Envolvido em planejamento financeiro pessoal há pelo menos duas décadas, percebo nas conversas, nas consultorias, nas aulas ou palestras, que a cada dia que passa, mais e mais pessoas têm interesse em ampliar sua capacidade de guardar, conseguindo assim realizar sonhos de médio e longo prazos. A princípio, ótima notícia poder constatar essa mudança de hábito, mas vejo também que a maioria se preocupa mais em aumentar seus ganhos para assim conseguir enfrentar gastos maiores sem perder o espírito poupador do que reduzir gastos. Fiquei refletindo: será que esquecem que um real ganho a mais tem o mesmo valor que um real gasto a menos?
E você, meu querido leitor, minha querida leitora, também pensa desta forma? Acredita, portanto, ser mais fácil aumentar ganhos do que reduzir despesas? Taí, não consigo me convencer disso, e minha descrença baseia-se no fato de que, para aumentar suas receitas, uma pessoa ou empresa, precisa combinar com o outro lado, não é mesmo? Exemplifiquemos: (a) um colaborador de uma empresa, para ter suas receitas aumentadas, precisa pedir aumento ao chefe ou, nos casos em que a empresa admite a possibilidade e existe o que fazer, ficar algumas horas extras no trabalho; (b) um profissional liberal sem vínculo empregatício (médico, advogado, dentista) precisa ou aumentar o preço de suas consultas ou a sua base de clientes para conseguir a receita adicional, o que nos leva a questionar: seus atuais clientes concordarão com o novo preço? Conseguirá atrair mais clientes ao seu consultório? Mesmo uma empresa deve analisar criteriosamente qual efeito irá prevalecer em suas receitas diante das alternativas: aumentar preços unitários e eventualmente vender menos com maior margem ou reduzir preços unitários para ganhar no volume maior vendido?
Por outro lado, quando pensamos em redução de custos ou despesas, fica claro que a estratégia neste sentido depende muito pouco (ou quase nada!) de variáveis externas, salvo nos casos em que a economia de gastos acarrete impactos negativos nas receitas, o que aconteceria por exemplo, se um restaurante decidisse cortar custos reduzindo a qualidade dos produtos que usa nas refeições que serve. Não é à toa que boa parte das empresas bem sucedidas implementa rígido programa de controle de custos, visando sobretudo o desperdício. Mesmo um profissional liberal, procura otimizar seus gastos profissionais procurando opções mais baratas em termos de telefonia, atendimento, fornecimento de material, dentre outros insumos.
Bem, e no caso daqueles que vivam exclusivamente de salário, onde seria possível a redução? Revendo o parágrafo anterior, já temos uma dica: na medida do possível, nunca nas despesas essenciais, tais como escolas, prestação da casa ou do carro, condomínio, supermercado e outros. Costumo sugerir que comece pelos itens que menos lhe causem sacrifícios, conforme ilustra a seguinte sequência:
(1) Gastos associados ao descontrole: Correspondem àqueles que não lhe trazem qualquer benefício ou prazer, e o melhor exemplo desta categoria recai em multas, juros e taxas por conta de pagamentos não feitos ou feitos em datas posteriores ao vencimento. Pagar tudo em dia é eliminar parte ou todo este grupo.
(2) Gastos associados ao desperdício: Correspondem àqueles que você incorre por adquirir bens e serviços que não usa ou por pagar sobrepreços por falta de pesquisa. Se um aparelho de TV modelo XYZ tem preços diferenciados em lojas distintas, adquira-o na loja mais barata; se você paga uma academia que não frequenta, pense em cancelar o plano.
(3) Gastos associados ao supérfluo: Correspondem àqueles pequenos luxos que, à primeira vista você não pensa em abrir mão, mas que numa emergência ou diante de um sonho maior, formam o terceiro grupo destinado à tesoura. Cada um sabe o que entra aí, só não vale confundi-los com os essenciais. Esclareço: ir ao restaurante com a família de vez em quando faz parte do lazer, da convivência, do prazer. Não é supérfluo na minha forma de ver. Mas, em um fim de semana frequentar cinco, já passa da conta, concorda?
(4) Gastos essenciais: Correspondem a todos aqueles não listados nas categorias anteriores. Inclua lazer, saúde, moradia, vestuário, transporte dentre outros. Eles formam a essência de sua vida; proteja-os contra cortes procurando alternativas menos dolorosas. Só mesmo uma emergência deveria justificar você mexer com eles!
Até a próxima e um grande abraço!
Caso Prático(2)
E então meu querido leitor, minha querida leitora, descansou bem nos feriados prolongados? Pois é justamente sobre descanso que iremos falar hoje, dando continuidade ao artigo publicado semana passada onde mostrei como estimar a reserva necessária para a complementação de renda a partir da aposentadoria.
Refrescando a memória, usei o exemplo de Rodrigo, 35 anos, renda atual de R$ 25 mil, pretensão de parada aos 65, expectativa de vida até os 90 e necessidade de renda complementar anual de R$ 96 mil (ou R$ 8 mil mensais), valores expressos com poder de compra atual, já que na simulação trabalhamos com taxa real de juros (além da inflação), estimada em 2% ao ano. Duas alternativas foram apresentadas: (a) viver somente com os juros de suas aplicações (precisaria acumular R$ 4,8 milhões, as após sua morte, os recursos seriam transmitidos aos herdeiros) ou (b) viver com o saldo de suas aplicações (precisaria acumular R$ 1.874.252, que terminariam quando completasse 90 anos).
Tanto em um como no outro caso, acumular tais recursos em 30 anos não é tarefa fácil, considerando-se que salvo raríssimas exceções, as taxas reais que remuneram aplicações mais conservadoras, têm girado entre 1% e 2% ao ano, por conta de custos com administração, carregamento e outros. A 1%, por exemplo, chegar aos 65 anos com R$ 1.874.252 o obrigaria a guardar R$ 53,881 anuais (R$ 4.490 mensais, equivalentes a 17,96% de sua atual renda), valor que subiria para R$ 137.990 anuais (R$ 11.499 mensais, equivalentes a 46,0% de sua atual renda) caso optasse por chegar à aposentadoria com os R$ 4,8 milhões acumulados.
A 2% ao ano os valores citados caem para R$ 46.200 (R$ 3.850 mensais, equivalentes a 15,40 % de sua atual renda) e R$ 118.320 (R$ 9.860 mensais, equivalentes a 39,44% de sua atual renda) respectivamente e, se simularmos para taxas mais atrativas, a redução é ainda mais surpreendente: a 4% ao ano, Rodrigo precisaria guardar R$ 33.418 anuais (para acumular R$ 1.874.252) ou R$ 85.584 anuais (para acumular R$ 4,8 milhões).
Note que os valores a acumular vieram do artigo da semana passada, onde a hipótese foi a de que a partir de seus 65 anos, os recursos do Rodrigo estariam aplicados a 2% ao ano; para taxas diferentes desta, tais valores deverão ser recalculados.
Note também que durante a fase de poupança, quanto maior a taxa anual que irá remunerar as aplicações, menores serão os valores a guardar anual ou mensalmente, ainda que taxas maiores envolvam aplicações com maior risco. Da mesma forma, quanto maior o prazo de contribuição, menor o valor a contribuir... Exemplificando: alguém que hoje tenha 25 anos e planeje parar aos 65 (40 anos de contribuição) precisaria guardar R$ 31.030 anuais, a 2% ao ano, para acumular R$ 1.874.252, bem inferior aos R$ 46.200 necessários ao Rodrigo (30 anos de contribuição).
Como se percebe, o planejamento de uma previdência complementar envolve muitas variáveis que você precisará decidir, sendo o tempo de sobrevida, o prazo de acumulação dos recursos e o valor a acumular as principais. Quanto à taxa de juros, é de fundamental importância que todo o estudo seja feito com base na remuneração real, isto é, aquela além da inflação. Mas atenção: encontrados os valores a guardar periodicamente: 1) verifique se a rentabilidade oferecida pelos instrumentos que você irá utilizar (fundos ou planos de previdência, por exemplo) cobrem a inflação e a taxa utilizada na simulação (por exemplo, para os 2% ao ano do Rodrigo, se a inflação for de 6%, o fundo ou plano precisará render 8,12% anuais); 2) a cada ano corrija sua contribuição do ano anterior pelo valor da inflação (por exemplo, os R$ 46.200 anuais do Rodrigo, diante de uma inflação de 6% passarão a R$ 48.972 anuais).
Um grande abraço e até a próxima semana!
Caso prático (1)
Por conta do que temos conversado por aqui, percebo com frequência que ainda há muita confusão ao se dimensionar a necessidade de proteção financeira para a vida longa, pois muitos ainda acreditam que os planos a serem contratados devam ser equivalentes ao salário que hoje recebem, tornando-os assim mais caros do que já são. Explico!
Aproveitando minha atividade acadêmica, reproduzo aqui um exercício feito em aula em uma das inúmeras turmas de gestão onde tive o prazer de participar: Rodrigo, 35 anos, trabalha em empresa da iniciativa privada onde, entre salários, bônus e outras gratificações, recebe R$ 25 mil mensais (R$ 300 mil anuais, sem considerar o décimo-terceiro) em termos brutos. Pretende se aposentar aos 65 (30 anos trabalhando) e acredita que viverá até os 90 (25 anos de sobrevida). Vejamos o passo a passo!
(1) Renda na aposentadoria: Claro que quanto mais, melhor; mas não podemos esquecer que ter mais no futuro implica em ter menos no presente; logo, é razoável estimar que nosso amigo sobreviva bem com 80% de sua atual renda, equivalente a R$ 20 mil mensais (R$ 200 mil anuais). Para aqueles que pensem ser esta uma estimativa equivocada, alerto para o fato que muitas despesas incorridas na fase ativa – escola dos filhos, alimentação e vestuário para o local de trabalho, para ficar no que me lembro – desaparecem na aposentadoria, ainda que outras despesas, tais como planos de saúde, por exemplo, fiquem mais caras. No balanço final, acredito haver economia.
(2) Necessidade não coberta: Uma parte da renda na aposentadoria será garantida pela previdência oficial (próximo dos R$ 6 mil/mês), outra parte por receitas de aluguel de dois imóveis de sua propriedade (R$ 6 mil/mês). Sobram, portanto, R$ 8 mil mensais (R$ 96 mil anuais) que ele precisará correr atrás. Aqui estou admitindo que a empresa onde Rodrigo trabalha, não ofereça aos seus colaboradores um plano de previdência coletivo; logo, ele precisará guardar parte do que hoje recebe para acumular uma quantia que, ao parar de trabalhar, garanta o padrão de vida desejado.
(3) Taxa de juros a utilizar: Você, meu querido leitor, minha querida leitora, deve ter observado que estou utilizando todos os valores da simulação em termos atuais. Certamente, daqui a 30 anos todos este valores serão maiores por conta das correções devido à inflação, mas simulando desta forma, os cálculos se simplificam... desde que – e aqui esta é uma dica valiosa -, ao atribuirmos uma taxa de juros que irá remunerar os investimentos do Rodrigo, trabalhemos com a taxa de juros real, isto é, a taxa além da inflação. Grosso modo, para uma rentabilidade de 8,12% e uma inflação de 6%, a taxa que irá aumentar o valor real das aplicações será de somente 2%, bases anuais [=((1,0812 ÷ 1,06) – 1) x 100]. Nas atuais condições do mercado, fundos de renda fixa que remunerem a 100% do CDI garantem até mais do que esta taxa real, ainda que a prudência não recomende sermos excessivamente otimistas e usarmos taxas maiores.
(4) Patrimônio a transmitir: Muda de forma drástica o planejamento pois, querendo deixar aos herdeiros parte (ou o total) de suas aplicações financeiras, a conta ficará mais cara. Exemplificando: caso Rodrigo queira transmitir o total sem a preocupação de viver mais do que previu, precisará acumular R$ 4,8 milhões pois, a 2% ao ano, conseguirá os R$ 96 mil de que necessita somente com os juros. No outro extremo, caso queira transmitir apenas seu patrimônio imobiliário, precisará acumular R$ 1.874.252, aplicação que, a 2% ao ano, permitirá retiradas anuais de R$ 96 mil pelos 25 anos de sua sobrevida.
Continuo a análise no artigo que vem, não percam! Um grande abraço e até a próxima semana!
Ganhei um prêmio
Lembro-me de quando eu era pequeno e começaram os jogos da Loteria Esportiva, lá pelos idos dos anos 70. Era época da Copa do Mundo no México, o Brasil com um timaço – sagrou-se tricampeão – o que nos deixava com um otimismo exuberante, capaz de alimentar sonhos improváveis de ganharmos sozinhos o prêmio milionário. E o que não faltava era plano sobre o que fazer com o dinheiro.
De lá para cá, devo admitir, joguei poucas vezes na loteria e demais sorteios oferecidos, a exceção ficando por conta de bolões com meu grupo de amigos da época de colégio... vai que o grupo ganha e eu fico de fora, nem pensar, não é mesmo? No mais, a falta de tempo, ser completamente “por fora” quando o assunto é futebol, as extensas filas extensas nas casas lotéricas, enfim, vários motivos me afastaram dos guichês de aposta. Não jogando, obviamente, a possibilidade de ganhar algo é nula. Mas, se tivesse certeza do futuro e soubesse de antemão que não iria ganhar nada, os mais de 50 anos do “não-jogo” decerto me fizeram poupar algum, não é mesmo?
Bem, mas vamos admitir que você, meu querido leitor, minha querida leitora, seja menos preguiçoso que eu, e continue a fazer a sua fezinha... Ou que simplesmente tenha sido contemplado com um prêmio fora de hora. O que fazer? Antes de sair por aí comemorando (merece, claro!) cuidado: a maioria dos pouquíssimos sortudos que, de uma hora para outra, tem chances de mudar padrão de vida, em muito pouco tempo perdem praticamente tudo o que ganharam, sendo comuns até mesmo os que acumulam dívidas. Um caso emblemático publicado na mídia foi o de um grupo de garçons cariocas que, sorteados em um bolão, na segunda seguinte se desligaram do restaurante onde trabalhavam. Muita emoção e pouca razão na escolha. O prêmio que cada um recebeu não era suficiente para que parassem de trabalhar; além disso, por terem pedido demissão, perderam uma série de direitos trabalhistas. Ou seja, deixaram literalmente dinheiro na mesa!
O que sugiro para casos como esse? O ideal é que se deixe a poeira baixar para que, calma e racionalmente, se chegue às melhores conclusões sobre o que fazer. Algumas dicas:
(1) Verifique o valor do prêmio: Se este é baixo, tudo bem que você o gaste curtindo com a família um fim de semana inesperado ou renovando o guarda-roupa, mas se for alto, planeje antes de gastar. Dividir o prêmio pelo valor líquido de seu salário é um bom ponto de partida. Mas, independente do número que encontrar, não peça demissão de imediato. Tenha calma!
(2) Aplique integralmente o prêmio: Enquanto espera para decidir o que fazer, procure investir o que recebeu, visando sobretudo proteger o poder de compra do dinheiro. Venhamos e convenhamos, se o prêmio for muito alto, sua vida financeira está resolvida, não é preciso se meter em investimentos que visem crescimento, mas que embutam riscos desnecessários.
(3) Gaste apenas os rendimentos: Tendo aplicado o seu prêmio, a disciplina em gastar apenas os juros que você irá receber, manterá esta sua nova fonte de renda intacta, ainda que seja preciso verificar quanto do rendimento recebido é juro real e quanto é reposição da inflação. Essa dica vale até para presentear os parentes. Use apenas o rendimento para fazer isso!
(4) Avalie se montar o próprio negócio é razoável: Muitas histórias de insucesso após polpudos prêmios vêm quando o ganhador resolve abrir sua própria empresa, usualmente na área em que já trabalhava – por exemplo: o garçom que abre o restaurante. Deve-se ter cuidado com essa alternativa pois uma coisa é ter competência para preparar o melhor prato ou servir bem uma mesa, outra é ter competência para ser empresário, capaz de conviver com todos os riscos de um empreendimento.
(5) Cuidado com os brinquedos caros: Carro importados, lanchas, iates e outros caros sonhos de consumo são bens repletos de custos ocultos para os quais se dá pouca atenção (vide o artigo da semana passada!). Claro que se você ganhou R$ 20 milhões, isto pouco importa, mas para quem ganhou R$ 500 mil – com as taxas de juros atuais equivalente a um rendimento real de aproximadamente R$ 1.500 – talvez seja o caso de se repensar, não é mesmo?
Torço para que você seja em breve um felizardo. E que com as minhas dicas, consiga estabelecer um bom padrão de vida por muitos e muitos anos!
Um grande abraço e até a próxima!
Em tempo de intensa discussão sobre mobilidade urbana, lembro-me de um anúncio de TV que dizia que brasileiro adora automóvel. E, parece mesmo que o mote da propaganda vem sendo confirmado pelo mercado: de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em outubro de 2024, foram vendidos 248.005 veículos, entre automóveis e comerciais leves, um acréscimo de 11,3% em relação ao mês anterior... todos querendo realizar o sonho do carro próprio! É o seu caso também, meu querido leitor, minha querida leitora? Então esteja atento aos custos envolvidos neste projeto pois, de forma distinta daquela que muitos acreditam, o custo de um carro não é só a gasolina!
Nas contas que apresento a seguir, simulei um automóvel no valor de R$ 80 mil (correspondente ao preço médio que encontrei na Internet para carros populares, motor 1.0) e preços de estacionamento, seguro, combustível e demais itens para o mês de novembro de 2024.
Mas atenção, faço uma ressalva: Não estou em nenhuma cruzada pessoal contra o carro e, com certeza, do seu dinheiro, quem cuida é você; entro apenas para ajudá-lo a listar o que deverá ser considerado, está bem? Comecemos pelos custos fixos (não dependem de quanto você roda por mês):
(A) Desvalorização: É o item campeão do esquecimento, pois a maioria só se lembra dele na hora de revender o seu carro... Use 20% ao ano como estimativa para a desvalorização no primeiro ano; no exemplo, um carro de R$ 80 mil valerá R$ 64 mil daqui a um ano, custo esquecido de R$16 mil anuais ou R$ 1.333 em bases mensais;
(B) Custo de Oportunidade: É o item vice-campeão do esquecimento: ao imobilizar R$ 80 mil no automóvel, você perderá a oportunidade de aplicar esse dinheiro na Poupança, por exemplo, e assim deixar de receber algo próximo dos R$ 400 mensais de juros (ou 4.800 em bases anuais);
(C) IPVA: Na maioria dos estados (o IPVA é estadual), a alíquota para automóveis de passeio é de 4%, o que significa, portanto, uma despesa adicional em 2024 de R$ 3.200 ou R$ 267 mensais;
(D) Seguro: Da mesma forma que o IPVA, considere também uma despesa adicional de seguro; a 7% aproximadamente (dependendo do modelo, do condutor e da franquia, dentre outros), serão mais R$ 5.600 por ano ou R$ 467 mensais;
(E) Garagem: Seja porque você precisará alugar uma vaga, seja porque você deixará de alugar a vaga que possui em sua casa, o custo mensal de um lugar para seu carro dormir oscila em torno de R$ 500 mensais (na cidade do Rio de Janeiro), ou R$ 6.000 anuais.
É, meu caro leitor, minha cara leitora, a conta já soma R$ 2.967 mensais (ou R$ 35.600 anuais) e o carro ainda não saiu do lugar. Vamos aos custos variáveis, supondo um carro a gasolina rodando 1.500 km por mês e com consumo de 10 km por litro.
(F) Combustível: Com motores cada vez mais eficientes, este custo, em comparação aos demais, vem se diluindo e, em nossa simulação, considerando o preço médio do litro da gasolina a R$ 6,10, cheguei a R$ 915 mensais (=150 litros x R$ 6,10).
(G) Manutenção: Sem dúvida, carros mais velhos dão mais problemas, mas pneus, bateria, amortecedores, revisões e lavagens não saem de graça. Acredito que mais uns R$ 250 por mês cubram estas despesas, valor que aumentará se o carro rodar mais, e assim gastar mais pneus, por exemplo.
(H) Estacionamento: Se você vai para o trabalho de carro, acrescente R$ 300 mensais, aproximadamente, sem falar nas gorjetas para guardadores noturnos.
Conclusão: Somando-se os itens variáveis, chega-se a mais R$ 1.465 mensais (ou R$ 17.580 anuais) o que, no final aponta para um custo total (fixo e variável) de R$ 4.432 mensais ou R$ 53.180 anuais. E isso tudo sem considerar o financiamento, muito comum para quem adquire automóveis. Pesquisando no site do Banco Central, encontrei parcelamentos com taxas variando entre 0,76% e 3,35% mensais. Supondo que você consiga financiar os R$ 80 mil a 1,5% ao mês em 60 parcelas, aumentará a conta do carrinho em mais R$ 2.031 mensais, que tal?
Um grande abraço e até a próxima semana!
Além do que já abordamos em artigos passados, como a questão dos riscos, custos e ganhos além da inflação associados aos investimentos, outra dimensão que você, meu querido leitor, minha querida leitora, deverá considerar é a liquidez de sua aplicação: quanto mais líquido for o ativo, mais rápido você irá convertê-lo em dinheiro e com isso realizar seus demais objetivos, tais como pagar prestações, trocar de carro ou fazer a tão sonhada viagem, por exemplo.
Bem, e afinal, apostar na liquidez é bom ou ruim? Taí. Não há uma resposta única, pois tudo irá depender dos seus objetivos de investimento. Por exemplo, se o que você pretende ao guardar dinheiro é ter uma reserva para emergências, não julgo adequado comprar um imóvel pois uma transação imobiliária requer tempo e, em uma emergência financeira, esperar é a última coisa que você quer, não é mesmo? Deixar estes recursos na conta corrente ou na Poupança é uma alternativa razoável para as despesas imediatas, ainda que no caso da Poupança, saques antes da data de aniversário eliminem os ganhos do mês. Mas atenção: mesmo em investimentos líquidos, como é o caso das aplicações financeiras, você precisará verificar as condições de resgate, que nem sempre são imediatas. Vejamos algumas situações!
Títulos de renda fixa: Investimentos em CDBs, LCIs ou LCAs (para ficarmos nos mais usuais), salvo raras exceções, prendem os recursos até a data do vencimento. Eventualmente, algumas corretoras ou mesmo bancos, aceitam resgates antecipados, mas certamente cobrando um deságio que possivelmente reduzirá substancialmente a rentabilidade inicialmente oferecida. No investimento em títulos do Tesouro Direto, mesmo aqueles com prazos mais longos, é possível o resgate antecipado (o Tesouro garante a recompra) mas, como abordado em artigos anteriores, pré-fixados ou indexados ao IPCA serão recomprados pelos preços de mercado vigentes à época, eventualmente gerando perdas.
Ações, Fundos Imobiliários, Fundos ETF: São instrumentos negociados na bolsa de valores e para resgatar os valores investidos, será necessária uma operação de venda em bolsa, o que dependerá da existência de compradores interessados. Além da questão do risco de mercado (flutuação nas cotações), há variações expressivas quanto à liquidez destes instrumentos. Uma boa dica é pesquisar quantas transações (e os correspondentes volumes) são negociados diariamente para evitar sustos futuros.
Fundos em Geral: Também aqui a pesquisa é essencial. Um fundo D0 garante os recursos em conta no mesmo dia da solicitação do resgate; já um fundo D30, demandará 30 dias entre a solicitação de resgate e o crédito dos recursos em conta, o que no caso dos fundos mais arriscados (Multimercados ou Renda Variável) embute o risco adicional de flutuação no valor das cotas entre a solicitação do resgate e o crédito dos recursos. Aqui todo cuidado é pouco!!
A esta altura, você deve estar achando que o melhor é privilegiar a liquidez, com ou sem risco, como forma de ter o dinheiro sempre à mão. Cuidado, pois tudo depende do jeito com que você encara um belo patrimônio acumulado. Às vezes, ter uma chave na porta de saída é um estímulo adicional para não se direcionar o esforço de poupança em consumo evitável. Acho pouco provável alguém trocar um imóvel maior por um menor para, com a diferença de preços, comprar um carro importado, por exemplo. Mas tenho cá minhas dúvidas se, diante de uma tentação destas, o sujeito não baixaria parte de sua aplicação financeira para satisfazer o desejo. Não estava planejado? Vai fazer diferença no longo prazo? Então por favor, tranque a porta!
Um grande abraço e até a próxima semana!
E aí meu amigo leitor, minha amiga leitora, será que vocês também têm sentido uma certa euforia consumista no ar? Pois é o que aparentemente tenho percebido, ainda que possa estar equivocado, já que estas percepções estão associadas aos lugares que frequento, não é mesmo?
Mas pelo que tenho lido e/ou assistido, algumas pesquisas têm confirmado a minha impressão, noves-fora algumas evidências que parecem mesmo apontar nesta direção... Tomemos, por exemplo, coisas simples como ir a um cinema e constataremos que se não tivermos comprado os ingressos pela manhã, dificilmente conseguiremos assistir, na mesma noite, ao filme desejado; sucesso de público então, nem se fala, a recomendação segura é que se adquira o ingresso no dia anterior. Bares, restaurantes e assemelhados formam outra notável evidência, pois, seja no “a quilo” mais próximo, seja no sofisticado “à-la-carte”, parece-me que a mercadoria comum em todos os casos é mesmo a longa fila de espera! Claro que os pequenos sonhos de consumo que citei apenas acompanham a economia aquecida e por isso tão festejada (o mercado já projeta crescimento do PIB em 3,2% para o ano de 2024). É só alegria... Será?
Parte da melhora é explicada pelo aumento da renda do trabalhador (5,8% de acréscimo entre 2023 e 2024, conforme estudo do Ipea publicado em 6/9/2024) e, quanto a isso, como brasileiro, entro na lista dos que comemoram. Mas, sempre ressabiado, não chego a estourar o champagne, porque sei que boa parte da euforia vem sendo estimulada pela facilidade com que hoje se obtém crédito, principalmente nas compras parceladas com cartão... Infelizmente, não acredito que todo mundo que tenha pego emprestado (no cartão ou por meio de outras formas de financiamento) consiga devolver os valores compromissados nas datas de vencimento.
Para aqueles que me acharem pessimista (lá vem aquele chato, recomendando cuidado, pesquisa de preços e poupança), seguem duas manchetes recentes para ligarmos o alerta: (1) Dívida média dos brasileiros inadimplentes cresce quase 10% em 2024 (Estadão, Economia, 02/10/2024); A inadimplência aumentou 15,3%; (2) Cartão de crédito, água, luz e cheque especial são os principais vilões da inadimplência no país, revela pesquisa CNDL/SPC Brasil (Varejo S.A., 4/09/2024).
Você, que me prestigia, não precisa entrar nessa, não é mesmo? Até porque, este papo de que os juros nunca estiveram tão baixos, ainda não os coloca em patamares civilizados: relatórios publicados no site do Banco Central do Brasil mostram que na média, em setembro, pagamos 6,65% ao mês para usar o dinheiro fácil do cheque especial, 14,74% ao mês para usar o rotativo do cartão de crédito ou 9,34% para o parcelamento da dívida no cartão... E atenção: estas taxas referem-se a médias, há instituições cobrando bem mais que isto! Por exemplo, no caso do rotativo, a menor taxa praticada foi de 3,04% o mês, a maior de 22,07% ao mês... Oh!!!
Para dar uma dimensão da encrenca, saiba que saiba que nestes níveis (e utilizando as taxas médias citadas acima), uma dívida não paga, em média, dobrará em menos que 11 meses no cheque especial, em menos que 8 meses no parcelamento do cartão ou em cinco meses no rotativo do cartão, velocidade espantosa se observarmos que a Poupança (0,5713% ao mês em 17/10/2024) levará 122 meses para fazer tal multiplicação! É mole ou quer mais?
Diante dos argumentos anteriores, listo algumas dicas, recomendadas para aqueles que se valem do meio mais fácil – e caro! – de crédito, o cartão: (1) Use-o como meio de pagamento, e não como renda extra, coisa que efetivamente ele não é; (2) Os gastos no cartão não devem superar a sobra do seu salário após o pagamento de todas as suas demais contas: o controle de suas despesas irá ajudá-lo a respeitar este limite; (3) No caso de uma emergência que ultrapasse o limite que citei – a compra inesperada de um remédio caro, por exemplo – seja previdente: evite novos gastos deixando-o na gaveta; (4) E finalmente, tendo seguido as dicas anteriores, o mais importante: liquide toda a fatura até a data do vencimento, evitando assim multas, juros ou, nos piores casos, a inadimplência, o SPC, etc, etc...
Um grande abraço e até a próxima semana!
Sem dúvida, o padrão de consumo que a humanidade tem adotado até o momento tem sido fonte geradora de diversos distúrbios ambientais, econômicos e sociais, sendo os mais aparentes aqueles que assistimos pelos jornais e mídia televisiva, onde rios e lagoas transbordam por conta do excesso de lixo, garrafas plásticas e demais detritos jogados fora irresponsavelmente.
Parte do problema é jogarmos fora o lixo em locais inapropriados, mas ainda assim, mesmo se não o fizéssemos, como tratar a questão sobre o que fazer com as incontáveis toneladas de restos daquilo que não consumimos? A discussão não é recente, como atestam todos aqueles envolvidos com a coleta e destinação final do lixo nos grandes centros urbanos, mas por conta das mudanças climáticas e do alerta dado por ambientalistas mundo afora, o problema passou a integrar o cotidiano das empresas e indivíduos.
Pelo lado empresarial é cada vez mais comum recebermos ofertas de produtos e ações socialmente e/ou ecologicamente sustentáveis, indo desde e-mails e documentos onde se incentiva o arquivamento eletrônico (e não em papel), até o mobiliário produzido a partir de madeiras obtidas em reflorestamento, que tal?
Bem, e pelo nosso lado consumidor, como também poderíamos contribuir e incentivarmos essa onda para um mundo melhor? Tentando juntar este conceito com o objetivo maior de nossa coluna – as finanças do bolso – preparei uma listinha com algumas ideias para que você, meu querido leitor, minha querida leitora, possa fazer a sua parte!
(1) Por que comprar? É a primeira grande questão, pois muitas vezes o desejo se sobressai à necessidade. Alguns exemplos corriqueiros: é preciso adquirir o novo par de tênis de corrida se o antigo ainda vai durar pelo menos mais seis meses? Ou o novo modelo de celular quando o seu sequer tem um ano de uso? Ou um segundo automóvel para a família quando se percebe que o atual permanece mais tempo na garagem do que na rua?
(2) O que comprar? Esta já é uma questão mais elaborada pois nem sempre o produto consciente tem seu preço idêntico aos demais; nada, entretanto, que uma boa pesquisa de preços não resolva. Assim, se você efetivamente quer participar, escolha o móvel feito com madeira de reflorestamento e abra mão daquele de origem não comprovada; ou ainda, prefira a embalagem retornável ou de vidro à embalagem não reciclável. Há até casos de supermercados que dão pequenos descontos no preço final da conta caso você traga suas sacolas de casa dispensando as plásticas oferecidas pelo próprio estabelecimento. Vale verificar também se a aquisição do produto de segunda mão não irá satisfazer suas necessidades, com a vantagem de menor preço e, eventualmente, uma unidade a menos que precisará ser produzida.
(3) Como comprar? Uma vez tomada a decisão pelo produto consciente, feita a pesquisa pelo melhor preço e comprovada a qualidade do que foi adquirido, acho muito simples manter a loja, o fornecedor ou o site dentre os seus favoritos por ocasião da nova compra. Pessoalmente tenho feito isso, e não me limitado apenas aos produtos politicamente corretos, mas também junto a fornecedores que me tratam de forma diferenciada. Muitos deles, como forma de reconhecimento pela minha fidelidade, já me presenteiam com alguns descontos e ofertas a que antes ou em outras condições eu não teria!
(4) De quem comprar? Como a ideia de produto sustentável virou quase um atestado de que o produtor é “do bem”, ainda há muita má fé espalhada por aí, com ofertas se dizendo ser de um jeito quando na realidade são de outro, infelizmente. Procurar selos de qualidade ou informações em sites de reclamações pode vir a ser um bom antídoto para tais situações. No caso de produtos de segunda mão, avaliações prévias, documentação adequada e eventuais garantias, dentre outros itens, também deverá constar em sua pesquisa inicial.
(5) Como usar? Seguir as especificações do fabricante e adicionalmente zelar pela conservação daquilo que se adquiriu parece-me o mais adequado, não só por garantir o correto funcionamento e aproveitamento do produto, mas também por aumentar sua vida útil, adiando assim uma nova compra. No caso de produtos perecíveis como alimentos, por exemplo, consumir na quantidade adequada evitando o desperdício também produzirá este efeito.
(6) Como descartar? Talvez a pior questão a se colocar em prática pois há uma tendência a acharmos que uma vez desnecessário, o produto possa ser jogado em qualquer canto. O primeiro ponto a se refletir é se ele ainda pode ser utilizado e caso positivo, verificar se é possível revendê-lo ou doá-lo para quem precise, como no caso de roupas, mobiliário e eletrodomésticos. Para o lixo cotidiano muitas empresas e prédios já fazem sua coleta seletiva, o que somente exigirá que você separe aquilo que irá jogar fora. Ah, mas este não é o caso de onde você mora? Então que tal propor isso na próxima reunião de condomínio?
Um grande abraço e até a próxima!
Dando sequência ao tema do artigo da semana passada (O custo da inércia) onde alertei sobre a necessidade de nos programarmos financeiramente para quando deixarmos de integrar a força de trabalho ativa, trago no artigo de hoje mais novo alerta para que você, querido leitor, querida leitora, não perca interessante oportunidade... Explico!
Com o fim do ano se aproximando, já percebo o movimento de investidores mais atentos querendo aproveitar a vantagem fiscal oferecida pelos planos de previdência privada do tipo PGBL, que permitem o abatimento das contribuições feitas da base de cálculo do imposto de renda, limitadas a 12% da renda bruta do aplicador.
Para quem ainda não fez, a hora é mesmo esta, já que daqui a pouco tempo, boa parte das empresas irá depositar o décimo-terceiro na conta de seus colaboradores. E a antecedência, neste caso, com certeza trará maiores condições de avaliação – valores, tarifas, rentabilidades e possíveis restrições ao aproveitamento do benefício – diante das propostas oferecidas pelas seguradoras.
Não tenho dúvidas de que o produto previdência privada tenha vindo mesmo para ficar, dada a sua imensa popularidade, mas quero usar o espaço do artigo de hoje para comentar alguns outros aspectos menos citados (e pouco explorados) envolvendo este tipo de aplicação. Para aqueles que precisem maiores detalhes sobre a vantagem fiscal, recomendo a leitura (ou releitura) do meu artigo Contratando planos de previdência-2 publicado neste blog em 16/04/2024, link ao final do texto.
(1) Transmissão de patrimônio: Desde que você defina beneficiário(s), o saldo existente no PGBL / VGBL não entra em inventário, servindo assim como uma excelente alternativa para transferência de bens entre gerações sem os custos de inventário e, dependendo do Estado, isentos de impostos de transmissão. Isentos anteriormente, a tributação destes planos tem sido motivo de ampla discussão junto ao STF e, pelo menos até o momento, não há uma decisão final, atenção!
(2) Seguro: Pela característica acima equivalem a um seguro emergencial, ideal para aquelas famílias com elevado patrimônio imobilizado, mas que diante do falecimento do titular, poderiam enfrentar dificuldades para iniciar o inventário. O seguro, neste caso, ao liberar rapidamente recursos em moeda corrente, serviria para que os herdeiros iniciassem todo o processo. Um exemplo de situação real da qual participei envolvia um empresário idoso, com quase R$100 milhões de patrimônio em imóveis, mas que diante da hipótese de falecimento, obrigaria os herdeiros a desembolsar em torno de 10% entre custos de inventário e ITCMD. Um VGBL no valor de R$ 10 milhões e tendo os herdeiros como beneficiários pôs fim à questão.
(3) Impenhorabilidade: Quando convertidos em renda, os planos passam a ter natureza alimentar, não sendo passíveis de alienação ou penhora, característica que, se corretamente empregada, poderá deixar mais tranquilos profissionais propensos ao risco, como empreendedores em geral.
(4) Possibilidade de movimentação Como o imposto sobre o valores acumulados (PGBL) ou sobre os rendimentos (VGBL) somente é pago por ocasião dos resgates, tais planos são excelentes para aqueles que procuram os melhores momentos para entrar e/ou sair dos mercados de risco (market timing), sem a necessidade de acertar as contas com o Leão, o que ocorre com os fundos de investimento tradicionais, que tal?
Um grande abraço e até a próxima semana!
E então, meu querido leitor, minha querida leitora, não há dias em que você acorda profundamente cansado, mas mesmo assim, seu senso de responsabilidade o faz se levantar da cama e, após o rápido ciclo banho-café-vestimenta, partir para mais uma jornada de oito a dez horas de trabalho?
Pois é, acontece com você, comigo e com boa parte das pessoas que nos cercam. E não há o que fazer pois a hipótese de um prêmio inesperado é, como já abordei por aqui, bastante remota, ainda que atual febre das bets pareça contradizer a lógica. A idade e o cansaço parecem andar de mãos dadas, ainda me lembro de quando mais jovem e à época da universidade, era capaz de ir dormir altas horas da noite após uma noite festiva e no dia seguinte estar de pé cedo para um novo e bem disposto dia. E é justamente com este foco que inicio meu artigo de hoje: o que você está fazendo para se preparar para uma vida mais tranquila quando sua capacidade de ganhar dinheiro – leia-se acordar cedo e trabalhar – já não for a mesma de quando era jovem? Ganha uma hora extra de sono quem percebeu que vamos falar de previdência.
Basicamente a previdência é um tipo de seguro social destinado a garantir a sobrevivência do trabalhador em caso de perda de sua capacidade produtiva, quer por acidente ou outros eventos críticos, quer por idade. Mas para se ter esse direito é necessário que o trabalhador ativo contribua regularmente com esse objetivo.
Parte da questão está resolvida para aqueles que trabalham com vínculo empregatício, pois as empresas, privadas ou públicas, em combinação com a contribuição obrigatória de seus colaboradores ou servidores, garantirão parte de sua futura subsistência por meio da previdência oficial. Por exemplo, se você trabalha em uma empresa privada, o INSS garante – respeitadas algumas regras – o benefício futuro – pois mensalmente recebe uma contribuição proporcional ao seu salário, parte paga pela sua empresa e parte paga por você, mediante desconto em seu salário: observe seu contracheque e veja se não tenho razão. Mecanismo similar existe para o funcionalismo público. Já os que trabalham sem vínculo – autônomos, empreendedores em geral – devem prestar mais atenção pois, na ausência do empregador arcando com parte do custo previdenciário, precisarão se inscrever e contribuir para o INSS caso queiram receber os benefícios futuramente.
A outra parte caberá a cada um, dependendo do nível de renda que deseje receber no momento do descanso. Explico: atualmente (setembro/2024), o benefício máximo garantido pelo INSS é de R$ 7.786,00, o chamado teto previdenciário. Assim, por maior que seja o salário recebido por um trabalhador, tanto suas contribuições atuais quanto seus benefícios futuros serão limitados a este valor. Exemplificando, se o Sr. João recebe atualmente R$ 2.000 de salário, sua aposentadoria será próxima a esta quantia, não sendo, portanto, necessário que ele faça uma reserva para conseguir um maior valor. Atitude diferente deverá ter o Sr. José, pois, ganhando salário na faixa de R$ 15.000 mensais, precisará constituir uma reserva enquanto estiver na ativa, sob pena de, ao se aposentar, ter seu padrão de vida reduzido ao teto do INSS. Alguns acham isto injusto, mas temos que tomar cuidado com as simplificações já que, mesmo com esse belo salário, as contribuições feitas pelo Sr. José e sua empresa à previdência oficial também estão limitadas ao teto.
Há várias formas de se fazer tal reserva, desde a compra de imóveis para obtenção de renda com aluguel até a contratação de planos de previdência complementar além de, não esqueçamos, inúmeros veículos de poupança para o longo prazo, como fundos de investimento comercializados na rede bancária.
O mais importante é assumir que, quanto mais cedo você pensar no problema, mais barato ele fica. Por exemplo, suponha que o Sr. José (35 anos) pretenda parar de trabalhar aos 65 anos, tendo a expectativa de que viva até os 85. Caso consiga aplicações financeiras que lhe rendam 2% ao ano além da inflação, precisará depositar R$ 403,06 mensais durante estes 30 anos, para garantir R$ 1.000 de renda mensal pelos 20 anos de sua sobrevida (valores expressos com poder de compra atual). Porém, caso demore para pensar no assunto e somente aos 45 anos inicie a construção de sua reserva (20 anos de poupança, portanto!) precisará depositar R$ 672,97 mensais para chegar ao mesmo benefício, valor que sobe para R$ 1.493,32 caso inicie apenas aos 55 anos. Em resumo: não dá para brincar com isso, não é mesmo?
Um abraço e até a próxima!
Graduado em Engenharia Civil (UFRJ), teve experiência profissional construída marcadamente na área financeira, iniciada na Controladoria do Grupo Exxon Foi professor no Grupo Ibmec lecionando disciplinas da área financeira (Matemática Financeira, Estatística, Finanças Corporativas, Gestão de Portfolios, dentre outras)
Paralelamente a estas atribuições, passou a assinar uma coluna semanal sobre Finanças Pessoais no jornal O Globo, tendo a oportunidade de esclarecer as principais dúvidas dos leitores sobre orçamento pessoal, dívidas, aposentadoria, financiamento imobiliário e investimentos. O sucesso atingido pela coluna proporcionou inúmeras participações em palestras, comentários na mídia escrita e televisiva, além da publicação de outros sete livros tratando o tema.
Após obter a certificação de planejador financeiro (CFP® Certified Financial Planner) associou-se à BR Advisors, grupo especializado em soluções financeiras.