Tereza Nelma - Deputada Federal, Procuradora da Mulher
A criação do Observatório Nacional da Mulher na Política, que lançamos na última quarta-feira de junho, na Câmara de Deputados, em Brasília, é o maior mecanismo de investigação da mulher na política do país. Iniciativa pioneira que vem como esperança de tornar mais agradável os espaços que as mulheres ocupam na política e vai monitorar atitudes que tentarem desqualificar suas lutas pela plena participação feminina na sociedade e na direção do Estado e das empresas.
Um
momento histórico onde várias vozes de parlamentares se levantaram
durante o lançamento contra as ameaças recebidas pelas líderes políticas
Manuela D’Avila, ex-deputada federal do PC do B, ameaçada de morte, e
da minha própria filha, vereadora Teca Nelma, censurada no plenário da
Câmara de Maceió por suas ideias.
Tanto um caso com alguém
escondido no anonimato, como o outro praticado publicamente por um
delegado de polícia, são exemplos, entre muitos outros, que ligam os
machismos, intolerantes e reacionários, do sul ao nordeste do país. Não
podemos ficar caladas. Temos que impedir novas Marielle Franco,
assassinada a tiros, covardemente, um crime até hoje abafado.
Não
podemos mais conviver com os ataques frequentes a mulheres jornalistas,
políticas trans, legalmente eleitas, por vozes que desqualificam
diariamente as mulheres e que saem, às vezes, da própria presidência da
República.
A Procuradoria da Mulher na Política vai ganhar
espaço nas Assembleias Legislativas de todo o país, enfrentando as
injustiças, os preconceitos, os ataques covardes às mulheres onde se
manifestarem. É uma ferramenta que vai auxiliar no monitoramento da
atuação política de mulheres nas esferas municipal, estadual, federal e
internacional. A luta das mulheres contra a opressão, a discriminação, a
violência política e machista tem que ser enfrentada em todo o mundo.
Nos
enche de orgulho, por exemplo, que a Assembleia Constituinte do Chile,
um país que sangrou com o fascismo em passado recente, seja composta por
uma maioria de mulheres. Quanta diferença, se comparada às pressões nos
bastidores para reduzir a participação das mulheres na nossa Câmara dos
Deputados a 10%, na dita reforma política que está sendo construída, ou
seja, uma tentativa de minar nossa representatividade que já é tão
pequena.
Nosso movimento já alcançou 30% de mulheres nas
chapas eleitorais, sem contar os 30% de recursos para suas campanhas,
apesar de frequentemente violados por direções partidárias atrasadas e
machistas. Nossa meta continua sendo alcançar a participação de 50% de
mulheres nos parlamentos. E não só. Queremos também a paridade no
comando dos Tribunais Superiores, Ministérios Públicos, Forças Armadas e
outros poderes de Estado.
O nome dessa nova ferramenta é Observatório, que não pode tudo, mas é um avanço e será a nossa voz. Com esse novo instrumento pretendemos desvendar crimes, os ataques, as injustiças e agir, exigir punição. Nada de mimimi. Mas muita luta, com unidade, seriedade, coragem e respeito ao pluralismo, isso sim.Nem é preciso nos aguardar. Chegaremos já.
*Publicado na edição 49 da revista Painel Alagoas
Dany Pimenta
Preconceito é um assunto bem polêmico, pois cada pessoa tem seus conceitos preconizados desde a infância. Por isso que falo que preconceito é aprendido e fortalecido pelas relações familiares.
As pessoas diante da lei são iguais e tem os mesmo direitos. Não há constituições divergentes para cada raça, crença religiosa, padrão social nem sexual.
RESPEITO pra mim é a palavra chave. Quando respeitamos mesmo que não aceitamos, passamos a ver o outro como pessoa. Pessoa essa que tem livre arbítrio para decidir como viver. Mesmo que você não tenha a condição nobre de saber amar ao outro independente do que você julga ser certo, respeite.
O pobre, o negro, o gay que infelizmente em nosso país não são respeitados por não se enquadrar no que muitos julgam ser certo, são pessoas que têm sentimentos, sonhos. Pessoas que não optaram pelo que são mas que simplesmente apenas São.
Se pudéssemos nos colocar um segundo apenas no lugar desse outro e ver como ele se sente diante de tanta discriminação quem sabe mudaríamos nossa forma de ver as pessoas.
A vida é uma passagem. Cada pessoa recebe seu livro de Deus com brancas páginas para assim escrevê-la. Deixe que cada um escreva sua própria história e não derrame tinta preta nas páginas do outro.
O arco-íris foi feito por Deus com a união de várias cores. Assim também somos nós, união de raças, crenças e opções.
Se o mundo fosse de uma só cor teria a mesma beleza que tem? Quebrem as algemas do que te limita a ver as pessoas pela cor, religião ou sexualidade fazendo assim distinção e menosprezando a pessoa incrível que cada um é.
Não julgue pelo que você acredita ser certo.
Seja feliz e simplesmente permita ao outro o direito de ser feliz. Se Deus que é Deus não julga ninguém, caberia a você julgar alguém?!
Por Arthur Virgílio Neto*
A descrença na pesquisa e na ciência, aliás, se tornou ainda mais evidente nesse período, com corte nos investimentos direcionados à área. Por outro lado, vimos gastos de custeio sendo aumentados no Congresso Nacional. Uma vergonha, desrespeito ao povo brasileiro, desrespeito à vida. E o resultado dessa marcha contra à sensatez na saúde pública é o triste número de milhares de brasileiros e brasileiras que perderam a vida por causa do novo coronavírus e, no Amazonas, muitos foram cruelmente asfixiados pela falta do oxigênio.Sabem as leitoras e os leitores que, por exemplo, a decretação de um lockdown exige dinheiro nas mãos do povo, regras duras de isolamento social e curta duração. A Covid-19, reforçada pelas novas cepas, cada vez mais resistentes e letais, tem de ser enfrentada pelo bom comportamento aqui relatado e por campanhas vitoriosas de vacinação em massa. O Brasil vacina com a lentidão de um jabuti, quando a postura correta seria correr como os campeões de Fórmula 1.
As gestantes e puérperas (mulheres que tiveram filhos há até 45 dias)
registra uma taxa de letalidade de 7,2%, mais que o dobro da atual taxa
de letalidade do país, que é de 2,8%. O dado faz parte do último Boletim
do Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado
no início deste mês de junho.
Segundo o boletim, um estudo sobre a
pandemia nas Américas, publicado em maio pela Organização Pan-Americana
da Saúde (Opas), verificou que, entre janeiro e abril deste ano, houve
um aumento relevante de casos em gestantes e puérperas, e de óbitos
maternos por covid-19 em 12 países.
Os especialistas alertam ainda
que as gestantes podem evoluir para formas graves da covid-19, com
descompensação respiratória, em especial, aquelas que estão em torno de
32 ou 33 semanas de gestação. Em muitos casos, segundo os cientistas, há
necessidade de antecipar o parto.
Esse quadro aumenta a preocupação
em relação à disponibilidade de leitos de UTI adulto para essas
mulheres e de leitos de UTI neonatal para os recém-nascidos, que podem
ser prematuros. Os pesquisadores alertam que ambos precisam de cuidados
especializados e imediatos. A partir de meados de 2020, começaram a ser
publicados artigos sobre a morte de gestantes e puérperas por covid-19
no Brasil, alertando para a necessidade de preparação e organização de
toda a rede de atenção em saúde.
De acordo como Observatório
Obstétrico Brasileiro Covid-19, os óbitos maternos em 2021 superaram o
número notificado em 2020. No ano de 2020, foram 544 óbitos em gestantes
e puérperas por covid-19 no país, com média semanal de 12,1 óbitos,
considerando que a pandemia se estendeu por 45 semanas epidemiológicas
nesse ano. Até 26 de maio de 2021, transcorridas 20 semanas
epidemiológicas, foram registrados 911 óbitos, com média semanal de 47,9
óbitos.
*Publicado como editorial na edição 48 da revista Painel Alagoas
Mateus Sant'Ana - Advogado
A arte de empreender fascina muitas pessoas pelo mundo. Aliado ao fenômeno da globalização, estreitou as fronteiras geográficas permitindo a rápida troca de informação através da rede mundial de computadores, a Internet. Diante disso, novos mercados e oportunidades surgem como, por exemplo, a inovação da tecnologia e a conectividade que se tornaram extremamente relevante não só para o empreendedor, como para a sociedade. Um grande exemplo é repensar os problemas das cidades.
O
conceito de Cidades Inteligentes (smartcities) objetiva aumentar a
participação cidadão através da tecnologia fazendo com que o cidadão
esteja cada vez mais próximo das ações governamentais.
Neste
contexto, surge o empreendedor social que é o empreendedor que opta em
montar um negócio em que a responsabilidade social é o principal
objetivo. São negócios lucrativos que resolvem problemas sociais por
meio da venda de produtos ou serviços.
Um híbrido de
intervenção governamental e puro empreendedorismo de negócios, o
empreendimento social é capaz de tratar problemas cujo âmbito é estreito
demais para instigar o ativismo legislativo ou para atrair capital
privado.
O empreendedorismo social já é uma realidade no Brasil e
no mundo; e os diferentes modelos de negócios desenvolvidos por
empreendedores estão quebrando muitos paradigmas e contribuindo para
transformar realidades. Um dos maiores desafios para o empreendedorismo
social no Brasil, e em qualquer outro país em desenvolvimento, é a
captação de recursos. Por isso, a primeira preocupação é com a alocação
que se faz primeiramente pela disseminação das ideias e objetivos das
ações sociais a serem empreendidas.
As vendas do comércio varejista tiveram queda de 0,6% em março, na comparação com fevereiro, apontam os dados divulgados nesta sexta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado em 12 meses, porém, o comércio registra alta de 0,7%. Na comparação com março do ano passado, houve alta foi de 2,4%.
Com
o resultado, o setor encerrou o primeiro trimestre do ano no vermelho.
Na comparação com o 4º trimestre de 2020, a queda foi de 4,3% - foi o
segundo trimestre seguido em queda.
Já na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o recuo foi de 0,6%.
O
comércio foi o segundo grande setor da economia a fechar o 1º trimestre
do ano com perdas. A indústria encerrou o período com queda de 0,4%. Em
termos de patamar de vendas, o resultado de março deixou o setor
varejista 6,5% abaixo do recorde, que foi alcançado em outubro de 2020.
O
resultado de março também levou o setor de comércio a ficar abaixo do
patamar pré-pandemia, depois de ter recuperado as perdas em fevereiro. O
volume de vendas em março ficou 0,3% abaixo do observado em fevereiro
de 2020.
Das oito atividades, somente duas registraram
patamar superior ao pré-pandemia: artigos farmacêuticos (12,7%) e hiper e
supermercados (3,9%). As quedas mais intensas ficaram com os segmentos
de tecidos e vestuários (-50,1%) e livros, jornais e revistas (-50,2%).
De
acordo com o IBGE, das oito atividades do comércio investigadas na
pesquisa mensal, sete tiveram queda no volume de vendas na passagem de
fevereiro para março. A única com crescimento foi a hipermercados,
supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que teve alta de
3,3%.
O principal impacto negativo para o resultado geral partiu do
setor de móveis e eletrodomésticos, que teve queda de 22% em março.
Segundo o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, essa atividade foi
muito influenciada pelo comportamento dos consumidores durante a
pandemia.
Pedro Oliveira - Jornalista
O prefeito JHC começa a ter seu mandato crescente a nível nacional quando passa a integrar colegiados importantes que reúnem representantes da administração de todo o país. Acaba de ser aclamado como vice-presidente temático regional de turismo, da Frente Nacional de prefeitos.
A entidade reúne prefeitos das capitais e grandes cidades e tem um papel institucional relevante, liderando o debate de temas de interesse das administrações e voltados para o desenvolvimento socioeconômico dos seus filiados e dos municípios como um todo.
A Diretoria Executiva da Frente Nacional de Prefeitos trabalha para zelar pelo princípio constitucional da autonomia municipal, visando garantir a participação plena e imprescindível dos municípios no pacto federativo, podendo adotar no âmbito dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, medidas coletivas em sua defesa.
A Diretoria Executiva também atua para promover a participação ativa dos entes locais nas questões urbanas e na interlocução ampla e democrática com os três poderes, nas esferas estadual e federal, e com a sociedade civil organizada.
Ao ser empossado o prefeito de Maceió ressaltou: “É uma honra poder contribuir com esta Frente tão importante no debate das causas municipalistas, principalmente em um momento como esse, em que o País e o mundo enfrentam os efeitos da pandemia e vamos precisar estar ainda mais unidos para buscar os melhores caminhos e soluções para enfrentar o problema”.
Não tenho dúvidas de que o prefeito JHC vai chegar à presidência da Frente Nacional de prefeitos no futuro, repetindo a trajetória de seu vice, Ronaldo Lessa que foi considerado um dos mais atuantes presidentes da entidade, modernizando e liderando importantes temas do municipalismo brasileiro. Em sua gestão Lessa realizou encontros regionais em várias capitais, promovendo maior integração entre os prefeitos.
Sou testemunha ocular dos fatos, uma vez que ocupava a função de secretário geral da entidade, atendendo a um honroso convite do prefeito à época. Rodamos o país com as reuniões da Frente Nacional de Prefeitos.
Em um ano de pandemia, muitas empresas consolidaram o home office como modelo de trabalho no país. Pesquisa da Workana, plataforma que conecta freelancers a empresas da América Latina, mostra que, mesmo quando a pandemia acabar, a intenção de 84,2% dos líderes entrevistados é continuar com o trabalho remoto.
Para isso, eles acreditam que o
equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é um aspecto a ser
priorizado, e isso inclui a flexibilidade de horários.
Essa
modalidade de trabalho, aponta o levantamento, levará a um trabalho mais
orientado a objetivos e metas do que ao cumprimento de jornadas de
trabalho fixas. Os líderes de empresas também destacam que outro fator
no qual deverão trabalhar é a melhoria da tecnologia e conectividade dos
funcionários que trabalham remoto.
O levantamento,
feito com 2.810 profissionais CLT, freelancers e líderes de empresas na
América Latina, sendo 42% somente do Brasil, aponta os principais
desafios considerados na rotina do trabalho à distância. Além do
equilíbrio entre vida pessoal e profissional e do trabalho com base em
resultados e objetivos, a comunicação mais transparente e saúde mental
são alguns dos desafios apontados na pesquisa.
De acordo
com a pesquisa da Workana, 35,2% dos CLTs acreditam que, no futuro, o
trabalho será mais flexível, e o sucesso será medido pelo resultado
oferecido, e não pelas horas trabalhadas. Número bem parecido com o dos
líderes de empresas, 38,6%, que também apostam que essa flexibilidade
pode gerar um bom retorno.
De olho nessa tendência, é
fundamental que os gestores orientem seus colaboradores pensando nos
objetivos que eles têm a alcançar, e não apenas nas horas que precisam
cumprir.
Até porque, mesmo atuando à distância, 42,6%
dos colaboradores CLT consideraram sua produtividade excelente, 39,3%
muito boa, 14,8% boa - contra apenas 3,3% que acharam regular ou ruim -,
e 63,2% dos gestores disseram ter notado que os funcionários tiveram a
mesma performance de quando estavam no escritório, ou aumentaram a
produtividade com essa certa liberdade que o home office traz.
Para recitar poemas, quem melhor? Para atuar em peças, só aplausos. Como
lutador social, um guerreiro. Na fotografia, lances ousados, olho
mágico em imagens de movimento. Como militante partidário, um idealista
da causa dos menos favorecidos, da igualdade de direitos, da
universalização dos sonhos. De quem falamos? De Átila Vieira, 43, mais
uma vítima da Covid-19, desse vírus medonho que mata pessoas, que leva
amores, que empobrece a esperança, que nos tira a paz. Colaborador da
PAINEL ALAGOAS, profissional que honrou o trabalho e a vida. Ao nosso
eterno Átila, todos os nossos sentimentos, traduzidos em versos de um
dos poemas tantas vezes declamado por ele:
“Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu”
(Trecho de "A Flor e a Náusea", de Carlos Drummond de Andrade)
* Publicado originalmente na edição 46 da revista Painel Alagoas
O primeiro ano do resto das nossas vidas. Acho que dá pra dizer que, ao completarmos um ano do primeiro caso de coronavírus no Brasil, temos a sensação do primeiro ano de um nova vida, muito diferente do que qualquer um de nós poderia ter pensado em viver quando estava lá vendo os fogos de artifício na virada de ano para 2020 ou mesmo no carnaval do ano passado que, aliás, foi nessa mesma época há um ano. Temos experimentado de tudo. Saudade, restrição, solidão, lidado com a morte e as narrativas da perda. Passamos a usar termos novos, a falar de comorbidades, variante, IFA e respirador, como quem falava de qualquer outro tema cotidiano. Vimos a disputa entre notícias falsas, remédios que não curam, receitas que não combatem coronavírus e vimos também vacinas serem produzidas em tempo recorde. O ano de 2020 trouxe a pandemia e a vacina. E como contamos tudo isso?
Usamos o
que já tínhamos, contando histórias e distribuindo informações nas
redes sociais. Ouvimos podcast. Descobrimos ferramentas que não
conhecíamos como as reuniões virtuais por Zoom, Meet, Teams. E o
jornalismo? O que foi feito dele nesse ano do resto das nossas vidas? A
desacreditada narrativa que vinha sendo bombardeada junto com as grandes
empresas que no Brasil concentram a produção. O começo da pandemia
trouxe um novo vigor à narrativa jornalística. Programas foram criados
nas emissoras de TV dando espaço para que o jornalismo pesquisasse e
explicasse, simultaneamente, o que era coronavírus, que se
escreve-tudo-junto, que causa a Covid, que é no feminino. Informou às
pessoas como usar máscara, que tipo, de que jeito, como usar álcool gel,
com que frequência, como abraçar, porque não abraçar, a diferença entre
isolamento e distanciamento social e por aí foi. Gráficos, números,
entrevistas com autoridades, máscaras em todos os repórteres e, enfim, a
retomada de certo protagonismo.
As análises, que aproximaram os jornalistas dos especialistas, dos cientistas e dos profissionais de saúde, se juntaram às instruções que são repetidas até hoje sobre como proceder na pandemia. Mais que isso, o jornalismo voltou a lembrar que precisava contar histórias. E justamente num tema que, por um lado, não permitia acesso fácil a certas narrativas como aquelas que aconteciam nos hospitais, cemitérios e nas casas das pessoas. E por outro, passou a ser um assunto que, aos poucos, podia ser contado por todo mundo.
Durante parte de 2020, para sair das falas
oficiais das autoridades e mostrar para as pessoas que havia risco real
de adoecimento e morte, os jornalistas precisaram chegar às UTIs, como
fez o repórter Yan Boechat nas matérias do hospital Santa Maggiore, em
São Paulo, ou nos hospitais de Manaus, na primeira onda da Covid, em
abril. Ou quando acompanhou diariamente a rotina de cemitérios em São
Paulo e constatou o aumento de sepultamentos, a abertura de covas
coletivas e viu famílias contarem o que estavam passando com a perda de
parentes para a Covid-19.
A reportagem de outros
jornalistas também contou com uma nova forma de ter acesso às histórias.
Pessoas que antes seriam fontes de informação e também leitores
passaram a produzir conteúdo a pedido dos jornalistas porque acessar o
interior de hospitais era difícil e arriscado. Vemos ainda hoje vídeos
gravados por médicos falando da rotina de trabalho e do agravamento do
quadro de contaminação no país. Vídeo de familiares a respeito das
condições de atendimento e das consequências da própria doença ou da
explosão de casos nas portas dos hospitais. Muitos são produzidos
diretamente para jornalistas utilizarem como fonte e como apuração das
suas reportagens. Outros, já na esteira da difusão da produção
audiovisual, chegam ao público direto do cidadão para os usuários de
redes sociais e são comentados depois pelos jornalistas.
E
aí entro num novo momento do jornalismo na pandemia. Depois dessa
inovação da mediação, da produção de conteúdo e da apuração sem a
presença do jornalista, com seu simultâneo aumento e perda de acesso,
dependendo do ponto de vista que se olha, em que lugar está o jornalismo
um ano após o início da pandemia no Brasil? Essa inovação, o desafio, a
frustração, a busca de novo protagonismo e de interesse das pessoas
permanece em alta ou voltamos a um lugar morno como estava antes? Não se
trata de uma análise mais detida e detalhada do processo e as respostas
talvez sejam híbridas. Há avanços que permanecem acontecendo,
especialmente uma retomada e um realinhamento da narrativa jornalística e
do discurso científico, que nunca esteve em oposição, mas que neste
momento aparece ainda mais como aliado, tentando defender quase a mesma
noção. A confiabilidade. De que o ponto de vista mais confiável para
lidar com a pandemia de Coronavírus e vencê-la é a orientação da
ciência. Enquanto a linha mais confiável para conduzir narrativamente e
traduzir a linguagem da ciência em relação à pandemia é a narrativa
jornalística. As notícias falsas, boatos e soluções milagrosas ou
narrativas fantásticas não colaboram nem para o combate ao vírus nem na
construção da democracia e na defesa da cidadania. Então, este
alinhamento parece claro. As reportagens sobre as vacinas explicam os
pormenores de eficácia, enquanto os cientistas são as principais fontes
para comprovar a explicação.
Na falta de uma condução
das informações, dados e avaliações centralizadas pelo governo federal,
veículos tradicionais de comunicação se reuniram num consórcio para
levantar e divulgar dados diários da pandemia. A colaboração não
alcançou a produção, mas chegou ao menos aos dados objetivos sobre o
andamento da contaminação.
Ao contar histórias, o
jornalismo não tem ido adiante. Dados gerais, ações, reações dos
governos e instruções sobre os cuidados para evitar o vírus e, no
máximo, o acompanhamento das atividades que reabrem ou fecham. Vimos
histórias serem contadas nos colapsos que estão ocorrendo em 2021 como a
segunda onda em Manaus, o agravamento da situação em Santa Catarina e
vários outros lugares. Mesmo assim, elas sempre começam a ser contadas a
partir dos celulares das vítimas, das famílias ou dos médicos. Não é
incomum, inclusive, que a gente veja os relatos ou indicações de subida
de casos primeiro nos nossos grupos de WhatsApp e não nas reportagens.
Então o primeiro ano do resto das nossas vidas impactou muito mais nas
nossas vidas do que ainda fomos capazes de narrar. O jornalismo não
alcançou ainda a dimensão dessa transformação na vida das pessoas e nem
traduziu isso na transformação necessária do seu próprio exercício.
Talvez pela rigidez da estrutura narrativa e de produção que tinha até
agora. Talvez porque a transformação ainda esteja em curso assim como os
acontecimentos da própria pandemia.
Espaço para postagens de opinião e expressão dos internautas