Mariana Rosa*
Quando recebi o diagnóstico de paralisia cerebral de minha filha, a primeira afirmativa que me ocorreu foi a de que ela tinha um corpo dissonante. Poucos e lentos movimentos, ausência de fala, impossibilidade de se colocar sentada ou de pé com autonomia. Uma corporeidade que não encontrava rima em minha experiência de vida. Eu era estreante nessa avassaladora noção das diferenças.
Corri para os livros,
para as pesquisas em artigos científicos, para profissionais de saúde
que pudessem ensinar sobre a condição que me era apresentada. Queria ser
uma boa mãe e buscava referências que compensassem minha flagrante
falta de preparo. Pensei que seria ali, somente na ciência, nos bancos
da faculdade, o encontro com as respostas que procurava, o alívio que
atestasse que eu saberia lidar com minha pequena Alice. Não me faltava
amor por ela, que fique claro.
Essa busca nos levou por
incontáveis consultórios, clínicas e hospitais. Eu havia encontrado uma
única urgência como resposta às minhas indagações: precisava ajudar
Alice a ultrapassar os próprios limites. E tinha que ser já, rápido, sem
tempo a perder, porque a intervenção precoce poderia fazê-la ganhar
muitas habilidades, porque a plasticidade cerebral precisaria ser
explorada, porque ela poderia ser um exemplo de superação, diziam.
A
urgência por entender o corpo de minha filha nos engoliu. Seu primeiro
ano de vida se assemelhou a uma prescrição médica, com um colosso de
protocolos a serem seguidos. Ela cumpria a agenda quase sempre dormindo,
sobrecarregada que estava por medicações que prometiam normalizar suas
ondas cerebrais. Foi preciso vivenciar essa rotina extremada para que eu
tropeçasse em minhas limitações.
Era no encontro diário
com ela. Não era realizando as tarefas que nos diziam ser importantes.
Era sendo junto com ela, e, assim, descobrindo seus desejos e suas
prioridades. Levou algo como um ano até que eu aprendesse a
verdadeiramente olhar para minha filha.
O que eu, enfim,
pude ver foi tocante. Ela não tinha um corpo dissonante, como eu
presumia. Tampouco diferente, uma vez que não há referência para o que é
estar vivo. Não existe um código de barras para o ser humano, um
controle de qualidade que dite a referência a partir da qual a
existência deve ser estruturada.
Esfreguei os olhos muitas
vezes, para afastar padrões que não nos serviam, referências que não
eram as nossas. Desanuviada, conheci a menina valente, bem-humorada,
decidida, que adora passarinhos, que tem preferência por frutas e se
diverte com brincadeiras radicais. Eu não podia perder mais nenhum
detalhe. Ela esperou ter essa certeza para me entregar, então, seu
primeiro sorriso, com um ano e quatro meses. Foi quando eu mereci.
Meu
repertório de mundo finalmente estava se ampliando para dar conta da
nossa existência. Já não fazia sentido caber onde quer que fosse, mas
pertencer. Foi assim que me deparei com muitas outras existências que,
até então, desconhecia.
Minha filha jamais será aquele
exemplo de superação que pretenderam para ela. Não assim, como destino,
como objetivo, como fardo, como imposição. Antes, quero que o mundo
possa ser exemplar na superação das barreiras que limitam tantas vidas. A
nós, que caiba apenas o exercício da liberdade.
*Mariana Rosa é mulher com deficiência, mãe da Alice, jornalista, consultora do tema inclusão e ativista dos direitos das pessoas com deficiência
*Publicado na edição 44 da revista Painel Alagoas
O fim do Auxílio Emergencial já levou 2 milhões de brasileiros para a pobreza apenas em janeiro. Ao todo, 13% da população do país, ou 26 milhões de pessoas, estão sobrevivendo com uma renda per capita de apenas R$ 250 por mês, segundo o coordenador da Cátedra Ruth Cardoso no Insper, Naercio Menezes Filho, em análise publicada no Portal G1.
Durante
o pagamento do benefício, a taxa de pobreza chegou a recuar para 8% da
população, e a da extrema pobreza - brasileiros com renda per capita
abaixo de R$ 150 ao mês - caiu de 3% para 1%. Foram os menores patamares
já registrados pelo Brasil desde a década de 1970, quando as pesquisas
domiciliares começaram a ser realizadas.
Essa melhora
também se refletiu no índice de Gini, que monitora a desigualdade de
renda em uma escala de 0 a 1 – quanto mais próximo de 1, maior é a
desigualdade. O índice recuou de 0,53 para 0,47, caindo abaixo de 0,50
pela primeira vez na história brasileira. A deterioração social que o
país enfrenta hoje já era esperada. Todos os indicadores começaram a
piorar já com a redução do benefício de R$ 600 para R$ 300.
Ao todo, o Auxílio Emergencial chegou a quase 68 milhões de brasileiros.
Com
o Brasil enfrentando uma severa crise fiscal desde 2014, manter o
pagamento do Auxílio Emergencial passou a ser uma conta difícil de ser
fechada pela equipe econômica. Nas últimas semanas, o debate pela volta
do benefício ganhou força com a piora dos números da pandemia.
No ano
passado, com todas as medidas adotadas pelo governo federal, a dívida
bruta alcançou 89,3% do Produto Interno Bruto (PIB), uma alta de 15
pontos percentuais em relação a 2019.
O nível do
endividamento brasileiro já é considerado elevado para um país em
desenvolvimento. Na média, as economias similares à brasileira têm um
patamar de dívida próximo a 65% do PIB. O tamanho da dívida bruta é um
indicador bastante analisado por investidores e pelas agências de
classificação de risco.
Para estancar o endividamento do
país, a missão da equipe econômica não é fácil. O governo teria de fazer
um ajuste de R$ 84 bilhões até 2023 para impedir um novo crescimento da
relação dívida/PIB, segundo uma simulação feita pelo sócio e economista
da Kairós Capital, André Loes.
O exercício feito por Loes
leva em conta uma série de hipóteses, como um crescimento do PIB de 3%
este ano e 2% nos dois anos seguintes e uma taxa de juros que vai sair
de 3% ao fim deste ano e chegará a 5% em 2023. Ele também estima que a
regra do teto de gastos vai ser preservada e que o Tesouro receberá R$
20 bilhões por ano do BNDES, além dos R$ 38 bilhões já computados em
2021.
Mas a estratégia da equipe econômica é colocar uma
espécie de cláusula de calamidade na Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) do Pacto Federativo, enviada ao Senado em 2019, para permitir a
suspensão temporária de regras fiscais e o aumento de gastos. Essa
cláusula permitiria, por exemplo, a abertura de créditos
extraordinários, os quais não se sujeitam à regra do teto de gastos. A
partir de 2022, o governo espera contar com o benefício integral da PEC
do Pacto Federativo e das propostas Emergencial e dos Fundos para
conseguir ter alguma folga no orçamento.
*Publicado originalmente como Editorial na edição 44 da revista Painel Alagoas
*Fred Furtado - CEO da Tubelab
A vigésima primeira edição do Big Brother Brasil tem colocado em destaque a Cultura do Cancelamento. A prática consiste em "cancelar" o participante que não corresponde às expectativas do coletivo, que, por consequência, passa a ignorar, excluir, isolar e etc essa pessoa.
Do lado de fora da casa, quem assiste ao programa também tem entrado no jogo e feito o cancelamento pelas redes sociais, ou seja, deixando de seguir os participantes e deixando de curtir suas publicações.
A DesbravaData, startup especializada em monitoramento de dados em ambiente digitalz em parceria com Tubelab, empresa especialista em marketing de influência, em fez um levantamento dos perfis dos participantes em datas diferentes: antes do programa, no dia seguinte à primeira festa, no dia da indicação para o paredão e na primeira eliminação.
"A gente percebe que o público está participando do modo que pode, curtindo ou deixando de curtir, expondo a opinião através das redes sociais", afirmou Fred Furtado, CEO da Tubelab.
Os resultados chamam a atenção, enquanto alguns participantes estão crescendo exponencialmente o número de seguidores, como a Juliette, que passou de 146,349 para 2.500,00, outros estão vendo os números despencando, como a cantora Karol: 1.684,107 para 1.400,00.
Confira a lista completa (data: 21/jan / 27/jan / 31/jan / 02/fev)
Gil
52.349
259.490
803.676
1.000.000
Kerline
154.735
222.882
346.296
442.000
Rodolfo
1.472.172
1.560.924
2.100.000
2.700.000
Karol
1.684.107
1.764.135
1.838.330
1.400.000
João Pedro
73.437
111.833
196.719
243.000
Juliette
146.349
399.161
1.202.881
2.500.000
Lucas Koka
312.745
476.593
674.713
1.900.000
Lumena
93.972
170.317
215.705
179.000
Nego Di
1.187.000
1.262.900
1.377.445
1.390.000
Pocah
11.711.232
11.963.466
12.293.443
12.441.405
Projota
3.051.001
3.289.207
3.905.849
4.400.000
Sarah
64.400
109.262
264.209
1.500.000
Thais
87.170
257.487
579.039
820.000
Viih Tube
16.390.887
16.588.262
16.846.915
17.000.000
Caio
77.159
212.579
1.296.812
1.900.000
Arthur
241.304
322.676
591.959
945.000
Bil
113.530
193.050
441.543
660.000
Carla Diaz
3.168.799
3.353.059
3.654.623
4.300.000
Fiuk
1.530.574
2.042.019
2.419.876
2.345.115
A mineração desmatou 405,36 km² da Amazônia Legal nos últimos cinco anos, segundo dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), reunidos pelo Portal de Notícias G1. A área derrubada equivale a cerca de 40,5 mil campos de futebol. Ao longo de 2019 e 2020, esse desmatamento causado pela atividade mineradora registrou recordes e avançou sobre áreas de conservação.
A série histórica do Deter/Inpe, que compila dados desde 2015, aponta que o mês com a maior devastação foi maio de 2019, com 34,47 km² desmatados. Em seguida, ficou julho de 2019 com 23,98 km². Além disso, 2020 teve os piores junho (21,85 km²), agosto (15,93 km²) e setembro (7,2 km²) da série.
Com relação especificamente às chamadas Unidades de Conservação, o desmate por mineração cresceu 80,62% no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado, aponta o Greenpeace. Essas áreas recebem esse nome porque têm características naturais relevantes que precisam ser preservadas – o objetivo é proteger espécies ameaçadas e resguardar ecossistemas, por exemplo.
No entanto, as cicatrizes no solo são apenas um dos marcos da devastação por mineração.
Segundo Beto Veríssimo, engenheiro agrônomo e cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a atividade – principalmente quando ilegal – contamina rios e pessoas, gera violência contra comunidades tradicionais e desencadeia outras ações predatórias.
Entre janeiro e abril de 2020, mais de 70% da mineração na Amazônia ocorreu dentro de áreas protegidas, de acordo com o Greenpeace. Nas terras indígenas, esse aumento do desmatamento por mineração foi de 64%, na comparação com o mesmo período de 2019.
Já nas Unidades de Conservação, o primeiro trimestre teve um aumento de 80,62% (8,79 km² de floresta protegida destruídos) com relação ao mesmo período do ano passado, também segundo o Greenpeace.
Pelos dados do Deter/Inpe, é possível ver que o desmatamento pela atividade mineradora em unidades de conservação se concentra em cinco pontos do Pará, formando um arco de destruição. Na Área de Proteção Ambiental do Tapajós, o terreno destruído neste ano já é de quase 30 km² – ou 30 campos de futebol.
Segundo o Inpe, 85% de todo o desmatamento causado pela atividade na região amazônica desde 2015 ocorreu no Pará. Considerando o período de janeiro a novembro deste ano, o estado concentra 81% do desmate ocorrido por mineração.
De 1º janeiro a 20 de novembro de 2020, de acordo com o Inpe: a mineração derrubou 97,61 km² em toda a Amazônia Legal; o Pará concentra sozinho 81% do total, com 79,86 km²;
A situação é crítica ao longo do Rio Tapajós, sinalizando que o desmatamento é seguido por contaminação das águas e populações que vivem nas margens; e Itaituba (40,33 km²) e Jacareacanga (17,29 km²), ambas no Pará, são as cidades mais atingidas por mineração em todo o bioma.
E quando se cobra do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama, o que eles dizem? O primeiro, nada, e o segundo, que “os dados estão inacessíveis por tempo indeterminado porque estão migrando de sistema”. Ou seja, nada com coisa alguma. Enquanto isso, a Amazônia queima, queima sob a irresponsabilidade de quem tem o dever de protege-la.
*Publicado como editorial da edição 43 da revista Painel Alagoas
Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)
Embora os sintomas respiratórios sejam a face mais conhecida da Covid-19, estresse pós-traumático, depressão e ansiedade já foram descritos em pacientes com a doença. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) discutem como o novo coronavírus pode afetar a saúde mental, apontando alterações neurais, imunes e endócrinas relacionadas à infecção e ao distanciamento social, o que pode contribuir para distúrbios psicológicos. Além de traçar hipóteses, os cientistas sugerem linhas de pesquisa para esclarecer os mecanismos da doença e medidas que podem ajudar a mitigar seu impacto na saúde mental.
Lembrando estudos relacionados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), os pesquisadores chamam atenção para o potencial impacto psiquiátrico das infecções por coronavírus. Muitas pesquisas identificaram acometimento mental de pacientes infectados e algumas apontaram ainda danos de longo prazo, com sobreviventes apresentando perda de memória, alterações do sono e maiores níveis de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade, meses ou anos após a recuperação do quadro viral. Considerando ainda o risco para a saúde mental associado ao distanciamento social, os pesquisadores enfatizam a relevância de estudos sobre o tema na Covid-19.
“É urgente realizar esforços para compreender a fisiopatologia da Covid-19, incluindo a infecção do sistema nervoso central e o risco de comprometimento da saúde mental, assim como os efeitos da pandemia em indivíduos saudáveis impactados pela situação de distanciamento social. Se nada for feito, provavelmente enfrentaremos uma nova ‘pandemia’ no futuro, relacionada à saúde mental”, afirma o imunologista Wilson Savino, pesquisador do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do IOC e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM) e da Rede Faperj de Pesquisa em Neuroinflamação, sediados no IOC.
*Publicado ne edição 43 da revista Painel Alagoas
A partir de dados observados em pacientes e pesquisas em animais considerados como modelos experimentais, os cientistas argumentam que diferentes mecanismos podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais na pandemia de Covid-19. Em primeiro lugar, há evidências de que o novo coronavírus seja capaz de infectar as células do sistema nervoso central. Em segundo, a reação imunológica à infecção pelo vírus, marcada pela produção de grande quantidade de substâncias inflamatórias, pode ser um elo entre o patógeno e as manifestações psiquiátricas.
Diversas evidências indicam que essas substâncias alteram a plasticidade neuronal (capacidade de formar novas conexões entre neurônios) e reduzem a produção de neurotransmissores (moléculas que enviam sinais químicos entre as células neuronais, funcionando como mensageiros). Além disso, o processo inflamatório intenso pode afetar a produção do hormônio cortisol, cujo desequilíbrio está associado a transtornos psiquiátricos.
O estresse motivado pelo distanciamento social também pode levar a alterações imunológicas, com maior produção de substâncias inflamatórias mesmo em pessoas que não foram infectadas. Neste sentido, os pesquisadores chamam atenção para a maior vulnerabilidade de alguns grupos, como trabalhadores da saúde, idosos e obesos, que apresentam maior suscetibilidade tanto para quadros graves de Covid-19 quanto para distúrbios psiquiátricos. Também apontam medidas que podem amenizar os prejuízos para a saúde mental. Por exemplo, levantamentos realizados durantes os surtos de SARS e MERS, assim como no começo da epidemia de Covid-19 na China, indicam o potencial da informação adequada para reduzir o dano psicológico durante quarentenas. Estreitamento de laços por redes sociais, hábitos de sono e alimentação saudáveis também são citados pelos cientistas, que apontam ainda o potencial da música para modular os níveis de citocinas inflamatórias e a resposta neuro-imune-endócrina ao estresse.
Márcio Roberto Tenório de Albuquerque
Procurador-Geral de Justiça
Em tempos difíceis, a importância da instituição que defende os valores fundamentais da sociedade se torna mais evidente. Os atuais desafios, alguns inéditos em nossa história recente, demandam respostas inovadoras e atuação norteada pela excelência. No Dia Nacional do Ministério Público, quem está de parabéns é o povo alagoano. São muitas as frentes e inúmeras as batalhas, de modo que somente seria possível apresentar uma pequena amostra do trabalho cotidiano do Guardião da Cidadania.
A pandemia do novo coronavírus e os gravíssimos problemas gerados por minas de sal-gema localizadas no subsolo de alguns bairros da capital estão sendo enfrentados exemplarmente por forças-tarefas específicas. São questões de gravidade sem precedentes, mas os resultados efetivos demonstram o acerto das soluções construídas. Muitas vidas foram salvas por conta dos esforços voltados à prevenção do contágio da COVID-19. Milhares de famílias estão sendo protegidas de uma tragédia iminente e beneficiadas pelas medidas compensatórias. A atuação do Ministério Público do Estado de Alagoas tem sido decisiva em ambos os casos.
O sentimento de dever cumprido também se apresenta em outras áreas de grande repercussão, como o combate ao crime organizado (Gaeco) e à sonegação fiscal (Gaesf). Operações muito bem sucedidas foram realizadas e outras se encontram em fase de meticuloso planejamento. Além disso, foram firmados acordos de não persecução penal com desfechos positivos, a exemplo do que ocasionou o encerramento das atividades da quase totalidade dos lixões em Alagoas, com a destinação adequada de resíduos sólidos.
Nos últimos anos foram executados mais de 20 (vinte) projetos na atividade precípua do Ministério Público, enquanto outros estão em fase de elaboração. As áreas de abrangência dessas iniciativas são as mais diversas, sendo indicadores da adoção de uma gestão estratégica e representativos da preocupação institucional com o bem estar e a dignidade de nossa população. Meio ambiente, infância e juventude, direitos humanos, cidadania, patrimônio público, educação e saúde são algumas das áreas contempladas por recentes e exitosos projetos. Por terem sido amplamente reconhecidos e premiados pelo Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP em 2020, cada um em sua categoria, destacam-se: “Agosto Lilás”, contra a violência doméstica e familiar contra a mulher; “Pró Reservas”, de incentivo à criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN’s e “De Olho no Transporte Legal”, com o desenvolvimento de software para a fiscalização das vistorias realizadas nos veículos de transporte escolar.
A atuação pontual e incansável de procuradores e promotores de Justiça, nas mais diversas áreas de interesse público primário, não poderia faltar nesta singela lembrança. São eles, individualmente ou em conjunto, com o apoio de servidores, que têm construído a credibilidade do Ministério Público. Nesta data comemorativa temos orgulho de ter feito cada vez mais e, apesar das dificuldades, somos gratos por poder tão bem servir ao povo de Alagoas.
* Mateus Magalhães
Maradona estava com a bola aos pés. Ele estava
prestes a ensinar aos ingleses que canhões de guerra não ganham partidas de
futebol, e faria isso sem clemência, como uma bomba atômica largada de avião
sobre um capão de lavradores. Quando ele rodou no eixo do mundo e matou três
com apenas dois toques, Victor Hugo Morales, o histórico narrador argentino, levantou-se
na cabine. "Arranca pela direita o gênio do futebol mundial!".
A Copa do Mundo e as Malvinas Argentinas
Quando os homens criaram o futebol, alguns astros, no céu, deviam estar alinhados de uma maneira diferente. Nunca tive problemas para acreditar no invisível, daí o meu recorrente apego a deuses, a milagres, a magias. E, por isso, acredito que o futebol, quando nasceu, foi envolto numa névoa encantada, a qual lhe deu uma série de poderes inacreditáveis.
Um destes poderes, para mim, é justamente o de explicar com maestria não só as relações humanas, mas os conflitos geopolíticos do mundo – às vezes apazinguando-os, mas muitas vezes tornando-os ainda mais vivos. O futebol fez com que o Santos de Pelé parasse a guerra da Nigéria, mas também tornou-se o palco para a disputa entre os católicos e os protestantes, na Escócia, entre o Celtic e o Rangers, por exemplo.
A Copa do Mundo, então, já que é o maior momento do futebol, não ficaria à parte deste grande espetáculo. Na Copa da França, vocês lembram, em 1998, uma partida talvez tecnicamente desinteressante chamou mais atenção do mundo que qualquer gol de Ronaldo ou lançamento de Zidane: Estados Unidos 1, Irã 2, pela fase de grupos. Os países, inimigos políticos há décadas, caíram no mesmo grupo. E o governo do Irã, àquela altura, tratava o embate como uma guerra.
Mas os atletas iranianos, ao contrário, não. Fizeram da partida, inclusive, um grande ato de protesto contra o governo do país à época: porque, anos antes, o regime matara Habib Khabiri, então capitão da seleção. Entregaram flores aos atletas americanos, que retribuíram a gentileza, e ganharam na bola.
E quem consegue se esquecer de um certo Argentina x Inglaterra, numa certa Copa no México, com um certo baixinho canhoto com a camisa dez?
Em 1986, Maradona carregava o time da Argentina nas costas sozinho. Com algumas pontuais ajudas de Burruchaga, mas preferencialmente sozinho. Após derrotar o Uruguai nas oitavas, a Argentina faria frente à Inglaterra. E, quatro anos após a Guerra das Malvinas, o confronto ganhava ares de Odisséia. A Argentina enxergava nos pés de Maradona a possibilidade de conseguir sua vingança. E a seleção entrou em campo determinada a fazê-lo.
A Guerra das Malvinas foi um confronto bélico que envolveu os dois países apenas quatro anos antes, em 1982, pela posse de um arquipélago no sul do Atlântico. Com muitas perdas e muitos homens feridos, a Argentina saiu derrotada e teve uma localidade estratégica do seu território conquistada pelo imperialismo tardio dos ingleses. Mas, como já lhes disse, caiu nos pés de Diego Armando Maradona a possibilidade de fazer com que as coisas mudassem.
Mesmo que fosse só num campo de futebol. Mesmo que fossem só por noventa minutos.
Maradona estava com a bola aos pés. Ele estava prestes a ensinar aos ingleses que canhões de guerra não ganham partidas de futebol, e faria isso sem clemência, como uma bomba atômica largada de avião sobre um capão de lavradores. Quando ele rodou no eixo do mundo e matou três com apenas dois toques, Victor Hugo Morales, o histórico narrador argentino, levantou-se na cabine. "Arranca pela direita o gênio do futebol mundial!". Nesta tarde, nem os ratos saíram de suas tocas. O mundo inteiro estava de olho em Maradona. A prova física, real e de chuteiras da existência de Deus. E, para ele, deixar três ingleses no chão, batidos, indefesos, como que num passo rápido de tango que espalha no vento o perfume de mulher, não era suficiente. Ele queria mais.
Por Carlos Gardel, por Enrique Santos Discépolo, por Juan Domingo Perón. Pela tatuagem de Che Guevara em seu peito, pelos terreiros fechados na costa estuprada do Brasil, pela vergonha da guerra do Paraguai. Vejam Maradona mexer os braços. Vejam Maradona alinhar as pernas. Era absurdo, era incompreensível: este fenômenos da natureza condensado num homenzinho de um metro e sessenta de talento abissal. A língua de fora, como um touro louco, a seguir, a ganhar terreno. Quando ele derrubou mais dois, o mundo inteiro já sabia que ali, naquela tarde no México, seria marcado o maior gol da história do futebol. O goleiro saiu como um relâmpago, na vã esperança de conter o incontível. Como se fosse possível parar um deus.
Driblado o goleiro, chutada a bola para depois da marca da cal e estufada a rede, estava ali concretizado o maior lance da história de todos os esportes. Eternizado em inumeráveis canções e parágrafos, o mais bonito dos dois gols de Maradona contra a Inglaterra, naquela tarde abafada no México, contribuiu para a construção da figura mitológica de don Diego.
Pelos narradores que choravam nas cabines, pelas crianças que se abraçavam em Buenos Aires, pelos irmãos brigados que voltaram a se falar, pelos mortos que levantaram das tumbas para comemorar, pelos aleijados que voltaram a andar, pelos cegos que se suicidaram por não terem visto a magia do milagre mostrar-se possível pelos pés de um menino que crescera nas poblaciones, pela sabotagem europeia à indústria têxtil, e por outros tantos motivos, soube-se que este lance, este gol orgasmático, ficou sendo a vingança de um povo, um punho cerrado a gritar pela Argentina.
Pela guerra vingada. Por tudo isso, e por mais um pouco, é que a Copa do Mundo é um espetáculo. É por isso que o futebol explica a vida.
Veja o gol histórico com a narração emocionante de Victor Hugo Morales
*Texto publicado na edição 17 (junho de 2018) na revista Painel Alagoas
Por Leonardo Reis Cotta*,
Após o Outubro Rosa, mais um importante passo inicia-se pela prevenção. O foco passa a ser contra o câncer de próstata. Seguindo o exemplo, o Novembro Azul integra a programação mundial de conscientização dirigida aos homens sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoces do tumor de próstata e de outras doenças masculinas. Sabe-se que o homem vive, em média, sete anos a menos do que a mulher, sendo que 68% das pessoas entre 20 e 59 anos, que morreram no Brasil, são homens.
Eles não procuram os serviços de saúde, não praticam atividades físicas e não cuidam da alimentação regularmente; acabam tendo maior tendência para o desenvolvimento de DM, HAS, cânceres, etc.
O preconceito com o exame de toque retal ainda é forte. Apenas 32% dos homens brasileiros declaram ter feito o exame. Por outro lado, mais de 90% dos que temiam fazer o toque, após fazê-lo disseram que o farão novamente.
A falta de conscientização e a dificuldade para a assistência médica no sistema de saúde pública faz com que 30% dos pacientes do SUS sejam diagnosticados com câncer de próstata avançado.
O câncer de próstata, na fase inicial, não há sintomas, logo a consulta anual, com a realização do exame de toque e a mensuração do PSA, são essenciais para o diagnóstico precoce. Nessa fase mais de 90% dos pacientes são tratados e curados.
Há diversos fatores de risco para o câncer de próstata: história familiar, má alimentação, hábitos de vida não saudáveis (sedentarismo, tabagismo, alcoolismo). Adotar uma dieta rica em alimentos que são fonte de licopeno (como tomate e frutas vermelhas) e adotar hábitos saudáveis auxiliam na prevenção, não só do câncer de próstata como de outras doenças.
Novembro Azul, mês de realização da campanha, realizada para mudar de vez o cenário nacional, quebrando paradigmas e trazendo esclarecimentos que visam mudar o comportamento masculino quando o assunto é saúde, sobretudo quando envolve a próstata".
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás do câncer de pele. Em valores absolutos, é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando 10% do total de cânceres. A taxa de incidência do câncer de próstata é seis vezes maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento.
*Publicado na edição 42 da Revista Painel Alagoas
O número de desempregados no país aumentou 1,1 milhão em 3 meses e chega a 13,8 milhões. Em um ano, o Brasil perdeu 12 milhões de postos de trabalho e viu a população ocupada encolher para o menor contingente já registrado pela pesquisa, iniciada em 2012.
O que significa que o desemprego no país saltou para uma taxa recorde de 14,4% no trimestre encerrado em agosto. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), divulgada no fina de outubro passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a pesquisa, esse aumento está relacionado ao crescimento do número de pessoas que estavam procurando trabalho. No meio do ano, havia um isolamento maior, com maiores restrições no comércio, e muitas pessoas tinham parado de procurar trabalho por causa desse contexto. Agora, a gente percebe um maior movimento no mercado de trabalho em relação ao trimestre móvel encerrado em maio.
O índice de 14,4% corresponde a um aumento de 1,6 ponto percentual em relação ao trimestre encerrado em maio (12,9%), e de 2,6 pontos percentuais frente ao mesmo intervalo do ano passado. O resultado ficou acima da mediana das expectativas de 28 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, que apontava para uma alta da taxa para 14,2%.
Os dados mostram que foram fechados 4,3 milhões de postos de trabalho em apenas 3 meses, levando o total de desempregados a 13,8 milhões de pessoas, um aumento de 8,5% frente ao trimestre anterior.
"São cerca de 1,1 milhão de pessoas a mais à procura de emprego frente ao trimestre encerrado em maio ", destacou o IBGE. No mesmo trimestre de 2019, o país tinha 12,6 milhões de desempregados.
Apesar o salto do número de desempregados no país, o recorde da série foi registrado no trimestre encerrado em março de 2017, quando o número de desocupados em busca de um trabalho chegou a 14,1 milhões.
*Publicado como editorial da edição 42 da Revista Painel Alagoas
Nem a mais pessimista das previsões poderia sugerir um ano tão atípico. Embora seja possível argumentar a favor de alertas como o de Bill Gates, feito há 5 anos, e análises como a de Nassin Taleb, contestando o rótulo de imponderável, a verdade é que ninguém imaginaria a profundidade das mudanças impostas pela COVID-19.
Neste contexto, o assombroso número de mais de 1 milhão de óbitos atesta resultado amplamente negativo. Ainda que a escalada diária dos números, por vezes, pareça tentar relativizar o impacto de uma vida, esta será a principal e mais dolorosa lembrança da pandemia.
Além disso e à medida que se inicia período de flexibilização do fluxo de pessoas, é inevitável lembrar dos longos períodos em quarentena. O isolamento social imposto na tentativa de diminuir a velocidade de propagação do vírus teve pico de 63% da população e nos manteve afastados de pessoas queridas e de hábitos outrora inquestionáveis. Economicamente, o impacto era inevitável: no Brasil, mais de 700 mil empresas fecharam as portas e o último trimestre apresentou tombo histórico de 9,7% no PIB. Podemos enumerar, também, as crianças tanto tempo longe da escola, o aumento do desemprego...enfim, a lista é extensa.
Entretanto, sem a menor intenção de mostrar um copo meio cheio – quando se perdem vidas, o vazio impera – apresenta-se a oportunidade de observarmos o legado colateral otimista exposto pela pandemia: a valorização da ciência. Desde o primeiro caso, ela foi crucial para elucidar o agente causador da COVID-19. Somente por meio do sequenciamento genético nos foi permitido identificar o coronavírus, posteriormente chamado de Sars-CoV-2. Em seguida, talvez ofuscada pela disseminação das dúvidas ante o desconhecido, pouco crédito foi dado à ciência quando abordagens diagnósticas, como os testes moleculares e os sorológicos, começaram a ser apresentadas. Neste sentido, a pesquisa e desenvolvimento em diversas empresas e instituições possibilitaram a sadia diversidade de soluções disponíveis.
Se a prática da ciência, de maneira contínua, tem permitido o vital aumento de possibilidades diagnósticas, o conhecimento por trás das vacinas segue o mesmo curso. Se nem as mais estudiosas e experientes autoridades no assunto concordam entre si sobre quando uma vacina estará disponível (e acessível) no país, existem apenas duas certezas sobre o tema: ela chegará e será graças à ciência.
Esta tem sido mais uma dentre as incontáveis mudanças em nosso cotidiano: estamos todos mais conectados e próximos à ciência, tentando entender, por meio dela, o que acontece. De acordo com pesquisa recente do Ibope, 58% dos brasileiros acreditam que a ciência será mais valorizada após a pandemia. Já o Google mostra que buscas pelo termo “artigo científico” tiveram salto de 67% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Instituições de pesquisa, empresas de diagnóstico e produtores de vacina tiveram relevância ampliada para a sociedade.
Em meio a uma conjuntura predominantemente negativa, nasceu o que podemos chamar de Momento Pró-Ciência. Um período potencialmente transformador de seu protagonismo, cujos impactos podem moldar o futuro. A importância dada à ciência e a velocidade de resposta a futuros novos surtos serão diretamente proporcionais. O momento vai passar, mas tais reflexões talvez concentrem a herança mais importante deixada pela COVID-19.
No Brasil, é preciso entender incentivos à saúde e pesquisa básica como investimentos imprescindíveis ao bem-estar da população. Recorrer à ciência com surtos já em curso custa mais dinheiro e mais vidas. Torna-se igualmente crítico repensar os modelos atuais das universidades, questionando (a falta de) alinhamento à agilidade e necessidades do mundo “lá fora” e à postura relativamente contemplativa ao fomento do estado. Soma-se ainda a necessidade de maior participação da iniciativa privada em meio a esta dinâmica, expandindo presença local e ampliando parcerias com entidades públicas.
Acima de tudo, esse ecossistema demanda atuação sinérgica, não permitindo se tomar partido (sem o perdão da palavra). Nenhuma esfera deve se preservar da responsabilidade e nenhum de nós esquecer da protagonista do momento: é verdade que ainda não temos resposta para tudo, mas certamente sem a ciência, não teríamos para nada.
* é executivo sênior de marketing para a América Latina da Thermo Fisher Scientific.
Espaço para postagens de opinião e expressão dos internautas