto de vista mais confiável para
lidar com a pandemia de Coronavírus e vencê-la é a orientação da
ciência. Enquanto a linha mais confiável para conduzir narrativamente e
traduzir a linguagem da ciência em relação à pandemia é a narrativa
jornalística. As notícias falsas, boatos e soluções milagrosas ou
narrativas fantásticas não colaboram nem para o combate ao vírus nem na
construção da democracia e na defesa da cidadania. Então, este
alinhamento parece claro. As reportagens sobre as vacinas explicam os
pormenores de eficácia, enquanto os cientistas são as principais fontes
para comprovar a explicação.
Na falta de uma condução
das informações, dados e avaliações centralizadas pelo governo federal,
veículos tradicionais de comunicação se reuniram num consórcio para
levantar e divulgar dados diários da pandemia. A colaboração não
alcançou a produção, mas chegou ao menos aos dados objetivos sobre o
andamento da contaminação.
Ao contar histórias, o
jornalismo não tem ido adiante. Dados gerais, ações, reações dos
governos e instruções sobre os cuidados para evitar o vírus e, no
máximo, o acompanhamento das atividades que reabrem ou fecham. Vimos
histórias serem contadas nos colapsos que estão ocorrendo em 2021 como a
segunda onda em Manaus, o agravamento da situação em Santa Catarina e
vários outros lugares. Mesmo assim, elas sempre começam a ser contadas a
partir dos celulares das vítimas, das famílias ou dos médicos. Não é
incomum, inclusive, que a gente veja os relatos ou indicações de subida
de casos primeiro nos nossos grupos de WhatsApp e não nas reportagens.
Então o primeiro ano do resto das nossas vidas impactou muito mais nas
nossas vidas do que ainda fomos capazes de narrar. O jornalismo não
alcançou ainda a dimensão dessa transformação na vida das pessoas e nem
traduziu isso na transformação necessária do seu próprio exercício.
Talvez pela rigidez da estrutura narrativa e de produção que tinha até
agora. Talvez porque a transformação ainda esteja em curso assim como os
acontecimentos da própria pandemia.
O agronegócio brasileiro forneceu alimento para 772,600 milhões de pessoas em 2020, segundo estudo da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa (Sire), divulgado neste mês de março.
De acordo com a publicação, 212,235 destas pessoas são do Brasil e as outras 560,365 milhões são de outros países.
"A
variação da população total alimentada pelo Brasil em 2019, de 809,472
milhões em relação a 2020, deve-se à variação de preços dos produtos nos
dois anos considerados. Assim, pode-se afirmar que ao redor de 800
milhões de pessoas são alimentadas pelo Brasil, incluindo a população
brasileira”, afirmam os autores.
Segundo a pesquisa, nos
últimos dez anos, a participação do Brasil no mercado mundial de
alimentos saltou de US$ 20,6 bilhões para US$ 100 bilhões. Os produtos
em destaque foram a carne, soja, milho, algodão e produtos florestais.
Com isso, a expectativa é de que a contribuição do país para o abastecimento mundial aumente nos próximos anos.
Para
quantificar a contribuição do Brasil para a alimentação mundial, o
estudo considerou a produção de grãos e oleaginosas por serem alimentos
básicos de várias populações no mundo e também considerados básicos para
a produção de proteína animal. Os pesquisadores realizaram dois
cálculos. O primeiro é baseado na produção física de grãos e o segundo
agrega a esta produção física o seu respectivo valor monetário, a partir
de preços internacionais.
Nas contas, os pesquisadores
realizaram a conversão de carne bovina em grãos, se baseando no fato de
sua produção acontecer no pasto.
"Convertemos esta
exportação para equivalente em grãos e quantificamos quantas pessoas são
alimentadas por esta carne. Esta é a segunda alternativa do estudo”,
explica Elisio Contini, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.
“Na
primeira alternativa, baseada na produção física, utilizaram-se dados
do International Grains Council (IGC), subtraindo-se as importações de
grãos feitas pelo Brasil", contam os autores.
"A partir
dos dados de produção, estabeleceu-se o percentual da produção
brasileira destes grãos em relação à mundial. Com dados da população
mundial, foi possível quantificar o número de pessoas que o Brasil pode
alimentar, com base na sua participação na produção mundial de grãos e
oleaginosas”, detalham.
A partir disso, os pesquisadores
entenderam que a participação do Brasil na produção mundial de grãos
cresceu de 6% em 2011, para 8% em 2020.
No segundo método, os
estudiosos multiplicaram os preços internacionais com a produção a cada
ano. Fazendo em seguida a proporção em relação ao total, como na
estimativa anterior.
Tereza Nelma *
Nós, da Bancada Feminina Câmara dos Deputados, temos mais uma grande responsabilidade quanto à garantia de equidade no cenário da economia brasileira. A perda de emprego e renda resultou no aumento da pobreza e a sobrecarga de trabalho e tarefas domésticas não remuneradas entre as mulheres. Com a crise causada pelos impactos da pandemia do Covid-19, vamos ter que propor e trabalhar por medidas e ações que possam conter retrocessos nos avanços conquistados na participação e ganhos salariais no mercado de trabalho para as mulheres.
A defesa para que as mulheres conquistassem igualdade de direitos e que o exercício delas fosse assegurado terá que ser maior. Além de já enfrentar a desigualdade na remuneração, da discriminação na concorrência por postos de trabalho, do descrédito da sua competência em relação aos homens, tivemos pioras com a pandemia. Mais mulheres foram obrigadas a ficar em casa, assumir as tarefas domésticas e de cuidados com as famílias. A participação feminina no mercado de trabalho caiu 45,8%, no segundo semestre de 2020. Voltamos ao patamar de 30 anos atrás!
Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe da ONU, os mercados de trabalho latino-americanos caracterizam-se pela concentração das mulheres em determinados setores da economia, geralmente aqueles com salários mais baixos e condições de trabalho mais precárias: 56,9% das mulheres na América Latina estão empregadas em setores que registraram maior perda de empregos e queda de renda (comércio, turismo, trabalho doméstico remunerado).
Para mulheres mães de crianças de até três anos de idade a situação é mais difícil. Elas participam menos do mercado de trabalho, segundo a pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A porcentagem de ocupação de mulheres que se identificam como pretas ou pardas com crianças até três anos de idade foi de 49,7% em 2019. Já entre mulheres brancas, foi de 62,6%.
Por outro lado, o cenário para mulheres empreendedoras também impõe suas barreiras à igualdade de condições. Temos 46,2% das empresas tradicionais no Brasil fundadas por mulheres, e apenas 4,7% das startups no Brasil fundadas só por elas. Dessas que decidem empreender no ramo da tecnologia e inovação, somente 0,04% receberam investimentos, fruto ainda do descrédito, discriminação e preconceito.
E, no Brasil, temos milhões de mulheres chefes de famílias, sendo às vezes a única a ter renda em seus lares, o que nos faz acreditar que a autonomia econômica das mulheres será a mola propulsora para uma recuperação na economia, não só brasileira, mas em todo o mundo.
Teremos que lutar por mais incentivo na formação e capacitação das mulheres, traduzindo conhecimento para linguagens mais simples e ampliando a inclusão digital para que mais mulheres possam crescer profissionalmente e também serem empreendedoras em suas áreas de trabalho. Lutaremos para recolocar essas mulheres de volta ao mercado de trabalho com igualdade de condições
Já temos feito um trabalho no Parlamento voltado para votação e aprovação de propostas necessárias para tornar efetivas políticas públicas para as mulheres e continuaremos a colaborar para conseguir maior equidade de gênero. Por exemplo, nos últimos dois anos, a Câmara dos Deputados votou 50 propostas selecionadas pelas deputadas federais, entre elas a Lei 13.902/19, que dá dignidade e apoio ao trabalho das mulheres marisqueiras.
Aprovamos na Câmara o Projeto de Lei 1.444/2020, que além de prever a manutenção de medidas protetivas para mulheres vítimas de violência, determina a inclusão dessas mulheres como beneficiárias de até duas cotas do auxílio emergencial; e o PL 3.932/2020, sobre o afastamento da empregada gestante das atividades de trabalho presencial durante a pandemia do Covid-19, as propostas ainda precisam de aprovação no Senado Federal. Ainda queremos aprovar muitas outras matérias para dar maior autonomia financeira para as mulheres; como o PL 1.943/2019, que dispõe sobre campanha de divulgação de igualdade de direitos trabalhistas entre homens e mulheres, o PL 5.465/2020, que institui a Política Nacional de Formação de Docentes da Educação Básica para as Tecnologias da Informação e Comunicação (PDTIC) e muitas outras. São pautas que contribuem para uma construção cultural permanente por mais incentivo e estímulo, com vistas a ampliar a participação feminina na economia, combater o machismo e a discriminação no mercado de trabalho.
Essas políticas públicas não podem ser consideradas apenas emergenciais, mas que sejam esforços e compromisso permanentes do Estado. Tenho defendido o quanto é importante ter representatividade de mulheres em todos os espaços de poder, para defender essas políticas e ter maior poder de decisão em todos os níveis.
Precisamos valorizar o trabalho das mulheres e sua capacidade de criar novas oportunidades, estimular e incentivar seu conhecimento e ajudá-las a ter mais espaço na economia brasileira. Todas as mulheres podem e têm direito.
* Psicóloga, deputada federal pelo PSDB/AL, coordenadora adjunta da bancada feminina e membro da Comissão da Mulher.
Mariana Rosa*
Quando recebi o diagnóstico de paralisia cerebral de minha filha, a primeira afirmativa que me ocorreu foi a de que ela tinha um corpo dissonante. Poucos e lentos movimentos, ausência de fala, impossibilidade de se colocar sentada ou de pé com autonomia. Uma corporeidade que não encontrava rima em minha experiência de vida. Eu era estreante nessa avassaladora noção das diferenças.
Corri para os livros,
para as pesquisas em artigos científicos, para profissionais de saúde
que pudessem ensinar sobre a condição que me era apresentada. Queria ser
uma boa mãe e buscava referências que compensassem minha flagrante
falta de preparo. Pensei que seria ali, somente na ciência, nos bancos
da faculdade, o encontro com as respostas que procurava, o alívio que
atestasse que eu saberia lidar com minha pequena Alice. Não me faltava
amor por ela, que fique claro.
Essa busca nos levou por
incontáveis consultórios, clínicas e hospitais. Eu havia encontrado uma
única urgência como resposta às minhas indagações: precisava ajudar
Alice a ultrapassar os próprios limites. E tinha que ser já, rápido, sem
tempo a perder, porque a intervenção precoce poderia fazê-la ganhar
muitas habilidades, porque a plasticidade cerebral precisaria ser
explorada, porque ela poderia ser um exemplo de superação, diziam.
A
urgência por entender o corpo de minha filha nos engoliu. Seu primeiro
ano de vida se assemelhou a uma prescrição médica, com um colosso de
protocolos a serem seguidos. Ela cumpria a agenda quase sempre dormindo,
sobrecarregada que estava por medicações que prometiam normalizar suas
ondas cerebrais. Foi preciso vivenciar essa rotina extremada para que eu
tropeçasse em minhas limitações.
Era no encontro diário
com ela. Não era realizando as tarefas que nos diziam ser importantes.
Era sendo junto com ela, e, assim, descobrindo seus desejos e suas
prioridades. Levou algo como um ano até que eu aprendesse a
verdadeiramente olhar para minha filha.
O que eu, enfim,
pude ver foi tocante. Ela não tinha um corpo dissonante, como eu
presumia. Tampouco diferente, uma vez que não há referência para o que é
estar vivo. Não existe um código de barras para o ser humano, um
controle de qualidade que dite a referência a partir da qual a
existência deve ser estruturada.
Esfreguei os olhos muitas
vezes, para afastar padrões que não nos serviam, referências que não
eram as nossas. Desanuviada, conheci a menina valente, bem-humorada,
decidida, que adora passarinhos, que tem preferência por frutas e se
diverte com brincadeiras radicais. Eu não podia perder mais nenhum
detalhe. Ela esperou ter essa certeza para me entregar, então, seu
primeiro sorriso, com um ano e quatro meses. Foi quando eu mereci.
Meu
repertório de mundo finalmente estava se ampliando para dar conta da
nossa existência. Já não fazia sentido caber onde quer que fosse, mas
pertencer. Foi assim que me deparei com muitas outras existências que,
até então, desconhecia.
Minha filha jamais será aquele
exemplo de superação que pretenderam para ela. Não assim, como destino,
como objetivo, como fardo, como imposição. Antes, quero que o mundo
possa ser exemplar na superação das barreiras que limitam tantas vidas. A
nós, que caiba apenas o exercício da liberdade.
*Mariana Rosa é mulher com deficiência, mãe da Alice, jornalista, consultora do tema inclusão e ativista dos direitos das pessoas com deficiência
*Publicado na edição 44 da revista Painel Alagoas
O fim do Auxílio Emergencial já levou 2 milhões de brasileiros para a pobreza apenas em janeiro. Ao todo, 13% da população do país, ou 26 milhões de pessoas, estão sobrevivendo com uma renda per capita de apenas R$ 250 por mês, segundo o coordenador da Cátedra Ruth Cardoso no Insper, Naercio Menezes Filho, em análise publicada no Portal G1.
Durante
o pagamento do benefício, a taxa de pobreza chegou a recuar para 8% da
população, e a da extrema pobreza - brasileiros com renda per capita
abaixo de R$ 150 ao mês - caiu de 3% para 1%. Foram os menores patamares
já registrados pelo Brasil desde a década de 1970, quando as pesquisas
domiciliares começaram a ser realizadas.
Essa melhora
também se refletiu no índice de Gini, que monitora a desigualdade de
renda em uma escala de 0 a 1 – quanto mais próximo de 1, maior é a
desigualdade. O índice recuou de 0,53 para 0,47, caindo abaixo de 0,50
pela primeira vez na história brasileira. A deterioração social que o
país enfrenta hoje já era esperada. Todos os indicadores começaram a
piorar já com a redução do benefício de R$ 600 para R$ 300.
Ao todo, o Auxílio Emergencial chegou a quase 68 milhões de brasileiros.
Com
o Brasil enfrentando uma severa crise fiscal desde 2014, manter o
pagamento do Auxílio Emergencial passou a ser uma conta difícil de ser
fechada pela equipe econômica. Nas últimas semanas, o debate pela volta
do benefício ganhou força com a piora dos números da pandemia.
No ano
passado, com todas as medidas adotadas pelo governo federal, a dívida
bruta alcançou 89,3% do Produto Interno Bruto (PIB), uma alta de 15
pontos percentuais em relação a 2019.
O nível do
endividamento brasileiro já é considerado elevado para um país em
desenvolvimento. Na média, as economias similares à brasileira têm um
patamar de dívida próximo a 65% do PIB. O tamanho da dívida bruta é um
indicador bastante analisado por investidores e pelas agências de
classificação de risco.
Para estancar o endividamento do
país, a missão da equipe econômica não é fácil. O governo teria de fazer
um ajuste de R$ 84 bilhões até 2023 para impedir um novo crescimento da
relação dívida/PIB, segundo uma simulação feita pelo sócio e economista
da Kairós Capital, André Loes.
O exercício feito por Loes
leva em conta uma série de hipóteses, como um crescimento do PIB de 3%
este ano e 2% nos dois anos seguintes e uma taxa de juros que vai sair
de 3% ao fim deste ano e chegará a 5% em 2023. Ele também estima que a
regra do teto de gastos vai ser preservada e que o Tesouro receberá R$
20 bilhões por ano do BNDES, além dos R$ 38 bilhões já computados em
2021.
Mas a estratégia da equipe econômica é colocar uma
espécie de cláusula de calamidade na Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) do Pacto Federativo, enviada ao Senado em 2019, para permitir a
suspensão temporária de regras fiscais e o aumento de gastos. Essa
cláusula permitiria, por exemplo, a abertura de créditos
extraordinários, os quais não se sujeitam à regra do teto de gastos. A
partir de 2022, o governo espera contar com o benefício integral da PEC
do Pacto Federativo e das propostas Emergencial e dos Fundos para
conseguir ter alguma folga no orçamento.
*Publicado originalmente como Editorial na edição 44 da revista Painel Alagoas
*Fred Furtado - CEO da Tubelab
A vigésima primeira edição do Big Brother Brasil tem colocado em destaque a Cultura do Cancelamento. A prática consiste em "cancelar" o participante que não corresponde às expectativas do coletivo, que, por consequência, passa a ignorar, excluir, isolar e etc essa pessoa.
Do lado de fora da casa, quem assiste ao programa também tem entrado no jogo e feito o cancelamento pelas redes sociais, ou seja, deixando de seguir os participantes e deixando de curtir suas publicações.
A DesbravaData, startup especializada em monitoramento de dados em ambiente digitalz em parceria com Tubelab, empresa especialista em marketing de influência, em fez um levantamento dos perfis dos participantes em datas diferentes: antes do programa, no dia seguinte à primeira festa, no dia da indicação para o paredão e na primeira eliminação.
"A gente percebe que o público está participando do modo que pode, curtindo ou deixando de curtir, expondo a opinião através das redes sociais", afirmou Fred Furtado, CEO da Tubelab.
Os resultados chamam a atenção, enquanto alguns participantes estão crescendo exponencialmente o número de seguidores, como a Juliette, que passou de 146,349 para 2.500,00, outros estão vendo os números despencando, como a cantora Karol: 1.684,107 para 1.400,00.
Confira a lista completa (data: 21/jan / 27/jan / 31/jan / 02/fev)
Gil
52.349
259.490
803.676
1.000.000
Kerline
154.735
222.882
346.296
442.000
Rodolfo
1.472.172
1.560.924
2.100.000
2.700.000
Karol
1.684.107
1.764.135
1.838.330
1.400.000
João Pedro
73.437
111.833
196.719
243.000
Juliette
146.349
399.161
1.202.881
2.500.000
Lucas Koka
312.745
476.593
674.713
1.900.000
Lumena
93.972
170.317
215.705
179.000
Nego Di
1.187.000
1.262.900
1.377.445
1.390.000
Pocah
11.711.232
11.963.466
12.293.443
12.441.405
Projota
3.051.001
3.289.207
3.905.849
4.400.000
Sarah
64.400
109.262
264.209
1.500.000
Thais
87.170
257.487
579.039
820.000
Viih Tube
16.390.887
16.588.262
16.846.915
17.000.000
Caio
77.159
212.579
1.296.812
1.900.000
Arthur
241.304
322.676
591.959
945.000
Bil
113.530
193.050
441.543
660.000
Carla Diaz
3.168.799
3.353.059
3.654.623
4.300.000
Fiuk
1.530.574
2.042.019
2.419.876
2.345.115
A mineração desmatou 405,36 km² da Amazônia Legal nos últimos cinco anos, segundo dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), reunidos pelo Portal de Notícias G1. A área derrubada equivale a cerca de 40,5 mil campos de futebol. Ao longo de 2019 e 2020, esse desmatamento causado pela atividade mineradora registrou recordes e avançou sobre áreas de conservação.
A série histórica do Deter/Inpe, que compila dados desde 2015, aponta que o mês com a maior devastação foi maio de 2019, com 34,47 km² desmatados. Em seguida, ficou julho de 2019 com 23,98 km². Além disso, 2020 teve os piores junho (21,85 km²), agosto (15,93 km²) e setembro (7,2 km²) da série.
Com relação especificamente às chamadas Unidades de Conservação, o desmate por mineração cresceu 80,62% no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado, aponta o Greenpeace. Essas áreas recebem esse nome porque têm características naturais relevantes que precisam ser preservadas – o objetivo é proteger espécies ameaçadas e resguardar ecossistemas, por exemplo.
No entanto, as cicatrizes no solo são apenas um dos marcos da devastação por mineração.
Segundo Beto Veríssimo, engenheiro agrônomo e cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a atividade – principalmente quando ilegal – contamina rios e pessoas, gera violência contra comunidades tradicionais e desencadeia outras ações predatórias.
Entre janeiro e abril de 2020, mais de 70% da mineração na Amazônia ocorreu dentro de áreas protegidas, de acordo com o Greenpeace. Nas terras indígenas, esse aumento do desmatamento por mineração foi de 64%, na comparação com o mesmo período de 2019.
Já nas Unidades de Conservação, o primeiro trimestre teve um aumento de 80,62% (8,79 km² de floresta protegida destruídos) com relação ao mesmo período do ano passado, também segundo o Greenpeace.
Pelos dados do Deter/Inpe, é possível ver que o desmatamento pela atividade mineradora em unidades de conservação se concentra em cinco pontos do Pará, formando um arco de destruição. Na Área de Proteção Ambiental do Tapajós, o terreno destruído neste ano já é de quase 30 km² – ou 30 campos de futebol.
Segundo o Inpe, 85% de todo o desmatamento causado pela atividade na região amazônica desde 2015 ocorreu no Pará. Considerando o período de janeiro a novembro deste ano, o estado concentra 81% do desmate ocorrido por mineração.
De 1º janeiro a 20 de novembro de 2020, de acordo com o Inpe: a mineração derrubou 97,61 km² em toda a Amazônia Legal; o Pará concentra sozinho 81% do total, com 79,86 km²;
A situação é crítica ao longo do Rio Tapajós, sinalizando que o desmatamento é seguido por contaminação das águas e populações que vivem nas margens; e Itaituba (40,33 km²) e Jacareacanga (17,29 km²), ambas no Pará, são as cidades mais atingidas por mineração em todo o bioma.
E quando se cobra do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama, o que eles dizem? O primeiro, nada, e o segundo, que “os dados estão inacessíveis por tempo indeterminado porque estão migrando de sistema”. Ou seja, nada com coisa alguma. Enquanto isso, a Amazônia queima, queima sob a irresponsabilidade de quem tem o dever de protege-la.
*Publicado como editorial da edição 43 da revista Painel Alagoas
Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)
Embora os sintomas respiratórios sejam a face mais conhecida da Covid-19, estresse pós-traumático, depressão e ansiedade já foram descritos em pacientes com a doença. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) discutem como o novo coronavírus pode afetar a saúde mental, apontando alterações neurais, imunes e endócrinas relacionadas à infecção e ao distanciamento social, o que pode contribuir para distúrbios psicológicos. Além de traçar hipóteses, os cientistas sugerem linhas de pesquisa para esclarecer os mecanismos da doença e medidas que podem ajudar a mitigar seu impacto na saúde mental.
Lembrando estudos relacionados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), os pesquisadores chamam atenção para o potencial impacto psiquiátrico das infecções por coronavírus. Muitas pesquisas identificaram acometimento mental de pacientes infectados e algumas apontaram ainda danos de longo prazo, com sobreviventes apresentando perda de memória, alterações do sono e maiores níveis de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade, meses ou anos após a recuperação do quadro viral. Considerando ainda o risco para a saúde mental associado ao distanciamento social, os pesquisadores enfatizam a relevância de estudos sobre o tema na Covid-19.
“É urgente realizar esforços para compreender a fisiopatologia da Covid-19, incluindo a infecção do sistema nervoso central e o risco de comprometimento da saúde mental, assim como os efeitos da pandemia em indivíduos saudáveis impactados pela situação de distanciamento social. Se nada for feito, provavelmente enfrentaremos uma nova ‘pandemia’ no futuro, relacionada à saúde mental”, afirma o imunologista Wilson Savino, pesquisador do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do IOC e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM) e da Rede Faperj de Pesquisa em Neuroinflamação, sediados no IOC.
*Publicado ne edição 43 da revista Painel Alagoas
A partir de dados observados em pacientes e pesquisas em animais considerados como modelos experimentais, os cientistas argumentam que diferentes mecanismos podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais na pandemia de Covid-19. Em primeiro lugar, há evidências de que o novo coronavírus seja capaz de infectar as células do sistema nervoso central. Em segundo, a reação imunológica à infecção pelo vírus, marcada pela produção de grande quantidade de substâncias inflamatórias, pode ser um elo entre o patógeno e as manifestações psiquiátricas.
Diversas evidências indicam que essas substâncias alteram a plasticidade neuronal (capacidade de formar novas conexões entre neurônios) e reduzem a produção de neurotransmissores (moléculas que enviam sinais químicos entre as células neuronais, funcionando como mensageiros). Além disso, o processo inflamatório intenso pode afetar a produção do hormônio cortisol, cujo desequilíbrio está associado a transtornos psiquiátricos.
O estresse motivado pelo distanciamento social também pode levar a alterações imunológicas, com maior produção de substâncias inflamatórias mesmo em pessoas que não foram infectadas. Neste sentido, os pesquisadores chamam atenção para a maior vulnerabilidade de alguns grupos, como trabalhadores da saúde, idosos e obesos, que apresentam maior suscetibilidade tanto para quadros graves de Covid-19 quanto para distúrbios psiquiátricos. Também apontam medidas que podem amenizar os prejuízos para a saúde mental. Por exemplo, levantamentos realizados durantes os surtos de SARS e MERS, assim como no começo da epidemia de Covid-19 na China, indicam o potencial da informação adequada para reduzir o dano psicológico durante quarentenas. Estreitamento de laços por redes sociais, hábitos de sono e alimentação saudáveis também são citados pelos cientistas, que apontam ainda o potencial da música para modular os níveis de citocinas inflamatórias e a resposta neuro-imune-endócrina ao estresse.
Márcio Roberto Tenório de Albuquerque
Procurador-Geral de Justiça
Em tempos difíceis, a importância da instituição que defende os valores fundamentais da sociedade se torna mais evidente. Os atuais desafios, alguns inéditos em nossa história recente, demandam respostas inovadoras e atuação norteada pela excelência. No Dia Nacional do Ministério Público, quem está de parabéns é o povo alagoano. São muitas as frentes e inúmeras as batalhas, de modo que somente seria possível apresentar uma pequena amostra do trabalho cotidiano do Guardião da Cidadania.
A pandemia do novo coronavírus e os gravíssimos problemas gerados por minas de sal-gema localizadas no subsolo de alguns bairros da capital estão sendo enfrentados exemplarmente por forças-tarefas específicas. São questões de gravidade sem precedentes, mas os resultados efetivos demonstram o acerto das soluções construídas. Muitas vidas foram salvas por conta dos esforços voltados à prevenção do contágio da COVID-19. Milhares de famílias estão sendo protegidas de uma tragédia iminente e beneficiadas pelas medidas compensatórias. A atuação do Ministério Público do Estado de Alagoas tem sido decisiva em ambos os casos.
O sentimento de dever cumprido também se apresenta em outras áreas de grande repercussão, como o combate ao crime organizado (Gaeco) e à sonegação fiscal (Gaesf). Operações muito bem sucedidas foram realizadas e outras se encontram em fase de meticuloso planejamento. Além disso, foram firmados acordos de não persecução penal com desfechos positivos, a exemplo do que ocasionou o encerramento das atividades da quase totalidade dos lixões em Alagoas, com a destinação adequada de resíduos sólidos.
Nos últimos anos foram executados mais de 20 (vinte) projetos na atividade precípua do Ministério Público, enquanto outros estão em fase de elaboração. As áreas de abrangência dessas iniciativas são as mais diversas, sendo indicadores da adoção de uma gestão estratégica e representativos da preocupação institucional com o bem estar e a dignidade de nossa população. Meio ambiente, infância e juventude, direitos humanos, cidadania, patrimônio público, educação e saúde são algumas das áreas contempladas por recentes e exitosos projetos. Por terem sido amplamente reconhecidos e premiados pelo Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP em 2020, cada um em sua categoria, destacam-se: “Agosto Lilás”, contra a violência doméstica e familiar contra a mulher; “Pró Reservas”, de incentivo à criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN’s e “De Olho no Transporte Legal”, com o desenvolvimento de software para a fiscalização das vistorias realizadas nos veículos de transporte escolar.
A atuação pontual e incansável de procuradores e promotores de Justiça, nas mais diversas áreas de interesse público primário, não poderia faltar nesta singela lembrança. São eles, individualmente ou em conjunto, com o apoio de servidores, que têm construído a credibilidade do Ministério Público. Nesta data comemorativa temos orgulho de ter feito cada vez mais e, apesar das dificuldades, somos gratos por poder tão bem servir ao povo de Alagoas.
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