E então, meu querido leitor, minha querida leitora, não há dias em que você acorda profundamente cansado, mas mesmo assim, seu senso de responsabilidade o faz se levantar da cama e, após o rápido ciclo banho-café-vestimenta, partir para mais uma jornada de oito a dez horas de trabalho?
Pois é, acontece com você, comigo e com boa parte das pessoas que nos cercam. E não há o que fazer pois a hipótese de um prêmio inesperado é, como já abordei por aqui, bastante remota, ainda que atual febre das bets pareça contradizer a lógica. A idade e o cansaço parecem andar de mãos dadas, ainda me lembro de quando mais jovem e à época da universidade, era capaz de ir dormir altas horas da noite após uma noite festiva e no dia seguinte estar de pé cedo para um novo e bem disposto dia. E é justamente com este foco que inicio meu artigo de hoje: o que você está fazendo para se preparar para uma vida mais tranquila quando sua capacidade de ganhar dinheiro – leia-se acordar cedo e trabalhar – já não for a mesma de quando era jovem? Ganha uma hora extra de sono quem percebeu que vamos falar de previdência.
Basicamente a previdência é um tipo de seguro social destinado a garantir a sobrevivência do trabalhador em caso de perda de sua capacidade produtiva, quer por acidente ou outros eventos críticos, quer por idade. Mas para se ter esse direito é necessário que o trabalhador ativo contribua regularmente com esse objetivo.
Parte da questão está resolvida para aqueles que trabalham com vínculo empregatício, pois as empresas, privadas ou públicas, em combinação com a contribuição obrigatória de seus colaboradores ou servidores, garantirão parte de sua futura subsistência por meio da previdência oficial. Por exemplo, se você trabalha em uma empresa privada, o INSS garante – respeitadas algumas regras – o benefício futuro – pois mensalmente recebe uma contribuição proporcional ao seu salário, parte paga pela sua empresa e parte paga por você, mediante desconto em seu salário: observe seu contracheque e veja se não tenho razão. Mecanismo similar existe para o funcionalismo público. Já os que trabalham sem vínculo – autônomos, empreendedores em geral – devem prestar mais atenção pois, na ausência do empregador arcando com parte do custo previdenciário, precisarão se inscrever e contribuir para o INSS caso queiram receber os benefícios futuramente.
A outra parte caberá a cada um, dependendo do nível de renda que deseje receber no momento do descanso. Explico: atualmente (setembro/2024), o benefício máximo garantido pelo INSS é de R$ 7.786,00, o chamado teto previdenciário. Assim, por maior que seja o salário recebido por um trabalhador, tanto suas contribuições atuais quanto seus benefícios futuros serão limitados a este valor. Exemplificando, se o Sr. João recebe atualmente R$ 2.000 de salário, sua aposentadoria será próxima a esta quantia, não sendo, portanto, necessário que ele faça uma reserva para conseguir um maior valor. Atitude diferente deverá ter o Sr. José, pois, ganhando salário na faixa de R$ 15.000 mensais, precisará constituir uma reserva enquanto estiver na ativa, sob pena de, ao se aposentar, ter seu padrão de vida reduzido ao teto do INSS. Alguns acham isto injusto, mas temos que tomar cuidado com as simplificações já que, mesmo com esse belo salário, as contribuições feitas pelo Sr. José e sua empresa à previdência oficial também estão limitadas ao teto.
Há várias formas de se fazer tal reserva, desde a compra de imóveis para obtenção de renda com aluguel até a contratação de planos de previdência complementar além de, não esqueçamos, inúmeros veículos de poupança para o longo prazo, como fundos de investimento comercializados na rede bancária.
O mais importante é assumir que, quanto mais cedo você pensar no problema, mais barato ele fica. Por exemplo, suponha que o Sr. José (35 anos) pretenda parar de trabalhar aos 65 anos, tendo a expectativa de que viva até os 85. Caso consiga aplicações financeiras que lhe rendam 2% ao ano além da inflação, precisará depositar R$ 403,06 mensais durante estes 30 anos, para garantir R$ 1.000 de renda mensal pelos 20 anos de sua sobrevida (valores expressos com poder de compra atual). Porém, caso demore para pensar no assunto e somente aos 45 anos inicie a construção de sua reserva (20 anos de poupança, portanto!) precisará depositar R$ 672,97 mensais para chegar ao mesmo benefício, valor que sobe para R$ 1.493,32 caso inicie apenas aos 55 anos. Em resumo: não dá para brincar com isso, não é mesmo?
Um abraço e até a próxima!
Bem, e se você, meu querido leitor, minha querida leitora, for alguém financeiramente arrumado e assim, ao final de cada mês, conseguir gastar menos do que ganha, gerando assim uma sobra no orçamento? Seguramente seu rico dinheirinho não há de ficar no colchão e você decerto utiliza o banco onde tem conta para fazer suas aplicações... Acertei?
Boa parte das pessoas acaba ficando mesmo é na boa e velha caderneta de poupança, mas há inúmeras outras possibilidades, por meio dos fundos de investimento que, dependendo de alguns fatores, pode até mesmo oferecer rentabilidade superior sem riscos efetivamente maiores que o da caderneta.
Um fundo de investimentos é um instrumento financeiro que reúne recursos de diversas pessoas (físicas ou jurídicas) com o objetivo de aplicá-los em títulos, valores mobiliários e, mais recentemente, empreendimentos imobiliários. Fazendo analogia com um edifício, fica fácil de compreender seu funcionamento: os moradores (investidores) transferem ao síndico (gestor do fundo) a administração do prédio (carteira de ativos do fundo).
O patrimônio líquido de um fundo (ou seja, seus ativos diminuídos de seus passivos) é subdividido em cotas, que conferem iguais direitos e deveres a seus cotistas. Exemplificando: se o Fundo A tem R$ 2 milhões aplicados em títulos públicos e contas a pagar no valor de R$ 200 mil, seu patrimônio líquido será de R$ 1.800.000; e, caso tenha 1.500.000 cotas emitidas, cada cota valerá R$ 1,20. Um investidor que aplique R$ 12 mil, possuirá, portanto, 10 mil cotas.
Há muitas vantagens em se aplicar desta forma, dentre as quais poderíamos citar: (1) seu dinheiro passa ser gerenciado por equipes especializadas; (2) a simplicidade da operação, tanto na aplicação quanto no resgate dos recursos (você compra e vende as cotas); (3) a economia de tempo – imagine as horas gastas, por exemplo, analisando-se balanços de empresas caso você decidisse aplicar em um fundo de ações; (4) o custo relativamente baixo, pois informações financeiras relevantes quase nunca vêm de graça; (5) o acesso a ativos que sozinho você não teria condições de comprar – imagine, por exemplo, investir em várias lojas de um badalado shopping center, com apenas R$ 20 mil reais... Adquirindo cotas de um fundo imobiliário, isso é possível; (6) diversificação das aplicações, diluindo assim o risco. Com apenas R$ 500 (ou até menos!) é possível virar sócio de várias empresas que compõem a carteira de um fundo de ações, o que seria impensável se você optasse por adquirir as ações diretamente em bolsa, provavelmente concentrando os seus recursos em uma única ação.
Claro que tudo isso não sai de graça, sendo cobrada uma taxa de administração (TAD) para a execução deste serviço. É uma cobrança justa dada a sofisticação do trabalho realizado pelos gestores e administradores do fundo, o que não significa dizer que você não deva avaliá-la. Alguns detalhes esclarecedores: (1) A TAD já é diariamente apropriada para efeito de cálculo do valor das cotas, o que significa dizer que a rentabilidade que os prospectos divulgam, já está líquida desta cobrança; (2) Quanto maior a aplicação mínima exigida pelo fundo, menor a TAD cobrada: em um mesmo banco, para um mesmo tipo de fundo (por exemplo renda fixa) a TAD pode ir desde 0,5%aa (aplicação inicial de R$100.000) até 4,0%aa (aplicação inicial de R$100); (3) Tudo o mais constante, quanto maior a TAD, menor a rentabilidade; ao escolher fundos, portanto, decida pelo que cobrar a menor TAD para os recursos que você dispõe, trocando para um mais barato conforme seu capital crescer.
Outro ponto também a avaliar recai na tributação pois, salvo raríssimas exceções, sobre o rendimento dos fundos incide o imposto de renda, calculado a partir de diferentes alíquotas em função da modalidade do fundo e dos prazos de aplicação. Antes de ingressar em um fundo, vale à pena simular os resultados líquidos que você receberá, principalmente naqueles mais conservadores, cujo principal concorrente é a poupança, livre do imposto. Por exemplo, se passados dois meses, a poupança rendeu 1,00% e um fundo referenciado 1,10%, atenção pois após a incidência do IR, o fundo terá rendido apenas 0,85%.
Enfim, o assunto é extenso e merecerá artigo futuro, pois há várias modalidades interessantes para se investir, desde os tradicionais fundos referenciados DI ou de renda fixa, até instrumentos mais sofisticados, como fundos de ações, fundos imobiliários ou fundos multimercado. Vale conferir.
Um abraço e até a próxima!
O sapo e a panela
Reza a lenda – ecologicamente incorreta, diga-se – que se colocarmos um sapo em uma panela de água fervendo ele instintivamente pula, salvando-se assim da queimadura; entretanto se o colocássemos em uma panela com água fria e a aquecêssemos lentamente, ele acabaria morrendo cozido.
Bem, nunca fiz nem nunca farei tão cruel experiência, mas a fábula cabe como uma luva quando falamos em finanças pessoais; o sapo representando nosso orçamento, a temperatura da água a renda que temos à nossa disposição e a panela a armadilha do desequilíbrio nas próprias contas. Confuso? Então calma lá, meu querido leitor, minha querida leitora, que já me explico!
Imagine que você viva atualmente com um orçamento em torno dos R$ 3 mil mensais, com os quais pague seus compromissos do dia a dia. Para ilustrar a primeira situação, suponha agora que você inesperadamente seja promovido a quatro cargos acima do seu, passando a receber, de uma hora para outra, três vezes mais. Salvo melhor juízo, e mesmo sabendo que com uma maior renda, seu conforto irá aumentar, acredito que dificilmente você iria, de uma hora para outra, mudar padrões de comportamento tão rapidamente assim: não iria, por exemplo, mudar-se de onde mora, trocar a escola das crianças ou o carro ainda não pago. A mudança em seu patamar, por ter sido súbita, possivelmente demoraria até ser absorvida, tempo suficiente para planejar com calma o que fazer e consequentemente fugir do desequilíbrio orçamentário. Conheço algumas poucas pessoas (essa não é uma situação comum, atenção!) que viveram situações similares e que, não obstante tenham modificado seu padrão de vida para melhor, foram conscientes o suficiente para não torrarem todo o dinheiro extra, acumulando algum patrimônio após um longo período controlado. Dentre estes, alguns adquiriam imóveis, outros acumularam recursos em aplicações financeiras, e uma fração pequena, acabou partindo para montar o próprio negócio, que tal?
Agora suponha que, em um outro contexto, você receba a cada ano um aumento de R$ 600 mensais, de forma que a renda de R$ 9 mil só seja atingida daqui a 10 anos. Claro que não posso afirmar que as coisas irão se passar exatamente como descreverei a seguir, mas há grandes chances de ficarem bem próximas deste cenário. Como o aumento gradual não chegaria a levá-lo a outro patamar de renda, o mais provável é que você incorporasse os recursos extras em suas despesas: por exemplo, passar a frequentar um restaurante mais caro, mudar o guarda-roupa com maior frequência, trocar o celular pelo modelo mais moderno. Ou seja, analogamente ao sapo que não percebe a mudança de temperatura pois se acostumou à água mais morna, seu orçamento também não, e como resultado – pelo menos é o que diariamente percebo em quem me consulta – é que 10 anos depois de iniciado processo, o corre-corre atrás das contas ainda continuaria. Poucos são os que conseguem sair deste círculo vicioso, deixando passar assim, a oportunidade de uma vida financeira saudável.
As duas situações que ilustrei são, obviamente, excludentes, ou seja, ou você viverá uma evolução profissional-financeira súbita (a primeira) ou gradual (a segunda). Infelizmente, o mundo nos mostra que é mais comum o segundo caso, ainda que sonhemos com o primeiro. Não é à toa que as filas para jogos em loteria dão voltas nos quarteirões.
Voltando à realidade e considerando que é quase certo que você se situará no caso mais comum (pode até fazer a sua fezinha no jogo, mas não o tenha apenas como sua única solução), o que eu poderia sugerir para ajudá-lo a, mesmo fazendo parte do segundo grupo, usufruir dos benefícios do primeiro, após alguns anos?
Procurando não me alongar – tenho dado dicas específicas ao longo dos meus outros artigos – recomendo parcimônia em relação aos aumentos. Nem muito lá, nem muito cá, uma boa técnica seria usar o princípio do “pague-se primeiro” reservando parte da renda adicional que iria receber para a melhoria do seu dia a dia, e parte para acumular para futuros grandes projetos. Na simulação citada, você poderia guardar metade e absorver (isto é, gastar!) a outra metade. No primeiro ano após o aumento, você teria mais R$ 300 mensais para o consumo e guardaria R$300 mensais; no segundo ano, com mais R$ 600 de acréscimo no salário, você teria mais R$ 300 mensais para o consumo, guardando os outros R$ 300. Note que procedendo assim, já no décimo ano você terá dobrado seu atual patamar de consumo, podendo gastar R$ 6.000 mensais... noves-fora que terá guardado R$ 198.000 um patamar de consumo (ao todo para metade, por exemplo e, ter a satisfação de, após 10 anos, viver em um patamar de consumo de R$ 6.000, guardando R$ 3.000 mensais. Fazendo assim, após os 10 anos você teria dobrado seu padrão de vida e, simultaneamente, poupado R$ 198 mil... E o que é melhor, supondo uma aplicação mensal a 0,6%am, os juros teriam feito esse capital se transformar em R$ 257.929. Nada mau, não?
Um grande abraço e até a próxima!
Um é R$3, três é R$10...
Gritava o camelô diante de sua barraquinha vendendo pacotes de biscoito. Sinceramente fiquei na dúvida se sua ideia era nos chamar a atenção para o erro de português – o correto seria três são R$10 – e assim desviar nosso foco de sua aparente promoção: os três pacotes não deveriam custar no máximo R$9? Pois foi justamente o nosso amigo vendedor ambulante quem me trouxe o tema para o artigo de hoje: as promoções e as liquidações. Como bom brasileiro, também adoro uma, mas quantas vezes, querendo aproveitar uma suposta vantagem, não devo ter cometido alguns dos erros que cito a seguir? Você também, querido leitor, querida leitora, é louco/louca por uma promoção? Então me acompanhe!
(1) Contas que não fecham: Como no caso anunciado no título, canso de ver, até mesmo em supermercados, embalagens econômicas cujo preço por litro, por exemplo, acaba saindo mais caro do que se comprássemos as embalagens menores. Algumas são óbvias como as do camelô, outras nem tanto como por exemplo a do xampu de 200ml que sai a R$7 e a de 500ml que sai a R19. Neste caso, para não errar, é interessante fazer as contas, caso na própria etiqueta não esteja citado o preço por litro. Comprando cinco tubos de 200ml (um litro), você pagará R$35, mais barato portanto que se comprasse dois tubos de 500ml (um litro), quando então pagaria R$38.
(2) Descontos sobre preços que aumentaram: Também não é incomum de encontrarmos lojas – principalmente as de vestuário – onde, antes de anunciada a liquidação, os preços são majorados, fazendo com que o consumidor mais desavisado acredite estar realmente levando uma vantagem. Um exemplo numérico esclarece o ponto que quero ressaltar: uma camisa que em julho custava R$120 passou a custar R$150 em agosto; agora em setembro, na recente liquidação com descontos arrasadores de 20%, ela voltará a custar os R$120 originais. Se o preço para o artigo está dentro do razoável, cabe no seu orçamento, não há problema em levá-lo para casa; mas faça pelo seu preço e não pelo desconto anunciado, que tal?
(3) Descontos progressivos: Tenho visto várias lojas usando e abusando dessa modalidade. Por exemplo, na compra de uma peça, ganhe 10% de desconto, na compra de duas peças, ganhe 20% de desconto sobre o total da nota, na de três ganhe 30% sobre o total, e assim sucessivamente. Confesso que tentei levar dez peças, já que seguindo a lógica do estabelecimento, teria desconto de 100%, ou seja, não pagaria nada. É claro que não colou, pois usualmente a promoção é limitada a cinco peças. Neste caso, cada item adquirido irá lhe custar a metade do que está anunciado. E isso é bom? Bem, desde que não estejamos diante do que citei no item anterior, acho razoável. Costumo enrolar a compra de vestuário ao longo do ano à espera destes momentos pois assim pago menos e me disciplino a não ficar me encantando com tudo que vejo nas vitrines. Mas enfatizo: faço isso em lojas que ficam em meus itinerários cotidianos, o que possibilita o monitoramento dos preços.
(4) Liquidação da estação: Chegando o final do verão ou o final do inverno, é comum lojas queimarem seus estoques por preços tentadores e assim prepararem-se para as novas coleções que entram. Recomendo muito cuidado, principalmente em cidades onde estas estações costumem apresentar temperaturas extremas. Por exemplo, no Rio de Janeiro, com verões que chegam a mais de 50 graus, não sei qual a vantagem de se comprar casacos ou roupas de lã em agosto já que possivelmente só sairão do armário no próximo ano. Antecipa-se o gasto em algo que sequer teremos certeza de que conseguiremos usar no futuro... vai que você engordou ou emagreceu, não é mesmo?
(5) Trocas: Este é outro ponto importante a se observar pois é usual haver restrições à troca em produtos adquiridos em liquidações ou promoções, salvo, acredito eu, no caso de defeitos. Ora, ora, se a regra é essa, cuidado redobrado na aquisição nestas épocas. Chego até mesmo a não incentivar sua compra caso seu destino seja presentear um amigo ou parente.
(6) Urgência: Por último, não poderia deixar de citar aquilo que acho o fator mais importante de todos: você está precisando mesmo adquirir aquele produto ou serviço ou ficou animado apenas pela promoção? Os mais consumistas sempre dirão, claro, que aquilo era indispensável. Mas será que esta compra não irá desequilibrar seus orçamentos? Não custa lembrar-se de um velho ditado: um real ganho a mais tem o mesmo valor que um real economizado. Já parou para pensar nisso?
Um grande abraço e até a próxima!
Deve compensar...
Dizem que são as épocas de crise que criam as melhores oportunidades e, devo admitir, que concordo inteiramente com o dito popular, ainda mais em um país como o Brasil onde o empreendedorismo é tão arraigado e festejado em nosso espírito. Apenas para citar um exemplo que até hoje me impressiona, lembro-me que há muitos anos, antes da chegada do Plano Real, quando a inflação chegava a quase 100% ao mês, havia gente que faturava uns trocados recarregando isqueiros descartáveis pela metade do preço a que eram vendidos em lojas... Pode até parecer uma bobagem minha, mas mostra bem a criatividade que acompanha o brasileiro, viva!
O momento atual também tem revelado este lado do nosso povo, que arrisca o sucesso em pequenos empreendimentos que vão desde a simples produção caseira de quentinhas para concorrer a melhores preços com os restaurantes, até a projetos mais sofisticados, envolvendo aplicativos e páginas na Internet que oferecem os mais diversos serviços a preços assustadoramente baixos, mas com considerável capacidade de ganho pelo volume de acessos. Não tenho a menor dúvida de que será esta turma afoita – no bom sentido – que conseguirá driblar as adversidades em nossa economia.
E, confirmando a minha percepção, dentre outros dados, o Mapa de Empresas para o primeiro quadrimestre de 2024 (veja o link ao final do artigo), mostra que nestes quatro meses, foram abertas 1.456.958 empresas no país, o que me fez decidir sobre o tema no artigo de hoje, onde trago algumas sugestões para que você, meu querido leitor, minha querida leitora (quem sabe futuros empreendedores?), navegue por estes mares com maior tranquilidade!
(1) Meta-se naquilo que você entende: Diante dos riscos de começar algo novo, nada irá garantir o sucesso, ainda mais se você tiver se acostumado durante toda a vida a ter um emprego e o salário depositado em sua conta ao final do mês. Reduza este risco procurando atividades que você seja expert. Por exemplo, há vinte anos dando aulas, sinto-me à vontade para me meter no campo das palestras, mas teria um retumbante fracasso se me aventurasse no ramo do varejo, mesmo que fosse uma simples lojinha para vender café.
(2) Não desista fácil: Salvo raríssimas exceções, conheço poucas histórias de negócios ou carreiras de sucesso que não tenham sofrido reveses em suas trajetórias: a inauguração da loja que atrasou por conta de uma licença que não saiu, as cervejas que encalharam no estoque por conta do fim de semana chuvoso. Por outro lado, a maioria dos que conheço que ficou aquém de sua capacidade é formada por gente que, por pressa, desconhecimento ou ansiedade, acabou pulando de galho em galho sem dar tempo de excelentes ideias maturarem.
(3) Planeje-se: E aqui refiro-me a um planejamento mais amplo, que envolva não apenas os desembolsos e projeções de receitas e despesas para o novo negócio, mas também o seu orçamento pessoal, de forma razoavelmente segregada a fim de se evitar pressões indevidas em ambos os lados... Imagine você ter que adiar a compra do freezer para sua pequena empresa de congelados porque precisa pagar o plano de saúde ou, de forma inversa, atrasar o pagamento de suas contas pessoais porque gastou os recursos para formar estoques... Não vai dar certo assim, concorda?
(4) Atenda à máxima: uma coisa de cada vez: Como citei antes, o risco para se estabelecer em uma nova atividade é alto e assim, sugiro fortemente que antes de abrir várias frentes de uma única vez, espere para que os primeiros empreendimentos decolem antes de se lançar aos demais. Claro que em atividades correlacionadas esta máxima pode se relaxada, como, por exemplo, trabalhar como especialista em informática em conjunto com o desenvolvimento de programas computacionais. Mas entendo que você acabará se perdendo se, paralelamente à informática resolver abrir a lojinha dos congelados: muitas especificidades distintas que demandarão sua total atenção. Tenha calma, que tal?
(5) Respeite o mercado: Bobagem você achar que, por estar por sua própria conta e risco, não terá mais patrão: na realidade você terá vários patrões, sejam os seus clientes, pacientes ou tomadores de serviço. Saber negociar, aceitar críticas, flexibilizar preços, prazos e horários é primordial; encantar deve ser seu objetivo! Adicionalmente, lembre-se: você é o responsável pela prospecção de novos clientes... Renove-os sempre antes que a demanda pelo seu trabalho se esgote.!
(6) Prepare-se para ralar: Esqueça a ideia equivocada de que o seu negócio irá sustentá-lo enquanto você ficará na vida boa em férias intermináveis. Acha que eu me engano? Então faça o teste: vá ao restaurante na esquina de sua casa e pergunte pelo dono... Decerto você terá uma boa acredito que deva compensar, caso contrário ele não estaria lá para o bate-papo, não é mesmo?
Um grande abraço e até a próxima!
Consenso ou inconveniência?
Um dos maiores equívocos que volta e meia vejo alguns cometerem é, diante de relatos de pessoas sobre seus padrões de consumo, criticarem-nas por terem escolhido isto ou não aquilo, e vice-versa. Lembro-me, por exemplo, de quando comecei a dar aulas de Matemática Financeira: costumava sempre deixar muito claro que o meu discurso era para ajudar na decisão quanto à melhor forma de pagamento, jamais para ajudar sobre o que adquirir. Infelizmente parece que todos se acham no direito a ter opinião e, o que é pior, julgar os demais por não concordarem em gênero, número e grau com suas próprias crenças... e dá-lhe lacração!!
Pois foi com este tema em mente que optei pelo artigo de hoje, quando, após exaustiva reflexão procurei mostrar aquilo que acredito ser consenso – ou seja, não se trata de uma questão de escolha individual, mas sim bobagem ou falta de atenção agir deste modo – e aquilo que, se nos metermos a dar palpites inconvenientes, correremos sérios riscos de nos meter em brigas. A listinha que se segue é meramente ilustrativa, e recomendo que você, meu querido leitor, minha querida leitora, antes de ler a explicação, tente acertar: consenso ou inconveniência?
(1) Comprar roupa só de grife: Pode ser que para você isso pareça um descalabro, mas vamos com calma pois muitos valorizam estar na mais recente tendência da estação e consideram a elegância no trajar uma extensão da personalidade. Inconveniência: trata-se de decisão individual, não se meta a criticar.
(2) Adquirir eletrodomésticos só em determinada loja: Propositalmente envolvi itens cujos preços unitários são elevados. Ora, considerando que ao adquirir um televisor, por exemplo, o que se leva em conta é principalmente o modelo, as características e o fabricante, dentre outros, a fidelidade a determinada loja poderá estar apenas levando-o a pagar um sobre preço. Consenso: quem dá valor ao próprio dinheiro dificilmente age desta forma, procurando pesquisar preços antes de compras mais caras.
(3) Assinar quatro revistas semanais: Com a vida corrida que levamos, acho muito improvável que todas as quatro assinaturas sejam efetivamente utilizadas; possivelmente vão para o lixo ainda com o celofane. Logo, assumindo que minha hipótese esteja correta, sigo o consenso: trata-se de desperdício evitável cujos recursos poderiam estar sendo empregados em outras coisas que trouxessem efetivo prazer.
(4) Trocar de carro-zero de três em três anos: Muito difícil julgar, mas tentemos seguir a seguinte linha de raciocínio: para quem usa o carro muito pouco, talvez fosse melhor ampliar o prazo de troca para cinco ou seis anos, diluindo, portanto, a desvalorização por um período maior de tempo. Já para quem usa bastante, três anos é o prazo que a maioria dos fabricantes, em média, dá de garantia, parecendo-me, portanto, um intervalo adequado para a troca. Se a isso tudo juntarmos a paixão que o brasileiro sente por automóveis, sinceramente eu recomendaria cara de paisagem diante do vizinho de carrão novo: nem sim, nem não, muito pelo contrário.
(5) Jantar fora todo fim de semana: Conheço várias pessoas cujo principal lazer é jantar fora com amigos. Preferem isso a frequentar teatros, cinemas ou viajar. Abrir o bico para dar opinião sobre o hábito é pura inconveniência, no meu entender.
(6) Ter seis contas bancárias: Salvo profissionais liberais ou empresários que precisem de diferentes contas para facilitar recebimentos, dificilmente o cidadão comum precisará de mais do que uma ou duas contas; tê-las é a porta aberta para o descontrole, o excesso de tarifas bancárias e de juros por saldos devedores. Sigo, portanto, o consenso: pelos motivos citados, tal prática é passível de críticas, até mesmo porque, com recursos totalmente pulverizados, possivelmente o sujeito pagará elevadas tarifas em todos os bancos onde tem conta.
Claro que independente do tema ser consenso ou inconveniência, considero de bom tom que os comentários sejam excessivamente cuidadosos para não provocar reações desmedidas. Lembre-se que ao fazê-los, seu objetivo é o de ajudar e não colocar seu interlocutor na defensiva, não é mesmo?
Um grande abraço e até a próxima!
Com a proximidade das eleições, me veio a lembrança de alguns debates passados em que uma das mais mordazes acusações era a de que determinado candidato mantinha contas no exterior. Naquela época, até onde ia a minha percepção (posso estar errado, já de antemão faço o disclaimer!), isto não era algo legal sob a legislação brasileira.
Bem, de lá para cá, ainda que nem todos os investimentos de brasileiros no exterior estejam legalizados (de novo posso estar enganado!), muita coisa mudou, pois é permitido brasileiros manterem ativos (contas, aplicações, títulos de renda fixa, ações, quotas de fundos de investimento e imóveis, dentre outros) fora do Brasil, sem ferir nossa legislação.
Provocado por uma cliente que assessoro e limitado às aplicações financeiras fui pesquisar... E a boa notícia é que o processo de abertura de uma conta de investimentos no exterior é mais simples do que à primeira vista parece, pois já há instituições brasileiras que oferecem o serviço a seus clientes sem a cobrança de custos adicionais, que tal?
Claro que participar de mercados mais consolidados que o nosso traz vantagens, dentre as quais eu citaria: ambiente de negócios mais dinâmico e robusto (com mais empresas globais para investir); menor volatilidade (por estarem menos sujeitos a crises políticas ou fiscais, tais mercados oscilam menos), e sobretudo a diversificação geográfica, o que por vezes atenua ou até mesmo elimina perdas em nosso mercado (por exemplo, se a bolsa aqui está caindo, a norte-americana pode estar subindo).
Mas há que se tomar cuidados e para você, meu querido leitor, minha querida leitora, que está pensando em se aventurar nesta alternativa, chamo a atenção para alguns pontos:
(1) Custos: Não são idênticos aos nossos, mesmo quando intermediados por instituições brasileiras. Pesquise nos sites destas instituições para verificar quanto é cobrado de corretagem para adquirir e/ou resgatar títulos, ações ou quotas de fundos... Sem esquecer que os valores e/ou percentuais cobrados estão em moeda forte, dólar ou euro!
(2) Rentabilidades: Principalmente nos investimentos em renda fixa, esqueça as taxas oferecidas no Brasil... títulos do Tesouro norte-americano, por exemplo, costumam pagar em torno de 5% ao ano, bem menos que os quase 12% ao ano de nossos prefixados.
(3) Renda Variável: Se já é difícil selecionar boas ações no mercado brasileiro – onde há aproximadamente 400 ações listadas em bolsa – imagine encontrar as boas ofertas no mercado norte-americano, por exemplo, com mais de 6.000 ações em bolsa? Opte por fundos de ações ou ETFs para minimizar o risco das escolhas erradas.
(4) Tributos: Dividendos e juros das aplicações de renda fixa são tributados na fonte em 30%, ainda que você possa compensar o imposto pago no exterior com o imposto a pagar no Brasil. Ganhos de capital, acima do limite de isenção também são tributados, e você deve declarar todas as suas operações à Receita Federal. Ah sim, e já ia me esquecendo: ao enviar recursos para a sua conta internacional, haverá a cobrança de IOF sobre o valor da transação.
(5) Risco Cambial: Fique atento às flutuações nas cotações do dólar ou do euro (dependendo do mercado onde você irá operar) já que elas impactam diretamente a rentabilidade do seu investimento. Exemplificando, suponha que você tenha investido USD 1.000 em título no mercado norte-americano. Por ocasião da aplicação, a cotação do dólar era de R$ 5,50, o que equivale a dizer que você investiu R$ 5.500. Se após um ano, o título tiver rendido 5%, mas a cotação do dólar for de R$ 5,00, seu investimento valerá apenas R$ 5.250 (=USD 1.050 x R$ 5,00/USD), gerando um pequeno prejuízo, caso você resolva trazer os recursos de volta para o Brasil.
Um grande abraço e até a próxima!
Dívidas boas ou más?
Uma das grandes questões com a qual planejadores financeiros em geral – me incluo nessa! – estão sempre às voltas é justamente o endividamento, já que em praticamente 100% dos casos de descontrole orçamentário que nos batem à porta, o vilão é a dívida fora de controle. Mas será que o recíproco é verdadeiro, ou seja, que 100% dos casos de endividamento levam o sujeito ao descontrole? O que você acha, meu querido leitor, minha querida leitora?
Ganha um carnê pago aquele que respondeu que não! Com efeito, nem toda e qualquer dívida tem o potencial de, em situações normais, criar confusão na vida financeira das pessoas; casos extremos de perda de emprego, falecimento do cônjuge provedor ou outras emergências ficam de fora do que vamos tratar hoje, que fique claro.
Feita a ressalva, vamos primeiramente diferenciar as dívidas boas das dívidas más: no contexto do planejamento financeiro, entendo que uma dívida má seja aquela que você não conseguirá honrar nas datas devidas, acarretando assim a cobrança de juros, taxas e multas adicionais o que irá piorar ainda mais a sua situação... Se já faltavam recursos para quitar seus compromissos, o que fazer agora que eles ficaram mais caros? Erro comum é não dar a devida atenção logo nestes primeiros momentos, deixando acumular várias prestações vencidas. O efeito bola-de-neve não tarda a aparecer, e com bastante severidade: serviços cortados, bens retomados, nome sujo nos serviços de proteção de crédito, e por aí vai.
No extremo oposto, o que aqui chamei de dívidas boas são todas aquelas que você conseguirá honrar nas respectivas datas de vencimento mas, para que isto ocorra sem sustos, a estratégia chave é planejá-la antes de contratá-la. Simples, não? Veja algumas dicas para evitar ficar perdido!
(1) Conheça a sua capacidade de pagamento: Diante da possibilidade de contrair um novo empréstimo, é fundamental saber quanto do seu orçamento está livre para assumir tal compromisso. A aritmética é simples: do total líquido de sua renda (salários, comissões, alugueis, juros e dividendos recebidos em dinheiro e demais receitas) subtraia: (a) seus gastos fixos (moradia, alimentação, transporte, escolas, planos de saúde e outros), (b) suas atuais prestações (por exemplo, se paga R$ 100 da prestação da geladeira e R$ 120 da prestação do televisor, esse total será de R$ 220); (c) uma estimativa de quanto gasta mensalmente com itens não fixos, tais como lazer, refeições fora; (d) o total das faturas a vencer dos cartões de crédito. O resultado encontrado refletirá sua capacidade mensal de endividamento, mas, por conservadorismo, eu sugiro que reserve pelo menos uns 25% desta sobra, para emergências não previstas. Se após todas as contas e retirados os 25% da reserva, sobrarem R$ 400, esta será sua capacidade mensal de pagamento!
(2) Verifique a necessidade do empréstimo:Mesmo com todos os cuidados, uma dívida é sempre uma dívida, com potencial de embaralhar nossa vida diante das emergências; portanto tenha bom-senso na hora de usar este instrumento financeiro. Por exemplo, você não irá esperar até juntar o dinheiro para adquirir a geladeira em substituição à antiga que não tem conserto, mas será que faz sentido comprar os ovos de Páscoa a prazo? Ao agir assim você irá diminuir sua capacidade de pagamento... E se justamente nesta hora aparecer a possibilidade de realizar a viagem dos sonhos? Haverá condições financeiras para tal?
(3) Prefira prestações fixas pois fica mais fácil o controle do orçamento. Boa parte dos casos que analiso/ajudo são de dívidas contraídas por meio dos cheques especiais ou dos cartões de crédito, de muito mais difícil controle pois nunca os valores de um mês coincidem com os do mês seguinte.
(4) Procure o instrumento certo: Não se compra casa ou carro com cartão de crédito nem se gasta em consumo (roupas, restaurantes e outros) a partir de financiamentos de 30 anos. Para cada tipo de necessidade há uma classe de produtos específicos disponíveis no mercado financeiro (financiamento imobiliário, automotivo, CDC, etc). Em linhas gerais, quanto mais longos os financiamentos, menores são as taxas de juros praticadas. Namore (pesquise) muito antes deste casamento!
(5) Negocie as taxas: Considerando que quanto maior a taxa de juros embutida em um financiamento, maior será o valor de cada prestação (reduzindo assim a sua capacidade de pagamento), dentro de cada classe de empréstimo, procure sempre a instituição que cobre a menor taxa final.
Um grande abraço e até a próxima!
Pois é meu caro leitor, no próximo domingo comemora-se o Dia dos Pais e, sinceramente, torço para que você, tenha a sorte de tê-lo vivo, e festeje a data com alegria.
Agora que um pouco mais de idade me trouxe mais serenidade, percebo com clareza a importância da presença paterna na difícil tarefa de educar, orientar, apoiar e preparar para a vida. Modéstia à parte, percebo também que, como filho – se estivesse vivo o Dr. Walter poderia confirmar! – devo ter desempenhado um papel bem acima da média pois não fui de me envolver em grandes confusões, salvo uma ou outra discussão mais acalorada quanto a horários de chegada, uso do carro ou volume da música, dentre outras.
Bem, e qual o resultado prático de tudo isso? Relembrando-me das lições que eu mesmo aprendi (em função dos objetivos desta coluna me limitarei às lições financeiras, claro!), noto que tenho conseguido repetir o círculo virtuoso iniciado pelo meu pai... Exemplificando: aos 15 anos, querendo escutar meus discos de rock progressivo em uma vitrola (para os mais novos: vitrola era o aparelho que tocava os discos na época) com maior capacidade de reprodução musical, fui incentivado a guardar dinheiro, fazer pequenos trabalhos e até mesmo uma rifa ofertando a vitrola velha para complementar o preço da nova. Muitos anos depois, já como pai de minha querida dupla, Maria Luiza e Rodrigo, fui gradativamente incentivando-os a agir de forma idêntica diante dos desafios financeiros que eu não estava disposto a bancar, como por exemplo brinquedos mais caros, extras excessivos para viagens escolares, ou troca de celulares, para ficar nos casos que me vêm rapidamente à memória. Em todas estas situações, valorizei o caminho de guardar parte da mesada, com resultados que sempre me surpreenderam.
Hoje, 50 anos após a “vitrola”, constato com satisfação, que ambos se tornaram adultos financeiramente responsáveis, focados, e sempre procurando com persistência seus caminhos profissionais. Um tremendo presente para o pai-educador-financeiro, não é mesmo?
Bem, e para você, filho ou filha, que irá comprar presentes, quais as dicas básicas além do “muito obrigado por tudo”? (a) Quem deve gostar do presente é ele, não você; (b) Evite complicações futuras, presenteando de acordo com o seu orçamento; (c) Pesquise marcas e preços, sempre; (d) Com orçamento curto, parta para lembrancinhas e deixe o presentão para outra data; (e) Evite mais um carnê e novas confusões: pague à vista; (f) Chore descontos; (g) Aproveite as promoções!
E, para você, pai, que irá receber, por que não aproveitar o atual momento econômico, tão rico em exemplos contundentes, para repassar-lhes – desde que entendam – valiosas lições? Cito algumas:
(1) Orçamento: Sempre é bom mantê-lo equilibrado – seus ganhos maiores que seus gastos – para se evitar o círculo vicioso das despesas crescentes por conta dos juros que irão financiar o desequilíbrio. Analise a difícil situação econômica por que passam alguns países, se achar que isso é bobagem.
(2) Endividamento:Quanto maior a dívida, maior o risco de se levar um calote na hora de receber o que emprestou, gerando taxas de juros cada vez maiores. O sujeito sem crédito na praça apela para a ciranda dos cheques especiais.
(3) Poupança: Quem poupa, tem! O que é particularmente indicado para momentos de incerteza ou crise... Sua prole consegue guardar algum?
(4) Risco: Em épocas de juros baixos como a que vivemos, obter maiores rentabilidades nos obriga a correr maiores riscos; será que seus filhos e filhas estão preparados?
(5) Diversificação: Como saber em qual ativo aplicar se os campeões de um mês podem ser os lanterninhas no mês seguinte? Diversificar os recursos em diferentes ativos ou classes de ativos evita tal armadilha!
(6) Ciclos: Não há bem que dure pra sempre ou mal que nunca termine; a tempestade de hoje logo vira a bonança de amanhã. Aproveite a sua experiência para ajudá-los a não se precipitarem!
Um grande abraço e até a próxima!
Diga-me com quem andas...
... E te irei quem és! Dito popular bastante conhecido, a afirmativa traz-nos implicitamente a ideia de que, por vivermos em grupos, os comportamentos, hábitos e posturas destes grupos acabam por determinar também o nosso próprio comportamento. Difícil encontrar argumentos para discordar deste fato, bastando para isso observarmos as situações mais comuns do dia a dia para concluirmos quão acertado é o ditado: adolescentes que se vestem, se comportam e falam o mesmo dialeto, executivos de uma empresa ao se apresentarem em público; especialistas em vinhos ao comentarem suas descobertas... A lista é extensa, e não quero cansar meus queridos leitores e leitoras, que possivelmente já devem ter refletido sobre os grupos dos quais participam. Que fique claro, isso não é nenhum demérito; eu mesmo faço parte de inúmeros grupos: professores, colunistas, autores, planejadores financeiros, corredores de rua, dentre outros.
Bem, e onde aparece o problema a ponto de eu dedicar o artigo de hoje ao tema? Ganha uma carteirinha de sócio fundador do Clube dos Gastadores quem já percebeu que vou tratar dos impactos que este tipo de comportamento pode – não necessariamente ocorre – em nosso orçamento. Citarei dois casos reais (nomes fictícios) sem, contudo, apontar as distorções – ééé, quero forçar a sua reflexão –, que ficará para o final do texto.
(1) O corredor de rua: Como citei em parágrafo anterior, tenho por hábito participar de corridas de rua, tão populares hoje em dia, transformando manhãs de domingo em ensolaradas confraternizações. Mas, engana-se quem ache que se trata de um lazer gratuito, pois, na média, para se inscrever e ter direito à camiseta, energéticos, água pelo caminho e medalha para os que concluem a prova, paga-se aproximadamente R$ 140 por evento. Além disso, não custa lembrar que pelo menos um tênis apropriado para corridas você precisará ter, com preços que variam entre R$ 150 a mais de R$1.000. Para bolsos mais recheados, há ainda o relógio com GPS e controle do batimento cardíaco, óculos, viseiras, shorts, meias, suporte para telefones, e muitos outros; a conta pode ser cara! Pois bem, um conhecido meu, o Bruno, que trabalha como auxiliar administrativo em uma empresa e participa destes eventos – disse-me que a empresa o estimula pagando sua inscrição – estava todo-todo com o tênis-último-tipo recém adquirido em 6 parcelas de R$ 199... sem juros... Bom negócio, não?
(2) O pequeno empresário: Rafael tem um pequeno negócio ligado à prestação de serviços que lhe garante uma boa renda ao final de cada mês. Como acredita no papel que a educação tem na formação do indivíduo, matriculou seu único filho em uma escola tradicionalíssima carioca, cujas mensalidades ficavam muito além do razoável para seu orçamento, algo próximo dos 25%. Vale pelos relacionamentos que meu filho terá, alegava Rafael, o que de certo modo é verdade pois, convivendo com crianças vindas de famílias bem abastadas, possivelmente no futuro teria maior facilidade no mercado de trabalho, não é mesmo?
Os casos reais citados mostram exemplos de pessoas que tentaram pular alguns degraus em sua condição financeira para imitar padrões de consumo acima do que poderiam:
(1) Bruno, ao assumir uma prestação correspondente a quase 10% de seu salário para um consumo de fim de semana, no mínimo teve que apertar o cinto em outras despesas decerto mais essenciais. Não custa lembrar que para pessoas com renda mais modesta, o peso da alimentação, transporte e outras despesas do dia a dia tende a ser muito expressivo quando comparados a de pessoas de renda mais folgada. Em uma outra corrida que o encontrei, queixou-se longamente que sua vida estava toda enrolada, sem capacidade de pagamento para honrar compromissos usuais.
(2) Rafael subestimou os demais custos que seu filho passou a exigir para efetivamente fazer parte do grupo dos amigos da escola: viagens para fora todo ano, videogames de último tipo, roupas e assessórios de grife, e por aí vai. E, diante da impossibilidade de bancar tais despesas, a única alternativa que lhe sobrou foi transferir o filho para outra escola mais de acordo com o seu padrão-de-vida, com todos os inconvenientes que tal atitude acarreta: readaptação, ressocialização com novos amigos que já estavam juntos antes, perda de um ano letivo na transferência por conta de diferentes programas curriculares.
Conclusão: Usufruir das boas coisas da vida é algo que todos queremos, sem exceção. Pode até mesmo servir de estímulo para procurarmos melhores colocações profissionais, investirmos com mais sabedoria ou pouparmos para, em um momento futuro, conseguirmos chegar lá. O equívoco está em queimarmos as etapas necessárias para que estes sonhos se realizem e, consequentemente, acabarem por se tornar verdadeiros pesadelos. Nunca é demais estarmos atentos a todos os fatos!
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.