Por Daniel de Faria Galvão*
O escritor e crítico literário José Miguel Wisnik, em seu livro “Maquinação do mundo” (2018), em que debate a existência de intrínsecas relações entre a obra poética de Carlos Drummond de Andrade e a crítica à exploração minerária, especialmente pela VALE, já afirmava de maneira enfática que a o escritor tocou em uma ferida aberta, a degradação ambiental e da vida afetadas pela mineração.
Essa ferida toma forma à luz das inúmeras violações à segurança laboral praticadas no crime socioambiental de Mariana. A esse respeito, a juíza do trabalho Graça Maria Borges de Freitas, da Vara do Trabalho de Ouro Preto, responsável por julgar as ações indenizatórias movidas pelas famílias dos trabalhadores mortos, afirmava ser imprescindível não esquecer que “o maior desastre ambiental da história do Brasil foi também a tragédia anunciada dos níveis precários da segurança do trabalho em nosso País”.
Nesse sentido, foram verificadas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais (SRTE-MG) inúmeras falhas na segurança da barragem como dispositivos de monitoramento ausentes por supressão e/ou inoperantes; dispositivo de monitoramento inexistente; não cumprimento de programa de manutenção; adiamento de neutralização; não eliminação de risco conhecido; falta de critérios para correção de inconformidades; ausência de projeto; falta de manutenção preventiva.
Em outras palavras, as mortes de 19 pessoas em Mariana (incluindo 14 trabalhadores e dentre esses 13 terceirizados) não se deram por acidente. Também não ocorreram por acaso os danos irreparáveis às “comunidades rurais e urbanas, inclusive indígenas, empresas, cidades, proprietários de terra ribeirinhos, ao menos um parque estadual, pescadores, turistas, fauna e flora e todos os que dependiam direta ou indiretamente do Rio Doce para sobreviver” (TRT3, 2018).
Esses danos e violações são o resultado da superexploração dos trabalhadores e da destruição ambiental ínsitas da atividade mineradora em sua sanha pelo lucro e que agora, pouco mais de três anos depois do crime de Mariana, dão novamente as caras no crime de Brumadinho. Embora seja cedo para especificar com precisão todos os danos provocados pelo crime da VALE (dona de 50% da SAMARCO, empresa responsável pelo crime de Mariana em 2015) dados preliminares dão conta que o rompimento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, ocasionou resultados simplesmente aterradores. São centenas de mortos e desaparecidos, sendo boa parte desses mortos e desaparecidos trabalhadores e terceirizados da própria Vale.
E engana-se quem possa pensar que a lógica do lucro a todo custo praticada pela Vale seja recente na atividade de exploração minerária. É verdade que os últimos 50 anos, os malefícios da indústria mineradora tornaram-se ainda mais perniciosos. Como relatado pelo economista francês François Chesnais, as décadas finais do século XX e as duas primeiras do atual século representaram uma verdadeira crise civilizatória, com a intensa modificação do modelo produtivo vigente. O capitalismo adota um modelo que parece não se preocupar com qualquer demanda outra que não seja a própria lucratividade. A financeirização do capital (criando um capital majoritariamente sem lastro e sem qualquer retorno para a atividade produtiva) e a busca cada vez mais crescente pela competitividade fizeram ressaltar os problemas de um sistema baseado em premissas originariamente excludentes.
Por outro lado, é imperioso ressaltar que o processo de destruição da vida humana e do meio-ambiente revelam base secular. É o que já demonstrava Zola, em fins do século XIX, quando expôs em Germinal as desumanizantes condições laborais dos trabalhadores das minas de carvão do norte da França. É o que também revelava a corrida pelo ouro do período colonial brasileiro, na mesma castigada região das Minas Gerais, palco dos dois crimes sob análise. A escravidão e os maus tratos praticados contra o povo negro refletem seus efeitos até os dias atuais, na massa de cidadãos desumanizados, sem direitos mínimos garantidos e continuamente discriminados por sua cor e condição social.
A realidade é que esta lógica de dilaceração da natureza como um todo (com a vida humana e o meio-ambiente como elementos da natureza) está no cerne da mineração e o que os defensores de um "capitalismo verde/sustentável" tem dificuldade de enxergar é que a mera mudança da legislação ambiental fiscalizatória está longe de representar uma solução significativa para o problema. Uma resposta realmente efetiva envolve a mudança radical do modelo de sociedade vigente, o que envolve não só a alteração de uma lógica de consumo desenfreado, mas de uma falsa noção de "progresso", baseada em um aumento da produtividade e no desenvolvimento ótimo das forças produtivas. Como colocado pelo sociólogo Michael Löwy, deve-se desconstruir o conceito de progresso comumente aplicado, de forma a incluir em sua posição central um desenvolvimento que leve em conta não o tempo do homem, mas uma noção de tempo muito mais expandida, o tempo da natureza.
*É advogado e mestrando em Direito do Trabalho pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
*Publicado na edição 28 da revista Painel Alagoas
*Publicado originalmente como editorial da edição 27 da revista Painel Alagoas
Por Marcos Vasconcelos Filho*
Por Sérgio Henrique da Silva Pereira*
Oposições. De um lado, os que amam Juan Guaidó e odeiam Nicolás Maduro. De outro, os que amam Nicolás Maduro e odeiam Juan Guaidó. No Brasil, não é diferente. Os que amam Lula e odeiam Jair Messias Bolsonaro; e os que amam Jair Bolsonaro e odeiam Lula.
O que está acontecendo no bairro do Pinheiro é sério e preocupante, é necessário todos os ouvidos e atenções, mas apavorar a população com desinformações e “achismos”, fazer demagogia ou utilizar o drama de quase 20 mil pessoas para política e politicagem é intolerável. Isso não ajuda a focar no real problema que é descobrir a causa das rachaduras e afundamento de solo em grande parte do bairro.
Do lado de fora do Pinheiro, deputados e vereadores armam palco para se debater o sexo dos anjos, criticam adversários políticos, se exacerbam na demagogia se proclamando “salvadores” do povo, alguns consideram o problema um “caso de polícia”, atiram para todos os lados, cobram sem saber a quem e confundem mais os moradores, aumentando entre eles a sensação de insegurança que a própria situação traz a cada uma dessas famílias.
*Publicado originalmente como Editorial na edição nº 26 da revista Painel Alagoas
Por Carlito Lima*
Carnaval é a maior manifestação popular da cultura brasileira. Entretanto não é uma invenção brasileira, nem é celebrado apenas no Brasil. A História do Carnaval remonta à Antiguidade na Mesopotâmia e ao Renascimento na Itália.
No mundo moderno a depressão ganhou inúmeros adeptos, pois além dos seus próprios medos, os seres humanos passaram a ter que enfrentar todos os desajustes presentes na atual sociedade.
*Publicado originalmente na edição 25 da revista Painel Alagoas
Zygmunt Bauman
Marcelo Sandes*
Pensar a campanha Janeiro Branco é conversar e refletir um pouco sobre as nossas subjetividades: como dimensionamos e nos situamos na vida, tenhamos ou não maior consciência disso. De uma forma ou de outra, necessariamente somos afetados por cada condição particular de funcionamento que esboçamos ou adotamos.
Daí a complexidade e delicadeza que é falar de Saúde Mental - finalidade da campanha -, começando pelo desafio que é conceituar tal condição. Até que ponto não estar acometido por uma patologia, síndrome ou disfunção classificável é estar saudável? E se estou acometido, até que ponto o meu emocional pode influenciar e me ajudar no necessário processo de superação?
O Janeiro Branco convida a um exercício de introspecção que nos habilite a olhar e estar mais atentos à nossa subjetividade, ao nosso emocional; às pulsações, impressões e sinais mais sutis que tantas vezes nos escapam, mas que poderão, oportunamente, pela regularidade e efeito cumulativo, servir de lastro às nossas ansiedades e depressões.
Propõe ainda que Saúde Mental implica perspectiva de bem-estar e qualidade de vida para além do conceito estrito de ausência de transtornos mentais, nos estimulando a pensar e ver os indivíduos em sua totalidade, em relação e interação, de forma integral, considerando o contexto social, político e histórico em que se inserem.
Nessa perspectiva, falar de Saúde Mental é falar em prevenção, cuidado, atenção, solidariedade e empatia. É falar do bem-estar e da qualidade de vida que precisamos nos propor a construir a cada dia, a cada enfrentamento e superação, nas idas e vindas das nossas potencialidades e limitações.
É, enfim, o olhar que se faz necessário em relação a nós mesmos e às pessoas com as quais nos relacionamos no cotidiano - em casa, no trabalho, nas interações sociais -, de valorização do diálogo, da capacidade de escuta e do respeito mútuo, trabalhando assim a questão da prevenção, e do compromisso pessoal com a construção de uma vida mais satisfatória e produtiva.
*É jornalista e psicólogo
-Publicado originalmente em janeiro de 2018 no portal Painel Notícias
-Publicado na edição 24 da revista Painel Alagoas
*Frei Betto
Até o século III, celebrava-se o nascimento de Jesus a 6 de janeiro. A comemoração no dia 25 de dezembro teve origem entre os séculos II e III, quando teólogos pretenderam determinar a data do nascimento de Jesus, não indicada nos Evangelhos.
*Publicado originalmente na edição 23 da revista Painel Alagoas
Milena Andrade*
Quem aí já parou para ver de perto a empregada doméstica de casa ou diarista trabalhando? Geralmente, quem precisa — ou acha que precisa — pagar por essa mão de obra, ou trabalha fora ou vai cuidar de coisas “mais importantes” enquanto o serviço é feito.
Pois bem. Na semana passada, tive a chance de presenciar a diarista finalizando a limpeza da casa ao chegar um pouco mais cedo do trabalho. Eram cinco horas da tarde. Ela tinha começado a fazer a faxina de manhã cedo e continuava. Pedi para ela ir tomar um banho e ir pra casa, afinal de contas, já estava tudo ok e ela devia estar exausta. Como resposta ouvi “não gosto de fazer nada mal feito, a casa tava muito empoeirada”. Insisti, mas não adiantou.
*É superintendente de jornalismo da Secretaria de Comunicação do Estado de Alagoas
*Publicado originalmente na edição 22 da revista Painel Alagoas
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