Contra queimaduras, Picrato de Butesin!
Ainda que 41% do volume investido em fundos esteja alocada aos de baixo risco, são as demais categorias as que oferecem a real possibilidade de maiores ganhos, o que faz com que muitos procurem tais alternativas como forma de acelerar a formação de seus patrimônios. Como fazer? Forçando você, meu querido leitor, minha querida leitora, a pensar na resposta, utilizarei os dados do relatório ANBIMA de março/2025 para montar dois cenários fictícios, onde os resultados não constituem nenhuma profecia (não sou vidente), mas sim um mero exercício numérico!
Cenário 1: Nos três primeiros meses de 2025, os fundos de renda fixa em média subiram 2,60%; enquanto os de ações, considerando o mesmo período, subiram em média 5,83%. Mantidos tais resultados, em 5 anos, R$ 50 mil hoje investidos na renda fixa virariam R$ 83,5 mil, e nas ações R$ 155,3 mil, uma diferença a favor dos fundos de ações de R$ 71,8 mil! Dá vontade de aplicar tudo nas ações, não é mesmo? Isso é que eu chamo de queimar etapas!
Cenário 2: Nos 12 meses encerrados em março de 2025, os fundos de renda fixa subiram em média 10,52% e os de ações caíram em média 2,15%. Refazendo o mesmo exercício para 5 anos (com estes novos resultados), R$ 50 mil hoje investidos na renda fixa virariam R$ 82,4 mil, e nas ações R$ 44,9 mil, uma diferença contra os fundos de ações de R$ 37,5 mil! Isso é que eu chamo de se queimar!
Como diz um grande amigo, prever passado é ciência exata e infelizmente, o “daqui a 5 anos” do exemplo, é futuro: não dá para prever com exatidão. Como então apostar em um crescimento mais rápido, sem precisar adquirir quantidades industriais do Picrato de Butesin (pomada para queimaduras)?
Leitores mais assíduos devem ter a resposta: alocando apenas parte dos seus recursos em investimentos de risco, como os fundos de ações por exemplo. No exercício, o investidor que aplicasse R$ 10 mil nas ações e R$ 40 mil na renda fixa, teria R$ 97,9 mil no primeiro cenário ou R$ 74,9 mil no segundo. Qual percentual alocar em cada classe irá variar, de investidor para investidor, em função do risco que aceita (e pode!) correr. Note que por não saber de antemão o que irá ocorrer no futuro, a estratégia de diversificar diminui o ganho no caso do cenário de alta, mas em compensação atenua a perda (nas ações) no caso do cenário de baixa. Não tenho dúvidas de que seja a perda o que mais nos incomoda, acertei?
Fundos de ações investem no mínimo 67% de seus recursos em ações de empresas. São considerados fundos de alto risco (ou agressivos) pois suas cotas ficam sujeitas às oscilações de preço das ações. Neste grupo há várias subcategorias: os indexados procuram acompanhar a evolução de algum índice de bolsa (IBOVESPA, IBX), os setoriais concentram-se em ações de empresas de um setor (por exemplo energia), ou mesmo de uma única empresa (Petrobrás ou Vale, por exemplo). Na hora de investir neste tipo, é importante verificar se o fundo escolhido admite alavancagem pois esta, como o próprio nome indica, tenta alavancar (aumentar) os ganhos, por meio principalmente da utilização dos mercados derivativos (futuros, opções), aumentando assim o risco (em casos extremos, pode levar a perdas superiores ao total investido).
No Brasil, aonde a cultura de investir em empresas não está plenamente consolidada, apenas 4% dos recursos disponíveis aos fundos de investimento são aplicados nos fundos de ações. Até março de 2025, os indexados renderam (em média) 8,26% no ano, mas apenas 1,72% em 12 meses.
Um grande abraço e até a próxima semana!
Os sete pecados capitais...
Ou seriam os sete pecados do capital? Vou deixar para que você, meu querido leitor, minha querida leitora, decida e, enquanto feliz da vida pensa no chocolate que irá ganhar neste Domingo (aproveitando o título da coluna, atenção à gula!), reflita que pontos da listinha abaixo fazem parte do seu dia a dia!
(1) Ser displicente com os extratos: Não estar nem aí para a correspondência que o seu banco ou administradora de cartão lhe enviam, é sintoma de uma vida financeira descontrolada, sinal de que você não se preocupa nem com o que ganha nem com o que gasta! Não é preciso dizer que qualquer planejamento mais sério sobre poupança ou independência financeira futura será impossível para a sua vida, fora que, sem controle, o que impedirá lançamentos indevidos (tarifas bancárias, por exemplo) ou até mesmo fraudulentos (compras na Internet, por exemplo) em suas contas?
(2) Adiar o plano de aposentadoria: Quanto mais tarde você começar a pensar no assunto, mais difícil será acumular. Por exemplo, para ter R$ 500 mil aos 60 anos, a uma taxa de 0,5% ao mês (na atual conjuntura corresponde ao rendimento de um fundo DI além da inflação), você precisará depositar R$ 495,28 mensais se iniciar aos 30 anos, valor que sobe para R$1.076,77 se iniciar aos 40 ou R$3.035,85 se iniciar aos 50. Sinistro, não?
(3) Viver além das próprias possibilidades: Pecado que não respeita idade, religião ou classe social e explica por que, volta e meia, algumas celebridades “quebram”. Sei que o assunto é espinhoso e não defendo a ausência de ambição como meta de vida, muito pelo contrário: até incentivo que você sonhe com patamares de conforto, riqueza ou padrão de vida superiores aos seus atuais, mas por favor, tudo isso às custas de planejamento, poupança e bons investimentos, e não às custas de dívidas impagáveis e juros extorsivos, certo?
(4) Não conseguir poupar: Além do caso decorrente do “pecado” anterior, também classifico como incapacidade a situação em que, todas as vezes quando uma quantia é acumulada, logo logo inventa-se um destino – nem sempre essencial, esse é o ponto! – para ela, como por exemplo trocar o guarda-roupas. Saiba então que se isso já aconteceu na sua vida, você deixou de aproveitar o trunfo dos juros compostos, que costuma presentear os pacientes: quem guarda R$100 mensais a 0,5% ao mês, por exemplo, observará que em pouco menos de 12 anos (139 meses para sermos precisos), o dinheiro já acumulado irá gerar juros maiores que os R$ 100 poupados a cada mês. É você vivendo de renda, que tal?
(5) Pagar o mínimo das faturas:Não preciso nem me alongar por aqui pois se você não paga suas faturas integralmente, seus custos estão maiores por conta de uma despesa que não dá prazer, a despesa com juros... ou por acaso você gosta de pagá-los?
(6) Não ter um fundo de emergência: É viver sempre ressabiado, a mercê de acontecimentos desagradáveis que nem sempre estão sob nosso controle. E eu pergunto, pra que aumentar o sofrimento justamente quando se precisa energia adicional para enfrentar um grande problema?
(7) Não viver a vida: Claaaaaro, pois de que vai adiantar seguir todas estas recomendações se no final você não tem tempo de desfrutar a vida, não é mesmo?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Leitores assíduos devem estar lembrados do que sempre aqui comento: a importância de se fazer sobrar algum dinheiro periodicamente quando se tem como projeto a acumulação de patrimônio. Assim, voltando ao tema, noto que muitos usam a velha desculpa de dizer que não têm de onde tirar para fazer sobrar... E aí vem a questão: será que o que falta mesmo é encontrarmos de onde tirar esta sobra ou na verdade o que falta é sermos mais criativos, persistentes e, por que não dizer, mais metódicos neste projeto?
Refletindo sobre o tema, resolvi exemplificar todo o processo – o de gerar sobras ou economias periódicas – por meio de uma vivência pessoal, da época em que trabalhava no centro da cidade, no Rio de Janeiro. O caso é antigo, mas atualizei os preços e valores da simulação.
Identificando um candidato: Trabalhava no centro da cidade, em um local fixo, onde passava boa parte das minhas horas úteis, o que, portanto, me liberava da necessidade de constantes deslocamentos diários, salvo o da ida de casa para o trabalho, no início do dia, e o correspondente retorno, ao término da jornada. Atendo-me exclusivamente a esta questão – como me deslocar entre os dois pontos – percebi que, na minha escala pessoal de valores, a variável relevante ao problema era o tempo que gasto nos deslocamentos. Transporte casa-trabalho-casa tornou-se, portanto, um forte candidato à minha análise!
Traçando a estratégia: Era viciado em fazer o trajeto de carro, mas, cansado das aporrinhações diárias com o trânsito, fui, pouco a pouco (muito importante o “pouco a pouco” para me acostumar sem trauma às mudanças!) migrando para o transporte público, primeiro na combinação metrô/taxi e, em seguida, na combinação metrô/ônibus integrado. Em termos de tempo, troquei seis por meia dúzia pois, em relação à opção carro, ia mais devagar na superfície, mas compensava, indo mais rápido quando estava no túnel. E, para aqueles sempre-do-contra, aviso logo: quando saia do trabalho, pegava tanta chuva quanto antes, pois a estação do metrô era tão distante quanto o estacionamento.
Calculando a economia: Apesar de não ter me baseado no custo, não posso deixar de registrar minha satisfação ao constatar a sobra diária que passei a gerar: com o carro, a preços de hoje, gastava algo próximo a R$ 140 diários, aí computados os custos de combustível, estacionamento (R$ 112 a diária) e pequenas eventualidades, mas não considerados os custos de IPVA, seguro e depreciação do veículo, dentre outros, já que não vendi o carro, apesar de não o usar para o trabalho. Na combinação metrô-ônibus, gastava apenas R$ 12 diários, ou seja, uma poupança de R$ 128 por dia, que tal?
Projetando os efeitos: Reconheço que os R$ 128 de um dia não mudam a vida de ninguém, apesar do valor salgado, mas fazem a diferença quando pensamos o longo prazo: em um mês (22 dias úteis) teremos R$ 2.816 e, se depositarmos este valor regularmente em um desses fundos DI que têm remunerado em torno de 1,0% ao mês) acumularemos R$ 35.714 após um ano! Ora, ora, quem diria...
Não sei se será às custas do transporte que você, meu querido leitor, minha querida leitora, conseguirá guardar algum, mas, se leu até aqui, decerto pegou o espírito da coisa. Conte-me depois a sua própria experiência, pode ser?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Se a memória não me engana, o ônibus foi, durante muito tempo, o meu meio de transporte usual, até entrar na faculdade... Lembro-me ainda que, nos horários de pico, lotação máxima concentrada na parte traseira do coletivo (naquela época entrava-se por trás e saia-se pela frente!), o motorista volta e meia dava uns trancos, a fim de que os passageiros – eu incluído – passassem para a frente, distribuindo assim melhor os espaços e desta forma permitindo que novos passageiros entrassem. Era a famosa freada de arrumação!
Mas porque trato disso por aqui hoje? Motivo simples: com um quarto do ano ficando no passado, que tal uma freada de arrumação no planejamento financeiro para ver como andam as coisas, ajustando-as, se possível? Entendo que fazer este exercício agora traga vantagens tanto para os que, como eu, traçam metas financeiras no início do ano (e desta forma possam ajustar o que não foi cumprido), quanto para os mais descansados, que diante do aumento generalizados dos preços, começam a se preocupar em como racionalizar suas receitas e despesas. E você, meu caro leitor, minha cara leitora, de qual grupo você participa? Como fazer?
Não importando em qual situação se encontre, minha sugestão é que você faça uma radiografia de suas contas a fim de identificar de onde veio e para onde foi o seu dinheiro neste primeiro trimestre. Começando pela parte mais trabalhosa – a das despesas – você precisará classificar tudo o que gastou nos últimos três meses em alguns grupos, tais como: moradia, alimentação, educação, saúde, transporte, vestiário, lazer, profissionais, dentre outros. Encontre essas informações em seus extratos bancários, em suas anotações pessoais e nas faturas dos cartões de crédito. Evite criar um grupo “gastos no cartão”, pois a ideia aqui é saber em que você gastando. Exemplificando, se sua fatura do cartão foi de R$ 1.500, R$ 400 gastos em combustível, R$600 em restaurantes e R$ 500 em roupas, classifique respectivamente nos grupos: transporte, lazer e vestiário. Não se esqueça ainda de criar o grupo dos gastos financeiros: juros e multas pagos, anuidades de cartões, tarifas bancárias. Encontre os totais por grupo e o total geral das despesas.
Terminada a etapa anterior, faça o mesmo com suas receitas, agrupando-as em salários e gratificações (ou serviços que prestou, no caso de não trabalhar com carteira assinada), aluguéis que receba, e demais receitas. Crie também o grupo de receitas financeiras, considerando neste caso juros, dividendos (dentre outros) que tenha recebido no período. Mas atenção: aplicações financeiras em renda variável ou valorizações (imóveis ou ações, por exemplo) não devem entrar no grupo, pelo motivo óbvio de ainda não estarem no seu bolso. Encontre os totais por grupo e o total geral das receitas.
Feito todo o levantamento, é chegado o momento mais importante: o da análise dos resultados. Sinal verde se suas receitas superaram as despesas, sinal amarelo se empataram e sinal vermelho se as receitas não cobriram as despesas. Claro que em todos os casos, nunca é demais avaliar despesas e corrigir distorções, mas entendo que tal avaliação seja obrigatória nos casos do sinal vermelho... se sua situação é essa, atenção redobrada pois seu déficit, se nada for feito, só tende a aumentar por conta dos juros que irá pagar para financiá-lo. O que fazer?
Receita clássica: ataque suas despesas, pois é mais fácil controlá-las do que suas receitas (dependem do seu patrão e/ou clientes, por exemplo). Procure eliminar primeiro aqueles gastos que trazem poucas alegrias, tais como as despesas financeiras (juros e multas), os desperdícios (o que você paga, mas não usa), os supérfluos (pequenos prazeres que podem ser adiados até a situação melhorar), para só então mexer nos essenciais. Bote como meta o sinal verde ao final do ano, que tal?
Um grande abraço e até o próximo semestre!
A Selic aumentou, e agora?
Olá, meu querido leitor, minha querida leitora. A notícia que chamou a atenção na semana que passou foi o aumento da taxa Selic para 14,25% ao ano, em comunicado feito pelo Copom (Comite de Política Monetária) na quarta-feira dia 19. O aumento já era esperado, considerando-se que uma das tarefas do Banco Central é preservar o poder de compra da moeda, o que, trocado em miúdos, significa manter a inflação sob controle. Como isso afeta nosso dia a dia é o tema do artigo de hoje.
Sendo a Selic considerada a taxa básica de juros na economia, um patamar mais elevado é transmitido aos juros cobrados em empréstimos e financiamentos. Posto de outra forma, tomar dinheiro emprestado nas diferentes linhas de crédito – cheque especial, cartão, consignado, financiamento de automóveis ou imóveis irá encarecer a dívida, fazendo com que as prestações a pagar dos futuros financiamentos fiquem mais salgadas ou os prazos dos empréstimos sejam ampliados. O governo federal tenta alguns paliativos, tais como utilização do FGTS como garantia para consignados, por exemplo, mas a medida não atinge aos que trabalham sem carteira assinada. Eu, que pessoalmente já não era muito fã de dívidas, agora então é que não entro nesta furada.
Pelo lado do investimento, o recente aumento torna ainda mais atrativas as aplicações em renda fixa, mas jogam um banho de água fria nas aplicações em renda variável, bolsa e multimercados. Em um rápido exercício, caso a taxa de 14,25% fique estável até o final do ano (o que para os nove meses restantes, equivale a 10,51% no período), o índice da bolsa de São Paulo, o Ibovespa, precisaria atingir 146 mil pontos (a partir do fechamento de 21/03), o que não fica distante das projeções feitas no início do ano para este indicador, a 145 mil pontos. Mas, não custa lembrar, que bolsa oscila, e muito... logo, por que encarar este vai-e-vem para ter praticamente o mesmo resultado que uma aplicação de baixo risco, não é mesmo?
O mesmo ocorre com os fundos multimercados, cujo desempenho médio para os últimos 12 meses (medidos pelo IFMM - Índice de Fundos Multimercados, de fevereiro/2024 a fevereiro/2025) foi de 7,33%, contra 11,17% do CDI no mesmo período. Ou seja, risco maior (do que a renda fixa pós-fixada) e resultado menor... Pode isso, Arnaldo?
Mas é preciso ter muita cautela com as simplificações, pois o mercado e a economia são dinâmicos e, nada garante que as projeções feitas neste momento para o curto prazo não possam mudar para prazos maiores. Por exemplo, fala-se que nas próximas reuniões do Copom, a Selic continuará a subir, neste caso favorecendo ainda mais a renda fixa, na modalidade pós-fixada (títulos indexados ao CDI, fundos DI dentre outros). Em qual momento ocorrerá uma reversão desta tendência, parece-me a pergunta de um milhão de dólares!
Com uma projeção de Selic em queda (que no meu entender poderá ocorrer se a inflação der sinais de arrefecimento), tudo o que foi descrito nos parágrafos anteriores se reverte: financiamentos e empréstimos ficam mais baratos, bolsa e multimercados tornam-se mais atrativos. Ainda que a renda fixa continue a exercer seu papel de suavizar riscos nas carteiras de investimento, a estratégia neste caso também deve mudar, favorecendo as aplicações pré-fixadas pois no momento da aplicação o investidor garantirá sua rentabilidade independente de novas quedas nas taxas de juros.
A esta altura, você, querido leitor, querida leitora, deve estar se perguntando o que fazer diante de tanta incerteza? Não tendo bola de cristal, minha melhor recomendação é que você, respeitando seu perfil de risco (de acordo com os questionários que bancos e corretoras oferecem) diversifique. Tal estratégia certamente não colocará a sua carteira no topo dos resultados, mas evitará colocá-la no fundo do poço, que tal?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Olá, meu querido leitor, minha querida leitora. Já repararam na quantidade de oferta que recebemos diariamente em nossos celulares? Seja por meio de anúncios em redes sociais, seja por meio de telefonemas pra lá de indesejados, a turma não conhece limites... e tasca bloqueio! Por conta disso, achei o tema interessante para um artigo, e resolvi preparar uma lista com alguns itens presentes na nossa relação com a rede bancária, ainda que, justiça seja feita, o setor não esteja no topo do ranking dos que mais perturbam.
No caso das instituições financeiras, boa parte das ofertas e serviços referem-se a comodidades (em alguns casos vendidos como vantagens!) e que, por si só, não constituem necessariamente armadilhas, desde que corretamente utilizados.
(1) Cartão de Débito, Pix, Saques sem Cartão: todos muito convenientes e simples de usar, permitindo saques em dinheiro (ainda não disponível no Pix), transferências e compras. Não tenho dúvidas que o trio veio para substituir o antigo e quase finado talão de cheques, cada dia mais raro. O grande perigo é que raramente anotamos as despesas feitas com estes instrumentos (na época dos cheques, me lembro de anotar o gasto no canhoto!!), gerando assim um descontrole no saldo em conta corrente, com grandes chances de ficarmos no vermelho. Acessar periodicamente a conta para verificar o saldo resolve a questão.
(2) Limites da Conta: veio para substituir o cheque especial, e de certa forma é uma comodidade, ao disponibilizar um crédito pré-aprovado, permitindo assim que o cliente gaste além do saldo que possui em conta. Vale para uma emergência, e desde que o avanço no limite seja por poucos dias, devido aos elevados juros cobrados nesta modalidade. No caso de saldos negativos por prazos longos, as chances de cair no efeito bola de neve é muito alta, e a solução adequada é negociar um empréstimo pessoal com prestações fixas que caibam no orçamento.
(3) Cartão de Crédito: usado como meio de pagamento, vá lá, mas parcelar faturas, pagar com atraso ou fazer saques em dinheiro é encrenca certa: juros até mais altos que os citados no item anterior... Muitos, irresponsável e erradamente utilizam-nos como um salário adicional, esquecendo-se, entretanto, que a fatura um dia chega... e como!
(4) Título de Capitalização: é jogo,com direito a sorteio e tudo. Encarado desta forma, é bom negócio pois afinal, em que outro jogo você receberia o valor apostado de volta (ainda que muito tempo depois)? Mas não é investimento: os que vi por aí, rendem muito pouco e possuem baixa liquidez (saques antes do final do período contratado, somente de parte do que foi depositado).
(5) Fundos Multimercados: vendidos como aplicações que sempre rendem, tenho analisado-os e percebo que em muitos casos o risco supera o de aplicações de baixo risco (renda fixa, DI) e a rentabilidade não, sendo por muitas vezes negativa. Estranha escolha, não? Maior risco e menor rentabilidade? Tomando por base um período de pelo menos 12 meses, avalie se o que você possui se enquadra neste caso e, constatada a distorção, migre para outra aplicação.
(6) Alavancagem: nome bonito, coisa de profissional. Alguns fundos oferecem-na. Você sabe do que se trata? Se não, caia fora! Em épocas de alta nas bolsas, por exemplo, um fundo alavancado pode apresentar ganhos bem superiores ao de um fundo tradicional, antecipando assim a sua aposentadoria; mas em épocas de baixa, o fundo (do poço!) chega mais rápido. Todo cuidado aqui é pouco!
(7) Conta conjunta: é bom tê-las para no caso de uma emergência, o segundo titular poder movimentá-la. Mas acho impossível controlá-la quando mais de um correntista movimenta-a regularmente. Para um casal acho adequadas duas contas correntes conjuntas, com cada um sendo o primeiro titular de uma, por exemplo!
(8) Pacote de tarifas: verifique se você paga o que realmente usa: porque pagar para ter direito a vinte saques mensais se você só faz cinco, por exemplo?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Pois é, meu querido leitor, minha querida leitora, estamos sempre tão preocupados com a rentabilidade das aplicações financeiras em geral, que por vezes esquecemos que o combustível necessário aos investimentos vem de nossa capacidade de gerar (e guardar!) renda e, salvo algumas exceções virtuosas (artistas, atletas, dentre outros) o cidadão comum, obtém esta renda no mercado de trabalho. Por conta disso, resolvi dar uma espiada no que acontece com quem se dispõe a investir em sua própria educação. Entendo que em assunto tão complexo, haja inúmeras variáveis que afetem sua decisão, mas, fiel ao espírito da coluna, manterei a análise sob o enfoque estritamente financeiro.
Assim, pesquisando na Internet, encontrei sites que, gratuitamente, listam os salários médios pagos a diferentes categorias profissionais em empresas de grande porte. No caso da área financeira, por exemplo, um auxiliar financeiro recebe R$ 2.363 mensais, um analista financeiro R$ 5.156 e um contador pleno R$ 7.634. Supondo que uma faculdade de contabilidade cobre em média – mensalidades e livros – algo próximo dos R$ 1.500 mensais, durante cinco anos, vejamos algumas situações. Deixo as conclusões para você!
Caso 1: Estudar sem trabalhar: Ao terminar o segundo grau, João foi direto trabalhar e hoje é auxiliar de contabilidade; José, por outro lado, preferiu esperar enquanto estudava. Durante seu estudo, seu custo será, na realidade, de R$3.863 mensais, correspondentes ao valor da mensalidade e livros de sua escola acrescido do salário (de auxiliar) de que abriu mão. É um alto investimento, não há dúvida, mas daqui a cinco anos, admitindo que consiga o cargo de analista, obterá um salário R$2.793 maior que o de seu amigo (são amigos, esqueci de avisar!) e, supondo que ambos mantenham suas posições pelos 35 anos seguintes, seu investimento terá lhe rendido 0,89% ao mês, valor que sobe a 1,44% se, formado, conseguir diretamente o cargo de contador.
Caso 2: Estudar e trabalhar: Agora suponha que Joaquim, outro amigo, aguente o esforço adicional e, mesmo cursando a faculdade, não largue o seu emprego de auxiliar. Neste caso, durante seu período de estudo, seu investimento mensal será de R$1.500, equivalente apenas à mensalidade e livros de sua escola. Se, da mesma forma que José, Joaquim conseguir o cargo de analista, seu investimento terá lhe rendido 1,77% mensais, valor que sobe para 2,54% se conseguir o cargo de contador.
As rentabilidades obtidas nas simulações anteriores superam a maioria dos resultados obtidos em aplicações financeiras, mesmo aquelas que apresentam maior risco, sugerindo, portanto, valer a pena investir em educação. Mas atenção: entendo que a formação profissional seja condição necessária à consolidação de uma carreira, mas não suficiente, já que outros fatores, tais como liderança, capacidade de comunicação, carreira escolhida, condições do mercado de trabalho, dentre outros, também contribuem para uma boa colocação.
Um grande abraço e até a próxima semana!
Olá, meu querido leitor, minha querida leitora! Sim, sei que é Carnaval, mas não dá para esquecer um dos temas que mais tem afligido boa parte da população: o aumento no preço dos alimentos! Considerando ser esta uma despesa essencial (não, não dá para empurrar para o mês seguinte), boa parte do orçamento familiar fica comprometido, e nas famílias de menor renda – onde o peso da alimentação é maior – a carestia avança sem freios.
Pois foi pensando nisso que decidi sobre o tema do artigo de hoje, onde procuro mostrar uma estratégia para driblar (ou pelo menos tentar!) o dragão da inflação. Vou um pouco além dos tradicionais – e necessários – conselhos, tais como pesquisar preços, substituir produtos ou reduzir quantidades, e decerto o plano dará um pouco mais de trabalho, mas o resultado eventualmente compensará o esforço. Vamos lá apresentar a ideia!
Há algum tempo, no início de minha carreira, desenvolvi uma pesquisa sobre os preços de uma lista de aproximadamente 150 produtos de consumo diário, incluindo, além dos alimentos, os principais itens de limpeza. Visitava quatro grandes supermercados e de prancheta na mão, coletava os preços, que depois eram transferidos para uma planilha. O valor total das compras não era muito diferente entre os quatro estabelecimentos, porém, se considerássemos comprar os produtos nos estabelecimentos com as melhores ofertas, o total da fatura chegava, em algumas semanas, a ser 30% mais barato do que a compra concentrada em um único local... interessante, não? Como implementar? Segue o passo a passo, onde exemplifico com três amigos e três supermercados!
(1) Reúna os três amigos ou vizinhos (com quem você se dê bem!!) e monte a lista dos produtos que consomem. (2) Cada um dos três irá pesquisar os preços desta lista em um estabelecimento distinto. Vale notar que esta tarefa é hoje bastante simplificada em relação ao passado, pois os aplicativos e conteúdos digitais, em geral, permitem a pesquisa sem a necessidade do deslocamento físico ao local. (3) Com os preços coletados, totalize o valor da compra em cada estabelecimento. (4) Identifique a seguir, para cada item, onde é mais barato comprar e some o valor total da compra quando distribuída entre os três locais. (5) Verifique se a economia feita compensa o trabalho ainda a ser feito nos próximos itens. (6) Caso compense, monte três novas listas (uma para cada estabelecimento) que deverão conter apenas os produtos mais baratos encontrados no item (4). (7) Para cada produto, liste as quantidades que cada um de vocês irá comprar. (8) Hora das compras: cada um irá a um supermercado com a respectiva lista para adquirir os produtos. (9) Reúnam-se novamente, dividam os produtos e acertem as diferenças financeiras. (10) Confraternizem!
Um grande abraço e até a próxima semana!
Rumo à independência financeira, de nada adiantará o casal ter os três quesitos do artigo passado (paciência, força de vontade e imaginação), se faltar o principal combustível de seu projeto: dinheiro! Sim, será preciso fazer sobrar dinheiro a cada mês para que consigam chegar lá! E não consigo ver nenhuma outra forma que não passe: (1) pelo aumento de sua renda; (2) pela diminuição de sua despesa ou (3) pela combinação dos dois itens anteriores.
Salvo nas situações em que somente um trabalhe (neste caso vale a pena avaliar se o ganho extra para trabalhar fora não irá acarretar despesas maiores do que a renda gerada, o que por exemplo poderia ocorrer se houvesse a necessidade da contratação de ajudantes para cuidar das crianças), aumentar a renda nem sempre é simples, pois depende de decisões fora do controle do casal (por exemplo, o aumento do salário pode depender de uma promoção para o caso de um empregado, ou ainda, no aumento do número de clientes para profissionais liberais); assim, concluo que criar a sobra a partir da diminuição das despesas tem maiores chances de sucesso. Falemos sobre isso!
Anotem em um papel todos os gastos dos últimos dois meses, sem se esquecerem de nada, incluindo aí juros, taxas bancárias, impostos, etc. Classifiquem estes gastos em: (1) Financeiros: os que vocês pagam aos bancos, cartões, etc.; (2) Desperdícios: os que vocês podem eliminar sem sentir falta (por exemplo: o clube que não frequentam ou a revista que não leem); (3) Supérfluos: os associados a pequenos prazeres, mas que, diante de um objetivo maior (sua poupança), poderão ser eliminados (por exemplo: o cafezinho, o cigarro); (4) Essenciais: aqueles sem os quais vocês não vivem: aluguel, luz, gás, telefone, a escola das crianças, o plano de saúde, o lazer.
Um plano de poupança bem sucedido, deve eliminar os gastos pela ordem acima: cortem primeiro os financeiros, depois os desperdícios e supérfluos e, somente em último caso os essenciais.
E o que aconselhar àqueles que, afogados em dívidas, não conseguem sequer chegar ao estágio de cortar alguma despesa: por exemplo, os casais cuja renda esteja toda comprometida no pagamento dos juros de cheques especiais e de cartões de crédito? Bem, é um caso mais complicado pois a dívida só faz crescer, já que seus ganhos apenas cobrem gastos financeiros, obrigando-os assim a novas dívidas para cobrirem os demais gastos.
Bem, se este é o caso de vocês, não se desesperem: há soluções (todas dolorosas, não vou mentir) mas que poderão livrá-los deste martírio. E, saindo desta, no mínimo vocês terão conseguido superar um tremendo obstáculo, fortalecendo sua relação (calma, não vamos discutir a relação!) Anotem:
(1) Eliminem já os cartões; (2) Revisem os saldos das atuais dívidas, renegociando junto aos credores uma redução dos valores (acreditem nisso porque bancos e administradoras preferem recompor dívidas do que acioná-los judicialmente); (3) Recalculados os valores, tentem transformá-los em prestações fixas, que caibam no orçamento, através de empréstimos pessoais na própria rede bancária, usualmente oferecidos a taxas mais civilizadas; (4) Pensem na possibilidade da venda de algum bem (um carro, por exemplo); (5) Não entrem em novas dívidas, segurando o consumo nesta fase crítica; (6) Adiem toda e qualquer compra que puderem: lembrem-se que sua prioridade é eliminar sua dívida!
Um grande abraço e até a próxima semana!
Penso que o maior objetivo financeiro que um casal possa atingir seja o da independência financeira, onde, mesmo optando por não parar de trabalhar, suas despesas fiquem inteiramente cobertas pelo rendimento obtido pela aplicação de suas economias. É a ideia de fazer o dinheiro trabalhar pelo casal, e não o casal trabalhar pelo dinheiro. Chegar a este estágio não é impossível, mas irá exigir planejamento e disciplina.
Para exemplificar, suponha que João e Maria tenham uma despesa mensal de R$8.000. Um fundo de baixo risco (referenciado DI), com um histórico de rentabilidade em torno de 104% do CDI, rendeu 25,95% nos últimos 24 meses, (encerrados em 13/02/2025), taxa que cai para 22,06% após o desconto dos impostos (alíquota de 15%), e correspondente a 12,71% em termos reais, isto é, além da inflação quando medida pelo IPCA (8,29% acumulados no período), equivalente a 0,50% ao mês. Admitindo que esta taxa se mantenha neste patamar, o casal precisaria ter R$ 1.600.000 aplicados para atingir sua independência financeira (encontre este valor dividindo 8.000 por 0,005).
Quanto tempo João e Maria irão precisar para atingir esta meta, irá depender de sua capacidade de poupança, de quanto já têm hoje guardado e da rentabilidade média que irão obter em suas aplicações daqui em diante. Por exemplo, partindo do zero e aplicando a 0,50%am, precisarão guardar R$1.593 mensais por 30 anos ou R$3.463 por 20 anos para chegarem lá, valores que cairão para R$394 e R$2.030 se partirem de R$200.000 já acumulados. Por outro lado, se conseguirem aplicar a 0,70% ao mês (neste caso incorrendo em um pouco mais de risco) e admitindo começarem do zero, precisarão guardar R$989 mensais por 30 anos ou R$2.584 por 20 anos.
Lições importantes (e simples!): (1) quanto maior for a economia mensal, mais rápido se atinge o objetivo: o sacrifício de hoje é o conforto de amanhã; (2) quanto maior a rentabilidade, menor é o sacrifício mensal: pesquisar produtos financeiros e correr riscos tem o seu valor; (3) quanto maior a atual poupança, também menor é o sacrifício mensal: vender um bem supérfluo (por exemplo um segundo carro) também tem o seu valor.
Lógico que tudo fica muito bonito quando colocamos no papel, nosso fiel amigo que sempre aceita tudo. Mas, e na prática, quais as dicas para conseguirmos transformar o planejamento em realidade? Aqui vão elas...
(1) Paciência: Supondo que a estratégia escolhida tenha sido poupar R$1.593 mensais a 0,50% ao mês, por 30 anos, após o primeiro ano nesta tarefa, terão acumulado R$19.648, R$19.114 referentes às parcelas que depositaram e apenas R$534 de juros (2,72% do total guardado). Parece pouco, mas, se forem pacientes, esta situação irá se alterar: em 10 anos terão acumulado R$261.028, dos quais R$69.891 (ou 26,78% do total) gerados pelos juros. Finalmente, se perseguirem este objetivo, em aproximadamente 21 anos (na realidade 253 meses), a situação irá se reverter, e os juros recebidos superarão os valores depositados mensalmente. Ou seja, o dinheiro passará a trabalhar para a dupla, que tal?
(2) Força de Vontade: várias tentações surgirão ao longo do caminho: carro e roupas novas, viagens, e muitos outros sonhos, nem sempre prioritários. E, à medida que o saldo de suas aplicações crescer, maiores serão estes apelos... Tendo força de vontade, conseguirão se manter fiéis ao seu plano, deixando para estes excessos apenas o que sobrar além de suas economias mensais.
(3) Imaginação: enquanto não atingirem sua meta, por que não utilizá-la quando o assunto for dinheiro? Para o lazer por exemplo, ir à praia, ou ler um livro, sairá bem mais em conta do que almoçar fora, não é mesmo?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.